ARTIGO – O país precisa de você. E é agora. Por Marli Gonçalves

Atenda, por favor, ao chamado. O país precisa de você, precisa de todos. Rápido, antes que seja tarde demais. Participe. Atente. Comece já, votando, e de forma consciente. Lembra daquele famoso cartaz americano do Tio Sam com o dedo em riste? Lá, a convocação era para uma guerra. Aqui, não. A convocação é para a paz, para a mudança, para união, para melhorias, para o fim da insanidade que parece se espalhar como o rastilho da pólvora que não temos e nem queremos usar

PRECISA

Não é brincadeira de redes sociais que, tudo bem, nelas pelo menos ainda mantemos o humor nas piadas, memes, trocadilhos. E olha que não faltam assuntos, imagens, falas ou temas para esses chistes. Só nessa semana foi mais uma saraivada deles. Fomos chamados de maricas por não querermos morrer. Vimos a diplomacia morrer mais um pouco e a formiga chamando o elefante pra briga. Da boca do próprio, de onde jorraram impropérios, percebemos um presidente sem qualquer condição de governar, e que até admite isso ao se dizer sem sossego, satisfazer-se com a morte, negacionista, e a quem – parece – só resta apelar à violência e ao moralismo ignorante.

Mas ele imagina que está brincando, talvez, com soldadinhos de chumbo, uma armada Playmobil, joguinhos de tabuleiro, como parece ver as Forças Armadas; e esta já se incomoda clara e publicamente com essa forma de tratamento. Não é porque ocupou, loteou o governo como quis, com militares em postos importantes na administração, que todos se sujeitarão às suas ordens, deixam bem claro os principais comandantes, os mandachuva.

Não tem nada de normal em tudo isso. Precisamos refletir e falar sério sobre o que está acontecendo ao nosso redor, em nosso país, sobre as palavras que saem da boca do dirigente e de alguns de seus aliados pelo poder. O presidente aparenta não estar nada bem das ideias, para não falar outra coisa. A situação toda vem se degringolando com rapidez e é necessária mais rapidez na conscientização do que pode ocorrer se o tempo fechar.

A chuva será ácida. Há dois anos, desde a eleição de Bolsonaro, assistimos a uma escalada maliciosa, ignorante, e que não está levando o país a lugar nenhum, a nada melhor. Pensa. Aponte algo que melhorou. Não precisa pôr a culpa em pandemia, que essa só se agravou mais com as suas posições.  Ao contrário, diante do mundo, do qual cada vez mais há interdependência econômica em uma sociedade globalizada, viramos piada, perdemos respeito. Internamente assistimos apenas a retrocessos, à piora dos índices, todos, sociais, econômicos. Levados a um país dividido que precisa se unir rápido para não ver repetir-se aqui o que vemos ocorrer lá no mais poderoso do mundo. Para não vermos repetir-se aqui uma nova noite como a que já atravessamos, e que durou mais de vinte anos.

Ninguém ganha nessa situação. Ninguém. Para tudo há um limite, e ele parece se aproximar mais rápido do que os dois anos que ainda nos separam de novas eleições estaduais e federais. Daí, já, agora, nessa eleição, municipal, a mais próxima de nós, já precisarmos votar com mais atenção, informação, análise, percebendo a fragilidade e falhas das estruturas e programas dessa miríade partidária absurda com a qual convivemos, cheias de cacarecos.

Sinta-se importante. Não apenas mais um brasileiro. Pense com sua própria cabeça, acompanhe os fatos, não acredite nesse tanto de notícias falsas disseminadas para fazê-lo pensar até que há em andamento um ataque à sua família, que seria invadida e destruída por monstros terríveis, amorais. No fundo, você sabe que não é assim.

Respeite a inteligência, a imprensa séria, os movimentos sociais, as ideologias, a liberdade, a Ciência.

Todos nós somos diferentes entre si, claro. Mas há uma gama, uma base, comum a todos nós, e que já pode ser a plataforma para a união, por um país que aponta, aflito: precisa de você. De todos nós.

Rápido! Antes que realmente seja tarde demais e não possamos nem mais rir de nossas próprias piadas, que ficarão sem graça alguma.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – A voluntariosa. Por Marli Gonçalves

llorarcrunchPassamos dias ouvindo falar maravilhas deles, lembrados e homenageados na abertura e no encerramento, aparecendo sempre felizes, cordatos e sorridentes, mesmo quando obrigados a usar uma roupa horrorosa como aquela dos que entregavam as medalhas. Disseram até que o sucesso do evento se deveu muito a eles, aos milhares de voluntários que participaram da Olimpíada e que ainda ouviremos falar atuando na Paraolimpíadas.

Palavra positiva, ato positivo, merecedor de elogios, tudo o que se faz de oferecimento, de bom grado e boa vontade nesse mundo tão cheio de egoísmo e tristezas é bom motivo para reconhecimento. Pensei na palavra também como singular, desprovida de bens, desinteressada, perambulando por aí à procura de alguém que precise de alguma ajuda. Os voluntários normalmente são seres quase invisíveis. Foi importante vê-los materializados, brasileiros e estrangeiros, mais de 50 mil inscritos, entrevistados, fichados, vasculhados, que tínhamos medo de ataque, de infiltrados, lembra?

Voluntários são também alguns movimentos, do nosso corpo, por exemplo, quando repetimos instintivamente reflexos, que, contudo, também podem ser involuntários para confundir o cérebro, de onde saem todos os comandos.

Mas pega a palavra daqui, estica ela de lá, puxa para cá, não é que acabei por chegar à política nacional? Nos novos voluntários da pátria? Estamos cheios deles, todos agindo em nosso nome, juntos e misturados. Afinal, não é bolinho ficar ali num grupinho ardiloso e visivelmente minoritário sentado juntinho na primeira fila defendendo há meses um legado fracassado, tentando atrapalhar qualquer bola quicando no gol, e às vezes até esporte virulento, exercício de chatice, lance teatral, bola cantada e ensaiada. Um mini coro, que já integra o folclore. Narizinho, Lindinho, Jardim de Infância, andam cheios de hematomas de tanto apanhar nos plenários da vida.

E tudo isso, para defender quem? Nada menos que A voluntariosa, que fez e aconteceu, ou não fez, não viu e aconteceu. Avisada, deu de ombros. Ignorou aliados e desalinhados. Caprichosa, teimosa, imperial. Assistiu o país indo para o ralo e, se fizermos as contas nos deixou completamente sem governo praticamente desde que assumiu o segundo mandato, em mentirosa eleição. Não houve dia de sossego, em que não tivesse de se defender de alguma acusação, grande parte das vezes ou vinda de pessoas e do universo ao seu redor ou sobre elas próprias e seu partido. Tem a praga da Casa Civil, a saga da tesouraria do partido, a síndrome da amnésia, a crise de golpe-soluço; tem os momentos de históricos discursos sem-pé-nem-cabeça ao som de caxirolas. O bate o pé, bate aqui o meu pezinho, birrenta, marrentinha.

Sem esquecer, claro, mas isso até é acessório, os momentos regime, momentos pedaladas no meio dos carros para demonstrar tranquilidade, dias de cara virada para o padrinho e ataques de fúria vazados para a imprensa. Fora o lado tinhoso e o jeito de dar chás de cadeira memoráveis a certas pessoas. Virou refém de si mesma se distanciando sem perceber dela própria, da tal coração valente, da mulher ativa que enfrentou um câncer, a ditadura, a prisão, a primeira a chegar à presidência.

Vivemos, involuntariamente, os últimos dias de um doloroso processo que ninguém em sã consciência gostaria de estar vivendo, mas para isso foi levado, e não há como não admitir isso, nem que seja com seus próprios botões, que ainda vejo amigos queridos se debatendo publicamente em estertores. Cada dia é mais claro que o motivo do papel que vai ser julgado para o afastamento é um, pesado, mas um; e que aqui do lado de fora o motivo pelo qual o povo está bem pacato assistindo o desenrolar da novela é o conjunto da obra, visível de forma límpida, sentido na pele de várias formas, diversificadas peles.

Ninguém aguenta mais – essa é a verdade. Voluntários já estão a postos – espero – para logo depois dessa falação toda com direito a choros, fúrias, gafes, e que veremos entre batidas na mesa e palavras duras, começar a empurrar a engrenagem para o dia seguinte em diante.

Botando os olhos bem abertos, de butuca, em cima do homem que se voluntariou para ocupar o espaço e o poder, e que também desde que sentou na tal cadeira faz de tudo para se desvencilhar da trama que também fiou.

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Marli Gonçalves, jornalista – Só falta aparecer algo como aquela imagem do Tio Sam procurando voluntários com o dedo apontado, dizendo que precisava de gente para a guerra. Imaginem que filme de terror.

SP, ligada em Brasília para setembro raiar, 2016

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