ARTIGO – Postes desencapados. Por Marli Gonçalves

PosteNão encoste no poste. Eles são frágeis, sem ideias, a não ser as que colam neles, servem só para atravancar e segurar mal e porcamente os malditos fios que teimam em não ser enterrados. Agora, metidos, querem de novo participar das eleições

Estaca, pau, toco, se já é difícil definir melhor os postes, agora eles tentam nos atrapalhar novamente nas eleições. Se estamos nessa penúria já é por causa de uma posta presidenta que caiu tarde, nos deixando a sua sombra da meia-noite, o vampiro que se escondia por detrás da chapa quente. Não é que agora estão tentando “emplacar” outros e outras?

Não sei se dar com a cara no poste é pior do que os acintes que nos impõem dia após dia. Auto concessão de aumentos de salários de e para quem já ganha o máximo e que, se aprovados, farão uma perigosa transmissão de valores para todas as esferas, ressonantes. Pior, quem poderia parar essa gracinha são justamente aqueles que – justamente pelos agraciados – serão julgados logo mais à frente.

Bem, e as aterradoras discussões do espetado país que solta para o Dia dos Pais quem matou o seu com requintes de crueldade?

Justiça? Querem debater para intervir sobre nossa cultura e religião, os nossos corpos, e aceitam, plácidos como postes inertes, que um preso por eles julgado, julgado e julgado se arrogue da porta para fora com megafone, receba mais visitas do que as casas da mãe joana, e ainda queira ser candidato à presidência da República. O espetáculo continua: agora, além do ap triplex, alguém já tinha ouvido falar da chapa triplex? Preso, poste, vice. Três em um. E um monte de inteligentinhos batendo palmas pros malucos dançarem. O que bebem para se encostar nos postes? Acham mesmo que essa é uma atitude avançada, de esquerda, de compromisso social, popular, correta?

Ou será apenas tanta insegurança que acham que seguir um líder, um Messias, um Bessias, os salvará? O mesmo com relação aos patriotinhas de araque, quem quer o poste Palmito, apelido que ele próprio disse que tem mostrando seus pálidos cambitos, e que pretende pendurar insígnias militares no nosso viver, contaminando tudo com toda a sua atroz ignorância.

O momento é sério. Estamos em grandes dificuldades. Não temos um candidato sequer que possa ser defendido sem ruborizar. Para relaxar, até porque já não tem mais outro jeito a não ser esperar o dia seguinte, estamos brincando, fazendo memes, até nos esforçando para tentar ouvi-los em debates e entrevistas para ver se, quem sabe, espremendo bem, sai algo que preste. E dia a dia só piora. Falam uma língua desconhecida, desqualificam nosso idioma, usam termos pomposos, prometem o que é impossível e fazer o que nunca fizeram quando puderam.

E os “novos” – que surgem, batendo no peito que são novos e chegam com as mais milenares práticas do dá aqui, que eu retribuo lá?

Não fizemos reforma política. Agora será uma maçaroca e é no que eles mais uma vez se fiam com a nossa distração. Talvez poucos entendam ainda que no dia da eleição vão encontrar uma urna repleta de fotos, e que terão que apertar para presidente (que vem com o vice dependurado), dois senadores, governador, deputado federal e estadual. Seis vezes aquele irritante alarme triiimmmm vai tocar. Pela ordem: deputado federal, deputado estadual ou distrital, senador primeira vaga, senador segunda vaga, governador e presidente da República.

Um monte de postes. Um do lado do outro. No meio da rua. Para tropeçarmos, darmos topadas neles. E estarão interligados transmitindo essa energia ruim que já sentimos no ar. Aterrados estamos nós.

Mariposas, quem nos dará uma luz?

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Marli Gonçalves, jornalista – Se tivesse um cachorro, o levaria para irrigar esses postes.

Brasil, 2018

marligo@uol.com.br e marli@brickmann.com.br

ARTIGO – Vote em mim, porque sim! Por Marli Gonçalves

Não adianta nem tentar escapar, por céu, mar ou ar, ondas sonoras, televisivas ou internéticas. Aqueles sonzinhos chatos, as músicas chiclete, as caras de pau, pedra e tijolo, cada figura mais nonsense que outra, acabam de adentrar o gramado e todos os nossos buracos, inclusive de rua, causando indesejável torpor. Mas não desanime. Seus problemas acabaram. Eles vão resolver tudo agora mesmo, até aquela pia entupida, a roupa suja no tanque, seu caso de amor

Nunca fui muito de acreditar em promessas. O que me ajuda a sobreviver a um tantão assim de decepções, essas inevitáveis, que tive e tenho, diariamente, relacionadas à política nacional, partidos e pessoas, ideais e realizações. Dito isso, agora, juntos, podemos ver por outro ângulo o início da propaganda político-eleitoral, que teve a temporada de caça liberada esta semana. E adivinha quem é a presa? Olhe no espelho.

Enfim, admita que pode até ser muito divertido assistir ao desfile inacreditável de propostas absurdas e mentiras que são apresentadas, se mexendo na tevê. Vai, admita! É pelo menos melhor do que só ouvir aquelas vozes pela rádio ou dar topadas e esbarrar nos cavaletes que estão atravancando as ruas, e que eu bem queria mesmo saber de quem foi a ideia de jerico.

Nas eleições há ainda a vantagem de dar trabalho temporário para muita gente, porque esses obstáculos devem ser postos e retirados, e sempre sobra uma coisinha aqui e ali. Todos os dias, por exemplo, passo por uma esquina onde tem um comitê de um cara que nunca antes nesse país eu tinha ouvido falar. Pois olhe só: ele contratou três pessoas, três, só para carregar uma faixa que , a cada vez que o sinal fecha, é aberta na cara do coitado do motorista. Na faixa, uma foto dele, outra do Chalita e outra do Skaf, que nem candidato é! Três narizes. Fica até meio “típico”, digamos assim. As caras das fotos! Os perfis, os olhares enevoados de quem vislumbra a situação lá no horizonte, só não sei de onde.

O bagulho tá doido. Na tevê, aqui em São Paulo, o candidato arrumadinho do PT agora é um gigante que se sobrepõe à urbis, mas que também parece estar querendo pisar por cima da gente com aquele pezão petista; o tal que não é nada, mas eles dizem que foi o melhor, também aparece ora com cara de santo, ora de menino cordato levado pela mão do Pai Lula. O outro Menino Malufinho, Russomanno, pálido de dar até dó, já mostra até ultrassom da filha no útero da mulher, e apela para os sentimentos dos coitados que acham que personalidades de tevê são todas legais, enquanto o seu vice conta fábulas sem pé nem cabeça, sobre um passarinho na mão do garotinho com QI de batata. Serra não está gostando de ser o mais velho da disputa e já surgiu de bicicleta, e a música, na boa, tchutchajá,/i>, não tem nada a ver nem com ele, nem com a cidade. Soninha aparece super Soninha, viajandona, e fala baixo para parecer delicada e acaba quase inaudível, mas firme e forte tentando parecer uma Marina sem coque. Chalita repete que é bonzinho, escritor e professor e tenta pegar carona com quem passar ali, seja Dilma, Lula, Alckmin, Moisés, sabe-se Deus quem mais, sempre com as mãos devidamente ocupadas para não saírem batendo asas, e o que seria mais natural! Não posso esquecer de falar do Paulinho destruindo a língua e contando como já foi pobre. Melhor – hors concours – só o Lula dando aula de História na frente do Museu do Ipiranga.

E toma promessas! Dos candidatos a vereadores, que não têm noção do que é o cargo, já ouvi de um tudo em poucos dias. Desde que vão resolver o problema dos ônibus dos garçons até a situação dos desvalidos. Aliás, desvalidos, ou “povos em situação de rua” (urgh!), filmados e refilmados, com passagens em sépia e preto e branco, para aumentar a carga e dramaticidade, alguns inclusive com uma pobreza visivelmente produzida, como se fosse preciso apelar para fora da realidade.

Outra coisa que noto é que os vices, coitados, nem existem, fora o do João Paulo Cunha que ganhou um cartaz quase só para ele, porque pode vir a ser o estepe já já, dependendo do mensalão, mensalinho, pedalinho. Em geral, os nomes dos vices – muitas, inclusive, mulheres postas ali só para cumprir “cota de Cotinha”, aparecem em fonte pequenina, quase escorregando. E partido? Para que te quero? Estampam números que dependendo dos casos a gente associa rapidamente ao jogo do bicho.

Para completar o quadro, continuarei apelando para o humor que restar ao acompanhar a eleição pelas tais redes sociais que agora todo mundo trata com uma propriedade invejável, como se ali estivesse a redenção de todos os males. Contam seus “curtir” como catam flores no campo, invadem perfis. Há verdadeiros exércitos se confrontando, compartilhando, canalizando tudo o que der. O pior é que poucos sabem (acho que nem os candidatos) que muito daquilo tudo é robô. Robozinhos amestrados em outros países até, para não serem pegos.

Eleição é festa democrática. A gente realmente deveria dar tudo para participar, com alegria e pelo menos algum comprometimento, mas desse jeito fica difícil, porque a gente ainda corre o risco de perder amigos se for explicar como as coisas acontecem.

Eu sinto muito.

São Paulo, queremos soluções, não delírios de santinhos, 2012Marli Gonçalves é jornalistaPrometer é fácil. Cumprir, com que dinheiro, de quem depende e por que ainda não foi feito se parece tão simples, é que parece mais complicado.

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