ARTIGO – Consegui. Conseguimos. Lá vamos nós. Por Marli Gonçalves

Consegui. Conseguimos. Chegou! Chegamos, aliás. Que bom. Difícil ter ainda o que falar após mais um ano tão cheio de desafios, e até como se todos não fossem exatamente assim. Temos de olhar para o futuro nessa época, mas o engraçado é que o passado é que fica martelando. Será para nos prevenir de errar novamente?

Why Am I Having Weird Dreams? - Know The Reasons | DreamCloud

Tenho recebido verdadeiros tratados psicológicos sobre a “dezembrite”, que seria um estado de espirito que nos abateria no último mês do ano. Ok, vou ficar aguardando os tratados sobre a “janeirite”, “feveirite” e assim por diante, porque pensa se todo mês a gente não tem bons motivos de alteração para o bem ou mal. Janeiro tem o verão, para quem pode curtir; e as contas – IPTU, IPVA, outros is e aumentos –  anuais. Fevereiro! Tem Carnaval, tem Carnaval. E depois das fantasias a pressão novamente para se pensar no futuro, aquele mesmo que, admita, acaba esquecido logo após as promessas e planos que a gente sempre faz no final do ano, e que voltam a nos assombrar. Todo mês carrega suas características.

Mas essa coisa de balanço de final de ano é que é mesmo perturbadora, mais ainda com o passar do tempo, quando vamos acumulando o histórico do que já passamos, enfrentamos, conquistamos, nos safamos, desistimos, nos ferramos, levantamos e sacudimos a poeira dando a volta por cima, sofremos – e aí sentimos se tínhamos ou não razão – , ou tantas coisas que festejamos, o que devemos mesmo fazer a cada conquista, sem qualquer culpa.

Nos últimos dias parece até que quem (sempre muito curiosa sobre quem ou o que é que organiza essa fábrica na nossa cabeça) comanda meus sonhos noturnos está querendo que eu escreva uma autobiografia tantos flashes têm passado como um cineminha, uma série cheia de temporadas, lembranças. Anda bem legal dormir. O roteiro de cada noite/capítulo se mistura, fazendo lembrar até o excepcional formato da série This is Us, que vai e que vem, explica aqui o que aconteceu lá. Embora no meu caso não haja tantos protagonistas, ou filhos e gerações. Eu sou sempre a condutora. O formato é que desencadeia, por isso dou como exemplo. Se amei demais, de menos. Se fui fiel demais, e fui – o que pouco ou de nada valeu. O vácuo intrigante de certos rompimentos. Os momentos equilibristas sem rede de proteção. Quantas vezes precisei ser forte mais do que era; aprender a renascer, mudar a estrada por obstáculos, percorrer caminhos mais longos.

O estranho é que não tem tristeza, nem acordo me sentindo diferente. Não sinto nenhum problema em ter revisto até partes bem difíceis. Sem arrependimentos. Ao contrário, a sensação é boa, de vitória por ter tanto para contar, viva. Vem sendo como abrir um arquivo, rever álbuns de fotos, espiar o Google Fotos. Já foi. Já passou. Consegui. Conseguimos, aliás, porque imagino que você também tenha um bom livro da vida. Fico curiosa em saber como você lida com esse momento.

Fechando a temporada deste ano, não posso deixar de agradecer a companhia de todos, muitos, a força de cada recado, bilhete, curtida, comentário, resposta aos artigos e também o apoio à batalha que alguns conhecem e acompanham. Vamos todos sonhar, sim, com um mundo melhor, com liberdade, em paz, com espíritos de luz que nos protejam da insanidade, seja ela vinda dos poderosos ou dos que tentam justamente bloquear o futuro dos outros porque não conseguem nem ver a saída para o seu próprio.

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CONSEGUI. CONSEGUIMOSMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Bang Bang urbano. Por Marli Gonçalves

Não era bom, mas tem ficado pior a cada dia flanar pela cidade. O bang bang instalado em São Paulo não tem só armas ou balas, mas pedras, facas, velas de ignição, cotovelos, rasteiras, emboscadas e, sempre, muita violência, com ataques de gangues claramente comandadas por grupos organizados, influentes, bem poderosos. E impunes. Desassossego total.

bang bang

De manhã à noite as pessoas – e os seus celulares – vêm sendo caçadas sem dó nas ruas da cidade. Você anda por aí e ouve os telefones tocando dentro das bolsas, bolsos, mochilas de quem é mais cuidadoso. Ninguém atende. Até disfarçam para não chamar a atenção para o aparelhinho muitas vezes comprado em dolorosas prestações e onde hoje depositam praticamente suas vidas; hoje tudo que se precisa depende dele, do celular, do digital, dos aplicativos. Por outro lado, muito mais comum, pedestres distraídos, abduzidos pelo aparelhinho, pescoço curvado. Tropeçar é o melhor que lhes pode acontecer, fora serem atropelados, por carros ou ladrões. Em um segundo, um esbarrão; o ciclista que o toma e ainda sai rindo. Quando não é o ameaçador motoqueiro disfarçado de entregador que ainda espanca quem não lembra a senha. Os novos bicho-papão? Eles grunhem: “perdeu”.

Seja na consagrada esquina de Sampa, nas ruas do Centro novo e antigo, nos bairros, praças de toda a cidade, pontos de ônibus, qualquer horário, não há mais sossego. Ninguém consegue caminhar tranquilo, sem olhar para trás, para os lados. Aliás, nem de carro, nem de ônibus, agora cercados por grupos. Não se respira mais quando se é obrigado a enfrentar o congestionamento, o trânsito lento. Surgem do nada, levam o que conseguem carregar e somem nos meandros – pior, todos pontos bastante conhecidos.

Não são os outrora trombadinhas, meninos trapiche que por muito tempo arrancaram correntinhas de pescoços para vender aqui e ali; não são a antiga turma das cortadeiras, que decepavam as alças das bolsas na muvuca dos centros comerciais. Não são mais os lendários – sim, eles existiram – ladrões de outrora, alguns que passaram ao folclore da cidade. O que corria pelos telhados, o que escalava prédios na madrugada, o galã sedutor.

São exércitos de jovens violentos que só podem estar sendo controlados e protegidos por grandes organizações criminosas, tudo sob as barbas da polícia, que apenas aparenta estar por aí enxugando gelo, “tomando providências”. Apontam a triste – e agora móvel, andante e circulante – Cracolândia, aqueles maltrapilhos dependentes que mal conseguem se manter em pé. Ora, a coisa é muito maior.

Só começa no roubo. Dali em diante funciona uma verdadeira e sofisticada linha de produção. O celular pula para outro, e outro que invade o banco, faz transferências, contrata empréstimos para contas laranja de mais outros. Os bancos, seus sofisticados sistemas de senhas, tokens, controles, que param as nossas transações reais quando mais precisamos? Silêncio. Para os bandidos os dinheiros são liberados em poucos minutos.

Como pode? É ou não é de se estranhar, e muito? Cadê que devolvem, aliás, isso e o que é perdido nesses e muitos outros golpes, como os boletos falsos que chovem diariamente nas caixas de e-mails? Nos telefonemas para idosos. Nos tais “golpes do amor”. Há mortes em todos esses casos. Como essas organizações criminosas podem não ser identificadas?

Assistimos a tudo nos noticiários, nas câmeras que registram em detalhes as fuças e o medo dos atacados, quando não mortos. Em grandes concentrações vemos grupos circulando e crimes ocorrendo ao nosso lado. Só nós vemos? Amanhã tem mais. É o depois que nunca termina. Conselhos que expelem: ande com carros blindados, circule com vidros fechados, buzine para espantar o ladrão e outras pérolas.

Tudo fora de controle, assim como a violência em temas sensíveis, como o feminicídio que se alastra e não há medida protetiva que seja eficiente e resolva as ameaças denunciadas pelas mulheres. Vá a uma delegacia prestar queixa. Talvez, com sorte, lhe deem alguma atenção. Mas o comum agora é lhe darem, com muxoxo – sabe como é, né? “muito trabalho, não temos equipes” …- um papel que você mesmo preenche como se fosse o escrivão e entrega ali no balcão. Talvez vire um número na estatística. O BO é todo seu, como dizem. Resolva-se com ele.

Salve-se quem puder. E não podemos. Não conseguimos.

(foto: Catherine Krulik)___________________________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).

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ARTIGO – Vamos mudar o disco. Por Marli Gonçalves

 

Vou atirar para tudo quanto é lado, adianto, que não estou gostando nadinha dessa coisa de ficar falando só em dois lados da questão Brasil. Essa moeda tem pontas, muitas, uma pluralidade delas. Quero meu país de volta. Quem ganha com essa paradeira, com essa tensão toda? É cansativo. São já pelo menos mais de três anos que parece que não temos mais um minuto de sossego, que nada funciona normalmente, que não tem dia sem algum sobressalto

        Se você me conhece pode imaginar com mais precisão, mas não importa, se você não me conhece pode imaginar também. Estou aqui segurando uma plaquinha – um papel daqueles, sulfite, escrito à mão com os dizeres: Por uma Nova Constituinte Já! Só assim, com uma reforma política, com uma ordem social mais planejada, moderna, visando o futuro que já mostra a cara, com tecnologia e avanços, vamos conseguir levantar o pé dessa lama. Começar de novo.

Essa semana foi, vem sendo (e será a outra também) desesperadora. Mas foi a prova de onde reside um dos nossos maiores entraves. Dias e dias vendo e ouvindo bate-boca de ministros com suas togas negras e vistosas debatendo entre si, se entreolhando feio, falando, falando, falando, e poucos entendendo exatamente o que diziam em seus sonolentos votos.

Pior, ao analisar esses debates com um pouco mais de atenção, perceber que todos discutiam, de alguma forma, a forma da lei. Que cada um lê essa lei, que não é clara, de uma forma. Do ângulo que lhe convém, uma coisa meio Babel. Ao mesmo tempo, para defender seus argumentos, todos acenam iguais brandindo com o mesmo livrinho verde e amarelo nas mãos, e as palavras Constituição e constitucional, repisadas. Engraçado é que aplicadas igualmente a justificar visões opostas. É esquizofrênica a situação; bipolar.

A coitada da Constituição de 88, tadinha, já nasceu meio capenga, vinda de uma época cheia de dúvidas, recém saindo de uma longa noite de ditadura onde foi fecundada. Nesses 30 anos, a já balzaquiana foi emendada, remendada, costurada, acharam um monte de verrugas nela, incrustadas e escondidas por hábeis manobras. Agora é isso aí: todo mundo fala que a segue porque ela é gordinha de tanta coisa que satisfaz a qualquer um, ao gosto do cliente.

Não vou me deter em tratados sociológicos ou meandros jurídicos, que nem me arriscaria. A realidade é maior. Quem está conseguindo trabalhar direito, sem sobressaltos? Sem medo? Quem está realmente satisfeito com seus governantes, com seus representantes eleitos, uma decepção atrás de outra? Quem é que está confortável com as Eleições que se aproximam, marcadas para daqui a apenas seis meses? E essa mais nova moda trumpiana que baixou aqui – comunicação pública – recados, posições, controvérsias, fusquinhas e rusgas – via redes sociais, tuítes.

As contas não param, os bancos não perdoam, ninguém quer saber se teve ou não protesto, se a cidade parou, se não sei quem vai preso, se outro manda soltar, se os dias não estão rendendo. Você está aí com os boletos nas mãos, sacudindo. Falam em milhões, bilhões surrupiados, enquanto contamos as moedas. Não entendo porque o país está tão dividido se o barco é esse mesmo, igual para todos, excetuando-se só os palermas que ainda acreditam que as coisas não se passaram como se passaram. Que o Grande Líder, Pajé Lula… Que o Chuchu… O maluco beleza… Andam até ameaçando ir buscar nos confins aquele exemplo de postura, Joaquim Barbosa! Porque é negro. Mulher, não, que já acham que não deu certo.

Embora tenhamos pouco tempo, talvez com o andar dessa carruagem que está descarrilando tenhamos de pensar logo nisso. Numa eleição onde escolheríamos constituintes. Talvez pessoas mais gabaritadas se apresentem em suas áreas, vindas da sociedade civil, criando, aí sim, uma nova política. Sem esse blábláblá de gestão, sem messianismo, sem que sejamos ameaçados todo dia com alguma tirada genial da cartola de algum cartola. Com o tempo determinado.

Como é que faz não sei. Sei que tem mais gente pensando nisso. Eles que são importantes que se entendam. Eu vou continuar segurando minha plaquinha com o pedido. Foi a única coisa que achei até agora, mas se você tiver outra sugestão vai ser legal.

Precisamos mudar o disco dessa vitrola.

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Marli Gonçalves, jornalista – É tanto embargo, tanta presunção de inocência e culpa que só cantarolando a música do Djavan com outra letra: “Um dia tenso/Sem um bom lugar nem pra ler um livro/ E o pensamento lá em você/Que é muito vivo… Um dia triste…”

marli@brickmann.com.br / marligo@uol.com.br

Brasil: mostra uma nova cara!

Impostos? NÃO. Está preparado para lutar com unhas e dentes contra isso?

FONTE: COLUNA CLAUDIO HUMBERTO

A reputação da presidente Dilma e do seu governo continua “pela bola sete”, com a rejeição de mais de 80% dos brasileiros, segundo as pesquisas, mas ela continua determinada a aumentar impostos como “única saída” para a crise. Em vez que promover reformas estruturais que os especialistas recomendam, ela quer mais é resolver o problema de caixa do governo, que continua gastando mais do que arrecada.

 Mais impostos

A líderes aliados, nesta terça (2), Dilma vai pedir o retorno da CPMF e mais aumento de impostos. Uma das medidas fere o Simples de morte.chamando

A presidente quer apoio à Medida Provisória 692/15, que eleva imposto sobre ganho de capital para pessoa física e para optantes do Simples.

“Gênio” que fez o PT desistir do tripé macroeconômico, desarranjando as contas públicas, Nelson Barbosa (Fazenda) é adorador de impostos.