ARTIGO – O país de uma nota só. Por Marli Gonçalves

Chaaata! Uma nota só, e que não é de samba bom, vira mania para qualquer assunto e é uma nota perturbadora, porque seja qual for o assunto parece sempre se obrigar a dividir em apenas dois tons de opinião, como se muitos outros tons não houvessem, ou não precisassem ser considerados para o melhor entendimento e posicionamento em qualquer questão. Fora que outros assuntos importantes acabam negligenciados.

A tecla fica até gasta. O debate, cada vez mais pobre. Gente atarracada numa posição, grudada mesmo, moucos a qualquer contra argumentação. Moucos, mas estridentes, porque não param sequer um instante de repisar, enviar “gracinhas”, ataques, informações falsas, memes de mau gosto e etceteras esculhambando quem ouse mudar o ritmo e tentar trazer algum fato ou argumentação que navegue entre o sim e o não. Recordei muito de uma antiga propaganda, creio que de tintas, se a memória não falha: O que seria do vermelho se todos gostassem do azul?

O indefensável. Não poderia haver exemplo maior do que alguns fatos desses dias, como a desastrada declaração de Lula, que juntou a palavra Holocausto e sua triste memória ao horror da guerra que se desenvolve mortal e cruel no Oriente Médio em pleno 2024, criando uma polêmica que a última coisa que conseguiu foi buscar a paz ou solução, desviando a atenção, piorando as coisas, e sendo utilizada para aumentar o barulho e ainda mais a divisão. Ou, também, como a inócua discussão ainda tentando absolver o abominável e fracassado – além de cheio de provas – plano de golpe perpetrado pelo grupo que, travestido de verde e amarelo, tenta reescrever a palavra patriota, sempre com a tinta do ódio e da divisão que assistimos nos últimos anos. E, pior, muito pior, agora envolvendo o delicado aspecto da religião. Tudo isso para aumentar o grau de fervura que querem levar para as ruas.

Assim, fica difícil expressar a falta de cuidado das declarações do atual presidente, para quem o considera intocável. Virou guerra também. Criticar muitas das medidas tomadas monocraticamente pelo Xandão, o xerife. Enumerar a lista telefônica de barbaridades cometidas durante o Governo Bolsonaro, às quais se soma agora a execrável caminhada pró-golpe que ainda tentam defender, mas que quem viveu o negro período da ditadura militar ainda mostra no corpo e mente as suas cicatrizes.

Outro dia precisei pedir, com muito cuidado, mãozinhas juntas, a um velho jornalista e amigo descambado que, por favor,  não mais me enviasse vídeozinhos ridículos – a gota d´água foi um sobre dois otários segurando uma faixa pedindo o impeachment de Lula em cima de um viaduto – ou mensagens quilométricas de como os militares consertariam o país. A resposta foi que, como jornalista, eu seria obrigada a ver, como se nas quase 18 horas diárias de trabalho nas quais passo na ativa diante do mundo já não fosse obrigada não só a ver, ignorar ou mesmo responder a coisas até piores que parecem mostrar o país indo para um brejo do qual demoraremos a tirar o pé. Chegam por todos os lados: e-mails, redes, imagens. E até no noticiário oficial, diário. Atrapalha o serviço de uma forma indescritível.

O país de uma nota só está de tal forma cansativo que, ao mesmo tempo, tenho conhecido muitas pessoas que fogem de tudo isso, como se diz, como o diabo foge da cruz, e se alienam em seus sins ou nãos, sem qualquer vontade ou capacidade de rever a posição, que acaba cristalizada, como assistimos.

Pior é a dificuldade que tudo isso traz exatamente quando queremos mudar de assunto, uma vez que tantos estão na lista de espera. Quase impossível. A verdade é cada vez mais alcançamos menos, falamos mais para nossos próprios bandos na refeição feita com uma só panela. Na mistura, o tempero vem sendo complexo: misoginia, preconceitos de todo o tipo, individualismo, verborragia, e, por fim, a liberação de aspectos que jamais imaginávamos encontrar em muitos dos que nos cercam.

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marli goMARLI GONÇALVES Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Hábitos & Manias. Por Marli Gonçalves

Hábitos, manias, vontades que até bate pé para conseguir, porque senão se inquieta. Você tem, eu tenho, nós temos. Somos doidos? Até, talvez. Mas é legal saber que há uma boa distância entre ter hábitos arraigados, quase ou tipo manias, se bem que uma coisa é bem perto de outra, e ser considerado maníaco ou com transtorno obsessivo-compulsivo.

Hábitos & manias
mafagafinhos

Vai que pode até ser um charme ter uma maniazinha qualquer para chamar de sua, um “it”, uma marca de personalidade. Se até o Rei Charles III, entre outras, não dorme sem o seu ursinho de pelúcia, porque é que nós, pobres plebeus e mortais, não podemos ter uma listinha nossa? Tudo bem que a gente não pode fazer igual a ele, dar nem motorista nem babá para os nossos fofinhos, mas cá entre nós: você tem uma dessas adoráveis pelúcias por aí, não? Talvez não durma com ele, ou o leve para viajar, mas que algum brinquedo deve acompanhar sua vida, não duvido.

Já que estou nesse assunto, vou listar mais umas manias dele, do rei do Reino Unido, para você também se sentir melhor e mais normal (funcionou para mim): pijamas e cadarços passados diariamente; O rei não viaja sem seus móveis, Charles costuma enviar sua cama, alguns de seus móveis, fotos e enfeites para onde ficará hospedado, assim como vaso sanitário e o papel higiênico da marca que usa; seus camareiros devem deixar na escova precisos 2,5 cm de pasta de dente, de forma centralizada e simétrica poucos minutos antes que ele vá usar; muda de roupa ao menos cinco vezes ao dia. Não, não sei quantos banhos toma, se toma. Se descobrir, depois conto, que esses detalhes acima foram contados à boca pequena por quem já trabalhou no Palácio. Também vou tentar descobrir se já há relatos ou fofocas das manias da nova rainha consorte, com muita sorte, Camilla Parker. Deve ter alguma.

Mas o ponto central é que tive curiosidade de saber quais são algumas das manias de meus leitores. Vou declarar duas das minhas, para a conversa fluir, que considero coisas até vindas da infância. Uma delas é minha indefectível caneca de sopinha de café com leite ou chocolate quente antes de dormir, para a barriguinha ficar quente. Sopinha, porque mergulho três ou quatro biscoitos cream cracker. É hábito. É mania? São muito próximas as duas coisas. Outra é dormir com alguns travesseiros ou almofadas, não só para a cabeça, mas me aconchegando, ao redor, como se fosse um ninho.  Fica um ninho de mafagafos, mas a mafagafinha sou eu mesma. A minha gatinha também se acomoda por ali e às vezes até demoro a encontrá-la no meio de tudo, branquinha que é.

Conheço hábitos e manias de muita gente, mas vou ter de declinar alguns porque certamente eles se reconheceriam e poderiam não gostar da revelação. Tem cada um! Mas já namorei um que não dormia de jeito nenhum se o lençol não estivesse bem preso no pé da cama, e ficava irritado se se soltasse. Outro que, incrível, não se mexia durante todo o sono, de barriga para cima, dali saindo impecável quando acordava. Tem um maluco por perto que é capaz de voltar para casa imediatamente, por exemplo, se esqueceu de por seus anéis – já voltou até da estrada por conta disso.

A mania/ hábito de limpeza também necessariamente não é nenhum tipo sério de Toc. Uma grande amiga vai rir quando ler que lembro bem: esterilizava a banheira da casa de praia esfregando fortemente com álcool na dúvida se alguém estranho tivesse passado por lá. Tudo bem que de vez em quando a gente lavava a Banzai, nossa vira latinha, ali, confesso, e ela ficava doida. Também nunca deixava de ter uma caixa de fósforo por perto no banheiro, acho que até hoje, que nunca mais perguntei, sabe como é? Neutralizar cheiros. Nessa linha, eu de novo, lembrei:  não sei tomar banho sem lavar os cabelos.

Enfim, entre manias e hábitos achamos superstições, encanações, viajamos numas coisas bem esquisitas, mas daqui de meu “consultório” diagnostico que nada é mesmo grave. É coisa particular de cada um que vem de infância, traz sensação de segurança, faz parte da nossa personalidade e, fundamental, não faz mal a ninguém. É coisa boba, normal, porque a gente apenas gosta daquilo, e também não vai morrer se vez ou outra falhar.

Me conta qual é a sua? Que rei é você?

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MARLI CG ABRILMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Carlos Brickmann. Por Marli Gonçalves

Carlos Brickmann: Ensinou muitos. Deu a mão a outros tantos, solidário. Confiou e empurrou para a frente jovens talentos que sabia reconhecer – muitos destes alçaram voos seguros para a fama, essa senhora egoísta a qual ele mesmo, Carlinhos, como era chamado esse desajeitado de mais de cem quilos, quase dois metros de altura, nunca deu bola…

carlos brickmann
Carlinhos, com nossa gata Mel
ARTIGO, A CONVITE DA DIREÇÃO,  PUBLICADO ORIGINALMENTE NA FOLHA DE S.PAULO, 
OPINIÃO, PÁG. A3, EDIÇÃO DE 23 DE DEZEMBO DE 2022

O legado de alguém é o que fica registrado. Temos sorte em preservar os escritos do jornalista Carlos Brickmann, que partiu dia 17, aos 78 anos, 59 de profissão. No Grupo Folha, onde chegou aos 19 anos, foi e voltou três vezes, e em todos os principais veículos de comunicação do país, jornais, revistas, tevês, rádios, sites. Seu Frias, Octavio Frias de Oliveira, sempre foi referência usual sua. Autodidata, leitor voraz, cuidadoso com a verdade, visão pluralista, bom amigo, colegas que há dias enchem as redes sociais de histórias deliciosas sobre esse convívio. As mãos suadas que secava nas laudas, a capacidade de escrever enquanto o mundo caía ao seu lado e sem olhar para o teclado. Textos enxutos, precisos, vocabulário impecável. Dono de um humor politicamente incorreto, onde se incluía como gordo, feio, judeu e o que mais pudesse, e que nunca vimos – por ser puro – nenhuma mulher, negro, deficiente ou gay se doer. Ao contrário, risadas eram sempre ouvidas, dos próprios.

Ensinou muitos. Deu a mão a outros tantos, solidário. Confiou e empurrou para a frente jovens talentos que sabia reconhecer – muitos destes alçaram voos seguros para a fama, essa senhora egoísta a qual ele mesmo, Carlinhos, como era chamado esse desajeitado de mais de cem quilos, quase dois metros de altura, nunca deu bola. Mauricio de Sousa, com quem trabalhou na Folha da Tarde deu ao simpático elefante de suas histórias que começavam a fazer sucesso o seu nome do meio: Ernani.

Carlinhos gostava disso. Era pura memória, aliás, de elefante mesmo, como se diz. Pura história. Aliás, fatos incontáveis, vividos por ele, e os da História mesmo, geral. Seu conhecimento era acima do normal dos fatos nacionais e internacionais. Da política desta nação que vive em círculos, de momentos históricos, das guerras, em particular da Segunda Grande Guerra, que levou seu povo ao extermínio do Holocausto. Tinha horror a guerras e armas. Mas, guerreiro, defendia sua gente onde e como pudesse, chamando para o debate, que sempre ganharia com Inteligência aguçada e argumentos imbatíveis, qualquer um que destratasse de alguma forma o povo judeu, fosse quem fosse. Judeu engraçado esse que não seguia nenhum rito, adorava uma boa costelinha, um torresminho.

Um grande cidadão em todos os sentidos. Além do jornalismo, sua trincheira. Corintiano roxo, democrata, adepto da liberdade de imprensa acima de tudo, contra a censura, contra ditadores de qualquer bandeira. Cutucou poderosos, enfrentou generais na ditadura, buscou justiça pelo primo Chael Schreier, assassinado torturado, despistou policiais e protegeu perseguidos políticos. Foi ainda um dos primeiros homens a desmistificar a adoção de crianças, agindo como divulgador da ação e anjo de muitas delas, que acompanhou à distância ver crescerem. Seus dois filhos são adotados. Amava os gatos que mantinha em casa e no escritório. Relaxava fazendo cosquinhas neles.

Amigo há 45 anos, com quem tive o prazer de trabalhar e aprender por 30, fico feliz em contar mais dele. Meu Natal ficou menos triste.

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Carlos Brickmann - CarlinhosMarli Gonçalves, 64, jornalista. Sócia e diretora do Chumbo Gordo (www.chumbogordo.com.br), o espaço livre para o pensamento e conhecimento, por ele idealizado.

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Leia também, mais sobre Carlos Brickmann

( 7 de outubro de 1944 – 17 de dezembro de 2022):

Carlinhos

Carlos Brickmann,Carlinhos, o Caco. Por Ricardo Setti

Carlos Brickmann

COM MARLI GONÇALVES
COM KASSAB
COM QUÉRCIA E CARLOS RAYEL
COM RICARDO KOTSCHO E JORGE ARAÚJO

COM JOSÉ DIRCEU

COM RICARDO KOTSCHO
COM MEL
BEBÊ
COM ULYSSES GUIMARÃES
carlos brickmann
Com nossa gata Mel

COM A AMIGA EVELYN SCHULKE
COM MARLI

COM A ESPOSA, BERTA

ARTIGO – Recordações, referências e revisões. Por Marli Gonçalves

Recordações despertadas por gatilhos. São lances de memória que explodem junto com os fatos e as coisas do presente, esse momento que logo vira passado, tão efêmero que é. O passado é assentado em algum lugar da memória, volta em golfadas. O futuro, ah, este é sempre o daqui a pouco.

Deve haver alguma gaveta, caixinha, miolo, não é possível que não seja assim, onde guardamos algumas lembranças, as especiais, que ficam arrumadinhas lá dentro até que algo acontece no caminho da vida, vira a chave e a abre, de lá retirando e nos fazendo reviver vividamente o outrora, seja bom, muito bom ou ruim, muito ruim. Esse gatilho chega com tamanha intensidade que é incontrolável. E só seu.

Aí está a questão que me incomoda não é de hoje. De alguma forma estas lembranças estavam guardadas também com outra pessoa ou pessoas que as viveram ou presenciaram. Deveríamos poder sempre consultá-las quando vêm à margem, de forma que pudéssemos checar se na tal gaveta onde guardadas estavam se modificaram, perderam ou ganharam sentido. Daí necessitar de referência.

Estou perdendo todas as minhas referências, e esse vazio – com o passar dos anos – causa uma profunda angústia. Muitas dessas pessoas partiram, e levaram com elas a possibilidade de comprovação de muitas coisas que eu contaria, por exemplo, em uma autobiografia que um dia talvez ousasse escrever. Chego a ter um pouco de inveja de quem tem mais amigos das décadas de vida. Tenho muito poucos e os mantenho como se fossem joias, mesmo que distantes. Triste que em cada uma das décadas que vivi alguns dos principais coadjuvantes foram levados. Várias formas. Muitos, nas epidemias, de Aids; agora nesta que vivemos de forma tão dolorosa nos últimos três anos. E agora? Quem vai me ajudar a recuperar com mais precisão as aventuras de vinte, trinta, quarenta, cinquenta anos atrás?

Já os amores, alguns desses foram levados pelo vento, ainda nem lembro bem porque ficaram pelo caminho, por melhores que tenham sido no seu tempo. Os terríveis, e os vivi, sou eu mesma que tento assassinar de novo a cada lembrança nas vezes que chegam para a revisão. Alguns, muito bons, estão por aí ainda, mas não posso acioná-los, embora até devesse, por considerar que jamais deveriam ser esquecidos por nenhum dos lados como a mim parecem agora estar sendo – tal a intensidade, forma e o tempo de sua duração.

Tudo isso para dizer que também, igual você talvez, andamos perdendo muitos outros tipos de referências, Gal Costa, Erasmo Carlos, para citar algumas, e as suas mortes funcionaram como as tais chaves que guardavam as gavetas que se escancaram ao ouvir as melodias e letras que embalaram nossa existência em várias fases da vida. Elas escavam o passado sem qualquer controle possível.

Me vi esses dias com pouco mais de nove anos de idade, nas areias da praia de José Menino, em Santos, percebendo quando ocorreu o meu primeiro amor, e o quanto foi platônico. Lembrei o nome! Ivo. Vejam só. Era o namoradinho de uma amiga minha, mas desta não recordo de jeito nenhum como se chamava. Adivinhem, claro, qual música – aparecendo na biografia de Erasmo – despertou e resgatou esse sentimento com todas as sensações daquele tempo tão longínquo e esquecido até essa semana.

Não sei se já contei, também, que passei minha infância ali na Rua Augusta, que era o caminho dos ídolos da Jovem Guarda e todos seus amigos a caminho da então gloriosa TV Record. Quando podia, esperava na porta do prédio que eles passassem em seus carrões. Absolutamente apaixonada pelo Ronnie Von, “Meu bem” (Hey Girl), fazia questão de manter os cabelos lisos e compridos, com uma franja que jogava igual a ele quando cantava, alguns devem recordar exatamente esse movimento; era o príncipe dos sonhos naquele momento. Até há bem pouco tempo, inclusive, ainda me sentia intimidada quando – já bem crescida- o encontrava pela cidade.

Vejam só como eram belos e perenes os ídolos de outros tempos, e o que explica a comoção causada com as suas partidas. E como é grande o medo de continuar perdendo os meus próprios registros pelo olhar de outros. A torcida continua. Aquela. Vocês sabem qual.

https://youtu.be/_SpOyKv02rg

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MARLI GONÇALVES – Foi lindo respirar o ar da torcida pelo Brasil, a primeira vez em anos que pareceu todos torcerem em uma só direção, sem divisões. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Bola, bolinhas, verde, amarelo e o vermelho. Por Marli Gonçalves

Olha a bola batendo em nossas canelas, e o complexo esforço para que o país todo faça as pazes com o aviltado verde e amarelo e comece a torcer pela Seleção, digamos numa só direção. Chega a ser até engraçado esse visível movimento todo, especialmente da propaganda e marketing, no sentido de sensibilizar e tentar virar a chave das pendengas eleitorais que ainda se prolongam em inacreditáveis cenas de delírio ufanista.

bola

Bandeira branca, amor! Vai ser difícil, mas não impossível, embora muito em cima da hora, e depois de muito tempo correndo solto o sequestro da bandeira nacional nos embates políticos dos últimos tempos, e do verde e amarelo ligado ao pior ufanismo, nacionalismo e ranço antidemocrático. A Copa do Mundo está aí, a bolinha que agora é toda colorida vai rolar no campo e dependendo do resultado dos primeiros jogos é capaz até de emocionar corações e mentes crentes no tal hexa, uma estrelinha (ironia simbólica) a mais sendo pregada nas coisas.

Vai ter de este ano, já que a Copa pela primeira vez chega praticamente junto com o Natal e suas bugigangas, competir com o vermelho (outra ironia do destino) que normalmente marca essa época.  A propaganda já está enlouquecida com isso, batendo cabeça, digamos dando tratos à bola. Primeiro quer que a gente torça.  Depois que compremos peru, presentes, demos atenção ao Papai Noel, suas renas e tudo o mais. Querem que consumamos pelos dois eventos, de cores mais uma vez opostas.

Alguns disfarçam. A Ivete Sangalo tem aparecido vendendo linguiça para comer durante os jogos. Vestida predominantemente de azul, com pinceladas de amarelo. Mas está massiva a publicidade de carros, bancos, tudo quanto é coisa que precisa  se atrelar ao  povo e ao futebol, implorando para que o país volte a torcer pela tal seleção canarinho, use as caríssimas camisetas oficiais x ou y, faça as pazes entre si e com os símbolos nacionais, consuma. E não pareça ser bolsominion, ou identificado como um, principalmente desses que ainda andam por aí falando e fazendo bobagens.

O problema é que a eleição terminou, mas as maluquices não. Persistem. Parece que só pioram, numa espécie de surto coletivo da extrema direita incentivando a criação de problemas para a posse e o novo governo eleito. Diariamente, ainda, damos de cara com notícias e  centenas de imagens de  pequenos grupos espalhados inconformados rezando em transe, ajoelhados diante de muros dos quartéis, fazendo discursos odiosos e inflamados repletos de fake news, evocando ditadura, intervenção militar, alguns até em acampamentos – sempre instigados e financiados pelos péssimos exemplos do desgoverno que se vai e esvai,  deixando lamentáveis lembranças e lambanças. E bodes como esse, da coitada da bandeira e do verde e amarelo. Já tivemos isso no passado, um tal Brasil, Ame-o ou Deixe-o de tristíssima memória, e que tinha até musiquinha reacionária à moda dos atuais sertanejos.

Para completar, a Copa será realizada distante, num lugar caro, inacessível para uma maioria, e cheio de não pode isso, não pode aquilo, de tirar tesão de qualquer torcida do mundo. As famílias, os amigos, os grupos ainda estão abalados com tantas brigas e pela terrível divisão imposta entre as duas forças políticas que se enfrentaram, e o que pode abalar os churrascos, os encontros, as animadas torcidas nos bares. E como ultimamente o Brasil tem sido para os fortes some-se a isso o claro, visível e preocupante aumento dos casos de Covid. A volta dos aconselhamentos de distanciamento social, de  uso de máscaras e o temor de que essa nova cepa seja mais perigosa e ainda sem cobertura vacinal que a abarque por aqui, em mais um final de ato melancólico da temporada de Queiroga & Cia no Ministério da Saúde, que já levou embora 700 mil brasileiros, isso contando os números oficiais.

A bola de futebol antes branca e preta agora é toda colorida, cheia de marca, mas sem arco-íris para o país do Oriente Médio que não gosta nada dessas coisas. O impasse está aí.

A proposta? Vamos voltar ao clássico branco e preto. O futuro vice-presidente Geraldo Alckmin já até inovou outro dia deixando à mostra suas meias soquetes pretas, de bolinhas brancas. Um sucesso.

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MARLI GONÇALVES – Viva o democrático branco e preto. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Sonhos, quatro linhas e transição. Por Marli Gonçalves

Acordei esgotada de passar a noite inteira sonhando que estava arrumando malas e sei lá para onde é que era para ir. Vocês já tiveram sonhos desses, de noite inteira, de sonhar contínuo? Acordar, voltar a dormir e continuar com o mesmo sonho, quase um delírio?

SONHOS
 AVENIDA PAULISTA, 29 DE OUTUBRO DE 2022

Pois foi isso que me deixou encucada. Primeiro porque é bem difícil eu lembrar com o que sonhei; segundo, porque inacreditavelmente lembro de ter praticamente arrumado e repassado o meu armário inteiro – e isso é muito. Ou seja, tudo o que tenho passou na minha mente, guardados de décadas, outras para lembrar dias e emoções – sim, a roupa que estava em um dia ou outro importante, amoroso, quase um museu particular. Coisas para doar, cores, casacos, calcinhas rotas até. Eu ia separando e arrumando tudo num movimento sem fim. Não foi por menos que acordei cansada.

Aí me toquei: ressaca eleitoral, só pode ser. Fiquei muito traumatizada com uma pequena saída que dei dia 2 de novembro, no feriado, dois depois do término das eleições. Andei dois quarteirões até o supermercado e vi um monte de gente muito esquisita lá dentro e perambulando pela rua iguais aos viciados da Cracolândia. Zumbis. Não estavam enrolados em cobertas de lã, mas com a bandeira nacional, a coitada vilipendiada. Traziam pela mãos criancinhas, que depois vi também serem usadas como escudos nos bloqueios das estradas.

Já não estava com bom humor, admito, depois de ter passado a noite anterior inteira tentando dormir ouvindo estouros de rojões, muitos, centenas, um atrás do outro, som que vinha ali dos arredores do Parque Ibirapuera, de onde moro há uns três quilômetros de distância. A noite inteira. Se foi inferno para mim, imagino o que assustou a fauna do parque.  Pensei que tipo de comemoração seria aquela, até pela manhã saber que havia uma reunião desses zumbis pedindo intervenção militar, negando o resultado eleitoral, marchando e entoando palavras estranhas diante do quartel – o mesmo onde dezenas de pessoas foram presas e torturadas e mortas durante a ditadura militar. As bombas vinham de lá. Creio que eles tinham comprado para comemorar a eleição do coisinho e como ele dançou foram usar para gastar e perturbar. Mas devia ser um caminhão, um caminhão de pólvora. Quanta comida daria para ser comprada. Mas eles quiseram fazer barulho, perturbar, sentirem-se fazendo guerra.

Fiquei mal mesmo, de verdade. Doente, de cama. Depois acompanhando os movimentos pela tevê, os bloqueios e a violência, só piorei. E a pergunta que faço há meses continua. De onde saiu essa gente? Vocês devem ter visto nas redes os compilados e gravações desses movimentos em todo o país juntando grupinhos de alucinados quase se auto chicoteando, se imolando, alguns de joelhos rezando e gritando, outros marchando para lá e para cá irradiando ódio. Todos de verde e amarelo batendo no peito como se fossem só eles os patriotas. Um movimento claramente incentivado e organizado dias antes das eleições.

Porque natural, ah, natural não era! Natural mesmo foi o mar de gente tomando a Avenida Paulista cantando e dançando feliz durante toda a noite depois do resultado oficial, sofrido, mas vitorioso para quem não aguentava mais esses quatro anos de ataques e retrocessos.  Também moro perto, há um quilômetro, do MASP, na Avenida Paulista e daqui de casa ouvi a repercussão da festa. Depois, na madruga, dava pra escutar até o show da Daniela Mercury, de quem não gosto nada, mas achei até legal ficar ouvindo daqui da janela. Combinou com a festa toda. Natural também já tinha sido no sábado, e este movimento eu presenciei, dia anterior ao segundo turno, a mesma Paulista ocupada por milhares e milhares de pessoas de todos os tipos acompanhando o último evento da campanha de Lula e da Frente Democrática. Todos sorriam, se cumprimentavam, cantavam, num clima realmente de confraternização. Uma diferença enorme.

Começamos então a ouvir falar da transição de governo e agora entendi meu sonho desta noite. Simbolicamente estava arrumando minhas malas para esse novo tempo. Bem sei, nem vem! Não é que muita coisa vá mudar mesmo, estou acostumada com a política, e já dei muita risada com o Centrão imediatamente abandonando a barca e tentando subir nesse outro governo.

Mas outras cores – todas, na verdade, o arco-íris – chegam e podem ser usadas. Sem medo de ser feliz, sem o ódio e a ignorância que se incutiu nas mentes de forma tão deplorável e ignorante como o fez o tal bolsonarismo.

Ufa! No meu sonho, então, me preparava para outra viagem: a de novamente continuar a ser oposição, como já disse, a tudo o que for ruim, esse o papel da imprensa. Conheço bem os perigos dos tais ídolos de barro.

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marli - apostaMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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SONHOS

AVENIDA PAULISTA, 29 DE OUTUBRO DE 2022

SONHOS
AVENIDA PAULISTA, 29 DE OUTUBRO DE 2022

ARTIGO – No que é que você aposta? Por Marli Gonçalves

No que você aposta? A gente passa a vida apostando em algo, pode até ser com a gente mesmo, com o tal íntimo. Entre uma coisa e outra. Um caminho ou outro. Em alguém. Se vai conseguir ou não. Ganhar ou perder, eis a emocionante questão.

Administracion educativa: Proceso administrativo- Dirección

Não é por menos que nos últimos tempos têm proliferado, inclusive por aqui- e já era mania no exterior – esses sites e aplicativos de apostas, que ainda não consegui ter certeza se são bancos, se são sérios, se logo saberemos seus intentos. Por enquanto, ao menos que eu saiba, ainda só na área de futebol, mas não vai demorar muito para oficializarem apostas como esta que estamos fazendo agora em nosso futuro, quem vai levar o Brasil. Tudo virando um imenso sim ou não. Roleta russa, quase. Muita coisa em jogo.

O problema, e grande possibilidade, é que acabemos nos tornando completamente viciados nessas divisões, no país fragmentado de agora, aconteça o que acontecer. Já pensaram se a moda pega? Tudo dá aposta. Vermelho ou verde e amarelo? Já não é mais final de novela, ficção, o “quem matou Odete Roitman”? Tem reality pra dar e vender, e a cada dia sendo criadas novas formas de influenciar resultados.

Não vai demorar para que cheguem aqui as tais milionárias bolsas de apostas, aliás que por aí já devem estar bombando para a Copa do Mundo. Detalhada, não só para quem vai ganhar ou não. Quantas vezes Neymar vai cair em campo gritando e se contorcendo todo a qualquer esbarrão? O mais novo escândalo da FIFA (ou CBF)?  Alemanha? Argentina? Brasil? A Copa no Catar, com todas as idiossincrasias da região, vai dar certo? Mil possibilidades de apostas.

Fico imaginando também o número de apostas que vêm sendo feitas nos cantinhos, esquinas e mesas de bar sobre esse segundo turno presidencial, e acho até que não é por menos que a disseminação de fake news e tentativas de intimidação estão bombando, recordes. Obviamente que ninguém quer perder. E se for aposta a dinheiro, e quase todas as emocionantes o são, então, aí a coisa vai mais longe. Imaginem esses seres que apostaram milhões (contribuições eleitorais não deixam de ser apostas) nos candidatos, especialmente nesse aí que adoraria nos infernizar por mais quatro anos. Se ganharem, quem apostou espera ganhar muito – inclusive dentro do governo e se fazendo lembrar logo na hora seguinte. Ou acaso vocês pensam que essa loucura que vivemos é apenas ideológica? Aposte que não.

Apostar vicia. Perdendo, aposta-se até ganhar. Ganhando, se testa até onde vai a sorte. O Brasil tem amplo potencial apostador. Apostamos há décadas que um dia o país vai tomar jeito! Imagine se não. Aliás, aposta aqui é truco certo.

Conheço quem tenha muitas vitórias e acertos, mas eu nunca fui premiada em nada, pelo menos que me lembre. Ainda acho estranho passar na frente das lotéricas e ver aquelas filas enormes principalmente em dias que o prêmio acumulou. Gente que muitas vezes deixa de comer para apostar. A parte mais legal é quando essas pessoas são entrevistadas e começam a listar o que vão fazer com o prêmio. Ali, todo mundo é bonzinho e vai ajudar a família, os amigos. Deus tá vendo! Sonhar é bom, apostar nem tanto. “Não trabalha não pra ver”, cansei de ouvir de meu pai. Mais jovem, ele gostava de apostar em jogos de cartas. Um dia parou, completamente, creio que deve ter perdido ali algo pesado. Nunca soube o que houve. Mas deve ter sido sério.

Em geral apostas podem não ser nada saudáveis, inclusive para as famílias – muitas veem tudo ser perdido do dia para a noite em bancas. Melhor mesmo ficar só com as apostas bobinhas, que não fazem mal a ninguém, muito menos a nós mesmos. Melhor desafiar-se a si mesmo.

Pensando bem, nesse momento, e a esta altura do jogo, jamais apostaria de verdade em um ou outro, embora, claro, tenho minha preferência.  Acredito que não peguei esse hábito – pelo menos não a dinheiro, e menos ainda com outras pessoas – por causa da ansiedade que me abala muito, sempre, até que algo se decida.  Detesto perder. Já gostei muito mais de torcer pela vitória de uma coisa ou outra, mas na maturidade, e dependendo do tema, já vivi bastante para saber exatamente que nada – muito menos a política – vale a pena sofrimento, aposta radical, sacrifício, queimar meus lindos dedinhos no fogo.

E você, anda apostando muito? Par ou ímpar? #EleSim ou #EleNão? Vai ou racha?

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marli - apostaMARLI GONÇALVES – Oposição ao que é ruim, seja de que lado for. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

ARTIGO – Amigos, razão, sensibilidade, palpitações. Por Marli Gonçalves

Tudo bem aí? Tomara! Por aqui de vez em quando preciso medir pulso e pressão para ver se essa ansiedade que quase me tira o ar, faz ranger os dentes, esses medos repentinos e pensamentos atravessados, não são o meu corpo reagindo fortemente a esse tempo louco que passamos. Tempos estranhos esses em que não adianta quase nada ter razão. Tempos estranhos esses em que ser sensível à sua própria dor e a dos outros traz tantos dissabores.

palpitações

Só me sinto um pouco melhor quando vejo que não é sentimento exclusivo meu. Gente importante, famosa, rica, linda, resolvida, exemplos de equilíbrio que acompanho ou que mantenho entre meus amigos relatam sintomas muito parecidos aos meus. Alguns até descrevem situações ainda mais aterrorizantes e melancólicas. Creio até que meu bom humor e capacidade de adaptação me ajudam a que ainda não esteja tão atingida.

Antes de continuar, peraí! O que se transformou a eleição é só um item, antes que as defesas de todos os lados se armem e comecem a me mandar desaforos, que já ando cheia de receber e me controlar para não mandar uns coices de volta.

Muda de assunto um pouco que esse aí é pequeno diante da real e já encheu, se esgotou e nos esgotou profundamente, levando justamente mais pedaços de nossa saúde, especialmente a emocional. Falo do que restará após esse período tão longo, de anos, de dificuldades, destemperos, retrocessos, ataques, violência e desconsideração, doenças. Do que surgiu dessa situação pós pandemia, que tantos tentam resumir e afastar como se nada tivesse acontecido. Faltam assobiar para muito mais de meio milhão de mortos, cenas angustiantes, covas a céu aberto, aqueles números, gráficos, falta de assistência, remédios, ar, isolamento. Excesso de negação, ignorância, demora de tomada de providências. Muitos dessas consequências e reflexos, incluindo econômicos, só estão sendo sentidos agora, e o que até pode explicar um pouco da loucura, agressividade aflorada, da irracionalidade das discussões sobre qualquer tema; inclusive, a busca de mitos tão dispares entre si.

Por questão de dias, porque não tiveram tempo de tomar a vacina, perdi – aliás, o Brasil perdeu – enormes pedaços de nossa história, de minha história, amigos que por décadas as construíram e que perderam o tempo que tinham por aqui para fazer muito mais. Seus legados, suas obras, as lembranças e aprendizado dos que com eles conviveram. Não quero perder mais ninguém. E tem muita gente atingida.

Temos o dever de honrar a memória de todos e buscar que nada mais se repita assim.  Por conta da negação desenfreada e disseminada muitos outros foram embora, senão da vida mesmo, de nossas vidas, por não conseguirmos mais com eles conviver. Por mais que tivéssemos tentado alertar, eles acreditaram e, talvez, ainda acreditem nas mentiras, nas falseadas, passam por certa lavagem cerebral.

E mentiras matam. São insidiosas, convencem e comprometem o entendimento. Agora vêm revestidas, buriladas, maquiadas com ar tão inocente que conseguem provocar e escavar mundos sombrios, como a censura, o ódio e o confronto insuportável. Comprometem a liberdade.

Teremos de lidar com isso tudo ainda por muito tempo. Esse ar irrespirável. Pior, temos de nos preparar para isso como se em nossas vidas fossem estas as únicas preocupações, sendo que temos tantas outras que se aglomeram e nos pegam justamente tão frágeis, dificultando que possamos resolvê-las por não conseguirmos prever nem o que ocorrerá nos minutos seguintes.

Vocês entendem? Amigos, razão, sensibilidade e palpitações. E expectativas, muitas. Como sempre me aconselha um considerado leitor: “Tem calma, tem calma”

Difícil.

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MARLI GONÇALVES – Oposição ao que é ruim, seja de que lado for. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Laços de amizade. Por Marli Gonçalves

Sei, sei sim, Laços de Amizade, parece nome de novela mexicana, mas qual novela ultimamente que não é mesmo meio misto de mexicana, paraguaia, “guatemalteca” e afins?  A que termina essa semana, Lugar ao Sol, chega a ser surpreendente nisso – e não se trata de realismo fantástico, mas de como os assuntos se entrelaçam e são finalizados na maçaroca, na pancada, igual querem fazer com a pandemia

laços de amizade

Sempre tem um acidente de avião ou helicóptero que mata um, dois ou mais personagens, e como dali não sobra nada, nem precisa ser mostrado – economia boa de recursos; tem  a mãe que não é mãe, o pai que não é pai, muito menos o filho é filho, e suas variações; idas e voltas amorosas, casamentos, e revelações, muitas revelações,  como se os espectadores fossem todos obtusos e ficassem sempre aguardando as redenções, o maniqueísmo do bem e do mal, o expurgo das culpas. O cansaço dessa fórmula talvez demonstre a causa e o crescimento da loucura por seriados gringos e seus roteiros mais sofisticados.

Mas quero tratar da realidade, dos laços de amizade reais. Laços grandes, pequenos, médios, apertados ou frouxos, mas laços. De como é bom ter alguém para chamar de amigo ou amiga, tantas vezes laços maiores do que os mantidos com os próprios familiares. Com o advento das redes sociais, no entanto, o sentido da palavra amigo se modificou, ficou mais aberto. Temos milhares de amigos, que aceitamos, mas não conhecemos e, na maioria dos casos nunca conheceremos pessoalmente, mesmo que alguns até bem gostaríamos. Tenho seguidores, leitores, por exemplo, dos quais sei muito, fatos íntimos, converso e troco ideias, mas que de repente podem passar ao meu lado na rua sem que nos reconheçamos. Há, de qualquer forma, um bonito tipo de sentimento envolvido na relação. Oi, amigo!

Só que nada como o real. As pessoas que conhecemos, admiramos, com as quais percorremos alguns trechos da vida, com lembranças, aprontos, muitas vezes até atritos nos pensamentos discordantes um dia, mas resolvidos. Com essas pessoas nos preocupamos, ficamos apreensivos quando – mesmo que talvez distantes, e andamos um bom tempo distantes de tantas coisas! – delas não temos boas notícias. O que tem se tornado comum, inclusive, situações e desfechos alardeados via redes sociais. O Facebook tem dia que mais parece um obituário. E lá se vão os conhecidos, os amigos, pedaços de nossa histórias, deixando a sensação ruim daquele café combinado, do encontro, o telefonema adiado. Aquela pergunta não feita.

No momento, por aqui, a apreensão é enorme com um amigo ligado a uma máquina e aguardando  a chance de um transplante de coração, e outro com um diagnóstico terrível daquela doença para qual o mundo ainda não encontrou cura ou vacina, embora já ande passeando pelo espaço, até com venda antecipada de bilhetes milionários em naves particulares. Os dois são jornalistas, um mais jovem que eu, com 58; outro, já mais velho, por volta de 76. O que fazer nessa hora, a não ser orar, torcer? O que dizer para quem os acompanha, para suas famílias, como aplacar a angústia? Como apoiar, inclusive os seus outros amigos, alguns muito mais próximos deles ainda, que também quedam desnorteados?

Difícil. Não lembro se já contei que tenho muito poucos amigos reais – grande parte perdi, seja nas ondas terríveis anteriores ocorridas em outras décadas, seja nessa agora que nos devastou de tanta gente importante, e que só um dia mais lá para a frente teremos noção desse tempo de pandemia. Pandemia agora desmascarada e que tentam acabar a pauladas em ano eleitoral, embora esteja ainda tão presente, tão letal quanto a guerra. Quanto as guerras.

Há quatro anos não via um desses poucos amigos, do casal que mudou-se para Madri em busca de seus sonhos e de proporcionar ao filho adolescente a chance de como cidadão do mundo poder realmente fazer suas escolhas, meu afilhado postiço, hoje já com 19 anos e estudando em Haia, na Holanda.

Alexandre está aqui em casa, onde vai passar uma temporada, e essa convivência foi o que me fez lembrar mais uma vez do valor de uma amizade real, especialmente para mim que só tenho meu irmão nessa vida (e uma gatinha que aqui também habita, membra honorária da família). O tempo passou, mas a distância de continentes em nada alterou o respeito que mantivemos desde sempre, demonstrado inesquecível na solidariedade sem par que esses amigos também dedicaram à minha mãe e ao meu pai quando mais precisávamos.

Interessante.  Pois não é que nos conhecemos nus, despidos, em uma praia naturista do  Nordeste? Ainda hoje creio que foi esse conhecimento tão inusitado e natural, sem disfarces, que nos tornou tão unidos, diferentes de amizades outras em geral dependentes de recursos, interesses, e um enorme tempo necessário para se conhecer a essência de um e de outro até ganhar confiança.

Laços de amizade são fundamentais para contarmos. Para nossa sanidade mental, e até para orientar nossos caminhos – que não nos desviemos. Como diz a música, amigo é mesmo coisa para se guardar debaixo de sete chaves.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Aconteceu. Virou manchete. Você tem de saber. Por Marli Gonçalves

De repente, apareceu um público que quer viver em um mundo sem saber, sem ser informado, ou pior, se informando apenas pelo ralo da história. Brigam com os fatos. Em mais de 40 anos de jornalista, não lembro de ter assistido a tantas dificuldades e ataques à profissão, alguns muito violentos, e a grande maioria apenas de uma ignorância que traz ainda mais preocupação, inclusive com a segurança física.

Coitado do mensageiro. Está sobrando sopapos para ele, o que traz as notícias que o mundo fabrica e que, especialmente aqui no Brasil, têm sido mesmo lamentáveis. Nós, jornalistas, sentimos muito. Adoraríamos, de verdade, diariamente informar que está tudo bem, só dar boas novas, falar sobre o crescimento econômico, equidade social, as vitórias e conquistas nacionais, sobre decisões governamentais ponderadas vindas de todas as esferas, reproduzir frases e pensamentos positivos dos governantes. Mas não são essas as notícias do momento, e não adianta fechar os olhos agora.

Algumas informações que transmitimos, até conseguimos compreender, parecem mesmo inacreditáveis. Sim, estamos falando de política, essa coisa sempre muito pesada e cheia de meandros que quem acompanha desde sempre nem mais se surpreende, porque sabe que nela tudo é possível. Mas que a política está exagerando na produção desse possível, está. Em embates infantis, na pequenez dos pensamentos, no amadorismo dos atos, na produção de capítulos vergonhosos que estamos tendo de escrever e descrever, e que se diga a verdade, com destaque nos últimos anos e meses.

Só que agora apareceu uma categoria de pessoas – vejam bem que apenas reparo nesse aparecimento, isso sim é novidade – que não querem saber. Negam. Ficam bravos. Pra que contar que o miliciano era vizinho do presidente?  Porque era. Para que escrever isso? Por que comentar aquilo?

Querem selecionar ao bel prazer as notícias, o que em linguagem usual chama-se censura. Querem explicar que não foi bem assim o que ele disse, sendo que tudo está gravado. A verdade e só o que acham, e acham sem qualquer liame com a realidade, como se vivessem em outro mundo. Os caras fazem as bobagens e a imprensa é que é culpada, xingada, martelada.  Se procriaram nas últimas eleições, alimentados pelas Fake News, pelo whatsapp, pelo rancor, por um sectarismo muito louco que abriu espaço dentro da democracia.

Argumentação? Nenhuma. Pior, muitos, não dá para revidar porque é gente “amiga”. Outro dia, por exemplo, para se contrapor aos protestos contra a ordem de comemorar o golpe de 64, uma escreveu que “não dissemos nada contra quando foi comemorada a Revolução Russa…”

Oi?

Há outras versões engraçadas. Começam com as frases “Ninguém está falando…” (e na verdade, não se fala em outra coisa, e pela grande imprensa, que dizem que não leem, que é lixo), “Isso é perseguição…” (sendo que o “perseguido” foi quem produziu o fato da notícia), “Querem que em três meses…” (sim, porque nos três meses ocorreram só trapalhadas, públicas). Nessa toada não deixarão nunca a alma de Celso Daniel descansar, e ficam só batendo nas teclas P e T, e usando palavras que parecem espantalhos – esquerdalha, petralha, entre outras impublicáveis. Uma cruzada que inventaram para si. O que é deles; o resto seria do tal PT, coitado, que a cada dia aparece mais apagado e combalido, sem capacidade de reação, até porque não tem mesmo, aos atos praticados.  Denunciados, inclusive, por quem? Pela imprensa! Vivemos para ver até o Estadão ser chamado de …comunista!

Não é por menos que há uma crise sem precedentes em toda a imprensa, que se esfacela a olhos vistos, sem compreender o que ocorre no país onde ter opinião é crime.  Colunistas são trocados como roupas nos varais em prol de obterem uma diversidade que seja aceita, o que é praticamente impossível. E cada vez mais os portais privilegiam o que lhes dá milhares de cliques, contando quem se separou, quem está transando com quem, quem cortou o cabelo, emagreceu, engordou, usa biquini branco ou tem estrias.

Pior: fofocas que, antes, a imprensa até tinha de ir atrás para saber, fotografar. Agora não. As notícias chegam andando sozinhas, entram nas redações, gratuitas, diretamente dos noticiados. Isso dá Ibope. E nesse Ibope todos acreditam.

JORNALISTAS

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Marli Gonçalves – jornalista – Defende a informação ampla, geral e irrestrita.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

Brasil, abril

 

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#ADEHOJE, #ADODIA – DESEJOS. FELIZ ANO NOVO!

#ADEHOJE, #ADODIA – DESEJOS. FELIZ ANO NOVO!

Hoje passo aqui para desejar paz a todos. Saúde, alegria, amores, prazeres, paixões. Começamos agora em 2019 um novo tempo para o Brasil. Vamos enfrentar com otimismo, resistência correta e torcendo para que haja responsabilidade da parte de todos os envolvidos.

Agradeço a todos pela audiência, peço mais uma vez que se inscrevam no Canal no YouTube e nas minhas redes sociais. Continuarei fazendo de um tudo para todos os dias estar aqui, só um minuto, mas com vocês. Já é 2019 em algum lugar do mundo, aliás, em muitos, e nós vamos que vamos.

FELIZ ANO NOVO!

Feliz Ano Novo!

 

#ADEHOJE, #ADODIA – FIM DE ANO É BEM LOUCO

#ADEHOJE, #ADODIA – FIM DE ANO É BEM LOUCO

Chega essa época, estamos cansados, loucos pra ver se vira e se vira algo bom. Hoje nossa conversa é sobre os desejos que as coisas melhorem, progridam e que possamos conversar mais sobre boas notícias. A cor é laranja, porque dela viria sabedoria – daí os monges usarem. Onde estiverem que estejam felizes.

 

#ADEHOJE, #ADODIA – COM HUMOR, MAS NÃO É BRINCADEIRA.

#ADEHOJE, #ADODIA – COM HUMOR, MAS NÃO É BRINCADEIRA.

 

Acho que é importante dar uma situada. Se faço esses vídeos usando humor, quero dizer que isso não é brincadeira, não. Tenho mais de 40 anos como jornalista, já vivi para ver que não se adoram ídolos de barro. Não é esquerda, não é direita; é a liberdade que temos e queremos de criticar, comentar, analisar os fatos que se passam em nossos dias. Juntos. Numa conversa, como se estivéssemos – e eu acredito que estamos – entre amigos. Uso o humor porque não há outro jeito de encarar nossas dificuldades, que não são poucas, inclusive para fazer esse trabalho, assim, de cara limpa, ao natural, da forma que dá. Falo de política, claro, mas especialmente falo de nossas vidas, de comportamento, da vontade que as coisas deem certo. O CONVITE É PARA QUE VOCÊ SE JUNTE A NÓS, CHAME MAIS AMIGOS, COMPARTILHE. TODO DIA, TE ESPERO AQUI.

23 anos sem o anjo que ainda me guia na vida: EDISON DEZEN

Hoje, 25 de agosto, como todos os anos, para mim é dia de boas lembranças, de vida, de viagens, de conhecimento, mas especialmente de amor. Dia de lembrar, também, e uma tristeza imensa me invade apenas porque se o mundo fosse povoado por gente como Edison foi,  como levou sua vida, nossa, como  como toda ela seria tão bela, boa, bonita, caridosa, de paz!

Edison Dezen foi a melhor pessoa que conheci em minha vida, não sendo superado nem 23 anos após sua morte.

Hoje, coincidentemente, achei uma de sua últimas mensagens para mim, sempre acompanhada dos anjos que já o representavam aqui na Terra. Do dia do meu aniversário, no ano anterior à sua morte.

Mas onde vejo anjos – e sou guardiã de vários que o acompanhavam- me sinto beijada por ele.

Não posso deixar de mostrar a todos, com o orgulho que sempre tive de ter sido sua parceira, meu lorde Dezen.

E um pedido: por favor, proteja-me. Proteja a nossos amigos. A aura de sua energia nos alimenta.

Anjos, olhai por nós

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ARTIGO – O Bilhão e seus nove zeros. Por Marli Gonçalves

zeroNove zeros, um atrás do outro. Bilhão é muita coisa. Mil milhões. Um milhão de “mils”. Muito dinheiro. Muita gente. Muito roubo. Muito estrago. Para se ter uma noção do que realmente se passa ao nosso redor muitas vezes temos de recorrer à matemática. Só que atropelados dia a dia pelos fatos não temos mais tempo nem de parar para pensar e perceber qual é a verdadeira dimensão desses números. Vou tentar dar uma ajudada.zero

O mundo é muito grande, não? Tem gente para tudo quanto é lado, não? Pois somos, ao todo, ao todo, oficialmente, 7,2 bilhões de pessoas. Se cada pessoa desse mundo, incluindo as milhares que estão nascendo nesse exato momento, fosse um real, um realzinho desses, moeda, ainda assim não seria alcançado, por exemplo, o prejuízo da Petrobras, o oficial, veja bem, que ultrapassa fácil os 8 bilhões de reaizinhos. Como mentem em tudo, a gente pode tranquilamente puxar ainda mais para cima esse número. O mundo todo ainda não conseguiria tapar esse buraco. Aqui não tem avalanche nem vulcão; tem rombo. Nem precisamos de foguetes perdidos ou cometas.

Com isso, com esse valor, da mesma forma que estão conseguindo destruir um país, com mãos grandes e decisões patéticas, poder-se-ia reconstruir outro, como o Nepal, devastado pelo terremoto, incluindo aí reerguer os templos maravilhosos, as casas, os prédios. E ainda certamente sobraria um troco, porque aquele povo é dos que trocam bens por espiritualidade.

Deu para ter uma ideia? Pois é. Pior é pensar que, assim como a população mundial não para de crescer, aqui também esses prejuízos se alargam, porque não param de roubar um minuto, nem param de tomar as tais decisões patéticas. Não há um medidor para nos mostrar online quão assustador são esses números – como neste momento alguém está batendo a sua carteira.

ZEROPensei nisso – e em como é bom que haja muitas coisas que podem ser acompanhadas no momento que ocorrem – ao ficar olhando pela internet o foguetinho Progress perdido dando voltas no mundo antes de se espatifar ao entrar na atmosfera, graças aos céus, caindo nos mares. Os peixes é que não devem ter gostado desses insossos pedaços russos de nave. Assim, achei um site – http://www.worldometers.info/br/ – bem dinâmico, que fica o tempo inteiro atualizando números mundiais, população, nascimentos, mortes, despesas governamentais, cigarros fumados e as mortes por eles causados, emissões e consumo de água, energia, petróleo, etc. Não contem para o prefeito de São Paulo, mas tem até o número de bicicletas fabricadas este ano, até esse momento que congelo para contar para vocês, 48.868.804, contra 23.705.470 carros produzidos.

Coisas de milhão. Voltando ao nosso bilhão, e relembrando que cada um bi tem mil milhões, repetimos: fomos tungados, e apenas no cálculo da Petrobras, em 8 bilhões de reais. Vocês aí querendo que ainda sobre dinheiro para a Saúde, Educação, infraestrutura? Só se tomássemos a Casa da Moeda.

Não temos ainda um bom contador desenvolvido, mas uma coisa é certa: está tudo grande. Os números não param. Juros, inflação, demissões, roubos, roubos, roubos, ministérios, secretarias, desinteligências. Tudo para mais de mil, milhão, bilhão. Sem essa de percentuais, tabelinhas, infográficos. Nada como uns bons zeros para se ter noção do que os zeros à esquerda no poder podem fazer de mal. E olha que não me refiro apenas à nossa Nação.number-zero5

Dezenas, centenas, milhares, bilhões, trilhões. Ultimamente temos ouvido muito os dois últimos. Agora também é tudo K. Fulanos conhecidos têm milhares de K de seguidores, tipo Lady Gaga, Rihanna, Neymar.

Nos fazem lembrar de outra série – segundos, minutos, dias, horas, meses, anos, décadas – que lutamos para tentar sobreviver e melhorar as coisas. Nosso tempo também tem zeros, e cada vez mais temos de usá-los nem que seja pensando como pular a fogueira. Sobra pouco – quase nenhum – tempo, para falar com quem se ama, de quem temos saudades, às vezes apenas para dar um oi. Ficamos falando com grupos, nas redes sociais.

Aliás, quer saber? Vou aproveitar e fazer isso aqui mesmo: Luiz, como está? Acabou a dor? E os cachorrinhos? Já nasceram dentes na Serena? Gabi amada, você está feliz, sucesso total? Carmen, como vão as coisas aí para os seus lados? Irmão, você vem almoçar com a gente no domingo? Pradinho, que bela viagem! Mauro, se recuperando? Sua mãe continua preocupada. João, dê um beijo na Tânia e diga que rezo por ela, por forças, todos os dias. Ulysses, quando vem para São Paulo? Maria Helena, já conseguiu receber aqueles direitos autorais?

São Paulo, maio de 2015MULHER NO TELEFONEMarli Gonçalves é jornalista – – A propósito, só hoje foram enviados mais de 146 trilhões de e-mails, fumados mais de 10 bilhões de cigarros, além de feitas quase 3 trilhões de buscas no Google.

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Achei que vocês iam gostar de saber disso. Sobre Lula e Dilma, os dois, com andam as elações…

COLONIALSOLDIERWITHPRISONERBem informado

O chamado mercado captou a mensagem do banqueiro André Esteves, do BTG.

Bem informado, ele garantiu, há dias, numa palestra que as relações entre Dilma e Lula “não são mais as mesmas”.

NOTA DA COLUNA DE AZIZ AHMED/ O POVO-RJ

O Oitavo Selo, de Heloisa Seixas, um livro extraordinário lançado hoje em SP. Livraria Cultura. Ruy Castro está dentro, do livro, e da vida da autora, sua esposa, que conta das suas sete vidas numa narrativa envolvente e literária

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EU, RUY CASTRO E O CARLINHOS BRICKMANN
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HELOISA SEIXAS ABRAÇA UMA AMIGA: AUTORA DO OITAVO SELO – QUASE UM ROMANCE, A SUPER TALENTOSA E ESPOSA DO RUY CASTRO. CONHECÊ-LA VALEU A PENA
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DA ESQ PAR AA DIREITA, KRIGOR, CARLOS BRICKMANN, A ESPOSA DO KRIGOR E UM AMIGO. KRIGOR, PARA QUEM NÃO SABE, FOI, ALÉM DE DONO DA DUCAL, E ACHO QUE CONTINUA SENDO, O MEHOR AMIGO E MENTOR DE NADA MAIS NADA MENOS JOÃO GILBERTO. QUANDO FIZ – SIM – FUI UMA BOA PRODUTORA CULTURAL – OS SHOWS DE JOÃO EM SP, FICAMOS AMIGOS ( EU E JOÃO). UM DOS ORGULHINHOS QUE LEVO NESSA VIDICA. UM DIA CONTO MAIS DESSE PERÍODO. OS SHOWS FORAM PREMIO APCA DAQUELE ANO, 85
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EU E O IVSON, FOTOGRAFO DAS ANTIGAS , QUE ACOMPANHAVA O EVENTO

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ARTIGO – Quando o que a gente quer dizer não tem palavras. Por Marli Gonçalves

blue_bird_singsSimplesmente elas (ainda) não existem. Sempre penso nas palavras, no seu sentido, quando e como dizê-las, embora às vezes, admito, escapem sem querer. Penso no sentido que elas, uma ou outra, deveria ter também, mais variado, rico. Mas há horas que elas não existem, em nenhum idioma, para exprimir o amor e o sentimento que gostaríamos de deixar claro. Nem para o bem, principalmente. Já passou por isso?little_angel

Há horas em que elas não saem. Ficam na garganta. Você quer dizer e não sabe o que. A boca até seca. Queria tanto poder usar o poder das palavras, como nos filmes, nos contos, nas mágicas. Adoraria ter a força do pensamento e a capacidade de dar a elas uma espécie de vida e energia de tal forma que expressariam quase fisicamente o que quero dizer – sei lá, iria até lá e abraçaria mesmo a pessoa, daria mil beijos, sopraria a saudade que tenho, o amor de devoção, o querer bem, tudo o que se mantém calado na alma. Elas viajariam todas as distâncias, chegariam suaves aos ouvidos que seriam o meu alvo. Confortariam. Fariam rir ou ao menos sorrir. Aqueceriam o coração e fariam bem chegando ao corpo e à alma. Até não seriam palavras, mas um sopro trazido e levado pelo vento.

aadogsÀs vezes acho que é por isso que escrevo, os artigos e crônicas, fora do meu habitat e trabalho natural que é o jornalismo, onde as opiniões devem ao menos buscar ser imparciais. Aqui, não. Tento com as palavras, uma atrás da outra, dar vida às emoções e sentimentos que capto, meus, muitos; seus, outros tantos. Poderia fazê-lo oculta em um pseudônimo, que escolheria entre os muitos bem legais e divertidos que já usei. Mas não, mostro a cara. Apanho por isso, mas também ganho respeito e admiração.

Só que há horas em que o que a gente quer dizer não tem palavras, repito. Nem para falar, nem para escrever. Muito menos para telefonar, mandar e-mail, carta ou cartão postal, telefonar, mensagem direta ou indireta, gravação em secretária eletrônica, faixa de rua, panfleto ou pichação no muro. Nada. Não foram inventadas, ou não foram escritas, nem estão em dicionários. Não existem. Sairiam murmúrios tão ininteligíveis como os bebês fazem.babyaq

sm_bluefairyEstou com esse problema de forma muito especial nesse momento, e sem saber como lidar e trabalhar com isso, confusa. Me sentindo deste tamaninho diante de como o mundo pode ser tão cruel com pessoas boas e generosas, afetadas de repente por notícias e diagnósticos que as viram de ponta cabeça, assustadoras, da Natureza, sim, e tão fortes como tsunamis e terremotos. E que nos viram juntos, aflitos que ficamos quando há perspectiva delas se afastarem, nos largarem, nos deixando aqui, desamparados e incapazes de fazer qualquer coisa.angleldropshearts

Todos nós estamos sujeitos a passar por isso. A ficar mudos quando mais precisaríamos falar, influenciar, agir, transformar, protestar, responder. É daí que acredito ser importante falar do quanto é difícil para quem está por perto toda essa loucura que passa quando algo, de alguém, vira parte da gente também. Está dando para compreender?

É mais do que consolar, mais do que buscar ajudar no que pode, mesmo que isso seja o seu próprio respeitoso silêncio, orações de toda sorte, seu próprio sofrimento. Volto a dizer que é indizível.

Sempre ouvi falar que as palavras ditas são como flechas, que uma vez lançadas não têm mais volta porque criam vida e energia, passam a integrar o espaço. Há quem acredite que as acharemos em outras dimensões.

E quando elas são apenas pensamentos, terão esse mesmo poder?Tomara.

São Paulo, daqui, em silêncio, 2014 flutterMarli Gonçalves é jornalista Dedica esse texto a você que está aí, me lendo e chegou até aqui, bem do meu lado. Guerreando que eu sei, embora você não tenha essas palavras para nos dizer.

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E UMAS MÚSICAS QUE TAMBÉM FALAM:

Encontro Jornal da Tarde – 2013. Filmes, fotos, e mais, dos anos anteriores

mais FOTOS:http://marligoncalves.wordpress.com/2013/11/11/encontrojornaldatarde-2013/

 

Mais> =CLIQUE NESSES “AQUIs” aqui embaixo. Cada um,um pedacinho do JORNAL DA TARDE

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Hoje eu trago dois vídeos muito especiais. São o registro do Encontro dos jornalistas do Jornal da Tarde – de quem fez o jornal que será ( já é ) inesquecível. Divirtam-se. Vocês devem conhecer muitos desses personagens. Eu tô aí também…

Dica de uma comida gostosa, em um lugar muito agradável. Gente, calma… É dica de restaurante, em São Paulo

Uma delícia.

Chama Vila Cioé.

Fica na Rua Tupi ( paralela à Avenida Pacaembu), 564, tel. 3662-1121.

Claro que é de amigos,

e claro que é legal mesmo, inclusive nos preços. Comida boa, especial, a preços honestos.

Não vou contar que por lá anda o FHC. Não vou contar mais quem anda por lá. NÃO INSISTA.

Vai ver. Eu amei um prato de massa com molho de cogumelos e geléia de pimenta, o especial executivo de hoje.

O pão é bom. Feito com forno de lenha.

Tem uma sobremesa de pão de ló de comer rezando. Ah, e que se come com as mãos.

Tem costelinha de cordeiro, ragu de javali…

Vinhos? Todos especiais, que os donos da casa conhecem o assunto.

Inspiração geral: TOSCANA.

Tem uma árvore linda.

Tem gente simpática. Cada sala uma decoração.

Reencontro de jornalistas que fizeram o jornal mais lindo da cidade – o Jornal da Tarde. Dá uma olhada. Você vai reconhecer um monte de gente!

Tenho a honra de apresentar para vocês a minha mais nova obra cinematográfica de baixíssima previsão orçamentária,  feito praticamente a martelo, mas com um bom NOKIA N-8

DIVIRTAM-SE!

EMOCIONADA! Minha caixa postal está recheada de amigos!

quantos abraços!

quantos beijos!

quanta energia!

quantos bons votos!

quantas saudades de tantos!

Cheguei. Ou melhor, aterrisei aqui para iniciar o dia, que já está lindo, com fantasias que parecem sonhos. Que às vezes viram verdades.

Antes de mais nada, tudo. OBRIGADA a cada um de vocês. É o meu Feliz Aniversário.

O DIA ESTÁ ASSIM, ó!

CÉU DE SÃO PAULO - 8 DE JUNHO DE 2011 - DEVE SER PARA ME DEIXAR AINDA MAIS FELIZ!
E…
 
EU, MAIS FELIZ!
E EU....Mais velhinha...mais sábia...

Morreu nesta terça o homem que informava sobre as mortes e de como foram as vidas. Veja a dele, que emocionante. Com vocês, Toninho Boa Morte. Em dois grandes textos de amigos.

Este é do JOSÉ MARIA MAYRINK

José Maria Mayrink – O Estado de S.Paulo

Juan Guerra/AE - 15/12/08SÃO PAULO – Internado no Hospital Nove de Julho, onde acabava de se submeter a uma cirurgia, o jornalista Antônio Carvalho Mendes, o Toninho, comemorou o aniversário no quarto de recuperação, em 2009, com a equipe de médicos e enfermeiros que tratavam dele. Cantou Parabéns pra Você e distribuiu, de mão em mão, os pedaços do bolo de chocolate que lhe levaram de presente. 

“No próximo ano, vou voltar aqui para festejar meus 77 anos com vocês”, prometeu com um sorriso alegre no rosto, animado como se estivesse sarando de vez do câncer que o havia surpreendido algumas semanas antes.

Um ano depois, Toninho festejou o aniversário no Residencial Santa Catarina, onde passou a morar depois de receber alta no hospital. Queria ir ao Nove de Julho, conforme havia prometido, mas não conseguiu, porque um enfermeiro que o acompanharia estava doente. No apartamento, recebeu abraços de amigos e vários telefonemas de parabéns. O bolo com a velinha dos 77 anos foi presente dos novos amigos e amigas, seus companheiros no Residencial.

Homem extremamente solitário, que morava sozinho num sobrado da Rua Bartolomeu de Gusmão, herança da mãe na Vila Mariana, Toninho era cheio de mistérios e segredos, quando se tratava de sua vida particular. Até que falou sobre a família, quando caiu doente, mas sem dar detalhes. O filho, Antônio Victor, foi visitá-lo no hospital. Telefonava para a ex-mulher, Josefa, com quem costumava jantar e pedia notícias da neta, Mônica.

Nesses sete meses em que passou ainda mais isolado, primeiro no Nove de Julho, depois em duas residências para convalescentes de idosos, esse jornalista tão reservado que parecia ser um sujeito de poucos amigos surpreendeu-se com o grande número de colegas – e de suas famílias – que se preocupavam com ele.

“Obrigado por se interessar por mim”, agradecia emocionado àqueles que telefonavam ou que iam visitá-lo. “Eu não sabia que tinha tantos amigos”, confidenciou mais de uma vez, citando nomes de companheiros de redação que foram vê-lo. Emocionou-se sobretudo com as visitas de Ruy Mesquita Filho. E contava para todos, orgulhoso, que o jornalista Ruy Mesquita, diretor do Estado, lhe telefonava quase todos os dias.

Obituários. A vida de Antônio Carvalho Mendes Foi, durante 50 anos, a redação de O Estado de S. Paulo. Ele tinha trabalhado por algum tempo na antiga Real Transportes Aéreos, mas considerava-se só jornalista, pois não pensava em outra profissão desde o dia em que se empregou no 5.º andar da Rua Major Quedinho, antiga sede do jornal. Julio de Mesquita Filho, que para ele era “amigo, pai e mestre”, como costumava repetir, foi o modelo que sempre teve em mente. Esse respeito e amizade, de total fidelidade, estendeu-se a toda a família Mesquita.

Na vida profissional, Toninho era sinônimo de dedicação e seriedade. Chegava à redação por volta das 16 horas e era um dos últimos a sair. Responsável pela coluna de falecimentos, conferia e atualizava a relação de mortos até o fechamento da edição. Em caso de dúvidas, telefonava para o Serviço Funerário ou para parentes e amigos do morto. Se necessário, fazia entrevistas e ouvia opiniões que transformavam em reportagens as notas do obituário. Por causa do trabalho, ganhou o apelido de ‘Toninho Boa Morte’, mesmo que a contragosto.

Toninho assinou também uma coluna de Cinofilia e, de tanto escrever sobre os animais, acabou se tornando um especialista em cães e gatos. Gostava dos bichos, mas não tinha nenhum em casa. “Preciso ser imparcial”, justificava-se. Participava de júris de concursos de cães de raça, gastando dinheiro do bolso para viajar ao Rio e outras cidades quando integrava comissões de julgamento.

Censura. Durante o período militar, quando a censura prévia se instalou nas oficinas doEstado e do Jornal da Tarde, Toninho entrou em choque com os censores por causa do título “Pastor alemão vence exposição”, na coluna Cinofilia. Achavam que ele se referia ao presidente Ernesto Geisel, gaúcho luterano de ascendência alemã.

Foi de Antônio Carvalho Mendes a sugestão para que o Estado publicasse versos de Luís de Camões, para cobrir o espaço das matérias censuradas que a polícia não permitia deixar em branco. Deu a ideia ao redator-chefe Oliveiros S. Ferreira e o diretor do jornal, Julio de Mesquita Neto, aprovou. Toninho levava de casa um exemplar de Os Lusíadas para adiantar a composição do texto na gráfica.

Quando os problemas da doença começaram a se complicar, Toninho atribuiu a resistência às sucessivas cirurgias e às sessões de quimioterapia à prática de esportes na juventude,quando lutou esgrima, fez natação e correu a São Silvestre. Era torcedor do São Paulo, do qual falava sempre no plural, como se fosse membro da diretoria ou conselheiro do clube. “Nós temos de reforçar o meio de campo…”

Na política, era fanático por Carlos Lacerda e, na esteira dele, por todas as principais figuras da União Democrática Nacional (UDN), o partido que se opôs a Getúlio Vargas. Era um conservador. Católico e devoto de Nossa Senhora Aparecida, vibrou com a eleição do cardeal Ratzinger, quando ele se elegeu Bento XVI na sucessão de João Paulo II, outro ídolo seu.

“As coisas não andam bem”, dizia para começo de conversa, quando ia comentar a situação brasileira e as denúncias de corrupção no governo. Criticou o senador José Sarney até a última hora. Toninho exaltava-se ao falar dos adversários, mas, apesar das aparências, era um sujeito de bom humor que ria das próprias piadas.

Méritos. Uma de suas últimas alegrias foi ser eleito irmão remido da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em cuja capela costumava assistir a missa nas manhãs de domingo.”Sou São Paulo em tudo – no Estado, no jornal, no clube e agora na Santa Casa”, brincou no dia da posse.

Toninho gostava de cozinhar. Como morava sozinho e não tinha geladeira em casa, comprava o essencial no supermercado ao sair da redação. “Não ter geladeira esta semana foi um conforto”, comentou ao ler a notícia de que muita gente havia tido prejuízo com o apagão em São Paulo.

Sem condições de retomar o trabalho, passou a morar num apartamento do Residencial Santa Catarina, onde fez novos amigos e onde recebia a visita de companheiros da redação do Estado. Estava sempre ligado ao noticiário, lia o jornal todos os dias e, sempre que necessário, voltava ao prédio da empresa, na Marginal do Rio Tietê.

Em dezembro de 2009, Toninho sofreu dois enfartes e teve uma parada cardíaca de cinco minutos. “O médico me ressuscitou”, comemorou com alegria, quando inexplicavelmente se recuperou da crise. Como gostava muito do Hospital Nove de Julho e da equipe de profissionais que cuidaram dele, considerava uma bênção ter de se internar ali para tratar de algum problema inesperado. Na primeira semana de janeiro, internou-se no quinto andar para combater uma anemia e acabou voltando à UTI.

Melhorou, passou dois meses no Residencial Santa Catarina, mas precisou retornar ao hospital, mais uma vez a UTI, onde morreu às 5h30 desta terça -feira.

Natural de São Paulo, onde nasceu em 20 de junho de 1933, Antônio Carvalho Mendes fez o ginásio e o colegial no Colégio Pasteur, antigo Liceu Franco-Brasileiro, no qual estudou 11 anos. Fez especialização em espanhol da Câmara de Comércio Argentina e na Casa de Cervantes, e estudou inglês na Cultura Inglesa.

Atualizado às 13h29

e este é do SERGIO VAZ:

Lembranças sobre Antonio Carvalho Mendes, o homem do obituário.

15/03/2011

Antônio Carvalho Mendes adorava o que fazia. Só essa característica já bastaria para torná-lo um jornalista diferente da imensa maioria: em geral, os jornalistas gostariam de estar fazendo outra coisa, cobrindo outro tipo de assunto, trabalhando em alguma outra função, numa outra empresa, num outro veículo de preferência com salário melhor que o seu, é claro – ou simplesmente prefeririam não estar trabalhando. No mínimo, no mínimo, nos raros casos dos que gostam do que fazem, reclamam sempre do patrão.

Antônio Carvalho Mendes adorava os patrões, e adorava trabalhar exatamente naquilo que fazia. Gostava tanto de trabalhar que não folgava nos fins de semana. Não folgava nunca. E nem gostava de tirar férias. De preferência, não tirava férias.

Durante mais de quatro décadas, todos os dias, sábados, domingos, feriados, Natal, véspera de ano novo, Antônio Carvalho Mendes cuidou da página de falecimentos do Estadão. Várias gerações de jornalistas que passaram pelas redações do Estado e do Jornal da Tarde o conheceram por diversos nomes: Seu Antônio. Toninho. Seu Toninho. Mas os principais, os mais usados, com aquela ironia fina como palha de aço que os jornalistas costumamos ter, eram Toninho Boa Morte, ou seu igual mais metido a refinado, Anthony Good Death.

Os mais antigos, os da minha geração e da que veio antes da minha, em geral não usávamos nome algum para designar Seu Antônio: batíamos três vezes na madeira – tóc, tóc, toc. Fazíamos isso também em relação a um velho fotógrafo e a um velho homem de texto, que tinham fama de dar tremendo azar a quem pronunciasse seus nomes. Não vou pronunciá-los. 

Me deu vontade de escrever alguma coisa sobre Seu Antônio – mesmo correndo o risco de virar motivo de chacota. A pior coisa que pode acontecer com um jornalista quando morre é não haver ninguém que escreva alguma coisa sobre ele. O ideal é que o obituário do jornalista seja escrito por um amigo, para que não fique um texto gelado, anódino. Não fui amigo do Seu Antônio – Seu Antônio praticamente não tinha amigos. Mas me deu vontade de escrever alguma coisa mesmo assim.

Uma idéia brilhante – mas quem sabia que era dele?

Seu Antônio morreu aos 77 anos, nesta terça-feira, 15 de março. O velório será no Cemitério do Araçá, e o sepultamento, na quarta-feira, em Santos.

Fui dar uma olhada no estadao.com.br, e vi que está lá um bom texto sobre Seu Antônio. Aliás, um texto muito bom: nada gelado, nada anódino. Ainda bem. Fico contente. Não era necessário o meu – mas agora já comecei.

E aí vão uma informação e uma confissão. A informação está no texto do portal do Estadão: “Foi de Antônio Carvalho Mendes a sugestão para que o Estado publicasse versos de Luís de Camões, para cobrir o espaço das matérias censuradas que a polícia não permitia deixar em branco. Deu a ideia ao redator-chefe Oliveiros S. Ferreira e o diretor do jornal, Julio de Mesquita Neto, aprovou. Toninho levava de casa um exemplar de Os Lusíadas para adiantar a composição do texto na gráfica.”

A confissão: nunca soube disso. Cheguei ao Jornal da Tarde em 1970, nem dois anos depois do início da censura prévia ao Estadão e ao JT; convivi com Seu Antônio no mesmo ambiente ao longo de 30 anos (tirando fora uns seis anos em que por duas ocasiões me aventurei fora da S.A. O Estado de S. Paulo), e jamais soube que tinha sido dele a idéia dos versos de Camões. O fato de o Estadão ter resistido à censura prévia pós-AI5 publicando versões de Camões (no JT, eram receitas culinárias) já foi cantado e decantado em prosa e verso – e no entanto a autoria da idéia nunca foi muito badalada.

É bem típico de Antônio Carvalho Mendes.

O homem mais solitário que já conheci; tremendo reaça – e ficamos do mesmo lado

Só umas poucas coisinhas.

Ele era o homem mais solitário que já conheci na vida. Pedro França Pinto era um homem solitário, mas Antônio Carvalho Mendes era ainda mais.

Era um tremendo de um reacionário. Udenista fanático, lacerdista fanático, entusiasta do golpe de 1964. Só ficou contra o golpe quando os milicos puseram censores dentro da redação da Major Quedinho. Porque, acima de tudo, acima de qualquer outra coisa, era fiel aos Mesquita. Era fanático com os Mesquita.

Era homem de paixões e ódios absolutamente figadais. Não escondia nada, nem as paixões, nem os ódios. O contínuo mais foca do jornal sabia quem ele odiava profunda, fidagalmente – entre outros, o diretor de redação do Estado a partir de 1988, e o autor do Manual de Redação. Falava mal deles para quem passasse pela sua frente.

E quase todo mundo no jornal gostava de falar mal dele, de fazer gozações com ele.

O tempo passa, as coisas mudam, e nos anos 2000 eis que muitos de nós passamos a partilhar com Seu Antônio, o tremendo do reacionário, sua aversão a Lula, ao lulo-petismo. “Chefe, a coisa tá feia”, ele dizia, sempre que passava por alguém que ainda reconhecia dos velhos tempos. Às vezes eu tentava fugir dele, nas andadas pelo corredor, nas idas ao fumódromo, mas ele era implacável: “Chefe, a coisa tá feia”.

O “chefe” era o jeito de ele tratar todo mundo. Estava para ele como o “bicho” estava para o Rei Roberto.

Um símbolo do passamento de toda uma época

Que não falassem em computador para Seu Antônio.

O Estadão entrou no mundo da informática em 1989, se não me falha a memória. E entrou pela porta errada, com um sistema absolutamente burro, idiota, um tal de Atex, uma coisa que já era velha, caquética, quando começou a ser implantada. Seu Antônio continuou firme na Olivetti.

Vários anos mais tarde, vieram os computadores de verdade – Seu Antônio continuou firme na Olivetti.

Uma vez, poucos anos atrás, precisei pedir a ele o favor de dar uma nota de falecimento na coluna dele. Perguntei, pelo telefone, se poderia passar um e-mail. Ele não mexia com isso: pediu que eu passasse por fax, que ele transcreveria na Olivetti. O fax já era algo obsoleto.

Todo mundo pedia favor a ele, na hora dura, na hora da morte de um amigo, um parente. Ao atender um telefonema desses, ele costumava ser seco – ao menos é essa a lembrança que eu tenho. Mesmo com as pessoas que o tratavam bem, como eu. Era seco, quase ríspido – profissional, frio. Mas sempre atendia aos pedidos.

Conta-se que alguns dos Mesquita pediam os favores mais absurdos a ele, do tipo levar uns tantos cachorros do Pacaembu para a fazenda em Louveira, ou vice-versa – Seu Antônio gostava de cachorros, teve durante anos uma coluna de cinofilia –, e outros favores ainda menos dignos. Ele atendia a todos com alegria e orgulho. Tinha imensa alegria e orgulho por se considerar amigo da família.

Aquela empresa ali foi uma família para muita gente.

A morte de Seu Antônio é um tanto emblemática: é um sinal forte do passamento de toda uma bela época, uma boa empresa, dois grandes jornais.

(Publicado no site 50 Anos de Textos)

Artigo escrito por Sérgio VazÉ jornalista com longa carreira nas redações dos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, revistas Afinal e Marie Claire, Agência Estado e Estadao.com.br.Criador dos sites 50 Anos de Filmes e 50 Anos de Textos.

Homenagem ao amigo das montanhas. Sábado, no Rio.

Amigos de montanhista Bernardo Collares farão homenagem na Urca

 

Montanhista sofre acidente em escalada na Argentina (Foto: Reprodução TV Globo)

“As montanhas são uma espécie de reino mágico, onde, por meio de algum encantamento, eu me sinto a pessoa mais feliz no mundo”.

Bernardo Collares, alpinista, 46 anos. Ficou, para sempre,  na montanha Fitz Roy, Patagônia argentina

Em homenagem ao montanhista Bernardo Collares, de 46 anos, que morreu quando escalava o monte Fitz Roy, na Patagônia argentina , companheiros do esporte farão uma “invasão na Urca” no próximo sábado. Os montanhistas irão escalar ao mesmo tempo o Pão de Açúcar, Morro da Urca e Babilônia. A homenagem ainda não tem hora marcada, mas segundo Leandro Collares, irmão de Bernardo, a escalada deve começar às 7h. No final, todos se encontrarão numa praça da Urca.

Eu indico:Luis Mir lança O paciente, sobre o caso Tancredo Neves, amanhã, em São Paulo. Aí você vai ficar sabendo tudo, e que ele não precisava ter sido operado, nem morrido. A morte que mudou o caminho do país.

Lembro-me, como se fosse hoje, dos angustiantes dias de março e abril de 1985,  na cobertura, em frente ao Incor. Contra tudo e contra todos. Estava no Jornal da Tarde.

LEIA ESSE RESUMO, FEITO PELO PRÓPRIO AUTOR

 Tancredo Neves poderia ter tomado posse. E por uma série de equívocos diagnósticos e cirúrgicos, todos primários, foi mal diagnosticado, mal operado, mal acompanhado. Tudo o que está publicado no livro está lastreado nos prontuários do Hospital de Base de Brasília e do Incor. 

O diagnóstico primário de uma apendicite aguda com abscesso e suspeita de peritonite feito no exame de ultrassom no Centro Radiológico Sul era totalmente equivocado. O que se via na ecografia era um tumor, com necrose, gás e líquido. Era um caso para uma cirurgia programada, eletiva. Não havia risco de vida, não havia urgência, deveriam ter  entrado a partir do dia 13 de março com uma antibioticoterapia para combater a bacterimia, identificar o foco infeccioso, e prepará-lo bem para a cirurgia.

 Operado no  início da madrugada do dia 15 de março, quando abriram o abdômen do Presidente o que encontraram foi um tumor intestinal – leiomiossarcoma – pediculado, pendurado, no íleo terminal. Não havia peritonite, não havia líquidos na cavidade abdominal, não havia hemorragia, não havia obstrução. E começa o desastre. Ao invés de ser retirado o tumor com uma ressecção segmentar, como já preconizava a literatura e a técnica mais adequada à epoca, o cirurgião opta por uma ressecção em cunha, em V. O que provocou que o paciente babasse (sangrasse gota a gota) na linha de sutura da anastomose desde o primeiro momento. Em uma área hipervascularizada como aquela onde estava o tumor, ele deveria ter feito uma enteroctomia ampliada, de grandes margens, ter removido todo o mesentério adjacente e amarrado os vasos na linha de sutura. O que determinou a morte do Presidente Tancredo Neves: enterorragia decorrente de um erro técnico na sutura da primeira cirurgia – não era um divertículo, era um leiomiossarcoma.

 Repito, não se poderia fazer a ressecção em cunha. É uma técnica de escolha completamente equivocada para esse caso. Ele sangrou desde o primeiro momento e isso explica porque o intestino não voltou a funcionar (por hipoperfusão tecidual). Determinou as complicações que o levariam à morte.

 Perdemos todos.

                                                                                                                                           Luís Mir

Artigo – Eu quero ter um milhão de amigos

Marli Gonçalves

Quero mais seguidores no Twitter; conexões no Plaxo. Seguir e ser seguida. Quero ser um contato do seu Outlook, dividir meu Skype e o MSN. Quero ver sua cara no Facebook, me inscrever no seu mural, compartilhar, ficar membro do mesmo grupo. Me aceita como amigo. Registra no seu i-phone, Blackberry, N qualquer coisa. Tecla e me prende na sua rede social. Atualize seu perfil, me mostra o Avatar. Manda um cartão virtual. Dia 20 é Dia do Amigo. Mas o que é ser amigo ultimamente?

    As palavras perderam a forma e agora uma coisa também quer dizer outra. Amigos, chego e peço um conselho de amigo: agora, no Dia do Amigo, o que faço? Cumprimento a minha dúzia particular ou cumprimento a todos, todos os meus amigos virtuais? Incluindo os leitores que não conheço, mas sei de suas histórias mais do que deles próprios devem saber alguns dos amigos? E os que eu nem sei quem são, nem eles têm a mínima ideia de quem sou, porque me encontram, só esporádicos? São meus amigos, acompanham meus pensamentos. E os que nem sabem que os tenho como amigos, apesar de tudo?

É tudo diferente, e ao mesmo tempo passamos batido na definição. Os amigos são fundamentais. A amizade é um sentimento deveras interessante, extremamente nobre, uma arte difícil – inclusive – de dominar. Há amigos que matam ou morrem por você, como estamos vendo, incrivelmente apavorados. Por dinheiro, admiração, fraqueza. Companheirismo e solidariedade. Todas as histórias desses tipos valem livros, romances, filmes, óperas e epopéias. Ou filmes de terror.

É o Macarrão, o Coxinha, o Bola do Bruno. É o Sancho do Dom Quixote. O Robin, do Batman, o Lothar do Mandrake. O Sebastian e o Linguado, da sereia Ariel. Até o último dos moicanos tinha um amigo.

Há o amigo vampiro que faz tanta sombra à sua volta que dá calafrios e você o segue, zumbi, forças chupadas. Nem você entende. E às vezes você não o vê no reflexo do espelho.

Há os amigos que não vemos mesmo, mas sentimos. Pelo cheiro, pelo gosto, pela alegria de uma recordação. Estão ali presentes em nossos atos, mesmo que estejam até mortos. Ou sempre longe. Por eles a gente faz mais, se dedica de coração, homenageia em silêncio com as vitórias.

Há os amigos eternos. E também há os ex-amigos, que merecem ter algum tipo de consideração da sua parte. Afinal, ora, vocês devem ter trocado duas ou três confidências. Mantenha-os à vista, se possível.

Há os amigos de infância. Sempre que deles lembramos, as imagens são boas. Puras e coloridas pela ingenuidade da época.

Há os amigos de adolescência. Costumam ser ou ter sido relações passionais, terríveis, difíceis, possessivas, mas fundamentais na formação do caráter, sexualidade, comportamento e direção. Nas safadezas da vida. Quando relações sobrevivem a esse período costumam também ser eternas. Pode levar para lá ou para cá, definir o futuro, nesse momento complicado e complexo. Antigamente arquivávamos esses amigos nos nossos diários, que pedíamos que preenchessem, com tolices românticas e frases feitas. Como será hoje? O que trocam?

Há os amigos da velhice. Aqueles que encontramos ou só encontraremos mais tarde, e que podem estar em qualquer lugar, ser de qualquer cor, posição social, idade ou sexo. São aqueles com os quais os solitários conversam nas ruas, o barbeiro, o jornaleiro, o dono da padaria, o chapeiro do seu hambúrguer. Os clubes da terceira idade de certa forma devem servir para que continuemos mesmo desejando querer ter amigos. Coleção que a certa altura da vida – essa é a verdade – a gente resolve encerrar, não quer mais achar peças, muito menos que sejam muito originais. Não tem curiosidade. Não tem mais saco de cultivar. Ficar amigo dá trabalho, quase igual às plantinhas e animais que tantos preferem. Pior: planta e bicho não traem.

Amigos podem ser casados, inclusive entre si. São as relações que mais costumam dar certo. E, se o amor acaba mas mantém-se a amizade, o caminho da felicidade, aconteça o que acontecer, será sempre mais leve. Esposas e maridos precisam entender a importância de amigos ou amigas nas relações, inclusive para ajudar a desvendá-las. Amigos costumam conhecer muito melhor os defeitos, por exemplo, assim como histórias pregressas. Amigos podem ajudar no equilíbrio, e até – você terá de acreditar – ser bons conselheiros. Não implique tanto. Não desafie: “ele ou eu”.

Amigos são amigos. Com o amigo, você faz xixi de porta aberta. Toma banho com ele sentado na privada, conversando. Toma água no mesmo gargalo. O que acontece com ele acontece com você também, como se fosse uma coisa só. Você sabe tudo dele, mesmo que de longe. E a mão é dupla. Um torce e pensa no outro a distância que houver. Tem amor na receita. Precisa ter muita compreensão, carinho, confiança e admiração. A amizade não tem cara, bonita ou feia, magra ou gorda; ela sobrepuja isso.

Eu quero ter um milhão de amigos. Porque amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração. Assim falava a canção, que na América ouvi. Amizade, amigo, emociona assim.

Certo, my friend?

São Paulo, seco, seco, inverno, 2010. A Terra é azul.

Marli Gonçalves é jornalista. Acha super legal essas promoções de dar coisas para atrair, para que as pessoas cheguem, e fiquem por perto nas teias virtuais. Mas só consegue pensar em bobagens para dar.

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 *Momento informativo:
Vem voar comigo, igual passarinho, pela internet, onde quiser, pelo Twitter, Facebook, blog, tudo feito com muito esforço para ficarmos juntos mais tempo: Vai lá ler coisas novas, que trago, especiais, imagens, ideias que separei para você. Conheça meu novo blog! Entre e fique à vontade. Sinta-se em casa. Divirta-se. Visite o meu blog

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O Dia do Amigo foi adotado em Buenos Aires, na Argentina, no Decreto nº 235/79, e gradualmente se espalhou como idéia pelo mundo. A data foi criada pelo argentino Enrique Ernesto Febbraro, dentista, professor e músico. Inspirado na chegada do homem à Lua, em 20 de julho de 1969, considerou que a conquista era não somente uma vitória científica, como também uma oportunidade de se fazer amigos em outras partes do universo.