ARTIGO – Parabéns, SP. Parabéns? Por Marli Gonçalves

 

#spcidadeàstraças. Perdi a conta das vezes em que já usei esta hashtag, vezes em que fotografo, registro e denuncio as condições da região por onde passo ou onde vivo, as árvores tratadas como lixeiras, os abusos, os buracos. As tentativas de contato com o 156, com a Administração Regional…A sensação é a de falar ao vento, ao poluído ar que nela respiramos, conversar com as tais traças

São Paulo, a cidade que tanto amo, está às traças. Esteja onde estiver, se vive ou passou por aqui nos últimos anos sabe muito bem do que estou falando. Aliás está, agora mesmo, nessa estação de chuvas de verão, presenciando todos os dias os carros de bubuia nas enchentes, o lixo, os cadáveres das árvores tombadas sobre as vias, carros, pessoas, o desespero dos moradores retirando com baldes as águas de suas casas e sonhos destruídos.

Estranho como o tempo passa e parece que tudo continua igual, mesmo em meio à tanta modernidade, arquitetura sofisticada, balelas em cima de balelas, contos de carochinha de como São Paulo é cosmopolita, pareceria com Nova York, etc… Há quase 40 anos, cobrindo cidades pelo nosso querido e tristemente hoje extinto Jornal da Tarde, presenciei as mesmas situações, angústias, desabamentos e desmoronamentos, essa população, principalmente da periferia, sofrendo, da mesma forma que hoje ainda vejo, até pior, de forma mais alastrada e cruel.

No feminismo, registro isso em meu livro, aconteceu a mesma coisa: comecei com 16 e, hoje, aos 61, continuamos, nós, mulheres, quase que com as mesmas reivindicações, buscas, situações. Estranho demais ver a vida passar e a gente tendo que repisar os assuntos e dramas, mas na lama, como se uvas fossem, e o bom vinho nunca aparece.

466 anos de vida. Toda cortada, com cicatrizes e buracos terríveis em sua face, a cidade caminha rapidamente para se tornar impraticável enquanto não houver um mínimo de amor verdadeiro por ela, cuidados, zeladoria, mais ação; menos política, mais atuação. Não tem o que tergiversar sobre o básico de suas necessidades. A população cresceu, e os problemas não só se alastraram: se aprofundaram. Saúde, Educação, Transportes, saneamento básico, segurança, meio ambiente. Aponte uma situação, que verificaremos porque não há muito o que festejar em mais este aniversário.

Outro dia, até parei, sozinha, para dar risada, com os meus botões: passando à noite pela Câmara Municipal de São Paulo, vi que eles fizeram daquele prédio carente de beleza e de vergonha, um imenso painel outdoor, propaganda mesmo, que fica ali falando, na projeção digital espantosa, na fachada do prédio, de como eles, vereadores, são legais, preocupados com  a população, disponíveis, trabalhadores. É uma coisa horrorosa, gente! Alguém poderia me informar quem autorizou isso, inclusive um desrespeito à uma das poucas leis que foram boas para a cidade, a Lei Cidade Limpa, que proibiu anúncios e aquelas placas horríveis?

(Ok, eu também vejo os postes emporcalhados com anúncios de métodos e trabalhos milagrosos para buscar e manter aos seus pés a pessoa amada, lavar sofá, comprar peixes, reformar cortinas, o escambau. Mas o pessoal da prefeitura não vê não, ah, não vê não!)

Soube que no próximo dia 25, dia do aniversário, haverá, saindo no centro da cidade, com seis horas de duração, o que chamam de um “Grande Cortejo Modernista”, seja lá o que isso signifique, que eles adoram inventar nomes bonitos. Estão investindo pesado em shows variados pela cidade, com palcos, trios elétricos, apresentações nas sacadas de prédios históricos. De modernismo, dois ou três pingos…

Tudo bem. Mas, sinceramente, São Paulo, com suas milhares de pessoas vagando pelas ruas, dormindo em viadutos e pontes, largadas como sacos de lixo, cobertas por papelão, com a violência em todas as esquinas, com sua gente sem identidade, diariamente pendurada como nacos de carne em vagões, nas filas de emprego, dos postos de saúde, lembra-me uma palavra: antropofagia. E não é exatamente a da poética literária e cultural de Oswald de Andrade e da turma de 22.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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#ADEHOJE, #ADODIA – NERVOS UNIVERSAIS À FLOR DA PELE

#ADEHOJE, #ADODIA – NERVOS UNIVERSAIS À FLOR DA PELE

Nervos Universais à Flor da Pele – Fiquei bem preocupada com o nível de violência de algumas ocorrências este final de semana. O ataque dos torcedores do River Plate à comitiva do Boca Juniors, que deixou os jogadores feridos e obrigou ao cancelamento da final da Libertadores…Os coletes-amarelos se atracando com a política na França, e mais um dado: aumentou em 1,4 milhão o número de consultas psiquiátricas aqui em nosso país. Não é para se preocupar? Bem, pelo menos a Espanha resolveu fazer as pazes com a Grã-Bretanha e apoiar o Brexit. Senão era capaz de dar ainda mais violência. Não deixe de ver o vídeo que fiz do encontro dos jornalistas veteranos do Jornal da Tarde. No https://youtu.be/iuZ1mMqPDto

Aqui no nosso canal. E, por favor, inscreva-se. Senão o Youtube não me nota; não nota a gente.

Marcos Faerman: No dia do Jornalista, minha homenagem ao que foi um de meus padrinhos

http://marcosfaerman.com.br/

 

A filha de Marcos Faerman há anos faz pesquisas sobre a obra do pai, um dos jornalistas mais interessantes e completos que tive a honra de conhecer e trabalhar junto desde “menina”.

Costumo dizer que devo a essa amizade e convívio  muito do que fui, sou e serei. Foi ele quem deu algumas de minhas primeiras oportunidades, tanto perto dele no Versus, quanto na Revista Singular & Plural que fizemos juntos, e, ainda, na Revista Especial e Jornal da Tarde.

Hoje foi lançado o portal com sua história. Honra que só um jornalista de seu porte pode ter.

Veja a apresentação do projeto:

Projeto de disponibilização da obra do jornalista Marcos Faerman (1943-1999)

Conheça o projeto de mapeamento, organização e digitalização da obra de um dos maiores jornalistas brasileiros do século 20.

O jornalista Marcos Faerman (Rio Pardo, 5 de abril de 1943 – São Paulo, 12 de fevereiro de 1999) é uma importante referência na história da imprensa brasileira, seja por seu trabalho como criador e editor de publicações alternativas, que resistiram à ditadura militar, ou por suas reportagens, situadas na fronteira entre a literatura e o jornalismo.

Aqui estão disponibilizados os facsímiles de cerca de 800 reportagens escritas pelo jornalista para o Jornal da Tarde, publicações da imprensa alternativa que ele criou, editou e em que escreveu, livros e programas de televisão e rádio de que participou.

Na seção textos selecionados, você encontra 20 textos que oferecem uma introdução à produção de Marcos. Entre os quais, trabalhos que ele considerava significativos em sua trajetória profissional.

Em contexto, terá acesso a trabalhos acadêmicos que abordam diferentes aspectos de sua obra, assim como a depoimentos em texto e depoimentos em vídeo de colegas e amigos.

Para realizar este projeto, contamos com o apoio do Rumos Itau Cultural 2014, Grupo O Estado de SP, Instituto Vladimir Herzog, Fundação Cásper Líbero, Fundação Padre Anchieta, Hemeroteca Mário de Andrade, Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, assim como de muitos outros parceiros, a quem agradecemos pela colaboração.

Viva Marcos Faerman!

Marcos Faerman no JT em 1968.

 

Arqueologia de um repórter

Marcos Faerman (Rio Pardo, 5 de abril de 1943 – São Paulo, 12 de fevereiro de 1999) foi jornalista, repórter, editor, administrador cultural e professor. Viveu grande parte de sua trajetória profissional durante a ditadura militar que tomou o Brasil em 1964, e e participou, como criador, editor e repórter, de importantes publicações da imprensa alternativa, um importante espaço de resistência ao regime autoritário. Escreveu mais de 800 reportagens para o Jornal da Tarde, durante 24 anos. Tornou-se conhecido pela prática do jornalismo literário, gênero que faz uso de técnicas narrativas da ficção no relato de histórias reais.

Marcos Faerman nasceu em Rio Pardo, cidade do interior do Rio Grande do Sul. Seus pais, o comerciante Henrique Faerman e a dona de casa Helena Sandler, eram descendentes de famílias judaicas vindas da Russia para o Brasil na primeira década do século XX, em decorrência da perseguição praticada então contra os judeus.

Em 1955, a família perdeu sua residência e o armazém de Henrique num incêndio e partiu para Porto Alegre. Lá, Marcos teve contato com as ideias socialistas por meio de seu tio Carlos Scliar, muito atuante no apoio e na infraestrutura das ações do Partido Comunista no sul do Brasil, e que fornecia aos sobrinhos material do partido. Fez os estudos secundários no colégio estadual Julio de Castilhos, e tornou-se líder da juventude estudantil comunista. Escreveu jornais e aprendeu a diagramar.

Aos dezessete anos, foi contratado para trabalhar como jornalista profissional no Última Hora de Porto Alegre, após levar um manifesto estudantil para o jornal. Escreveu no Última-Hora até 1964, quando, após o golpe, ele foi fechado e substituído pelo Zero Hora. Ali, exerceu as funções de reporter, secretário de redação e criador do Caderno de Cultura.

Integrou-se ao Partido Comunista Brasileiro em 1964 e, em 1967, fez parte da direção da Dissidência Leninista do Partido Comunista Brasileiro no Rio Grande do Sul. Em 1968, participou da fundação do Partido Operário Comunista (POC), e, eleito para a sua direção nacional, foi destacado para militar em São Paulo. Por meio do jornalista Renato Pompeu, que também era um quadro do POC, entrou, no mesmo ano, para a equipe do Jornal da Tarde, em São Paulo, como redator de internacional.

Permaneceu no JT ao longo de 24 anos, trabalhando como redator, editor de Esportes, sub-editor de Internacional e co-editor do Caderno de Sábado. Foi reporter Especial por quinze anos e recebeu, entre outros, o Prêmio Esso na categoria Informação Científica por Nasceu! Exclusivo: acaba de nascer o primeiro brasileiro do parto Leboyer (04/07/1974), menção honrosa em Esportes por Os habitantes das arquibancadas (28/07/1975), Prêmio do Ministério do Trabalho por Vida e morte no porto de Santos (14/03/1978).

Durante os anos de governo do general Emilio Garrastazu Médici (1969-1974), auge da ação dos instrumentos de repressão e tortura, foi frequentemente detido para prestar depoimentos no Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Afastou-se do Partido Operário Comunista, mas mesmo assim ficou preso por uma semana na Operação Bandeirantes (OBAN), em agosto de 1970. Após esse episódio desligou-se da militância direta, mas voltou a ser detido em 1971 e 1972, ainda por sua participação no POC.

A partir de 1970, atuou na imprensa alternativa, que fez oposição ao regime militar e discutiu temas ignorados pela grande imprensa ou proibidos pela censura, como a tortura praticada contra os presos políticos, os sucessivos cortes às liberdades individuais e os debates das correntes de esquerda. Foi, nesse ano, correspondente em São Paulo do semanário alternativo carioca O Pasquim, que enfrentou, com muito humor, a truculência dos militares e tornou-se um dos maiores fenômenos do mercado editoral brasileiro.

Participou, no fim de 1973, da criação do combativo Ex-, inspirado em publicações underground americanas e europeias, e em jornais populares brasileiros. Criou e editou por 24 edições o jornal Versus, focado em refletir sobre o passado e o presente da América Latina, com textos densos, de força narrativa e poética.

Exerceu as funções de repórter, editor de cultura e editor da Shalom, uma revista judaica editada entre meados dos anos 1970 e o início dos anos 1990. Publicou textos, reportagens e ensaios sobre temas ligados ao judaísmo, como holocausto, neonazismo, cultura e política, sempre a partir de um posicionamento pacifista e pluralista.

Em 1994, foi convidado pelo jornalista Rodolfo Konder, na época Secretário Municipal de Cultura de São Paulo, para dirigir o Departamento do Patrimônio Histórico da cidade (DPH). Lá, criou um órgão de comunicação, a revista Cidade, que discutia as concepções de preservação e de história, atualizando as questões do Departamento e promovendo o debate e a circulação de ideias.

Lecionou Jornalismo Interpretativo na Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, em São Paulo, de 1996 até 1999. Dirigiu, durante esse período, o jornal laboratório da faculdade, Esquinas.

Marcos Faerman faleceu em sua casa, em São Paulo, no dia 12 de fevereiro de 1999, em consequência de um ataque cardíaco fulminante, assim como seu pai, Henrique Faerman. Casou-se quatro vezes, com a psicanalista Marilsa Taffarel, com a sanitarista Maria Inês Machado, com a advogada Vânia Pereira e com a historiadora Nina Lomônaco. Deixou os filhos Júlio Faerman, do casamento com Maria Inês Machado, e Laura Faerman, do casamento com Marilsa Taffarel.

NÃO DEIXE DE CONHECER

http://marcosfaerman.com.br/

a bênção, padrinho de olhos claros!

Encontro Jornal da Tarde – 2013. Filmes, fotos, e mais, dos anos anteriores

mais FOTOS:http://marligoncalves.wordpress.com/2013/11/11/encontrojornaldatarde-2013/

 

Mais> =CLIQUE NESSES “AQUIs” aqui embaixo. Cada um,um pedacinho do JORNAL DA TARDE

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SOBRE O FIM DO JT. Muito triste. Espero falar mais disso depois. Veja o que o amigo James Akel escreveu hoje.

fonte:http://jamesakel.zip.net/

UM ATO INACEITÁVEL

Inaceitável a decisão do Grupo Estado de acabar com o Jornal da Tarde.
A data prevista para tal é o mês de novembro.
O Grupo Estado deveria manter o Jornal da Tarde não apenas como sendo mercado de trabalho, mas sim pela história e atuação do veículo em seus muitos anos de existência.
O Jornal da Tarde foi um marco do jornalismo moderno e dinâmico, quando a direção do jornal era no objetivo de conquistar novas faixas de mercado inclusive nos leitores do Estadão.
Acabar com o Jornal da Tarde demonstra a falta de habilidade da atual administração em extinguir o representante de uma grande parte da história do jornalismo brasileiro.
A atual administração do Grupo Estado está agindo com o Jornal da Tarde do mesmo jeito que o grupo proprietário da TV Record agiu com a Rádio Record, extinguindo toda uma programação jornalística e transformando a rádio em mera tocadora de música.
No caso do Jornal da Tarde, já que o jornal não pode tocar música, então fecham o jornal
.

Aqui tem mais do JORNAL DA TARDE, O JORNAL QUE ME LEVOU A FAZER JORNALISMO

Aqui também

Ainda da série Encontros e reencontros de gerações de jornalistas…Do Jornal da Tarde. Sempre. Aquele. Não esse. Aquele.

Esse filme tem o detalhe especial de ter o fado de Carlos do Carmo de fundo musical.

As fotos são de Milai, a que atravessou o oceano para nos ver. E acho que valeu a pena.

 

 

Mais um vídeo do encontro de gerações que criaram o Jornal da Tarde. Não esse que está aí. Aquele, de outrora.

Esse vídeo é uma homenagem à Milai, a portuguesa que atravessou o oceano para vir encontrar com a turma. Engraçado, para mim, é ver como as coisas mudam ano após ano.Na época tinhamos um difícil e estranho relacionamento. Era a época que jornalistas tinham que ser sisudos ( ainda hoje é um pouco assim) para serem “sérios” e aceitos. E quando mulheres ainda causavam furor se expusessem suas características mais libertárias.

Como já disse: sempre fui séria. Mas nunca fui sisuda.

Estive com essa turma entre os anos 81 e 85, e com eles aprendi muito. Antes, durante e depois.

Essa é a forma de manifestar meu carinho