ARTIGO – Parabéns, SP. Parabéns? Por Marli Gonçalves

 

#spcidadeàstraças. Perdi a conta das vezes em que já usei esta hashtag, vezes em que fotografo, registro e denuncio as condições da região por onde passo ou onde vivo, as árvores tratadas como lixeiras, os abusos, os buracos. As tentativas de contato com o 156, com a Administração Regional…A sensação é a de falar ao vento, ao poluído ar que nela respiramos, conversar com as tais traças

São Paulo, a cidade que tanto amo, está às traças. Esteja onde estiver, se vive ou passou por aqui nos últimos anos sabe muito bem do que estou falando. Aliás está, agora mesmo, nessa estação de chuvas de verão, presenciando todos os dias os carros de bubuia nas enchentes, o lixo, os cadáveres das árvores tombadas sobre as vias, carros, pessoas, o desespero dos moradores retirando com baldes as águas de suas casas e sonhos destruídos.

Estranho como o tempo passa e parece que tudo continua igual, mesmo em meio à tanta modernidade, arquitetura sofisticada, balelas em cima de balelas, contos de carochinha de como São Paulo é cosmopolita, pareceria com Nova York, etc… Há quase 40 anos, cobrindo cidades pelo nosso querido e tristemente hoje extinto Jornal da Tarde, presenciei as mesmas situações, angústias, desabamentos e desmoronamentos, essa população, principalmente da periferia, sofrendo, da mesma forma que hoje ainda vejo, até pior, de forma mais alastrada e cruel.

No feminismo, registro isso em meu livro, aconteceu a mesma coisa: comecei com 16 e, hoje, aos 61, continuamos, nós, mulheres, quase que com as mesmas reivindicações, buscas, situações. Estranho demais ver a vida passar e a gente tendo que repisar os assuntos e dramas, mas na lama, como se uvas fossem, e o bom vinho nunca aparece.

466 anos de vida. Toda cortada, com cicatrizes e buracos terríveis em sua face, a cidade caminha rapidamente para se tornar impraticável enquanto não houver um mínimo de amor verdadeiro por ela, cuidados, zeladoria, mais ação; menos política, mais atuação. Não tem o que tergiversar sobre o básico de suas necessidades. A população cresceu, e os problemas não só se alastraram: se aprofundaram. Saúde, Educação, Transportes, saneamento básico, segurança, meio ambiente. Aponte uma situação, que verificaremos porque não há muito o que festejar em mais este aniversário.

Outro dia, até parei, sozinha, para dar risada, com os meus botões: passando à noite pela Câmara Municipal de São Paulo, vi que eles fizeram daquele prédio carente de beleza e de vergonha, um imenso painel outdoor, propaganda mesmo, que fica ali falando, na projeção digital espantosa, na fachada do prédio, de como eles, vereadores, são legais, preocupados com  a população, disponíveis, trabalhadores. É uma coisa horrorosa, gente! Alguém poderia me informar quem autorizou isso, inclusive um desrespeito à uma das poucas leis que foram boas para a cidade, a Lei Cidade Limpa, que proibiu anúncios e aquelas placas horríveis?

(Ok, eu também vejo os postes emporcalhados com anúncios de métodos e trabalhos milagrosos para buscar e manter aos seus pés a pessoa amada, lavar sofá, comprar peixes, reformar cortinas, o escambau. Mas o pessoal da prefeitura não vê não, ah, não vê não!)

Soube que no próximo dia 25, dia do aniversário, haverá, saindo no centro da cidade, com seis horas de duração, o que chamam de um “Grande Cortejo Modernista”, seja lá o que isso signifique, que eles adoram inventar nomes bonitos. Estão investindo pesado em shows variados pela cidade, com palcos, trios elétricos, apresentações nas sacadas de prédios históricos. De modernismo, dois ou três pingos…

Tudo bem. Mas, sinceramente, São Paulo, com suas milhares de pessoas vagando pelas ruas, dormindo em viadutos e pontes, largadas como sacos de lixo, cobertas por papelão, com a violência em todas as esquinas, com sua gente sem identidade, diariamente pendurada como nacos de carne em vagões, nas filas de emprego, dos postos de saúde, lembra-me uma palavra: antropofagia. E não é exatamente a da poética literária e cultural de Oswald de Andrade e da turma de 22.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Amigo não é para ser oculto. Por Marli Gonçalves

O que é amizade nesses tempos atuais? Nas redes sociais, temos e chamamos de amigos pessoas que nem conhecemos, pior, muitas que jamais conheceremos. Fazemos e desfazemos esses laços apenas com um clique, sem dor. Agora é hora do tal amigo secreto, quando pessoas que se odeiam se sorteiam e pensam seriamente em dar presentes mortais

Fico imaginando umas caixas maravilhosas embaladas com laços e contendo aranhas e serpentes peçonhentas, venenos, mágoas, respostas não dadas durante todo o ano. Ou presentes escolhidos entre os piores, coisas sem uso, presentes ganhos e guardados para serem repassados para a frente na primeira oportunidade. Imaginem esse ano, com a crise de grana e com a cisão política que se estabeleceu entre nós e que deve estar sendo usada justamente para romper relações distanciadas e já estremecidas por outros motivos. Como chamar de amigos? Como deverá estar sendo o tal amigo secreto deste ano, nas firmas e famílias? Desde criança considero o Natal como uma das datas do ano onde as pessoas mais falseiam umas com as outras.

Como considero amizade de verdade algo raro e sagrado, estranho o nome dado à essa tradição que para mim tem a melhor definição de nascimento não na Grécia, ou num sei aonde, mas realmente no mundo, durante a Depressão de 1929. Ninguém tinha dinheiro ou condições para presentear todos – melhor sortear, dividir essa lista – para mim, veio mesmo daí. Não que seja má ideia, mas que é momento saia justa, ah, isso é. Amigo secreto, oculto, invisível.

Adoro também o “tabelamento” de preços de presente adotado. A quantas anda esse ano? 50 reais? 100 reais? Precisa de nota fiscal para quem quiser trocar o bagulho? “Achei que era sua cara…” – uma das maiores ofensas.

Com as mudanças econômicas ocorridas, desemprego absurdo, home office, trabalho esporádico, empreendedorismo individual devem estar sendo bem poucas pessoas que ainda manterão a tal tradição de, rezando, sortear o nome de alguém, e, rezando, esperar que alguém de bom gosto e posses sorteie o seu. Vivemos cada vez mais isolados.

Sou pessoa de muitos amigos. Sou pessoa de pouquíssimos amigos.

 Ambas as afirmações são absolutamente verdadeiras. Mas a segunda trata mais da vida real e considero amigo coisa para se guardar do lado esquerdo do peito, no cérebro, na vida. Estejam eles perto ou longe, em outro continente, como é o caso de uma família de amigos que se mudou para Madri, e porque esse país não dá lugar a gente boa.

Amigos. Sempre. Vivos ou mortos, sempre inesquecíveis. Dos quais os melhores presentes serão sempre as lembranças de momentos vividos juntos. Ou objetos que significam algo que só os dois lados compreenderão, porque é amigo com amigo, cada um com outro, exclusivo; grupos de amigos é outra coisa, há de convir.

ariel com o linguado amigoPensei nisso de forma especial porque lembrei do que considero uma grande coincidência. Tive um “Melhor Amigo”, que perdi em 1993. Dele, de quem lembro diariamente, guardo os anjos que tanto adorava e o hábito de jamais deixar de ter flores em casa, assim como a sua generosidade e caráter. Ele era nascido a 12 de dezembro, Sagitário, por acaso, signo complementar ao meu, Gêmeos. Hoje, tenho como um grande amigo uma outra pessoa de outro lugar, outras histórias e uma compreensão mútua absurda, só possível numa relação sincera e verdadeira. Nascido em 12 de dezembro, também. Significa? Coincidência? Pode ser.

Com esse texto pensei em ser presente de aniversário para ele, que mora longe, uma boa lembrança, e o que posso dar no momento. Acabei pensando que amigo mesmo, para assim ser chamado mesmo, não pode ser oculto, secreto, tem de ser declarado.

Aliás, quantos amores garantiríamos que seriam, depois do fim, nossos amigos eternos quando passadas as relações e que hoje, eles sim, viraram apenas pó, invisíveis, ocultos e esquecidos; em muitos casos, inclusive, inimigos?

Amigos,amigos. Viva o dia do Amigo

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Site Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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#ADEHOJE – – ATENÇÃO, BRASIL!

#ADEHOJE – – ATENÇÃO, BRASIL!

 

SÓ UM MINUTO – Enquanto ficamos distraídos com a novela Neymar no paraíso das camisinhas, o mundo corre sob nossos pés. E o Brasil continua com a marcha-a-ré engatada, continuamente. Essa semana assistimos o anúncio de decisões mortais e inexplicáveis no Código de Trânsito. Ao vaivém das informações – agora Bolsonaro diz que desistiu do decreto para fazer sua Cancun em Angra dos Reis. Do decreto, mas não da ideia. Na Argentina, onde foi meter o bedelho na eleição alheia, começaram a falar numa tal meda Mercosul, peso-real. Como se fosse hora, na balbúrdia que ambos os países estão metidos. Os milicianos cariocas, veja só, estão conseguindo escapulir. Repara.

Não sei onde viram só 0,13% de inflação. Acho que quem calcula não faz compras nem em feiras nem em mercados. Só pode. Ou medem em coisas que não são as que compramos. As que não usamos.

Coisa boa vai ser torcer para o Brasil a Copa do Mundo de futebol feminino, que finalmente ganhou luz. Ah, teve até meteoro dando show nos céus do Rio Grande do Sul.

Neste sábado, comemoro meu dia. Obrigada desde já a todos pelo carinho.

ARTIGO – Em busca do prazer perdido. Por Marli Gonçalves

Vou falar desse assunto um pouco proustiano porque creio que muito mais gente pode estar se sentindo assim e talvez seja bom trocarmos ideias, um pouco de filosofia, essa conversa particular. Não confunda prazer com felicidade. Prazer é fugaz, mas alegria necessária no nosso árido cotidiano.

 

Anda faltando prazer. Anda me faltando prazer. Demorei dessa vez um pouco mais do que de costume para distinguir o porquê de uma certa tristeza no fundo do coração, como definiria e responderia como me sinto, claro, caso alguém me perguntasse. O que anda meio difícil, que alguém queira saber de outro realmente se está tudo bem. Tudo bem, tudo bom. Cada vez mais as relações são fugazes, superficiais e as pessoas estão voltadas aos seus próprios umbigos e a como salvar os seus rabos. Não é uma crítica. O mundo está assim mesmo. Cabe a todos admitirem onde o sapato aperta.

Mas especialmente quem vive só, ou melhor, convive consigo mesmo, tem de estar esperto ao que o seu eu interno está sentindo, até para evitar o agravamento enquanto é tempo. Quem pode, pode, faz análise, viaja, tira ano sabático, inventa uma moda, sai comprando coisas – que comprar coisas é sempre bom. Quem não pode… escreve.

Pode ser a aproximação de mais um aniversário, os teimosos e inúmeros cabelos brancos que despontam revelados pelo espelhos. E que parecem rir da sua cara quando se tenta puxá-los da cabeça. Pode ser essa sensação de ter se tornado invisível justamente para aqueles os quais mais gostaria de estar sendo vista. O tempo correndo.

Pode ser por causa de tanta coisa. Pode ser esse país maluco e desorientado, todo dia ouvir índices bons descendo, índices ruins subindo, o tempo escorregando numa rotina qualquer. A repetição das desgraças que poderiam ser evitadas, e das tragédias que, por mais longe que seguidamente ocorram, nos afetam a sensibilidade – cada vez mais acompanhamos ao vivo muitas delas e diante de nossos olhos elas se desenrolam sem que possamos interferir em nada.

Tenho um bom amigo psicanalista, um vizinho de quem gosto muito, também jornalista, e que um dia vi conseguir mudar um monte de coisas na vida dele. Continua mudando. Me contava que para se “salvar” diminuiu drasticamente o número de horas “GloboNews”; se informa no estritamente necessário. Já eu não posso fazer isso, por conta da atividade, mas detectei uma parte da minha própria angústia: os plins 24 horas vindos da internet, dos e-mails, das redes sociais, do SMS, do Whatsapp, que agora ainda tem mais essa. Cancelar notificações: ajuda.

Continuando a conversa, ele citou um autor que pergunta: “Você realmente quer aquilo que deseja?” “É mesmo o que precisa?”. Porque desejar muito é constante fonte de angústia. Citou ainda mais o que faz para si, a leitura e a culinária, essa última encontrei várias vezes citada como excelente forma de prazer. Cozinhar. Criar.

Prazer é descrito como uma sensação de bem-estar, a gente demonstra alegria quando tem prazer. É uma resposta do nosso organismo. É aquela sensação agradável. Efêmera, curta, mas fundamental. Os prazeres ocorrem à flor da pele.  O dicionário é claro: sentimento agradável que alguma coisa faz nascer em nós; deleite, gozo, delícia; gosto, desejo; alegria, contentamento; boa vontade, agrado; distração, divertimento. E olha que nem estou falando do prazer sexual, que esse é outro capítulo.

Cazuza queria uma ideologia para viver. Eu quero prazer, ter mais prazer. Ideologias há muitas e ultimamente elas têm sido fonte é de enorme desprazer. Porque as pessoas se apegam a elas – talvez até em busca de preencher seus vazios existenciais – e têm ficado meio burras agarradas nessas tábuas de salvação.  Acabam tentando limitar o prazer a aquilo que alguém ao longe acena friamente buscando fanáticos para segui-los. Acabam com os nossos, em palavras, canetadas, agressões.

O prazer é coisa pessoal, individual, precisa ser livre e desimpedido, acontecer quando menos se espera, naturalmente. Prazer me faz sorrir, me impulsiona, dá ânimo, me deixa bem, combina comigo.

Mas precisa de ambiente propício. Que é o que não vem sendo o caso, também descobri nessa busca que empreendi para entender meus sentimentos.

 E você, como está se sentindo? O que é que te dá prazer?

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(CRÉDITO FOTO: Alê Ruaro, para o projeto Identidade Brasileira)

Marli Gonçalves – jornalista

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

São Paulo, no outono.

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ARTIGO – 60, por hora, na vida. Por Marli Gonçalves

Acordei e era idosa. Sentei na cama, movi os braços, as pernas. Corri para o espelho. Chequei se continuava tudo ali no lugar, forcei um pensamento mais arrojado e tudo bem, valeu, pelo menos a meu ver, ele surgiu coerente e livre. Ufa! Tudo bem, tudo legal. Na noite anterior, coisa de um minuto para outro eu tinha pulado de fase no jogo da vida, chegando à casinha 60, aquela na qual é preciso parar um pouco, pensar e esperar quais serão as próximas jogadas.

Tudo igual. Que bom. Agora ganhei um epíteto a mais: idosa. Se provocar, tem mais: sexagenária; sessentona – palavra que pesa um pouco nas costas, principalmente as femininas. Os sessentões parecem mais galãs. As sessentonas, quando citadas, dão a entender que são espevitadas e pouco virtuosas. Usada como adjetivo aponta ironia com a informação que dará em seguida “Sessentona isso, sessentona aquilo, sessentona apresenta namorado trinta anos anos mais novo”…

Tem o coroa também, meio gíria antiga, que um dia alguém me explica. É usado para definir qualquer pessoa que seja mais velha do que quem a declama. “É uma coroa enxuta”, uma frase, por exemplo.

Engraçado, ainda bem que me preparei antes, buscando não ter muita ansiedade, meditando bastante e observando como pode funcionar para mim e para os outros. Do meu canto, me observo e observo. Consigo agora até tocar no assunto por aqui.

O redondo 60 é número bonito, sonoro, imponente e importante. Deve ter algo a mais para oferecer. Tanto que horas têm 60 minutos e os minutos, 60 segundos. Dizem que 60 era o número mais admirado pelos babilônios, que dividiam o círculo em 60 partes, e que foi assim a base na qual estabeleceram o calendário, e calcularam os tais 60 minutos da hora e 60 segundos do minuto. Achavam o número harmônico. Tem o número. 60. A palavra. Sessenta. Sixty, que tem som sexy. Soixante, em francês. Perde um “s” em espanhol, vira sesenta.

Dizem que não pareço que tenho sessenta; tem quem ache que eu não devia nem falar, mas nunca menti. Acho legal. Então até já me organizei para tirar a tal documentação que comprove onde eu precisar que agora, de um dia para o outro, ganhei uns direitos, uns descontos, mereço um outro tipo de tolerância obrigatória e até umas leis de proteção, o tal estatuto. Um lugar diferente nas filas. Vou procurar direitinho o que mais posso ter de vantagem. Porque as desvantagens já conheço e estou vendo não é de hoje nessa sociedade que pouco valoriza a experiência, e nos torna invisíveis.

Estamos aí com força total. Como o tempo passa. Outro dia eu tinha nascido, no outro cresci, fui adolescente e sempre mulher. Nenhuma das fases tão marcada a ferro e fogo como esta. O que foi bom porque carreguei e mantenho as outras partes: ainda sou criança, adolescente, adulta, vivi e agora – como determinam – sou idosa, essa fase marcada com um círculo em volta. Tô brincando com isso com meus amigos e amigas. Ouvi muitas gargalhadas e, dos que já passaram dos 70 e quase já chegam ao 80, ouço dizem: esse é um novo começo. E é neles que me fio. Afinal, quando nasci eles já eram até maiores de idade.

Adoro saber do ano de 1958, e me vejo como um acontecimento igual a muitos daquele tempo onde tudo parecia abrir um novo caminho para o país, para as ideias, arejando ideais, e com grande criatividade artística. Creio que foi um ano bem alto astral. Mais alguns anos que se seguiram também, até que apagaram a luz por 21 anos.

60 anos depois, cá estamos nós, e esse ano agora caminha carrancudo. Valeu a pena? Olho para trás e me preocupo muito é se vou ter energia e vontade de novamente lutar enfileirada para que não consigam fazer desandar de novo o tempo que conquistamos e que se perde. Combater chatos e caretas, e outros tantos que pensam torto, e querem regredir ainda mais.

Uma preguiça imensa aparece do nada. E sei que é uma sensação que invade muitos de nós, hoje idosos, e alguns ainda mais idosos –  que não deve demorar a surgir classificação posterior, já que estamos vivendo mais. Os idosos e os mais idosos, todos por aí com muita energia, superando a garotada que parece já ter nascido cansada e isolada em suas redes sociais.

Temos visto terríveis casos de suicídios, de pessoas famosas que aparentavam ser totalmente realizadas. Penso que talvez elas tenham querido apenas congelar o tempo. Porque sempre há o medo, muito medo,  do que virá.

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 Marli Gonçalves, jornalista – Tá bom, admito, esperei 48 horas para só depois escrever tudo isso. Queria ter certeza do que é que podia ter mudado de um dia para o outro.

São Paulo, junho de 2018

                                               marli@brickmann.com.br e marligo@uol.com.br

 

 

 

 

 

 

ARTIGO – Desmonte e monte, desmonte

                   Desmonte e monte, desmonte

Por Marli Gonçalves

butterfly_17Fico olhando minha gatinha arrumando o lugar em que vai deitar. Ela apalpa, com uma pata e outra, alternando, como se macerasse uvas para produzir um bom vinho. Durante longos minutos fica ali, meio alheia, concentrada na sua atávica tarefa de arrumação, que não sei se é para esquentar ou esfriar o lugar, que nem sempre é o mesmo. Me faz pensar se nós também não vivemos por aí montando e desmontando nossas próprias camas, palavras e atos. Efeito borboleta butterflies

Ando pensativa. Acontece sempre, mas especialmente quando está para mudar de um ano para o outro, ou eu mesma mudar de ano, aumentar um número. E também na Lua cheia ou quando a vida me coloca diante de obstáculos ou decisões. Quando preciso desmontar alguma acomodação para logo montar algum caminho que chegue a outra acomodação. Igual ao solo, a terra que se amolda aos nossos pés, busco meu lugar, no espaço e tempo, para continuar crescendo. Sobrevivendo, agindo.

É uma atividade muito solitária e particular. Porque é como se entrássemos numa máquina do tempo e levados a revisitar determinados períodos, e aí aparecem alguns fatos, pessoas e decisões que moldaram o que é agora, formando um painel que você precisa primeiro estilhaçar, picotar, para formar o quebra-cabeça que quer remontar, criando um novo desenho.

Não é fácil desmontar. Nada. Principalmente nessa selva cheia de armadilhas e camas de gato da experiência humana, quando para se livrar de uma teia, cai em outra. Não é fácil desmontar a insídia que você nem ao menos conhece o teor total e criada por alguém para desconstruir e pulverizar sua imagem diante do que ama. Desmontar o ódio, o ciúme, a mentira e a ignorância que catequiza os distraídos.

Não é fácil desmontar os malfeitos e isso também, por óbvio, é pensamento que surge no delicado momento político que vivemos no país, diante dos olhos de quem quer ver, e inquietando a todos nesse prazo de dias em seis meses que passamos a percorrer. Em que tentamos sair do atoleiro e para isso temos de por correntes em rodas pouco confiáveis, mas as únicas que temos e que têm de girar, até porque não temos mais forças para sair atrás empurrando, preferindo esperar do outro lado da linha.

Os brinquedos de nossas tenras infâncias, muitos, eram de montar e desmontar. Se não eram, desmontávamos só para ver como é que tinham sido feitos, curiosos como cabe às crianças ser. O problema sempre era perder as peças, que espalhávamos, e aí não conseguir nunca mais fazer voltar ao que era, original. A solução fazer bico, olhando em busca de ajuda, ou deixar para lá, escondendo tudo, e logo nos encantando por outro brinquedo. Esse é o lado bom de ser criança. A responsabilidade relativa.

Mas não somos mais, infelizmente, petizes, e nem mais brinquedos são os fatos com os quais temos de lidar, agora sem tempo para troças.

De repente parece que ao redor não se deram conta disso, e baixou algum Erê (o espírito criança, que gosta de guaraná e bolo e se suja, se lambuza quando vem nesse plano) em pessoas que considerávamos mais sérias e maduras. Ou o que foi aquilo do prefeito de São Paulo de molecagem passando trotinho no opositor de quem não gosta, que dele fala mal? O que é que se pensa ordenando os meninos a irem para as ruas escracharem o que nem bem entendem, armados com sprays de tinta, contra armas, cassetetes e pimenta, pensando estar vivendo em cenas de HQ, ficção, algum Mad Max da Avenida Paulista? Brincando de brigar, de fazer fusquinha? Amigos atacando amigos, pessoas demonizando artistas, artistas demonizando cidadãos que, se são do bem não se sabe, mas como desinformados que certamente são acabam agindo e pensando de forma grotesca.

Como vamos desmontar esse foguete complexo?

Pergunto porque não sei respostas, nem as minhas, quanto mais as de nós todos, e muito menos as desse jogo político que lembra o rouba montes dos jogos de cartas. No momento tento só recuperar umas peças que andei perdendo, enquanto percorria outras fases dessa nossa longa história na qual os personagens principais envelhecem, mas ainda dão frutos que podem ser decisivos para começar de novo.

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Marli Gonçalves, jornalista A teoria do caos estabelece que uma pequena mudança ocorrida no início de um evento qualquer pode ter consequências desconhecidas no futuro. Eu só quero ser a borboleta e seu efeito.

São Paulo, 58+58.

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ARTIGO – SP, Mato sem cachorro. Por Marli Gonçalves

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ficamos chateados de ver nossa cidade assim!!!!Faz calor. Derretemos. Tempo seco, não dá para respirar. Se chove nos afogamos nas ruas alagadas, paramos nos faróis imediatamente intermitentes, amarelos piscantes se é que ainda haverá o amarelo, se é que haverá luz para piscar, se haverá guarda, se der para passar pelo cruzamento. A cidade engole um pouco da gente todo dia. São Paulo até lambe os beiços

São Paulo se alimenta de gente, da gente. Todo dia nos consome um pouco mais, e aqui não tem praia, vista bonita, nem como ver pôr do Sol de cima de alguma pedra, batendo palmas – até dá, mas é preciso improvisar muito. Aqui isso tudo é na hora do rush, da tortura do dia a dia das pessoas que o tempo inteiro estão indo de um lado a outro, cruzando suas linhas mal planejadas que opõem os locais de trabalho dos locais de moradia, que por sua vez se opõem aos locais de estudos, de lazer, e até de fé, que agora se processa em campos enormes, abertos, templos faraônicos.

Tudo é grande, megalopólico (saiu assim a palavra). Megalopólico. Uma engrenagem que somos nós que engraxamos, numa relação luxuriosa e antropofágica, permissividade e controle, numa dualidade que poucos lugares, creio, possam oferecer. São Paulo é uma cidade-país, que tem tudo de monte. Nos gabamos do que temos e não conhecemos, apenas respiramos, depois pensando de onde saem tantos tipos que aparecem para nos surpreender e contar suas histórias.

Aqui se anda desviando. De coisas jogadas pela janela. Dos cocôs da artilharia de pombos que vêm do céu; do cocô dos cachorros, como casca de bananas. Das balas perdidas. Dos malucos bêbados na direção das máquinas. Nos desviamos das árvores maltratadas que deixam seus pedaços cair para ver se chamam a atenção antes de desmaiar e cair inteiras, deitadas no solo, exaustas, cansadas de servir como escora para lixo, óleo, tudo o que jogam aos seus pés, impunes. Tenho sempre a impressão de que aqui são detestadas.20160116_164749

A cidade limpa se suja. São ofertas de milagres, trabalhos amorosos, feitiçarias anunciadas em faixas em postes e cada vez mais ousadas em suas propostas. Anjo do amor, feiticeiro da felicidade. Pai Xavier, Mãe Benta do Nhocuné. Buscam incautos. Outros magrelos se juntam aos bandos, cada qual vindo de uma região para um desafio mortal, fazem piruetas para subir em prédios e rabiscar gigantescos sinais incompreensíveis. Às vezes se distraem, caem e morrem estatelados no asfalto, lamentados por alguns momentos, esquecidos rapidamente porque aqui nunca ninguém viu ou sabe de nada, pode perguntar. Ninguém viu. Não sabe de nada. Não quer se comprometer, me tira fora dessa. Eu só estava passando. Sim, ouvi uns gritos, mas achei que era alguma festa.Por favor, mantenham a cidade limpa!

Mas também aqui chegam os artistas com tintas coloridas, latas de aerossóis, ideias na cabeça, poesia concreta. Procuram muros, esquinas, cantos. E pintam seus personagens. Colam adesivos. Agora também carimbam o chão de algumas vias. Invisíveis, certamente nas madrugadas agitadas, vão deixando recados que no dia seguinte nos farão refletir melhor quando com eles nos depararmos. Mais amor por favor.

Tenha paciência com eles. São protestos de tudo. São diários e congestionam as vias, bloqueiam as passagens, irritam quem não os integra e que naquela hora queria só estar bem longe dali. Atrás deles, dos protestos, agora também as bombas, as cacetadas, o perigo do grupo anarquista mascarado de jovens que consideram que nada lhes foi dado e que, portanto, não têm nada a perder, meninos piratas que não querem crescer e se acham heróis da luta já perdida. Batem bumbo, sem noção.

Ah, tanto falam, tanto tentam humanizar essa cidade que não notam que ela já é a mais humana de todas, principalmente nas nossas maiores imperfeições. Cidade egoísta, cheia de ciúme de outras, e em suas ruas cada vez mais se estendem corpos cansados como as árvores, e que se camuflam como o lixo em residências imaginárias, de sacos pretos, de papelões.

São Paulo, 462 anos de vida. Parabéns. Você é o espelho desse país, desse momento agoniante que vivemos, no mato sem cachorro, na crise que te abarrota de placas de Aluga-se, Vende-se, Passa-se o Ponto. Zonas sujeitas a alagamento. Focos de mosquito. Proliferação de escorpiões. Mapas de violência. Pontos negros. Perigo de assaltos. Cuidado ao atravessar.

Vamos soprar suas velas.dlrcity

Daqui, 2016.

Marli Gonçalves é jornalista – Desta cidade de idade, da qual se espera tudo e de onde menos se espera é que não vem nada mesmo.

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“Pintoficação”. Suspensão. Burlesco. Shibari. Contorcionismo. Danças. É a Festa Especial Luxúria, neste sábado, 9. Conheça as regras, e tudo certo. Por Heitor Werneck

ESTRELA DA FESTA
ESTRELA DA FESTA

Edição especial de aniversário do Projeto Luxúria com direito a “pintoficação”

No próximo sábado (09), acontecerá a edição especial de aniversário do Projeto Luxúria idealizado pelo estilista e produtor de eventos, Heitor Werneck.  Com o tema “Fardas e Uniformes”, os fetichistas poderão ousar no dress code e quanto melhor o look, menor o valor da entrada.

olhão2Em comemoração aos 08 anos de Projeto, Heitor irá suspender o corpo usando ganchos passados através de perfurações na pele (suspensão corporal). A pista será comanda pelos Djs Nagash Sagan, Maxw Stacy, Nick Angel e Yuki Fujita .

Também outras atrações farão parte da noite, como: dança egípcia (Giselle Kenj), pole dance (Alessandra Valença), burlesco (Mayriska Krasni), contorcionismo (Katia), Shibari (Toshi San), exposição de fotos e filmes (Alexandre Medeiros). Já quem se interessa por “pintoficação” poderá conferir diversos modelos de esculturas do artista Shoker.

Os valores de entrada variam de acordo com o traje, ou seja, dress code com o tema da festa de R$ 40,00 à R$ 60,00, fetichista (látex, couro, vinil ou fantasia) R$70,00, roupa preta R$ 120,00, roupa íntima R$ 150,00 e casual (jeans, camiseta, entre outros) R$ 220,00.

O Projeto Luxúria acontece no Templo Club, localizado na rua Treze de Maio, 830 – Bela Vista. Para saber mais, acesse: www.facebook.com/projetoluxuria.

Informações:
Local: Templo Club.
Endereço: Rua Treze de Maio 830 – Bela Vista.
Horário: A partir das 00h.
Telefone: 11 2592 4474.
Aceita todos os cartões de débito de crédito.
Aceita cheques.
Possui ar condicionado

(FONTE ASSESSORIA DE IMPRENSA DO PROJETO LUXÚRIA)

HEITOR WERNECK – IMAGEM DA SUSPENSÃO (PROJETO LUXÚRIA)

Hoje é aniversário de 12 anos, de um site irmão: o Ucho.info. Parabéns! O que tinha a dizer e o que o Sponholz, sempre genial, desenhou.

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Ucho, O Batalhador

 

Todos os dias, penso, o Ucho Haddad sai da cama, calça os chinelos, mas antes de sair do quarto busca ânimo não sei onde, e  deve colocar uma armadura, afiar uma lança e só depois enfrentar o mundo – o que faz há 12 anos no seu campo de batalha, o site Ucho.info.Porque vou dizer, como testemunha: todo santo dia ele, sozinho, vai atrás de notícias ou se solta em comentários e artigos que escreve contra os desmandos. O que já é muito trabalho quando se vive no país chamado Brasil. E é eclético: escreve sobre política, poder, cultura e até esportes. Escreve poesias. Alimenta ainda as redes sociais, no Facebook e no Twitter.

Ucho é um exemplo vivo das dificuldades de exercer um jornalismo livre. Livre, livre, livre. Lindo, não? Mas a gente não vive do ar! Todo dia, todo santo dia, a batalha pela sobrevivência, para manter o site, pagar contas, se livrar dos hackers e outros percevejos que tentam invadir todas as suas comunicações e tirá-lo do ar, escutar suas conversas ao telefone.

Não aguento mais essa gente que tanto fala “mídia independente” para lá, “mídia independente” para cá, acenando com a mãozinha e soltando a língua, elegendo como “mídia independente” justamente os que não o são, aqueles seres que repassam recados e que mais atarracados ao poder estão, recebendo dinheiro de tudo quanto é lado e que, por favor,  poupe-me de citar nomes e letras, porque essezinhos gostam de processar quem os critica.

Aqui no Ucho.info não é assim. É desgaste, inclusive da saúde. É uma vida quase espartana. Coitado do Ucho ( e coitada de mim também). Ai,  se não tivéssemos, por exemplo, amigos advogados!

Mas Ucho tem amigos. Não tem dinheiro. Não tem patrocínio. Mas tem amigos. Inclusive para defendê-lo, porque vive se metendo em encrencas com as diretas que dá no queixo desses corruptos todos soltos por aí, que ficam bravos e tentam mordê-lo.

E outra coisa: Ucho é amigo. Se passei a escrever semanalmente desde outubro de 2008 devo só a uma pessoa. Foi ele quem me instou primeiro a não parar,porque aqui no Ucho. Info eu teria meu espaço garantido, o que mantenho desde então, com centenas de leitores e ampla repercussão, e que consegui espalhar por todo o país, de Norte a Sul. Porque se você ainda não sabe, fique sabendo: esse site aqui tem muita repercussão, e muito especialmente também lá naqueles gabinetes todos de Brasília.

Isso é jornalismo independente.

Parabéns, Ucho! Pelos 12 anos de vida,pelo esforço, pela batalha digna.

E, você aí que nos lê! Da próxima vez que vier aqui e ver esse pedido “O ucho.info precisa da sua colaboração para manter o jornalismo independente e continuar ajudando o Brasil”, acredite. Ajude, se puder.

Porque a gente só sabe fazer jornalismo. Não sabe ganhar dinheiro. E de brisa ninguém aguenta em pé. Muito menos esse homenzarrão que é o Ucho Haddad, que precisa  – e quer – continuar essa batalha diária que enfrenta todo dia quando sai da cama e, claro, quando consegue dormir.

 (Marli Gonçalves)

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Essa é boa. E talvez você ainda não tenha ouvido falar de Maria Antonia, a “última” filha do Zé Dirceu

a535Dirceu ignora tensão e vai a festa junina

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PAPAI DIRCEU ACOMPANHA A DANÇA DA QUADRILHA…

Para o ex-ministro José Dirceu, condenado no mensalão, a quinta-feira (20) que parou o Brasil ontem, não aconteceu: ele no início da tarde à festa junina na creche da filha Maria Antonia (3), em Brasília. Pai amoroso, acompanhou encantado a quadrilha e o casamento na roça das crianças, sentado com outros pais na arquibancada. Ele e a mulher, Evanise, mantêm a menina longe da imprensa e só a mãe tem autorização para buscá-la, quase sempre numa picape Tucson, placa de Goiânia. Maria Antonia homenageia a rua em que o pai foi preso em São Paulo, há 45 anos. Dirceu também foi à festa da creche no ano passado, com o julgamento do mensalão fervilhando. Ele tem outro filho, Zeca Dirceu, prefeito no Paraná, que nasceu durante a clandestinidade.

FONTE: COLUNA CLAUDIO HUMBERTO

ARTIGO – Voltas de Saturno, rugas e pregas.

                                             Marli Gonçalves Como agora está bem na moda, lá vou eu marchando em direção a mais uma volta da roda-gigante, mais um upa-upa do bicho da seda, para mais uns trancos do carrinho elétrico. No parque de diversões de nossas vidas, o chicote maluco nos açoita. Mas a gente marcha, decidido. Assim marcha, nada, voa, aterrissa e caminha a humanidade e a nossa existência.

Peguei a crista da onda alta e fui. Embora no meio de uma selva urbana, onde deveria mais é pensar em safári, essa imagem de surfista tem frequentado muito minha cabeça ultimamente. Ficar por ali, por perto, na areia ou dentro da água, só na espreita, de butuca. Olhar o céu, o vento, as condições, formações e informações. Sempre pronta a correr e pegar a chance, deslizar, ver no que vai dar. Até sempre chegar à areia de novo e tentar voltar para mais uma, muitas vezes esfolada e sem qualquer prancha para segurar.

Mas agora é um novo barato o que está na onda: marchas. Tudo é marcha, marchar, percebeu? Pelas liberdades, pela pamonha, das vagabundas, das boazinhas e boazudas, para Jesus, por Jesus. Da família, dos desconsiderados, a favor disso, contra aquilo. Das mulheres, de homens, de gays, ou do contra. Sempre achei doido o ciclo das modas, que catam palavras e as usam até exauri-las, esvaziá-las, e depois as abandonar, gastas e inertes, sem sentido.

Já foram passeatas. Paradas. Mobilizações. Agrupamentos. Agora são marchas. Não sei como começou, nem quando vai parar. E temo um pouco essa coisa militar de passos fortes e unidos em bloco, avançando em alguma direção, marchando, fazendo tremer o chão. Sempre me parece agressivo, uma coisa de campo de batalha, de confronto. A primeira vez que ouvi falar de uma marcha foi a tal dos 100 mil dos anos 60; deu no que deu.

Mas eu era pequenina e não sabia nada. Só sentia a tensão, a censura quando me mandavam não falar de certas coisas fora de casa. Sempre tive olhos grandes, quase maiores que a cara, que piscavam, sempre captando, lado a lado dos ouvidos. Assim fui indo, ouvindo os tiros da guerra contra as guerrilhas urbanas. Às vezes via – como vi o corpo de Marighela, morto a poucos metros de onde morava. Ou só sabia, com amigos que jamais veria novamente. Ouvia o rock e, em paralelo, as palavras de ordem que ainda hoje se mantêm permeando o tempo – o povo unido, jamais será vencido. É um. É dois. Quatro, cinco, mil. Vamos lutar pelo futuro do Brasil. Foi dessa massa que saiu o bolinho que sou – soprando velas ano após ano no país que ainda está lá no Futuro. Um misto quente de marxismo, ideais, rebeldias, feminismo, jornalismo, ao som de uma trilha sonora digna de uma Rádio Rock, de Kiss FM.

Trancos e barrancos depois, venci desafios, superei medos, pus o pé no chão e fui. Ao mesmo tempo, também perdi disputas, ganhei muitos novos medos, e em vários momentos fiquei parada, estancada, aguentando. Lutei contra a morte diretamente, a minha, que venci pelo menos até agora; perdi a de minha mãe, a de muitos amigos. Assim, envelheço na cidade como diz a música de Scandurra. Mais um ano que se passa/ Mais um ano sem você/Já não tenho a mesma idade/ Envelheço na cidade/Essa vida é jogo rápido/Para mim ou pra você/Mais um ano que se passa/Eu não sei o que fazer…

Sou do século passado. Do ano bom e marcante de 1958. 53 outros se passaram e, no meio deles, quando momentos e fatos me obrigaram a amadurecer, hoje lembro perfeitamente de um dia lá atrás no qual pensei onde estaria hoje, o dobro, depois. Estou no mesmo lugar enquanto, como diriam os astrólogos, por duas vezes Saturno desfilou seus anéis, dois ciclos quase que completos, em seu vagaroso andar de planeta lento. Esse, Saturno, que não marcha; se arrasta.

Não precisa ser místico para entender. Nos vinte e pouco tomamos um “boeing” na cabeça; nos cinquentinha começamos a procurar os motivos para tudo que aconteceu, onde nossos pneuzinhos passaram, o que nos marcou a face, os dentes perdidos, as dores que lamentamos. E depois, creio, os setentinha, liberadores, como ouvi de Ney Matogrosso. “Eu posso tudo agora”, ele disse, em uma síntese de liberdade invejável de falar, fazer e acontecer. De “estar podendo”. Quem dera. Quero assim também.

Chego lá. Sem marchas nupciais. Em marcha atlética, que atrás vem gente. E que Deus me ajude!

São Paulo, olho no contador de quilômetros rodados, 2011(*) Marli Gonçalves é jornalista. Como o vinho. Como o whisky. Como a prática, a sabedoria, os calos, as rugas e, sim, como algumas pregas. As de minha língua e do meu pensamento estão se soltando cada dia mais. Pensou o quê?

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TRILHA MUSICAL:

ARTIGO – Contradições, resistências e rock n`roll

                                                                                                  Marli Gonçalves Sou a própria contradição, mas para quem vê e não sabe. Todo mundo tem direito a pelo menos uma contradição nessa vida; jogue pedras e cuspa rãs quem nunca as teve. Claro, elas devem ser moderadas, e, se possível, evolutivas, para melhor, mas não me venham com preconceitos e bobeiras

Mais uma semana ouvindo que o Bin Laden não morreu, que querem ver o corpinho com as barbas de molho, que o coitadinho, velhinho, estava desarmado, meu saco de paciência estoura. Aliás, ele – o meu saco de paciência – anda meio que mais no limite do que os cestos de lixo espalhados pela cidade, transbordantes, enfeites do descaso urbano pendurados em postes.

Não sei se os surtos vêm da água que bebem, mas tem gente sofrendo de crises infantis do tipo São Tomé, que só acreditam vendo, ou acometidos de gugudadá de muxoxo porque a sociedade civil pressiona e avança, acima da cabeça dos coronéis e pistoleiros e pistoleiras em cargos públicos, eleitos ou indicados pelos seus pares. A decisão tomada pela Supremo, por unanimidade, reconhecendo juridicamente a união de pessoas do mesmo sexo, nos dá certo alento. Algumas gotas pingam das torneiras da Razão.

Ninguém vai obrigar ninguém a casar. Até porque inclusive entre os gays há de praxe uma certa alta rotatividade nas relações, que pode até vir a melhorar. Mas se acabar vai perder a graça. Também não precisa ser gay para entender, apoiar, assim como não é exatamente uma questão religiosa.

Contudo, não é porque sou da Paz que rejeito as regras da guerra. Vivemos em conflito, até com nós mesmos! Padres não viram castrados ao serem ordenados. O desejo chega; não manda recado, nem marca hora. É assim que tudo pode ser, um dia, a nossa realidade, por mais distante que esta pudesse parecer. Não diga dessa água não beberei, com ou sem bolinhas. Se não fui acho que devia ter ido – sempre rola.

A propósito, o tema é respeitar. Mudar, fazer, acontecer, decidir – ou não. Os dias passam. E a geminiana aqui se encontra em sua plena piração anual, que acontece de qualquer jeito. A sorte é que ganhei de presente de Deus um espírito mutável.

Depois dos 50, preparem-se as que quiserem ouvir, fica mais, digamos assim, visível a pressão externa por mudanças, a avaliação, uma certa apreensão com os próximos dias, e não é mais só pela espera da menstruação – de quem gostava muito, e que ando até com saudades da rotina, agora inconstante.

Antes que esqueça, inclusive, explodam-se as convenções. É o que acho. Sou, no bom sentido, moleca; nasci moleca e moleca permanecerei de espírito. Sempre vivi a contradição entre a imagem que os outros vêem e julgam – e o que sou exatamente. Sofri, apanhei, perdi e acabo sendo sempre muito prejudicada por isso, o que me faz sempre evitar fazer juízos “visuais”. Cansei de ser chamada de maluquinha, meio louquinha, figura, exótica (é, usam muito essa palavra para mim), ou qualquer outro termo apenas idiota ou condescendente que na verdade busca desmerecer-me, mesmo que sem esse claro propósito. Só o velado, o odioso velado.

Escuto. Pisco. Sei. Faço de desentendida para viver. Tento apenas escapar de que não me atrasem ainda mais a vida por isso. Controlar o que posso, mas só posso com o que é declarado, claro. Queria ver é fazerem metade do que faço, da responsabilidade com que encaro as tarefas que me são confiadas, das renúncias que fui e sou obrigada a fazer.

O mundo é dissimulado demais da conta. Pensam que foi fácil chegar até aqui – com vários arranhões, decerto – mas sendo ainda espontânea, otimista e independente? Sem riquezas e posses, sem olhos claros, e de altura pouco mais de metro e meio? Solteira, sem filhos? Para azar e horror dos que gostam de teses imutáveis, sempre fui estudiosa, sempre fui obediente e boa filha (perguntem por aí, se duvidam), boa irmã, boa amiga, solidária como posso. Trabalho, literalmente, e sem parar, desde os 15 anos de idade, quando pretendi, mas nunca consegui, comprar uma motocicleta, mondo cane. Fui uma das primeiras – ao menos que conheço – a andar de moto, de skate, por aí, e a conviver com garotos sem que isso significasse nada além de amizade. Não havia raça proibida. Nem religião. Nem estado civil, sexo. Tudo isso no meio de uma ditadura. Ou isso ou aquilo. Sempre optei pelos dois, ou três, ou mais quesitos. (…piscadinha marota…)

Sim, quiseram casar comigo, mas me desvencilhei, segura de que só – eu e minhas contradições – seria feliz, porque também sempre achei no caminho gente querendo é me mudar, me prender, tirar o sorriso de minha boca e o brilho dos meus olhos. Alguns conseguiram. Mas fui buscar de volta a tempo. “Atroz contradição a da cólera; nasce do amor e mata o amor”. (Simone de Beauvoir).

Aos 8 anos de idade, me joguei na lama por odiar uma roupinha de marinheiro branca e engomada que me obrigaram a usar; a partir daí invento minha própria moda. Quando tem gente vindo, já fui e voltei. Fui e voltei. Voltei e fui, mesmo sem sair do lugar. Nem tão solta como quis, mas sempre com os livres e os livros. Amei e amo muito, inclusive casos que duraram algumas décadas, sem ter o amado, apenas o amante, de todas as cores, credos, carteiras, com cabelo ou não. Apenas algo que me encante.

Sou rock n`roll, mas também sou jazz, e pretendo manter a resistência.Tudo é possível, e aqui no Brasil ainda mais, o lado bom de nossa gente.

Somos nós as contradições vivas, e quem é que sabe disso além de nós mesmos?

São Paulo, astral de 2011, quase virando mais um numerozinho do velocímetro

(*) Marli Gonçalves é jornalista. Usa minissaia e aproveitará bem, até o último instante, tudo o que puder.

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O Baú de Minha Mãe”,  artigo que escrevi em homenagem à minha, à sua, para todas. Para ler, clique AQUI

Essa também é do Aziz Ahmed…Sobre Brasília, a que vai fazer aniversário amanhã

Entorno é o cacete

O governo de Brasília não quer mais usar a expressão “Entorno do DF”, para identificar a região vizinha. Agora é “Região Metropolitana”.

 Suspeita-se que a definição “entorno” tenha adquirido conotação pejorativa.

ARTIGO – SÃO PAULO, AILOVIIÚ

MARLI GONÇALVES

Peço desculpas de antemão. Terá de ser um pouco maior, tão grande quanto a cidade que homenageia. Feche os olhos. Imagine São Paulo. Vou tentar narrá-la. Ou descrevê-la como fazíamos em nossa infância, na frente de desenhos importados e mal impressos. Aqui está tudo em nossa própria carne. Impressões digitais e na íris, nome de uma flor que você vê, andando por ela.

 

Vejo coisas malucas que só por aqui. Vi uma fila de motoboys, pizzas na mão, em frente a um prédio só, em dia de chuva. Vejo policiais de bicicleta, de moto, de viaturas, de helicópteros. E descalços, ao mesmo tempo, com seus salários de fome. Uma fome que alimenta a violência.

Vejo até guardas florestais com imponentes Lands Rover. São Paulo tem áreas florestais, sabia?

Na chuva, enchentes. Na seca, narizes sangrando e muito coff-coff-coff. O asfalto queima as patinhas dos cães, muitos, vira-latas ou de madames, mas aqui algumas delas põem sapatinhos em seus bichinhos.

Cavalos puxam homens e carroças. Carroças são puxadas por homens e cavalos. Às vezes homens puxam cavalos e carroças. Algumas, apenas o cavalo solto nas estradas, perigo da noite.

Gente que tem muito. E gente que não tem nada. Nem a perder. Nada. E achados e perdidos, que essa cidade tem.

Tem trânsito, tem calmaria (mas só quando a deixam, fugidos, nos feriados). Tem flores de todos os tipos, árvores coloridas. Mas você precisa olhar para elas. Os ipês, mancas, quaresmeiras, as azáleas, os lírios e as palmas. As íris, quase violetas.

Aqui já vi, vejo e verei mendigos poliglotas. Loucas elegantes que fazem uso à sua moda do que ganham, acham nas latas, caçambas da vida. Nas caçambas dos Jardins acha-se de tudo: estolas, quadros, móveis. Eu já vi e catei. Brinquedos. Não entendo por que quem joga não é capaz de juntá-los para oferecer e ganhar na troca o olhar lindo de uma criança. É São Paulo.

Já vi até dentro de carrinhos de bebê. Aqui tem gente que anda nas ruas com cães, gatos, papagaios, cacatuas, e até porcos e coelhos. Minha mãe teve dois galos. Que cantavam nos Jardins.

Ah, barulho tem toda hora. Agora. De noite e de dia. Psiu? Cadê você, Psiu? Sempre em construção. Ou carros e motos acelerando. Ônibus lotados subindo ladeiras, que aqui têm muitas. E os bêbados da noite, em carros de todo o tipo. Ou nas calçadas. Mas as bêbadas são piores, com suas vozes finas, gritantes e lamuriantes.

Nos céus, aviões, jatinhos e helicópteros. Quase Jetsons, não fossem os balões pipocantes que de vez em quando um ser irresponsável solta por aí. Uóóóómmm. As sirenas das ambulâncias, dos policiais, dos bombeiros, do resgate. E dos idiotas que agora inventaram e usam uma corneta com esse som.

São Paulo: seus parques e praças são poucos. Suas áreas de risco, muitas. Sua periferia, cinza. Suas favelas, até isso, sem graça, sem samba, sem cor.
Mas aqui tem para todo o mundo. Para ateus, agnósticos e etcs. E todas as religiões. Dos rabichos dos Hare Khrishnas, aos dreads dos rastas. Os cachinhos dos judeus ortodoxos, com seus chapelões de pelo. As sandálias dos franciscanos. Os pesados hábitos das carmelitas. O moderno dos Padres Rossi e amigos. As saias “colunas” das evangélicas tradicionais e os terninhos dos pastores. As cabeças cobertas das muçulmanas. Centros de cabala, Kaballah, centros de espiritismo. Mesa branca, umbanda, candomblé, magias de todo o tipo. Até feiras de cartomantes há! Aqui até fachada de templo evangélico gigante parece fachada de centro gay, toda em arco-íris. Verdade!

Ciganas lêem suas mãos. Malabaristas passam bolas de cristal pelos braços. Comem fogo e espadas. Jogam Três Marias para cima. Os meninos pobres tentam fazer o mesmo. Ou pegam rodinhos e paninhos sujos para limpar o seu pára-brisa.

Aqui em São Paulo tem rua de tudo. De madeira, noivas, móveis, decoração, roupas, panelas, ferragens de porta, de equipamentos musicais. Agora há também ruas, muitas, tomadas por hordas de viciados em crack. E os nomes das suas ruas, São Paulo, nem conto! Queria morar na Rua das Estrelas Fugazes, se houver.

A noite de São Paulo pode ser paga. Ou gratuita, se for só para olhar. Suas manhãs são agitadas. Tem quem vem de longe. Tem quem vá para longe. Ida e volta. Diariamente.

Agora, mas só agora – não acontecia isso antes, acredite – vemos gente de shorts e
chinelos nas ruas. Mas ainda não vemos as mulheres de biquíni nas praças que tem quem queira, não queira, não goste. Não possa. Ah!

As avenidas são como rios cortantes para se transpor. Às vezes a nado. Rezando,
os pedestres. Represas, rios e riachos. Córregos borbulhantes e vazantes. Efervescentes, na cidade, tais quais toda sua gente: contorcionistas, voyeurs e exibicionistas, antropofágicos, simpatizantes até de tudo muito aquilo para o lado direito.

A arte está nas ruas, em grafites, adesivos, carimbos. Em cada um por todos. Todos por um.

Além de igrejas, templos e bibocas, há restaurantes para todos os gostos e nacionalidades, desejos, gostos, bolsos. Agora até em motos nas ruas, comida. Em São Paulo, cachorro-frito já acharam, com gato no churrasco, cavalos no aperitivo. Aqui se vende bem caro até espuma, novidade gastronômica. Chame diferente: iogurte vira frozen; molhos viram nomes extraordinários.

São Paulo fala todas as línguas, sotaques, dialetos, gírias. Com r, s, ou estalados nos dentes, no céu da boca. O rrrrr comprido dos caipiras, que aqui habitam e mantêm o clima, o charme do sotaque, “sutaque”, uai, tchê, guri, guria, painho, mainha. Óxente, cabra da peste!

24 horas aqui tem pães, sexo, sex-shop, pet-shop, materiais de construção, mercados até hiper, massas e carnes, sopas e álcool, nos postos, convenientes, junto com a gasolina.

São Paulo, frenética, violenta, caridosa, e ruidosa. Esburacada e recapeada. Antiga e antigamente, caindo aos pedaços, indo ao chão e erguendo-se, do nada, inteligentes e inacessíveis. Arranha o céu!

Além de especialidades médicas, doenças e males estranhos.

Antenas, muitas. E antenados. Interferências, todas, e gente desplugada, perdida,
michêse michados. Apagões aqui e ali. Até de inteligência. Rua que é estrada, avenida que é rua.

Aqui tem festa suingueira, festa fechada, festa aberta. Fetiches, Sado e Masô. E ainda os sertanejos dos fuscas tunados. Há os meninos e as meninas, em seus clubes dos bolinhas e luluzinhas. No Arouche tem footing gay nas tardes de domingo. Na Augusta em que nasci e vivi, tem todo dia, toda hora. Augusta dos 60, dos 70, dos 80, dos 90, dos cem em diante. 120 por hora.

São Paulo: sua bandeira e a do Brasil tremulam orgulhosas. Você é preta, vermelha, branca. E verde e amarela. Aqui se vê de tudo e se faz muito pouco do que dá. Cada vila, bairro, uma cidade, uma ciranda. Milhões de histórias para contar.

Feliz Aniversário, minha véia!

Daqui de São Paulo, janeiro de 2011

(*) Marli Gonçalves é jornalista. E paulistana.
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