ARTIGO – Eu vou “não ir”? Eu já fui.

Por Marli Gonçalves


Ai, que preguiça!Você é contra? A favor? Muito pelo contrário, encravado? Pegue a agenda com o calendário, e veja que já há protestos agendados até o final do ano. Uma coisa esquisita. É preciso fazer só uma chamada geral. Mas que seja definitiva.

Olha, por favor, não me levem a mal. Não estou querendo criticar ninguém ou mesmo demover ninguém de suas atividades cívicas, físicas, morais, políticas ou de lazer. Mas é que a coisa está ficando meio perdida demais e sem sentido, e a turma anda fazendo tantas manifestações, de tantos tipos, horários, públicos, que está mais é se dispersando. Aí nada acontece e todo mundo fica com a cara de decepção, chorando pelos cantos dos comentários dos sites, xingando-se uns aos outros. E a corrupa correndo solta.

Tive um ataque de preguiça no feriado de 7 de setembro. Tinha grito, marcha, parada, andada, caminhada, passeata, mobilização, passeio, encontro, pulinho, rendez-vous, juntamento, movimentação – de um tudo – na programação. Em São Paulo, o lugar era um só, a Avenida Paulista. Mas os horários, trajes, maquiagens, motivos, idades, eram diferentes. Teve até matinê. Faltou só que tivesse sido lá também o desfile militar, para a coisa ficar mais completa e animada. Ou preta de vez.

Acabou que eu não fui a nenhuma. Vi, de longe, só uma delas, indo bem, fechando o trânsito, tom oficial, comportada, regulamentar, formal, quase burocrática. Foi-se o tempo em que sabíamos e, ao menos, conseguíamos protestar com vontade, força, criatividade e energia. Éramos ouvidos em todo mundo. Sinceramente, das últimas que lembro que deram resultado foram lá nos idos tempos do Collor, com os caras-pintadas. E olha que ali já dependíamos da energia dos estudantes, tão estupefatos estávamos. Movimentação que se preze tem de juntar todo mundo: homens, mulheres, velhos, crianças, pobres, ricos, cachorros, de raça e viralatas, periquitos, parar tudo, se fazer ouvir de verdade.

Mas, para tanto, tem de ter uma chamada verdadeira, não de um só partido. Não só de alguém querendo apenas se destacar nas tais redes chatamente chamadas de sociais, tentando só aumentar o número de seguidores e, quem sabe, conseguir um patrociniozinho?

Gente, juro: agora até o pessoal do PT está convocando manifestação, quase que exclusiva, contra… a revista Veja!

Sempre amei participar e acredito seriamente que é nas ruas que a “coisa pega”, vide mundo atual. Só fico preocupada se o pessoal não acha que já está participando só porque não para de batucar as pretinhas dos computadores o dia inteiro, “curtindo”, “compartilhando”, dizendo que “vai” no plano virtual que aceita tudo, mais do que o papel. As caixas postais acordam e dormem lotadas (os insones são bastante participativos). Fala-se de tudo, até do que não é verdade, ou é antigo do tempo do Matusalém. São ciclos que se repetem, repassados. O que já li de bobagens de toda sorte – como se não houvesse tanta coisa séria e grave a ser combatida – e as pessoas ainda justificam: “estou só repassando”.

Enquanto isso, no Planalto Central e em todas as esferas o pessoal do manda ver se diverte com a ingenuidade. As notícias passam. Não gruda nos caras, porque amanhã tem mais, muito mais. Milhões e bilhões se confundem como se fossem iguais, com licitações fraudadas, presos e soltos, com algemas ou não, e as malditas declarações públicas que não dizem nada, apenas mostram as caras de tacho.

Quer ver? Já se passaram duas semanas do desastre do bondinho de Santa Teresa. O secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, o empoado e empolado Julio Lopes, que eu saiba, ainda está lá. O gomalina resolveu dizer que a culpa era do coitado do motorneiro. Que devia, sei lá, ter freado aquela geringonça mal conservada, talvez com os dentes. Mas, não, ele morreu. O caso também. Fora o fanfarrão que governa o pedaço, lá no Rio, cabralzinho até não poder mais, e que é melhor nem detalhar as bobagens que faz e diz – claro, quando está aqui e não voando por aí, casando e descasando da própria esposa. Hummm. Pacificados, é?

Mais? Sabe da última? O senhor senador José Sarney, com pouco para fazer no Maranhão e pelo Maranhão, para dizer o mínimo, quer trocar o nome do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Que dar o nome de Romeu Tuma – é, ele mesmo, o policial sobre o qual não vou falar, porque já foi. Mas também não preciso dizer o que acho da ideia.

Pensa que acabou? Soube do roubo do Banco Itaú? Foi num sábado, à noite, numa agência de um local, Avenida Paulista (mais uma vez), que só não é mais movimentado do que o Maracanã em dia de Fla X Flu? Pois até eu soube antes do secretário de Segurança de São Paulo, o Sr. Ferreira Pinto, aquele que faz cara de bravo, muito bravo, informado só DEZ dias depois. Os caras fizeram barba, cabelo e bigode, passaram horas “trabalhando” no local e até lanche pediram. Os milhões perdidos estavam guardados por dois coitados, vigias. Tipo parafernálias de segurança que dependem de um porteiro ficar ao lado, passando o cartão para destravar, senão… E ele, o bravo, continua no posto, meus amigos!

Sentadinhos em suas cadeirinhas. A corrupção, especialmente, corrói como cupim as contas e as coisas públicas. Nada sai do papel, às vezes nem com ela, que não gostam de gastar nem para nos enganar.

Como sempre lembro: alegria! Vai ter Copa. E Olimpíadas. A proposta é: vamos marcar uma data, nacionalmente. Escolher um inimigo, um que seja mais comum que os outros.
Meu voto é que seja contra a corrupção. Ou contra a violência que beira o inaceitável, com a vida valendo nada, nadica. Cada um escreve uma cartolina, a mão, espontânea. Na ocasião podemos cantar o Hino Nacional, tudo bem. Mas vamos fazer como quando queríamos as eleições diretas e aprontamos uma muvuca danada, um barulho que não deu para ser calado. O principal: vamos propor soluções, apoiar as que forem viáveis, abrir o peito, que seja para botar uma camiseta e algum slogan.

Mas, pelo amor de Deus! Vamos caminhar juntos. Aí eu vou.

São Paulo – acorda! 2011(*) Marli Gonçalves é jornalista. Desde muito jovem participa de tudo quanto é movimento. Foram horas e horas gastas em reuniões e, garanto, muitas valeram a pena para poder chegar até aqui com muito orgulho. Eu fui.

*** P.s: Certa vez, acNho que foi o Tom Jobim. Convidado para fazer um show especial, lhe disseram que seria com o João Gilberto e o Tim Maia. “Ah”, ele teria falado, “que bom. Então eu também vou não ir”.

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ARTIGO: Balas na cabeça. E sopapos na cara.

 

Marli Gonçalves

Juro. Corri para tudo quanto é lado. Me abaixei, desviei, tampei os ouvidos, cobri os olhos. Mas foi impossível não ter sido alvejada também duramente pela terrível sensação de impotência diante da loucura humana. Todos nós fomos baleados, principalmente na cabeça

 

O que fazer e o que pensar depois que acontecem desgraças como essa? Um homem marca um dia para morrer e matar. Marca o local. Escolhe as vítimas como se fossem tomates na feira. Explode seu vermelho para todos os lados. Prepara-se e executa.

Ouvi falarem que tudo era culpa do não-desarmamento – só que este foi resultado de um plebiscito popular – eu disse ple-bis-ci-to po-pu-lar, de 2005. Ou seja, o país decidiu. Fazer o quê? Os da paz total, onde me incluo, perderam. É assunto para bate-boca para mais de metro. E também não ia adiantar nada.

Ouvi falarem que o gajo era messiânico, islâmico, evangélico, fundamentalista e estranho, além de ter deixado crescer a barba. Vi só que encarnou um demônio, de carne e osso, com seus disparos de morte.

Estou ouvindo baterem a tecla no ato que ele gostava muito de Internet, clamando censura, na verdade, no fundinho, como se, se assim fosse, daquele jeito não teria sido.

Teve irresponsáveis falando em AIDs, homossexualismo latente e não resolvido, virgindade excessiva que teria subido para a cabeça, genética esquizofrênica, e criação por pais adotivos. Na carta que deixou – especialmente escrita, com cuidados gramaticais – daqui de longe vejo só a raiva do não ter vivido, e a busca de uma fantasia que deve ter sido trançada com seu próprio ódio, ano a ano, minuto a minuto.

Difícil entender como poderia ser evitado. Se ele tivesse falado com alguém. Falou? Tentou anunciar em alguma sala de bate-papo? De quem é o perfil no Orkut? Como treinou? Quantas vezes escreveu, leu, rasgou o seu testamento de morte? Onde o imprimiu? Acham que deveríamos ter previsto? Se nem quando as desgraças são previstas, escritas em versos e prosas, publicadas nos jornais, funciona! Alguém sempre diz a outro alguém que deveriam ser tomadas providências urgentes; e assim por diante, como no puro jogo de passa-anel de nossas infâncias.

Terá sido o que hoje até botam um nome pomposo? Bullyng? Ou a famosa e horrorosa, infelizmente uma tradição de afirmação social, a “azaração”. Duvido que algum de vocês, meus leitores adultos, não tenham sido alvo, passado por boas, pelo menos uma vez, apelidados de tudo quanto é coisa na escola! Na vida a gente encontra com seres do Mal em todas as idades e é assim que se vai vivendo. O ponto central, para mim, é lá atrás, nos primórdios: a índole, que se manifesta de alguma forma desde que somos crianças.

Sinceramente? Se eu fosse criança e tivesse assistido nem que fosse só os noticiários básicos, me esconderia debaixo da cama e ninguém mais me arrancava de lá. Se eu fosse adolescente, como o eram todas as vítimas, aí já não sei. Acho que pararia para refletir sobre as loucuras que passam – e como passam! – pela cabeça da gente nessa época, tentando filtrá-las e amadureceria um pouco mais. Entenderia que vida é para ser vivida. Que vida é frágil.

Mas nós, adultos, já vivemos para ver e viver coisas até piores, frutos das sandices humanas, incluindo as que o fazem pelo Poder. Soubemos e vimos gente ser queimada por ser estranha ou diferente; marcada como gado para identificação no matadouro, por professar seus credos; humilhada por ser natural – em alguma ou de qualquer coisa.

Na semana passada havia escrito sobre essa sensação cinzenta e abstrata pairando por aí. Vinha um pouco das radiações do mundo. Atômico e em guerra, até com a natureza. Aí acontece um filme de horror desses, e seus trailers são espalhados por todo o país.

Como disse, tentei bravamente me esquivar dessas balas, mas, mais do que o ato em si, o caso suscitou foi toda uma série de perguntas, e todas sem resposta.

Espirrou muito medo. Medo da intolerância, e medo da explosão dela.

São Paulo, 2011.Rio de Janeiro, que 2011!

 

(*) Marli Gonçalves é jornalista. Acha que é só juntar o crescente ódio e o embate de ideologias, a moral dos que se julgam arautos de verdades incontestes. Vira isso. Não precisa nem mexer. E não podemos fazer muita coisa.

 

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 Ouvi, e certamente você também, de um tudo nesses dias. Pior foi no dia mesmo, quando raros dos inúmeros chutes a gol não se mostraram nem ao mínimo coerentes. Desferidos sem dó por psicanalistas e analistas de recheio, minuto a minuto. Vi pedirem para as portas das escolas polícia, artilharia antiaérea, detector de metais, Raios-X e raios ultragamavioleta térmicos. A construção de um bunker, enfim. Aí fazem como sempre aqui: toda a tecnologia nas mãos de uma pessoa, comum e mal treinada. Que justamente nessa hora saiu para tomar um café, sabe como é? Quem mora em prédio, sabe.

ARTIGO – Nossos novos medos.

Marli Gonçalves

Diariamente temos medos, muitos medos. Antes, eram os regulares, aqueles contra os quais nos defendíamos como podíamos, com seguros – de fogo, de vida, de acidentes. Mas agora parece que tudo mudou, e a cada dia temos mais medos e do que a gente nem sabe o quê, nem de onde vem. Mas pressente estar próximo. E não há seguro possível para se prevenir.

Duvido que exista um só brasileiro que não esteja arrasado pelo que viu, está vendo ou acompanhando uma vez que tenha sabido das tragédias devastadoras ocorridas no Rio de Janeiro e, de certa forma, também em São Paulo. É um misto de compreensão dos desígnios de Deus, para os que crêem, e de absoluto inconformismo de quem observa com vista privilegiada, e aponta a incompetência, o descaso e o escárnio de autoridades, administradores e políticos, ano após ano.

2011 começou mostrando uma cara muito feia. Mas houve beleza na cena da Dona Ilair, a mulher que conseguiu salvar-se com a ajuda de vizinhos, e o que tentou agarrada ao seu vira-lata pretinho. Nunca sairá da minha memória. E sei que também não esquecerei o cachorrinho perdido, levado pela enxurrada dos braços de sua dona, em desespero. Coisas assim a gente não esquece; acontece com todos os jornalistas que fazem essas coberturas e acabam marcados. Passa ano, vem ano, e se começa a chover forte, meu coração ainda prevê essas tragédias que já viu in loco, vistas, acompanhadas, previstas. Tragédias naturais amplificadas por uma inexplicável leniência.

Mas veja que agora todos estão desassossegados. Antes, em geral, enchentes e deslizamentos atingiam “pobres”, derrubando e desmoronando casas de “pobres”. No máximo, encharcando carros incautos transitando ocasionalmente em áreas “pobres”, e não derrubando e matando também milionários em férias em suas mansões, haras, fazendas.

Percebo então o quanto estamos cercados de novos medos e ameaças, e que parece não haver mesmo mais nenhum lugar seguro. Nem com nós mesmos. Esse é o tema.

Shoppings centers? Assaltos, tiroteios, brigas de gangue, seguranças mal treinados, carros que podem voar dos estacionamentos que eles improvisaram subindo prédios, esticando curvas, fazendo puxadinhos.

Apartamentos? O elevador pode cair. Arrastões, porteiros descontentes que viram assassinos, síndicos enlouquecidos que matam em elevadores. Obras descontroladas que podem fazer ruir por terra os sonhos de toda uma vida, com areia ao invés de cimento, canos de “papelão” ou coisa parecida.

Férias paradisíacas? Tsunamis, maremotos, furacões e terremotos, enchentes e deslizamentos. Greves políticas incendiárias. Fora os cruzeiros mareados, o caos aéreo, claro, e outros problemas, menos nobres.

Carros blindados? Blindagens de embusteiros, falsas blitz que obrigam que as portas se abram, com seguranças coniventes, sequestros e mortes. E os outros: pessoas sem habilitação ou condições mínimas em veículos idem, bêbados, irresponsáveis de toda sorte furando sinais e brincando de rachas em ruas, avenidas ou estradas mal conservadas, tanto quando alguns de seus usuários.

Ruas? Pontos de ônibus invadidos por procuradoras bêbadas. Crianças esmagadas por ferragens, de quem se ferra e que ferram outros. Travessias radicais – o outro lado da rua pode significar ir para o outro lado da vida. Fora as guias e calçadas esburacadas que podem te mandar para o ortopedista.

Há ainda o perigo dos raios, das bombas que explodem para chamar a atenção do mundo, mas destroem famílias, alheias, postas involuntariamente no cenário de guerras. Há as doenças, vírus e bactérias novas, algumas trazidas na bagagem de forasteiros, migrando com suas malinhas para um país onde se desenvolvem e se criam, fortes e sem serem incomodados. Como moluscos africanos.

A vida passa a ser a transposição diária de uma sucessão imprevisível de acontecimentos e de superação de medos, inseguranças e fatalidades.
Temos medo. Temos medo também de virar um número entre tantos. Temos medos, receios, certezas e dúvidas. Estamos todos muito sensíveis, precisando desabafar, mas não conseguimos mais respirar aliviados nem com o desenvolvimento da vida virtual que nos isolou em cápsulas aparentemente seguras.

Agora, por conta, temos ainda novos medos, particulares. Paranóicos. De ofender os amigos por não conseguir responder a um e-mail (ou de ter respondido, sim, mas em mensagens perdidas por provedores e sistemas). Temos medo de não reconhecer a mensagem de SMS daqueles que parecem ter certeza que seu telefone é adivinho. E ele não é, por mais moderno que seja. Temos medo que nossos computadores “fofoquem” para quem mandou que deletamos mensagens que, muitas vezes, não deletamos não. Temos medo de que nossas mensagens sejam mal interpretadas, se interceptadas por quem procura motivos, pelos ciúmes dos amores ou maridos e esposas que na calada da noite violam sigilos e individualidade dos nossos destinatários. Vamos acabar secos, frios, formais. Ou dissimulados demais, cheios de códigos e senhas indecifráveis, criptografadas.

Temos novos medos. Novas nóias. E muita dificuldade de lidar com todas elas, mesmo que só nos nossos íntimos, como mães que envelhecem pensando no perigo que seus filhos possam estar correndo nesse exato momento. Incapazes que são e se sentem, de criar mantos protetores, couraças inexpugnáveis.

Vamos ficar loucos desse jeito. Procuraremos videntes, alguns, simplesmente crápulas? Procuraremos sinais do Universo? Diremos tudo aos analistas, psicólogos, psiquiatras e psicanalistas, que proliferarão, também buscando as mesmas respostas, já que ele vivem nesse mesmo mundo, neste mesmo tempo?

Ou simplesmente deixaremos o barco nos levar, sabendo-se lá que dia e como será?

São Paulo, de um Brasil inteiro, consternado. De um mundo todo em transição. 2011 em diante.

(*) Marli Gonçalves é jornalista. Nunca se esqueceu de uma entrevista que fez, 27 anos atrás. Era uma mãe muito pobre e de muitos filhos que acabara de perder um deles, atropelado na ferrovia. Ela tinha muito que fazer e continuar. Apenas virou para um dos outros filhos e pediu que ele fosse ao local do acidente buscar a cabeça do irmão, que havia sido decepada. Ela apenas queria enterrar o passado e continuar a enfrentar aquele seu futuro, muito real. Não havia tempo para dramas.
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Ele voltou. Para o Jornalismo. Gabeira, no Estadão e outras estações!

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,‘a-tradicao-e-estar-onde-as-coisas-acontecem,655490,0.htm

DO ESTADÃO – ‘A tradição é estar onde as coisas acontecem’

Dezesseis anos depois de ter trocado a redação pela política, Gabeira volta à ativa como colaborador do ‘Estado’

Fernando Paulino Neto / RIO

Aos 70 anos e sem exercer o jornalismo há 16, desde que se elegeu pela primeira vez deputado federal, Fernando Gabeira planeja reinventar a vida e avançar como jornalista. Em seus planos está a colaboração para o Estado, onde estreia em janeiro como articulista da página 2, blogueiro do estadão.com.br e repórter especial multimídia do jornal. Nas reportagens especiais, fará texto e contribuições em áudio para a Rádio Eldorado e para a TV Estadão.

Na última vez em que fez uma cobertura internacional, a guerra da Iugoslávia, Gabeira utilizou o telex para enviar suas matérias. Hoje, acredita que a evolução tecnológica é importantíssima. Não só por permitir a utilização de diversas mídias em uma mesma reportagem, mas pela possibilidade de “sobrevivência sem papel e tinta”, com o advento do iPad.

Gabeira se propõe a fazer uma “quarentena” de temas mais próximos ao que abordou em recentes campanhas políticas. O objetivo é dissociar a imagem de político do jornalista. Pretende abordar principalmente assuntos como meio ambiente – em especial as enchentes -, Olimpíada, América Latina e questão nacional, “que, por enquanto, fica entre parênteses”.

Sua volta à redação traz com ele o espírito de repórter de prontidão. “Eu não sou jornalista de sentar e fazer só comentários. Minha tradição é de ir onde as coisas acontecem. Esse jornalismo que gosto de fazer se rege pelas mesmas leis que Gentil Cardoso determinou para o futebol: ‘Quem se desloca, recebe’. Você tem de estar lá.”

O que o sr. espera encontrar de diferente? As novas mídias são um desafio?

Os instrumentos à disposição hoje são muito maiores e mais perfeitos do que no passado. Significa que você tem mais tempo para fazer o trabalho e aperfeiçoá-lo. Agora descobriram uma nova bactéria que pode sobreviver sem o fósforo. Pode ser que o iPad seja uma nova vida para nós e possamos sobreviver sem o papel e a tinta. O processo de evolução está em curso. Isso é o mais importante que existe. Você tem também uma mudança no leitor, que passou a ser um usuário e um produtor, interagindo com o material. Mas, na verdade, são os jornais que gastam quase 30% de seu orçamento checando as notícias.

Qual seria o espectro da cobertura do Rio?

Existe uma curiosidade muito grande sobre o Rio no cenário internacional, o que já existia, mas foi estimulado pela Olimpíada e pela Copa do Mundo. Existe uma interrogação. O Rio tem condições de realizar bem uma Olimpíada? E, é claro, dentro dessa grande pergunta, a questão da segurança está envolvida. As UPPs foram construídas inicialmente como uma tentativa de criar um cinturão de paz em torno das áreas mais usadas pela Olimpíada.

O debate é se a segurança é para a Olimpíada ou para o Estado no conjunto. O cobertor não vai ficar curto?

No Alemão (conjunto de favelas na zona norte do Rio), o governo foi impelido a mudar de estratégia e antecipar a invasão. A presença do Exército, como Força de Paz, não há dúvida que estendeu o cobertor um pouco. Por que fugiram os traficantes do Alemão? Por que fizeram um cerco à Vila Cruzeiro e eles fugiram para o Alemão. E não havia cerco no Alemão. Ali era preciso no mínimo uns 2,5 mil homens para fazer frente aos 600 homens armados no Alemão. O cálculo é sempre de quatro para um. É uma tarefa para o Exército chinês. Precisamos contratar 7 mil policiais por ano para atender a essa demanda, sem contar os que são expulsos por mau comportamento. Nós estamos em duas comunidades no Haiti e isso já nos custa quase cinco vezes o gasto de segurança do Rio. Além disso, aqui no Rio foi um caminho invertido. Você fez obras infraestruturais e sociais onde o tráfico dominava, como Manguinhos, Alemão e Rocinha. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) começou de uma forma estranha. Ninguém escreveu ainda a história de como foi possível o PAC no Alemão. Embora eu tenha absoluta certeza de que a polícia tem gravações telefônicas e depoimentos que possam reconstituir essa história. Evidentemente que isso não vai aparecer, até porque o WikiLeaks não está interessado.

O sr. se preocupa com o problema das enchentes. O que mudou desde o ano passado?

Não mudou nem a organização da Defesa Civil. Nós temos uma série de dificuldades. A Defesa Civil não está estruturada como deveria, os bairros não estão se organizando para essa contingência. É preciso saber onde estão os barcos, onde está a lista das pessoas que não podem se mover. Uma série de providências que no Caribe, com os furacões, eles já estão acostumados. Aqui as enchentes parecem que acontecem de vez em quando. Então acontece o que eu vi no ano passado. Estavam construindo casas para pessoas que tiveram casas destruídas por enchentes no passado, mas os atuais flagelados as ocuparam. A leva de flagelados já era outra.

Como vai ser o governo Dilma em sua opinião?

Estou esperando algumas contradições internas na estrutura do próprio governo Dilma. Mais contradições entre os partidos que compõem a aliança do que contradições entre oposição e governo. Mas esse tipo de contradição vai resultar é em denúncia específica. Devo ficar um pouco à margem disso.

Como o sr. vê a questão do controle social da mídia?

Eu sempre tive uma posição contrária à expressão ‘controle da mídia’. Muitas vezes o que está por baixo da expressão ‘controle social’ é o controle de algumas entidades aparelhadas pelo partido do governo. Eu vejo com muita suspeição. Acho que a imprensa tem de ser deixada livre e trabalhar com todas as possibilidades. É claro que uma regulamentação do setor do ponto de vista de ajustar o papel das teles, o papel das telefônicas, é viável e possível. Mas não nenhum tipo de controle.

Que momento é hoje o da América Latina?

America Latina não é uma coisa única. Eu gostaria de fazer uma passagem pelos países que estão experimentando esse novo tipo de política, como a Bolívia, o Equador, a Venezuela e, parcialmente, a Argentina, para ver o que está se passando, qual o mecanismo dessa democracia plebiscitária. Os caminhos da Venezuela começam a ser bastante complicados. É um momento histórico interessante. Não com uma visão apologética, mas porque acho que vai haver problemas.

ARTIGO – Constrangidos e vazados.

                                                                                             
Marli Gonçalves

  Nosso avião nem sai do lugar. Quando sai, ainda fica mudando de plataforma e a gente pulando mais do que perereca no pântano dos aeroportos. Nossos segredos vazam mais do que os córregos em dias de chuva, e a gente nem mais se constrange. Nunca antes nesse mundo todo quem tem a hierarquia não preza mais por ela, a vergonha sumiu e a memória vai acabar virando uma nova bactéria, alimentada por outros gases. Os hilariantes.

  Mais do mesmo, que já foi, mas volta. Até aí, ninguém esperava mesmo muitas mudanças. Falo do Novo Governo , que vocês bem estão vendo, integrado quase que completamente pelo velho. Ou por piores. Li outro dia uma frase genial no Twitter: “parece que Dilma está convidando Lula para ser presidente da República, e ele vai aceitar”. Genial. Mas maldade, porque a coisa agora deve é ficar mais precisa, finalmente. Compraremos os aviões mais caros da França, porque compraremos. Os ministros faltantes nos tribunais devem finalmente ser indicados, a partir de critérios discutíveis – sejam eles quais forem. O Exército ocupa alguns morros e o tráfico vai acabar. Pelo menos naqueles terreiros. O pré-sal é mais embaixo, o Planalto mais acima.  

E quando nos preparávamos para o Bye-Bye monumental , somos surpreendidos como nunca antes nesse país – e não só pelos documentos secretos vazados, que enrubesceram até os pelinhos dos maiores dirigentes mundiais, que se descobriram fofocados. Ficamos tristes, magoados, foi com o sincero e guardado desabafo de Lula sobre o seu aviãozinho do poder. Imagine aquele, mais novinho, um brinquedinho, e ele tem nos deixado cons-tran-gi-dos perante o mundo, oh, dó! Por não possuir autonomia suficiente para ir lá… bem looooooonge .   

Gente! Precisamos comprar outro, rápido! Nosso Air Force One emborcou.

A situação do Rio de Janeiro, nossa Haiti, fotografada e radiografada, reproduzida no mundo? Isso não constrange. A corrupção? Ora, bolas, do que é que vocês estão falando? A falta de estrutura para a Copa e outros esportes que ganhamos como endereço? “No final dá tudo certo”, dizem os otimistas. principalmente os que vão encher o bolso na Hora H, longe do crivo de concorrências, porque  já-já virarão emergências. Também não devemos nos constranger por ver voltar quem ainda nem julgado foi, ou outros alguns que deixaram o caráter na maternidade, quando nasceram.

 Não vejo também porque se constranger com a violência. Reparou que até ela já está, digamos, cooptada? Já viu os anúncios do “idolatrado” Rapper MV Bill, néé Alex Pereira Barbosa, bajulando o Bolsa-Família? Mano, o cara é ativista com obras publicadas: Cabeça de Porco, Falcão – Meninos do Tráfico, Falcão – Mulheres do Tráfico. Cineasta, com obras como Falcão – Meninos do Tráfico, Sonhos Roubados e participação naquele programa educativo, sabe qual? – o Malhação, da TV Globo. Tem mais, a discografia: Traficando Informação, Declaração de Guerra, Falcão- o Bagulho é doido, Causa e Efeito.

Só cantando, comigo, no ritmo, no repente, o rap que fiz. Vem! É só se embalar como se alguém estivesse te dando um tranco, um solavanco. Pá. Pá. Pá – igual tiro.