ARTIGO – O Grande Balé dos Poderes. Por Marli Gonçalves

Poderes, dos maiores aos descarados minúsculos, não faltam por aqui. Volitam nos palcos e no Salão de Baile Brasil. Todos nos convidam – na verdade, obrigam – diariamente a assisti-los dançando os mais variados ritmos, quando rodopiam diante de nossos olhos como se amanhã não houvesse.

o grande balé dos poderes

Há os grandes poderes, os tais três, Legislativo, Executivo e Judiciário. (O Quarto, extra, a imprensa, tem vindo a reboque, numa espécie de assistência da janela de onde de vez em quando avistam desafinados, traições, descompassos). Vestem-se com garbo, sapatos lustrados, muitos cabelos acaju, ou negros como as asas da graúna, e admitem apenas algumas mulheres na rodinha que fazem para confabular, disfarçar, criar e ensaiar os seus movimentos, metas e passos; e vale dizer, como uma generosidade, uma concessão, um espaço, como quem guarda uma vaga com caixote até que ela precise ser usada. Está ouvindo?

Todas as épocas, todos os governos, sempre assim, movimentam-se juntos, para a esquerda, direita, centro, centrões, centrinhos, de acordo com o tilintar, o vento, os votos, o maestro que está no púlpito, agitando a batuta, as benesses, os cargos e acordos. O sininho. Seus movimentos – pelo menos nas décadas em que os assisto – são repetitivos, e aqui e ali até ensaiam alguns novos passos que chegam a divulgar, antes de esquecê-los nas suas próprias coreografias; ou seriam biografias?

Os imagino ensaiando, muitas vezes em sigilosas reuniões onde uns são convidados, um, por vezes mais alguns, no interior de residências oficiais onde chegam com seus seguros carrões de vidros escuros. Cheeck to cheek. Vão combinar algo, que logo saberemos, fingindo surpresa, e vendo todos os outros pequenos poderes se organizando para aplaudi-los. Após o regabofe surgirão sorrindo aglomerados na porta dessas casas. Os que dançaram. Os que entrarão agora. Os que se salvaram, pelo menos por enquanto. Outros se retiram pelas portas dos fundos, ressentidos, tuitando os caracteres possíveis. Não os tiraram para dançar. Os tiraram.

Penso como protegem suas estratégias. Qual o perfume. Nesse abraço para a valsa sussurram um aos ouvidos dos outros? Suspiram perto dos pescoços que alguns gostariam mesmo é de morder arrancando sangue, mas disfarçam enroscando as mãos nas cinturas, quando conduzem os movimentos, sempre perto de alguma saída. Rodopiam. Pisam nos pés? Qualquer tropeço ou discordância trocam de par. Uma visão mais burlesca da cena até poderia ser aquele tipo de show de inferninhos onde se enche de notas amassadas as ligas de quem se apresenta no palco, e que quanto mais dá, sorri e mostra, mais ganha.

As mãos, estas sempre se movimentam. Para bater no peito, como patriotas. Apertam outras, que os grandes Poderes sempre tentam exalar, quando juntos em público, paz e conformidade, seja envergando uniformes militares com vistosos galardões, negras togas alinhadas, ou gravatas de seda, adornos de relógios de marca, placas e títulos de líderes, vice-líderes de algo, sejam partidos, bancadas, federações. Cliques espocam, garantindo que as cenas estejam registradas, que se diga que há uma paz selada. Um acordo fechado, em meio a tanta simpatia. A partir daí comentaristas farão suas longas e óbvias análises, consultarão suas fontes, e tudo estará consolidado. A coreografia será executada, com ou sem barulho, no chão previamente encerado, com o texto do script distribuído.

Segue o baile. O Grande Balé dos Poderes. Alguns usam “tutu”. Outros, Fufuca.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

#ADEHOJE – RESSUSCITADOS: DILMA E LAVA JATO

#ADEHOJE – RESSUSCITADOS: DILMA E LAVA JATO

 

SÓ UM MINUTO – A coisa está tão louca que foram até tentar ressuscitar a Dilma Rousseff que deu entrevista longa para o Leonardo Sakamoto, do UOL. Entre iguais. O que ela disse, bem, vocês imaginam, mas nada que vá nos salvar da catástrofe criada com a eleição de Jair Bolsonaro pelo ódio cultivado ao PT. Que tantas fez, especialmente no Governo Dilma, que conseguiu essa polarização desgraçada que estamos vivendo. Estão violentos os ataques insanos de quem não consegue pensar – e já que não pensam são brucutus igual que nem…

Hoje deflagrou-se a 62ª fase da Lava Jato, e foram atrás da cervejaria Petrópolis …O dono, Walter Faria, sumiu, caiu no mundo.

Sobre a carnificina no presídio em Altamira, no Pará: além dos 58 presos mortos na guerra das facções, mais 4 morreram, vejam só, asfixiados, enquanto eram transferidos. A política jura que eles estavam bem, separados entre si, etc, dentro do caminhão que os levava.

NÃO ESQUECE! Lançamento do meu livro Feminismo no Cotidiano, dia 20 de agosto, terça-feira, na Livraria da Vila, Alameda Lorena, sp

 

OAB/SP divulga nota com data adiantada e com umas obviedades e tanto a respeito das manifestações. Leia.

detourORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL
Seção de São Paulo

Nota oficial da OAB SP sobre as manifestações e o combate à corrupção

A Secional Paulista da Ordem dos Advogados do Brasil, em face das manifestações anunciadas para ocorrer nos próximos dias em todo o país, vem reiterar que a liberdade de manifestação, que deve sempre ser exercida de forma pacífica, sem violência, é garantida pela Constituição do Brasil e é inerente ao Estado Democrático de Direito, sendo direito do cidadão externar suas indignações, notadamente contra as mazelas de nosso país, devendo ser respeitado por todos, especialmente pelas autoridades públicas.

A OAB SP se solidariza com as manifestações contra as práticas inaceitáveis de corrupção, conclamando as autoridades, especialmente o Poder Judiciário a, com independência e isenção, assegurados os preceitos constitucionais do direito à ampla defesa, presunção de inocência e o devido processo legal, da celeridade processual e da transparência, punir, nos termos da lei, os que cometeram esse crime tão odioso e que tanto prejuízo tem trazido para o desenvolvimento social e econômico de nosso país.

Marcos da Costa
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Secional São Paulo
São Paulo, 12 março de 2015

ARTIGO – Assim é se assim não fosse, Pedro Bó!

                                                                                                                                                                                                                                   MARLI GONÇALVES

Antes de entrar, verifique se o elevador está parado no andar. Passarão trezentos anos e toda vez que eu ler essa placa vou ter é muita vontade de rir, embora saiba até que muita gente já abriu a porta e fuimmm pelo poço. Certas perguntas, certas respostas, recomendações e avisos são tão idiotas e redundantes que garantem uma dose de humor todo dia. Ou nos dão uma irritação e uma vontade de matar, de esganar, de picar um. Fizeram isso e remendaram o slogan do nosso país. Como assim?

São umas batatadas umas coisas que a gente tem de ouvir nessa vida. Algumas a gente tem que ficar quieto, até esquecer, por motivos, digamos, hierárquicos, ou mesmo por elegâncias. Só que isso em um cotidiano tenso, sem grana, com muito calor acumulado, dependendo da temperatura natural do seu sangue, torna-se uma tortura. Se o fluxo sanguíneo for fervente como o meu, o resultado será nome de tira de jornal e peça de teatro: Mulheres Alteradas. Podíamos inventar uma variação Mulheres Alteradas e Homens Cabeça Inchada. “La Niña” pode até não fritar nossos miolos. O que frita é sempre umas poucas e boas que a gente vê e ouve.

Lembra do Pedro Bó? Vou ter que dar uma explicadinha porque há entre nós, gracias, leitores bem jovens. Na Chico City, o mundo imaginário que Chico Anysio criou nos tempos áureos, ele fazia um coronel, Pantaleão, que só se jactava de grandes feitos, mentiras descaradas. Ele era casado com a Terta, dona que não podia nem pensar em contrariar o coronel, que perguntava: “É mentira, Terta?” “Verdade”, ela confirmava. Eles tinham um agregado simplório, o Pedro Bó, interpretado pelo comediante e circense Joe Lester – e que só fazia perguntas bobas e observações que já eram óbvias. Foi um sucesso, principalmente entre as crianças, que com isso até exercitavam certo tirocínio. “Não, Pedro Bó!” Depois a Revista MAD criou uma seção “Respostas Cretinas para Perguntas Imbecis”, que desfilava um rosário de situações.

Enfim, essa conversa mole veio a propósito de duas coisas. Uma, a pendenga de um amigo com a Net. “Estou sem internet há dois dias”. O atendente: “Vou dar um site para o senhor acessar agora”. “Dá, Pedro Bó!” Virou uma novelinha que, de longe, me faz rir. Outro dia ele pegou no Google Maps a foto de satélite do local exato onde fica a central de atendimento e fez um círculo. Temo que esteja mesmo planejando um atentado.

A outra coisa é séria e requer sua atenção, e que pense comigo, que pare, sacuda a cabeça, volte a si, recupere a consciência. Não engula. Trata do tal slogan lançado essa semana para carimbar nosso país. Um slogan deveria servir para definir algo de bom, que nos valorize, positivo, que agregue à “Marca Brasil”. Slogan é slogan. Marca é marca. “País rico é país sem miséria”, que o governo passará a usar é vergonhoso. Burro. Negativo. Óbvio. Esquerdinha. Sem sentido. Ululante, lululante. AH! Melhor parar de dizer o que achei. Assim é se assim não fosse. É Pedro Bó, de nascença.

Então, tá, a proposta é slogan? Ou propaganda para fazer as pazes com a América Latina, se esfregar na perna do Chávez? Até quando a gente vai aguentar essa bazófia, essa proposta diária de luta de classes, de que pobres subirão aos céus, e de tudo disporão?

Ouço alguém aí atrás levantando a mão e defendendo a frase, que essa é uma boa proposta? Respondo amigo, que nem precisa falar. Precisa é combater a miséria de verdade, não apenas fazer dominá-la por discursos, por filiação partidária. Não haverá miseráveis realmente, sei lá, nos EUA? Podem ser considerados pobres, então. Nosso IDH lá embaixo, amargamos lá atrás no ranking mundial de detalhes sociais básicos, carregando o analfabetismo, falta de saneamento. E vocês vêm botar embaixo do nome da Nação que “Pais rico é país sem miséria?”. Sob essa égide, passaremos esses próximos anos por baixo da lona, por baixo da “carne seca”, como diriam nordestinos arretados. Com o fiofó a risco.

Equação simples: já que “país rico é país sem miséria”, conclui-se então que “nosso país é pobre de marré deci“. Pobre de marré, marré, marré… Portanto…

Levamos um grande projeto brasileiro para o exterior e, ao apresentarmos surgirá o lindo slogan emoldurando a batucada. Antes, era Brasil – Um País de Todos. Não era mau, não me lembro dele ter sido criticado e a idéia que trazia rendeu vários bons comerciais oficiais, inclusive na época da candidatura Dilma.

Como sou otimista, acho que, com muita coisa para pensar, Dilma deve – só pode – ter deixado essa área tão importante, a comunicação, para outros, e ainda não atinou com esse estrago anunciado. (Ainda) Não simpatizo com ela, mas imagino que ela seja inteligente e também não goste do óbvio, dadas algumas respostas atravessadas e rápidas que sabemos que já sapecou por aí. Vou torcer para dar tempo dela se ligar e trocar. Ou deixar morrer.

Afinal, se a turma que está no Poder, decidindo e mandando, quer tanto tanto acabar com a miséria, não deve precisar ser lembrada disso logo lá no slogan da Nação. Nem fica bem.

Podiam escrever a frase no espelho de seus banheiros, por exemplo.

“Bom Dia. É mentira, Terta?”. – “Não, Pedro Bó!”
 

                           São Paulo, Jeca Tatu, olhe para os dois lados, espere o sinal fechar. Não feche o cruzamento. Você chegou agora? 2011 acalorado.

(*) Marli Gonçalves é jornalista. Se você parar para prestar atenção nas frases vazias que nos invadem por todos os lados, vai ver que é “café pequeno” o repertório do Bó. “Trrrrimm”, bem cedinho… “Alô”. “Você estava dormindo?” “Não, Pedro Bó, estava esperando você me acordar com o sininho do telefone”.
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