Eike Batista: o representante de uma era que estamos enterrando. Leia o artigo de Gabeira. Impecável, sobre os nossos prejuízos com o megalômano

mickey-mouseEike personagem de uma época

Fernando Gabeira

Eike Batista é um dos grandes personagens do pais do nunca antes.

Nunca em nossa história, um magnata foi tão presente. Quando acordo e vejo a Lagoa, está lá não Eike Batista mas a ausência do seu projeto de despoluição.

Parceiro do governo federal, cliente do BNDES, amigo do peito de Cabral -avião prá cá, avião pra lá- o jovem que deixou a universidade alemã para fazer fortuna no Brasil tem uma vida romanesca, em que não faltam belas mulheres.

Conheci o Porto de Açu, uma realização fantástica do sonho mineiro de alcançar o mar. Pelo menos, os minérios ele pode levar diretamente ao mar, através de um duto que vai de Conceicão do Mato Dentro (MG) a São João da Barra (RJ).

É uma obra imponente que passei o dia fotografando para uma reportagem de jornal.

Uma parte da restinga foi preservada e o porto mantinha um viveiro para plantar novas mudas. Tudo parecia bem.

Três meses depois voltei ao lugar e documentei, num vídeo para a Band, como as lagoas doces estavam ficando salgadas e como o sal arruinou a plantação de pequenos produtores de abacaxi da região.

O sal veio das areias molhadas que foram retiradas do mar e empilhadas para aterrar a área do complexo.

Acompanhei também o projeto de renovação da Marina da Glória, documentei as obras do Hotel Glória.

Era uma operação articulada: Eike queria a Marina para valorizar o Hotel Glória. Não deu certo.

Onipresente, Eike queria times de vôlei e basquete, lutas, seu domínio parecia sem limites.

Orgulhoso de ser rico tinha um carro dentro de casa e abria suas portas para as câmeras. Algo que me parecia meio ostentação comparado com os milionários de uma Suécia protestante, sempre procurando a discrição.

A riqueza do Eike Batista no pais do nunca antes, lembra-me uma história contada por Roberto Damata.

Dois escritores americanos, Joseph Heller e Kurt Vonnegut visitaram a casa de um multimilionário num fim de semana. A cada objeto que viam, dizia para Heller: isto aí custou mais do que tudo que você ganhou com seus direitos autorais. Heller ouviu calado algum tempo e respondeu:

-Tenho alguma coisa que ele não tem.
-O que?
-A noção do suficiente.

No pais do nunca antes, movido a megalomania, Eike Batista foi o cara da progresso econômico, sempre de mãos dadas com o cara da política.

No passado, ironizávamos a ditadura militar com a expressão nunca fomos tão felizes. Agora, entra em declínio o período do nunca fomos tão fodões.

4 comentários sobre “Eike Batista: o representante de uma era que estamos enterrando. Leia o artigo de Gabeira. Impecável, sobre os nossos prejuízos com o megalômano

  1. norma7 4 de julho de 2013 / 14:52

    Precioso texto: pela síntese e pela advertência embutida.
    Grata e Bjo, Nac

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  2. Ronald Assumpção 4 de julho de 2013 / 20:56

    Pois é, pois é… o Eike é o reflexo do Brasil do Lula onde tudo era e é mentira… e continua. Será que toda esta mentira vai cair com ele está despencando?

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