ARTIGO – TRISTEZA, TRISTEZA. Por Marli Gonçalves

noivaSinceramente, sei que não é possível. Não é – não pode ser – possível que haja alguém que esteja feliz de verdade com tudo isso o que está acontecendo ao nosso redor. Todo dia, dia todo. Falo do planeta, do mundo, de todos os continentes, mas especialmente de nossa Nação, esse conceito que anda tropicando na corda bamba. Tá tudo junto e misturado. Não há o que comemorar. Não há vitoriosos. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Estamos no mesmo barco, mesmo que não tenhamos nada com isso. O final vai sobrar para a geral, e isso é triste, muito tristetristeza

No fundo é preciso já – em si – estar triste para escrever sobre a tristeza. Melancólico e envergonhado, pasmo e preocupado, para citar a vergonha e a melancolia. Nós sempre soubemos que havia muita coisa errada, muita gente esbanjando e esfregando em nossas caras os seus lixos e luxos. Tão luxos que até quem já é rico de carteirinha sabe que trabalhando duro não se alcança muitas vezes nem um só deles durante toda uma vida. Mas abonados proliferam, viram capa de revista, mostram suas mansões, suas banheiras e piscinas, movimentam milhões de negócios sem realmente estar fechando negócios. São vendidos como bambas, gênios, donos do mundo.

Tipo Eike, o X, que mesmo agora caído do pedestal faz as birras de homem baixinho e mantém, ah, certamente mantém, sua vida bem segura em algum canto. Esperto esse: pegou dinheiro, muito, bilhões, do nosso bonzinho e filantrópico banco de desenvolvimento, como se estivesse a caminho de um safári na África com um rifle cheio de balas. Atirou para tudo quanto é lado. Perdeu foi a sua gazela Luma no primeiro incêndio da floresta. O resto foi só tchabum, melhor, tchabuns-X. Temos por aí muitos tipos iguais, que você olha, arqueia a sobrancelha e fica só esperando até – não há mal que dure eternamente – que se perceba a verdade. Pegam, não pagam, devem e tudo bem.

Tristeza. Tristeza também em ver e ouvir tantos sorrisinhos sardônicos e descompromissados com a realidade. Tem gente que se compraz só em ver o outro fornicado, o rabo que não é o dele no fogo. Onde estamos?

oraçãoDe um lado, os que acham que delação é legal, que o direito de defesa é ilegal, e que – sabem de nada, inocentes! – agora a coisa vai, e o Brasil está sendo passado a limpo. Aplaudem ilegalidades e injustiças feitas para se conseguir a tal limpeza, e não há bom senso que as faça entender que não é seguindo assim que construiremos a Nação. Varre, varre, vassourinha! Estamos mais é conseguindo fazer o país ficar mais retrógrado ainda.

Tristeza em ver, por outro lado, os dedinhos se apontando mutuamente como crianças birrentas quando pegas em artes: Foi ele! Ele também fez, e você não falou nada!

Os poderes foram embaralhados esses últimos anos realmente como nunca antes nesse país. Foi isso que aconteceu e cada dia mais. Uma diz que manda onde não manda. Bate no peito que fez, como se não fosse obrigação.

Ao invés de construirmos o Futuro, pegamos o pior do passado. Onde, Deus do céu, estarão aquelas entidades que tanto admiramos, aquelas que nos juntaram a todos numa mesma direção? Parecem todas dominadas nesta dialética burra que se estabelece, fazendo um inferno a vida dos independentes destes dois lados – e posso depor sobre isso. Onde estão vocês, letrinhas mágicas que se enfileiravam, OAB, ABI, CNPq? Os sindicatos, todos aparelhados de uma forma brutal, a exemplo das entidades de jornalistas, comandadas por quem não é capaz de se levantar seriamente nem quando um de nós fica cego de um olho, quando tantos de nós são assassinados, outro monte demitido por opinião? Aliás, vivemos um momento em que o jornalismo opinativo passou a ser, não o que pensa e analisa, mas o que ganha – e bem, muito bem – do governo e suas associadas, por cliques, por metro, por ataques teleguiados, por xingamentos orquestrados. Por ataques, o que me parece mais inacreditável ainda, à sua própria gente e profissão, que aplaude com prazer o fim de veículos, e que, ainda, se autoproclama defensor da “mídia” independente. Cara pálida! Isso é que é independência?

tumblr_mqrheajdgx1r9wfpwo1_500Como há pessoas que pensam e agem como se fossem mais importantes do que as outras, que pouco se importam com o resultado de seus atos, desde que eles se dêem bem! Pior: estão se criando e se reproduzindo nesse ambiente propício.

Tristeza.

Vinicius! Tristeza/ Por favor vai embora…

Caetano! Estou triste tão triste/Estou muito triste Por que será que existe o que quer que seja/O meu lábio não diz/O meu gesto não faz/Eu me sinto vazio e ainda assim farto/ Estou triste tão triste/E o lugar mais frio do rio é o meu quarto…

Tom Jobim! Tristeza não tem fim/Felicidade sim/A felicidade é como a pluma/
Que o vento vai levando pelo ar/ Voa tão leve/ Mas tem a vida breve/ Precisa que haja vento sem parar…

São Paulo, 2014cry5Marli Gonçalves é jornalista – Quem canta seus males espanta. Espanta? Tonico e Tinoco, chamem o Jeca! Nestes versos tão singelos/ Minha bela, meu amor/Pra mecê quero contar/O meu sofrer e a minha dor/Eu sô como o sabiá/ Quando canta é só tristeza…

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ARTIGO – Eu vou “não ir”? Eu já fui.

Por Marli Gonçalves


Ai, que preguiça!Você é contra? A favor? Muito pelo contrário, encravado? Pegue a agenda com o calendário, e veja que já há protestos agendados até o final do ano. Uma coisa esquisita. É preciso fazer só uma chamada geral. Mas que seja definitiva.

Olha, por favor, não me levem a mal. Não estou querendo criticar ninguém ou mesmo demover ninguém de suas atividades cívicas, físicas, morais, políticas ou de lazer. Mas é que a coisa está ficando meio perdida demais e sem sentido, e a turma anda fazendo tantas manifestações, de tantos tipos, horários, públicos, que está mais é se dispersando. Aí nada acontece e todo mundo fica com a cara de decepção, chorando pelos cantos dos comentários dos sites, xingando-se uns aos outros. E a corrupa correndo solta.

Tive um ataque de preguiça no feriado de 7 de setembro. Tinha grito, marcha, parada, andada, caminhada, passeata, mobilização, passeio, encontro, pulinho, rendez-vous, juntamento, movimentação – de um tudo – na programação. Em São Paulo, o lugar era um só, a Avenida Paulista. Mas os horários, trajes, maquiagens, motivos, idades, eram diferentes. Teve até matinê. Faltou só que tivesse sido lá também o desfile militar, para a coisa ficar mais completa e animada. Ou preta de vez.

Acabou que eu não fui a nenhuma. Vi, de longe, só uma delas, indo bem, fechando o trânsito, tom oficial, comportada, regulamentar, formal, quase burocrática. Foi-se o tempo em que sabíamos e, ao menos, conseguíamos protestar com vontade, força, criatividade e energia. Éramos ouvidos em todo mundo. Sinceramente, das últimas que lembro que deram resultado foram lá nos idos tempos do Collor, com os caras-pintadas. E olha que ali já dependíamos da energia dos estudantes, tão estupefatos estávamos. Movimentação que se preze tem de juntar todo mundo: homens, mulheres, velhos, crianças, pobres, ricos, cachorros, de raça e viralatas, periquitos, parar tudo, se fazer ouvir de verdade.

Mas, para tanto, tem de ter uma chamada verdadeira, não de um só partido. Não só de alguém querendo apenas se destacar nas tais redes chatamente chamadas de sociais, tentando só aumentar o número de seguidores e, quem sabe, conseguir um patrociniozinho?

Gente, juro: agora até o pessoal do PT está convocando manifestação, quase que exclusiva, contra… a revista Veja!

Sempre amei participar e acredito seriamente que é nas ruas que a “coisa pega”, vide mundo atual. Só fico preocupada se o pessoal não acha que já está participando só porque não para de batucar as pretinhas dos computadores o dia inteiro, “curtindo”, “compartilhando”, dizendo que “vai” no plano virtual que aceita tudo, mais do que o papel. As caixas postais acordam e dormem lotadas (os insones são bastante participativos). Fala-se de tudo, até do que não é verdade, ou é antigo do tempo do Matusalém. São ciclos que se repetem, repassados. O que já li de bobagens de toda sorte – como se não houvesse tanta coisa séria e grave a ser combatida – e as pessoas ainda justificam: “estou só repassando”.

Enquanto isso, no Planalto Central e em todas as esferas o pessoal do manda ver se diverte com a ingenuidade. As notícias passam. Não gruda nos caras, porque amanhã tem mais, muito mais. Milhões e bilhões se confundem como se fossem iguais, com licitações fraudadas, presos e soltos, com algemas ou não, e as malditas declarações públicas que não dizem nada, apenas mostram as caras de tacho.

Quer ver? Já se passaram duas semanas do desastre do bondinho de Santa Teresa. O secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, o empoado e empolado Julio Lopes, que eu saiba, ainda está lá. O gomalina resolveu dizer que a culpa era do coitado do motorneiro. Que devia, sei lá, ter freado aquela geringonça mal conservada, talvez com os dentes. Mas, não, ele morreu. O caso também. Fora o fanfarrão que governa o pedaço, lá no Rio, cabralzinho até não poder mais, e que é melhor nem detalhar as bobagens que faz e diz – claro, quando está aqui e não voando por aí, casando e descasando da própria esposa. Hummm. Pacificados, é?

Mais? Sabe da última? O senhor senador José Sarney, com pouco para fazer no Maranhão e pelo Maranhão, para dizer o mínimo, quer trocar o nome do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Que dar o nome de Romeu Tuma – é, ele mesmo, o policial sobre o qual não vou falar, porque já foi. Mas também não preciso dizer o que acho da ideia.

Pensa que acabou? Soube do roubo do Banco Itaú? Foi num sábado, à noite, numa agência de um local, Avenida Paulista (mais uma vez), que só não é mais movimentado do que o Maracanã em dia de Fla X Flu? Pois até eu soube antes do secretário de Segurança de São Paulo, o Sr. Ferreira Pinto, aquele que faz cara de bravo, muito bravo, informado só DEZ dias depois. Os caras fizeram barba, cabelo e bigode, passaram horas “trabalhando” no local e até lanche pediram. Os milhões perdidos estavam guardados por dois coitados, vigias. Tipo parafernálias de segurança que dependem de um porteiro ficar ao lado, passando o cartão para destravar, senão… E ele, o bravo, continua no posto, meus amigos!

Sentadinhos em suas cadeirinhas. A corrupção, especialmente, corrói como cupim as contas e as coisas públicas. Nada sai do papel, às vezes nem com ela, que não gostam de gastar nem para nos enganar.

Como sempre lembro: alegria! Vai ter Copa. E Olimpíadas. A proposta é: vamos marcar uma data, nacionalmente. Escolher um inimigo, um que seja mais comum que os outros.
Meu voto é que seja contra a corrupção. Ou contra a violência que beira o inaceitável, com a vida valendo nada, nadica. Cada um escreve uma cartolina, a mão, espontânea. Na ocasião podemos cantar o Hino Nacional, tudo bem. Mas vamos fazer como quando queríamos as eleições diretas e aprontamos uma muvuca danada, um barulho que não deu para ser calado. O principal: vamos propor soluções, apoiar as que forem viáveis, abrir o peito, que seja para botar uma camiseta e algum slogan.

Mas, pelo amor de Deus! Vamos caminhar juntos. Aí eu vou.

São Paulo – acorda! 2011(*) Marli Gonçalves é jornalista. Desde muito jovem participa de tudo quanto é movimento. Foram horas e horas gastas em reuniões e, garanto, muitas valeram a pena para poder chegar até aqui com muito orgulho. Eu fui.

*** P.s: Certa vez, acNho que foi o Tom Jobim. Convidado para fazer um show especial, lhe disseram que seria com o João Gilberto e o Tim Maia. “Ah”, ele teria falado, “que bom. Então eu também vou não ir”.

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RIP BILLY BLANCO. É o Brasil mens criativo, menos musical, menos…

Morre Billy Blanco,

parceiro de Tom Jobim e João Gilberto 

O cantor e compositor Billy Blanco morreu às 8h10 desta sexta-feira, aos 87 anos. Ele estava internado no Hospital Pan-Americano, na Tijuca (zona norte do Rio), desde 2 de outubro de 2010, quando sofreu um AVC (acidente vascular cerebral), e hoje sofreu uma parada cardíaca.

Nascido em Belém (PA), o compositor decidiu estudar arquitetura em São Paulo, em 1946. Lá, iniciou sua carreira de compositor. Depois se mudou para o Rio, onde a carreira ganhou novo impulso. Blanco foi precursor da bossa nova e parceiro de Tom Jobim, Baden Powell e João Gilberto.

Blanco compôs músicas como “Estatutos da Gafieira”, “Viva meu Samba” e “Sinfonia do Rio de Janeiro”, esta uma parceria com Tom Jobim.

  Alexandre Campbell-14.fev.2000/Folhapress  
O compositor paranaense Billy Blanco durante entrevista em seu apartamento em fevereiro de 2000
O compositor paraense Billy Blanco durante entrevista em seu apartamento em fevereiro de 2000