ARTIGO – Buuuú! Nossos dias assombrados. Por Marli Gonçalves

Andamos escabreados normalmente. Se fôssemos crianças pediríamos até para dormir com uma luz acesa no quarto, com medo de tantas assombrações rondando nossa paz. Esta semana teremos como afugentar, pelo menos as assombrações, de formas mais divertidas, e aproveitar para lembrar tantos que amamos e que já se mandaram desse plano

Temos um presidente bem parecido fisicamente com um vampiro. O que já é assustador quando lembramos que sobrevivemos a todo tipo de outras assombrações, de açougueiros cruéis na ditadura ao bonequinho de palha vodu do saco roxo, entremeados com bigodes vassoura de bruxa, seguidos de topete arrepiado e das profundas olheiras do intelectual. Depois foram anos do personagem fantasiado de operário, seguido pela bruxa do vento ensacado.

Não bastou. Não basta. Estamos todos apavorados com os outros muitos seres estranhos que ainda podem surgir, levantando-se de catacumbas, saindo da tela da tevê, ressuscitando de temporadas nas masmorras de Curitiba não descritas na obra de Dalton Trevisan ou mesmo dos freezers de onde ainda pretendem se descongelar.

O que pode nos apavorar mais do que isso? Ah, tá. Rever a gravação da votação no Congresso. Ouvir os discursos de uma tal caravana trôpega que anda por aí. Sentir o cheiro do Alexandre Frota por perto, brincando de cirandinha com o japoronga do MBL e seus amiguinhos, estes sim, todos completamente censuráveis.

Não serão gatos pretos, abóboras iluminadas, criancinhas gritando e pedindo doces no Halloween que também virou acontecimento no país que gosta de importar hábitos. (Se bem que as coisas por aqui andam tão pretas, se é que me entendem, que estou vendo os comerciantes já pularem direto para o Natal para ver se conseguem desovar e vender bugigangas mais funcionais).

Ainda bem que poderemos apelar a Todos os Santos, dia 1º, livrai-nos do mal! É um dia concentrado, para santo nenhum ficar com inveja dos que têm mais seguidores ou likes.

No dia seguinte, 2, acender velas e pedir aos nossos mortos que a tudo devem assistir, lá de cima ou lá debaixo, que nos protejam desses assombrosos seres que dominam o país, mais do que vivos, vivaldinos. Vigaristas, mesmo, para usar expressão mais clara.

Conta a História que os índios astecas acreditavam que as portas do céu se abriam na noite de 31 de outubro para que os mortos se reunissem com as suas famílias durante dois dias. Daí a tradição de em alguns países fazerem festas, comidas especiais, usar roupas coloridas. Por aqui, não, a Igreja sempre recomendou constrição, pesar. Podemos imaginar até que ultimamente nossos mortos não farão a menor questão de voltar – se estão vendo “de lá” o país andar pra trás desse jeito. Tanta violência, falta de senso.

Quanto mais vivemos, mais nos parece perto a tal hora da partida, e maior é a lista de pessoas que de alguma forma amamos e que nos deixam apenas com as lembranças e, agora, também, muitos registros na internet que independem de anúncio necrológico.

É mesmo difícil se acostumar com isso. É difícil não temer a morte, a mais inevitável das verdades sem data marcada no calendário.

E como não tem jeito, o melhor é fazer como no México com suas caveirinhas multicoloridas. Chegam a fazer caveiras de açúcar onde escrevem os nomes os seus mortos. Todas as formas possíveis de lembrar com carinho de quem já foi e que talvez reencontremos algum dia, quando aqui na Terra, por sua vez, estarão festejando a nossa memória e o que fizemos.

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Marli Gonçalves, jornalistaEsse ano perdeu um de seus bens mais preciosos, o pai. E lembra todos os dias tanto dele quanto da mãe que certamente está em algum céu junto com outros amigos, todos que já eram exemplos de vida com seus ensinamentos.

SP, fim de outubro, início de novembro, 2017

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RIP – Um grande amigo, de 40 anos de amizade. Faleceu Cláudio Deckes, um dos mais criativos publicitários que conheci…

…um dos mais arrojados que conheci;

…um dos mais queridos;

…abriu a porta par a muita coisa que a gente vê por aí e (quaquá) acha moderno hoje. Imagine há 40 anos!

…um dos homens que mais amou um único alguém que jamais conheci, e que hoje foi se encontrar no céu com o companheiro, Carlos. E com seu gatinho, UGO.

Agora os três estão juntos novamente

RIP CLAUDIO DECKES

monte de rosas- lilás monte de rosas

HOJE JÁ CHOREI O QUE TINHA PARA CHORAR

“Os tempos mudaram. O príncipe encantado também está procurando seu príncipe encantado”.

Claudio Deckes
08-06-2008

ARTIGO – Olhar para o céu eu vou… Por Marli Gonçalves

Animated-meteor-crashing-to-EarthGold-moving-animated-gif-stars-falling-in-sky…que é só de lá que pode vir solução… Tô pegando uma carona básica no tom do refrão da canção de Gil, porque além de andar com fé, e com muito cuidado para não cair no buraco, é preciso olhar para o céu. Percebi que a cada dia faço mais isto: olho para cima, para o céu, para o alto, para as nuvens, pra ver se vai fazer Sol ou chover, se rola alguma inspiração, se vai ter aquele show de luzes e sons das chuvas, se o urubu não vai…

Pelas temáticas que andam em voga aqui pelo nosso país e em nossas vidas acredito que você já deva estar fazendo isso também. Se não está, comece! No mínimo isso ajudará muito a manter a sua postura, a coluna ereta, o nariz para cima, e ninguém vai reparar o quão cabisbaixos andamos. Todo mundo não faz isso na virada do ano para ver os fogos de artifício? Pois bem, veja que eles ainda estão estourando, mas em outras praças, de São Paulo, de São Pedro, de Santa Maria, de São Sebastião (acaso soube da bomba que estouraram na OAB do Rio de Janeiro?)

Vira o pescoço. Para cima, para os lados. Veja bem como está o seu ao redor. Quando a gente reza – eu, pelo menos, e, sim, faço isso! – olho para o céu procurando um Deus. Esse Deus de quem ouviremos falar muito nos próximos dias até que a fumaça branca e espessa saia lá daquela chaminé, onde não tem Papai Noel que entre. É só Papa que sai.pretres-13

No mundo esquisito tem meteoro e até nova praga de gafanhotos vindos do Egito. Fora os malucos mandando foguetes para lá, satélites, espiõezinhos.

Enfim tenho descoberto que no céu há muitas distrações e nesgas interessantes. O céu todo azul. Ou com nuvens que ficam o tempo inteiro desenhando-se e movendo-se para nós e nossas férteis imaginações. O céu todo cinza, e de onde vêm despencando torós e raios assustadores – principalmente se você está nas frágeis grandes cidades. A Lua, sorrindo ou gordinha, e as poucas estrelas que ainda dá para ver a olho nu. Como onde vivo é meio enevoado até já arrumei um aplicativo especial “Planetas”, onde me situo e a eles todos, planetas e constelações. Tempo real.

Bright-animated-star-shining-at-night-gifAnimated-planet-with-many-moons-spinning-in-orbitMas também tem muito mais coisas se que passam no céu. Muitas. Ando procurando cometas; há dois meses tive a graça de ver uma estrela cadente. Acabo descobrindo que ÔÔÔ como tem gente que pode estar para lá e para cá em reluzentes helicópteros, as novas limusines. Deve ser mais uma forma de certas pessoas se distanciarem de nós, pobres mortais. Há também os jatinhos disputando espaço e barulho com os aviões comerciais. Aos domingos, dependendo, dá para ver as pipas empinadas. Nunca mais vi foi balões – a polícia deu um tranco; nem asa delta que aqui em São Paulo só dá pra pular dos prédios, e quem faz isso está querendo entrar na terra sete palmos, não olhar pro céu.

Animated-gif-stars-twinkling-in-night-skyMas hoje até que estou tentando ser otimista, vai! Vejo passarinhos. Mas otimismo que é bom dura pouco: pombas horrorosinhas em bandos fugindo do som das buzinas, aliás, do som constante, e mandando de lá do céu seus projéteis e penas. O helicóptero da policia, seguido pelos das emissoras de tevê, todos sobrevoando algumas desgraças que vemos no horário nobre, parecem todos urubus. Urubus, que, aliás, no céu, os de verdade proliferam em pares, brincando com o vento e se embalando nas correntes de ar; quando param ficam lá nas coberturas, na espreita, como bons urubus que são.

Se você tiver sorte é capaz até de avistar um gavião, mas eles não dão tanto o ar da graça quanto essas aves de rapina que estamos criando, soltas, especialmente em Brasília, e que não param de defecar suas ideias e interesses.

Tenho realmente olhado mais para o céu. Parece-me mais infinito e palpável ao mesmo tempo. Ajuda a desanuviar. E vou dizer, pensando bem: acho que tenho, por intermédio dele, implorado cada vez mais que me seja dada paciência e temperança. Com ele conto até dez para não responder a tantas bobagens que ouço, tanta sacanagem que vejo, tanta provocação.

Só mais uma coisa: se for de noite, quando olhar pro céu e enxergar uma estrela, não aponte com o dedo. Minha mãe sempre me disse que dá verruga.Animated-moving-meteor-in-sky

São Paulo, que a fé não costuma faiá, 2013

Marli Gonçalves é jornalista– Uma profissão que exige que os pés estejam bem fincados na Terra. Mas a gente ainda pode fazer aviõezinhos de papel.

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