ARTIGO – Medos terrenos e desassossegos voadores. Por Marli Gonçalves

Está fácil não, viver. Simplesmente viver. Os medos se multiplicam, por mais que a gente deles fuja, e até tente controlá-los. Como é que se fica tranquilo, por exemplo, com essa história da dengue, dos malditos insetos que não vemos nem para lhes dar vassouradas? Ou melhor, vemos toda hora seus bebês malditos se multiplicando nas águas paradas mostradas em todos os lugares? Mas tem mais, muito mais, do que dengue.

Medos

Calor agoniante, chego à janela para uma refrescada, um ventinho, fumar um cigarrinho. Logo capto a aproximação de um mosquitinho voador volitante.  Pavor. Pra mim ele é preto e branco, com listinhas, e o afugento com uma baforada certeira. Ufa. Esse eu vi, nem sei quem era, se era o tal Aedes aegypti, o mais famoso do momento. Vou dizer: odeio insetos em geral. Podem me enumerar teses científicas da importância deles para qualquer coisa, até pra evitar uma Terceira Guerra, que não vai adiantar. Para mim esses sujeitos podem acabar com a humanidade, pior que putins, trumps, e até uma guerra nuclear – dizem que muitos deles sobreviveriam. Odeio. Moscas, mosquitos, formigas, aranhas, traças, cupins, baratas e suas variações.  Poucos escapam à minha sanha, como joaninhas e vagalumes. Mariposas, então, chegam a me causar angústia. A gente fica “psíquico”, como gente simples define.

Já parou para pensar o momento que estamos vivendo, além do real já pavoroso, esse mundo quase invisível para o qual pouco adianta se armar, praticar tiro ou fazer curso de apertar o spray da lata de inseticida? Ficar procurando e destruindo qualquer lugarzinho de água parada em seus domínios, sabendo que ali perto pode ter muito mais em terrenos baldios, piscinas largadas. Qualquer lugar. Podem estar lá, as tais larvas rebolantes crescendo para virar bichos, que podem te picar, deixar bem doente, matar? Qualquer lugar, qualquer um, tampinha, buraquinho. Não tem vacina garantida para todos. Não adianta por máscaras contra eles. Nem beber repelente, já que passar na pele, ficar empastado o dia inteiro, acredite, parece improvável a real eficiência, possibilidade, e já tem é muita gente enriquecendo vendendo essa indicação de defesa.  Se as pessoas não conseguem nem comprar filtro solar!

Surgiu agora uma nova nóia e de nome mais apavorante chegando perto, vinda lá do Amazonas, a tal febre Oropouche, mais uma arbovirose — doença, como a dengue e zika, transmitida por insetos, mosquitos, aranhas, carrapatos. Essa pode vir de infernais bichinhos ainda muito mais comuns, maruims ou mosquitos-pólvora e os pernilongos, esses todos que em todos os cantos zunem nos nossos ouvidos, picam nossas pernas, coçam. Se picarem alguém infectado, pumba, passam a ser transmissores.

O filme de terror da atualidade, agravada com as mudanças climáticas, El Niños, Niñas e outras previsões malignas só aumenta. Que tal a infestação de mortais escorpiões amarelos que vêm sendo encontrados até no interior de ônibus urbanos, além de você poder, dependendo de onde vive, calçar sapatos que são suas moradas? Todo mundo criando galinhas, os novos cães de guarda de quintais.

Já ficou psíquico também? Pois, então, se conseguir ultrapassar os insetos preciso enumerar mais uns bons motivos para cada dia estar mais complicada a nossa situação, além do que comemos, se ultraprocessados, envenenados, cancerígenos; além de  enchentes, raios faiscantes ou choques em fios nos postes de ruas que também podem se abrir em rombos quando por elas passamos; roubos e assaltos à luz do dia, golpes com amor e sem qualquer amor; balas perdidas.

As balas encontradas. Granadas. Fuzis, metralhadoras, muita pólvora. Não! Não estou falando do crime organizado não, nem de comandos coloridos. Tudo isso pode estar na casa do seu vizinho, como aconteceu em Campinas com a explosão do apartamento no prédio onde morava todo bonitinho um coronel, general, sei lá, militar verde e amarelo de merda com sua aposentaria de quase 30 mil reais. BOOM! E vocês me perguntam? Esse “cidadão” foi preso imediatamente? NÃO! Ficou ali conversando com os policiais que atenderam a ocorrência, com dezenas de feridos, e saiu andando. Talvez assobiando. Apareceu depois, de coitadinho que teria tentado suicídio (com um canivete que não é besta de se matar mesmo) e até agora não sabemos o que será feito dele. Quantos iguais a ele estarão por perto, os tais colecionadores, CACs, caçadores e cacas permitidas que espalham armamentos e sorriem?

Eu ia escrever sobre nós, mulheres, que o Dia da Mulher, 8 de Março, vem aí, cada vez mais vilipendiado e comercial. Claro que também aí escreveria sobre medos e sobressaltos de nós, que somos mais da metade da população do país. Todos os dias cruelmente assassinadas – essa semana um monstro não só matou a esposa como arrancou seu coração. Como se não bastasse a violência geral, os estupros, temos ainda de enfrentar a ignorante perda ou discussão de alguns poucos direitos nossos tão duramente conquistados nas últimas décadas.

E guerrear contra os malditos mosquitinhos.

_____

marli goMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

ARTIGO – Somos todos reféns. Por Marli Gonçalves

Se tem uma palavra da qual temos ouvido falar é essa, reféns, especialmente desde a eclosão do mais recente conflito no Oriente Médio e agora com a negociação de uma trégua e a libertação de alguns capturados de um lado, pelo Hamas; de outro, de detidos em Israel. Mas se a gente pensar bem, somos todos reféns de algo, incluindo a espera de boas notícias

reféns

Mas nem sempre temos negociadores capazes de nos libertar, como em grandes acontecimentos, como este da guerra, que movimenta países. Ou mesmo da polícia que manda oficiais treinados quando há ocorrências com reféns. Isso, claro, quando não manda atiradores de elite que resolvem a questão na bala quando as conversas emperram ou há riscos maiores envolvidos.

No nosso caso particular temos na maior parte das vezes de nos virar sozinhos. Creio que há situações que somos reféns, inclusive, de nossos próprios pensamentos e sentimentos. Muito louco isso, porque não conseguimos contê-los e são capazes de nos deixar amarrados, imóveis, e por muito tempo até consigamos nos desvencilhar deles, medos, pessimismos, controvérsias; muitas vezes nem nos damos conta de quantos algozes enfrentamos durante uma vida.

Mulheres, por exemplo, ainda são algumas das principais reféns de uma sociedade infelizmente predominantemente machista. Reféns por elas, pelos filhos, pela falta de condições gerais de combater ameaças, e em muitas histórias que diariamente vemos com algum terrível e mortal desfecho, especialmente quando tentam escapar do que, sim, pode ser considerada uma das mais violentas lutas, as vividas dentro de um relacionamento tóxico do qual tentaram de alguma forma se livrar. Não há dados reais sobre isso. Só o silêncio que paira atrás de portas e janelas fechadas e ouvidos moucos aos apelos que quando descobertos muitas vezes até causam intensa surpresa por envolverem pessoas que acreditávamos imunes. Reféns são obrigados a disfarçar sua condição, até para não sofrerem ainda mais.

Aos reféns cabe ou submeterem-se ou criarem mirabolantes planos de fuga, dos fatos, quando reais, ou dos abstratos quando se trata de questões internas, sentimentos, quando há consciência deles. E nem sempre isso acontece, bem sabemos, tantos fatores envolvidos.

Mas também acabamos reféns de coisas bobas, como a própria aparência e condição social, e o que tem sido comum nesses tempos de redes sociais onde muitos esbanjam beleza, alegria, riqueza e liberdade em imagens e relatos quase que sobrenaturais se bem analisados. Daí nascem e proliferam os golpes cada vez mais sofisticados, as cirurgias desnecessárias das quais muitos voltam piores e disformes, e até ainda mais reféns de uma sociedade, de um grupo. Podemos, como que na guerra, sermos capturados sem nos dar conta, sem violência, sem alarde. Pior, sem ajuda.

Um dos maiores temores, pelo menos de meu ponto de vista, é o de sermos capturados pela ignorância, pelas falsas promessas, como temos visto ocorrer em diversas partes do mundo, atrás de variados líderes convincentes sobre o que tanto gostaríamos de ouvir, inclusive negacionistas óbvios que utilizam artimanhas ideológicas e de convencimento, verdadeiras redes para incautos, que ainda correm o risco de idolatrar seus próprios algozes.  Daí já vimos surgirem os maiores horrores da Humanidade inclusive aqui e em outros locais onde rapidamente se espalham, buscando legiões. Vendem liberdade onde só há autoritarismo. Progresso e riquezas que só chegam, enfim, para poucos, e com custos altos para a maioria.

Muitos, líderes políticos que vendem suas próprias loucuras, no formato de mudanças. Vendem até os seus países, e avançam cada vez mais.

____________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

ARTIGO – Halloween mundial e real. Por Marli Gonçalves

Vai ser – na verdade até já é e está estranho – muito estranho – viver o Halloween este ano, uma vez que as bruxas já estão soltas, os esqueletos se espalham, fantasmas e almas surgem das tumbas dos bombardeios e as crianças que vemos – sequestradas, reféns, feridas sob escombros, órfãs, pedem doces ou brincadeiras, ou qualquer coisa para comer e beber. Pedem para sobreviver.

E olhem que o Halloween é na sua origem uma celebração de culto aos mortos. Por aqui as coisas são de plástico, aos montes enchem as ruas do comércio popular. Abóboras, morcegos, esqueletos, fantasminhas e fantasmões, fantasias de monstros e bruxas competem há dias com os enfeites de Natal nas vitrines – outra data que também já vimos não será fácil com a sua terra e origem religiosa sitiada, abalada pelo medo.

Guerras são sempre fora de hora, nunca param, parece que jamais serão banidas de nosso vocabulário. Os humanos se alimentam delas, os senhores da guerra, fabricantes da morte, os líderes religiosos e dirigentes, os países ricos, as instituições mundiais que se enfraquecem, inábeis ou mesmo inúteis. Vivem da destruição, dos conflitos, das questões geopolíticas intrincadas. Na do momento já perdemos jovens brasileiros, famílias, e as crianças e mulheres claramente são suas principais vítimas. Milhões de pessoas em todo mundo estão apreensivas e só isso já afeta e faz muito mal, e por um longo tempo, à saúde mental de todos.

A guerra nos ocupa. Parece que tudo segue para um segundo plano após a sua eclosão. O meio ambiente, os esforços globais para transformar e salvar o que há de se salvar da natureza para evitar os grandes desastres climáticos, estes a forma que a natureza encontra para sinalizar os limites das destruições, desce o patamar. Tudo entra em suspensão. Não bastou a pandemia.

Incrível ser muito chamada de guerreira tendo verdadeiro horror às guerras. A minha guerra, como a de tantos de nós, guerrilhas diárias, é particular, quase solitária. Vivemos e agimos com elas. Mas guerras de países, de ideologias, de territórios, perturbam sobremaneira, como devem perturbar a todos os que ainda tem sentimentos, e captam estas, sim, uma forte energia coletiva, a da apreensão. Onde tudo vai dar? Onde cairão os respingos? Do que a humanidade ainda é capaz?

Que nossos Santos todos – de todas as fés, religiões, credos – nos protejam. Aos ateus, que apelem ao mais racional para todos juntos tentarmos brecar essa terrível escalada de violência. Óbvio que no momento o conflito no Oriente Médio é o que assistimos horrorizados, o inferno aberto pelos terroristas, com o fogo e o cheiro da morte alimentado na defesa raivosa. Mas aqui também estamos cobertos de guerras e fatos.

Senão o que mais é a luta de “comunidades” contra “comunidades” no Rio de Janeiro? Os confrontos entre traficantes e milicianos, e destes com policiais, todos armados até os dentes, prontos a perder suas balas no corpo de inocentes?

O que fazer nesse país de dimensões continentais extraordinárias quando, de um lado, rios secam, florestas queimam numa estiagem sem igual; de outro, cidades inteiras boiando debaixo da água, inundadas pelos rios que sobem fora de seus cursos.

São todos fatos históricos, índices históricos que se sobrepõem acelerados dia após dia. No meio de um tempo de pouca gentileza e muito individualismo. Embora sabendo o que o contrário significaria, e querendo ainda viver muito, ando bem cheia de presenciar a história e os seus fatos, sem doces ou brincadeiras. Muito menos fantasias.

___________________________________________________

foto: @catherinekrulik

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

ARTIGO – O Grande Balé dos Poderes. Por Marli Gonçalves

Poderes, dos maiores aos descarados minúsculos, não faltam por aqui. Volitam nos palcos e no Salão de Baile Brasil. Todos nos convidam – na verdade, obrigam – diariamente a assisti-los dançando os mais variados ritmos, quando rodopiam diante de nossos olhos como se amanhã não houvesse.

o grande balé dos poderes

Há os grandes poderes, os tais três, Legislativo, Executivo e Judiciário. (O Quarto, extra, a imprensa, tem vindo a reboque, numa espécie de assistência da janela de onde de vez em quando avistam desafinados, traições, descompassos). Vestem-se com garbo, sapatos lustrados, muitos cabelos acaju, ou negros como as asas da graúna, e admitem apenas algumas mulheres na rodinha que fazem para confabular, disfarçar, criar e ensaiar os seus movimentos, metas e passos; e vale dizer, como uma generosidade, uma concessão, um espaço, como quem guarda uma vaga com caixote até que ela precise ser usada. Está ouvindo?

Todas as épocas, todos os governos, sempre assim, movimentam-se juntos, para a esquerda, direita, centro, centrões, centrinhos, de acordo com o tilintar, o vento, os votos, o maestro que está no púlpito, agitando a batuta, as benesses, os cargos e acordos. O sininho. Seus movimentos – pelo menos nas décadas em que os assisto – são repetitivos, e aqui e ali até ensaiam alguns novos passos que chegam a divulgar, antes de esquecê-los nas suas próprias coreografias; ou seriam biografias?

Os imagino ensaiando, muitas vezes em sigilosas reuniões onde uns são convidados, um, por vezes mais alguns, no interior de residências oficiais onde chegam com seus seguros carrões de vidros escuros. Cheeck to cheek. Vão combinar algo, que logo saberemos, fingindo surpresa, e vendo todos os outros pequenos poderes se organizando para aplaudi-los. Após o regabofe surgirão sorrindo aglomerados na porta dessas casas. Os que dançaram. Os que entrarão agora. Os que se salvaram, pelo menos por enquanto. Outros se retiram pelas portas dos fundos, ressentidos, tuitando os caracteres possíveis. Não os tiraram para dançar. Os tiraram.

Penso como protegem suas estratégias. Qual o perfume. Nesse abraço para a valsa sussurram um aos ouvidos dos outros? Suspiram perto dos pescoços que alguns gostariam mesmo é de morder arrancando sangue, mas disfarçam enroscando as mãos nas cinturas, quando conduzem os movimentos, sempre perto de alguma saída. Rodopiam. Pisam nos pés? Qualquer tropeço ou discordância trocam de par. Uma visão mais burlesca da cena até poderia ser aquele tipo de show de inferninhos onde se enche de notas amassadas as ligas de quem se apresenta no palco, e que quanto mais dá, sorri e mostra, mais ganha.

As mãos, estas sempre se movimentam. Para bater no peito, como patriotas. Apertam outras, que os grandes Poderes sempre tentam exalar, quando juntos em público, paz e conformidade, seja envergando uniformes militares com vistosos galardões, negras togas alinhadas, ou gravatas de seda, adornos de relógios de marca, placas e títulos de líderes, vice-líderes de algo, sejam partidos, bancadas, federações. Cliques espocam, garantindo que as cenas estejam registradas, que se diga que há uma paz selada. Um acordo fechado, em meio a tanta simpatia. A partir daí comentaristas farão suas longas e óbvias análises, consultarão suas fontes, e tudo estará consolidado. A coreografia será executada, com ou sem barulho, no chão previamente encerado, com o texto do script distribuído.

Segue o baile. O Grande Balé dos Poderes. Alguns usam “tutu”. Outros, Fufuca.

___________________________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

ARTIGO – Previsões para os próximos todos os tempos. Por Marli Gonçalves

Previsões que não importa o signo, raça, gênero, idade, altura, poder econômico, e nem ideologia, essa coisa que ninguém sabe bem de onde vem, para onde vai, e se tem alguma lógica ou valia nesses novos tempos. Na chegada do segundo semestre, sem champagne, espumantes, brilhos, roupa branca, sete pulinhos, flores ofertadas, viramos a curva do ano, lá vamos nós enfrentando como sempre os dias e seus desafios.

Mais um ciclo. Um pouco mais leves, enfim, chegamos na segunda metade do ano, tudo parece rápido. De uma sarna a gente para de se coçar ao menos até 2030, e embora mesmo inelegível após decisão do TSE o ex-presidente vá inventar clones, mais ervas daninhas.

A temperatura não será nem quente nem fria, vai chover e fazer Sol, tudo dentro, abaixo ou acima da média. Chato: vamos continuar ouvindo falar o tal nome odioso de antes, porque ainda tem é processos rolando, alguns que podem fechá-lo a chaves, embora sinceramente pouco acredite que chegue mesmo nisso.

Muito chato: ficaremos pasmos com o que de vez em quando (mas com perturbadora frequência) dispara, boquirroto, aquele que o substituiu, certo de que como sempre um dia depois do outro, um depois do outro, o povo esquece até o que comeu, se é que o fez. Democracia relativa, ditadura que não é ditadura. Centrão que não é centro, esquerda, direita, volver. Reconstrução que ainda não se vê.

Sorria. Você está sendo filmado, fotografado, revelado. Por você mesmo, inclusive, e por aí, nas ruas. Como um dia disse e agora diria Caetano, quem vê tantas imagens? ninguém lê tantas notícias. Elas passam e imediatamente são substituídas, esquecidas, atropeladas por outras e cada vez mais o espaço mais largo e disputado é o da vida dos outros. E outros que já não se escondem, andam com paparazzis particulares a tiracolo, informam que dormiram, com quem, se foi de conchinha, que escovaram os dentes, cortaram a unha do pé, que beijaram, casaram, descasaram, traíram, com dancinhas, patrocínios e recebidinhos. Previsão: continuará; dá cliques e, igual ao tempo, clique é dinheiro. Os mortos, se deixaram heranças e suas disputas familiares e sexuais, terão suas existências descortinadas sem trégua. Reclamar já não mais podem.

Calma! Providências estão sendo tomadas, as investigações estão em curso. Colaboramos com as autoridades, as repetições. Golpes atrás de golpes cada vez mais engenhosos cercam ameaçando todos, não se distraiam. Nunca. Nossos dados estão por aí nas nuvens carregadas de criminosos.

A violência será contida. Diremos isso ao homem morto, espancado e roubado, à criança estuprada ou atingida por balas perdidas, junto aos caixões das mulheres diariamente assassinadas quando decidiram viver suas vidas. Aos idosos abandonados.

Uma gracinha. A luta pela diversidade avança. Mas as cerimônias ridículas de revelação continuarão trazendo todos os tons de azuis e rosas, meninos e meninas, como se isso fosse determinar e garantir o caminho do futuro de bebês ainda descansando sem saber de nada nas barrigas personalizadas.

O Censo fechou seu balanço, mesmo tendo tantas portas batidas em sua cara, com revelações sobre os movimentos da população, saindo das grandes cidades, voltando para suas terras, morando sozinhos, tendo menos filhos, ocupando espaços menores. Mais pobres, ricos mais ricos; desempregados, empreendem – alguns se dão bem. As ruas lotadas de quem perdeu tudo. A ignorância que fechou a porta na cara do Censo é a mesma que não se vacina, fazendo retornar doenças, pondo todos em risco. A ignorância grassa, junto com as mentiras que se acomodaram durante os últimos anos em espaços que nem poderiam ser previstos, vinda de gente inacreditável. Considerados alguns dias que seriam ruins, podem infelizmente e superlativamente serem piores. Sigamos para os próximos 10 anos.

Os guetos – os mais variados – avançam, muitos já não vemos porque se desenvolvem cavernosos em redes digitais, em grupos de conversas onde sempre tem um mais espertinho e “sábio” do que outros, que sabe tudo, andou pelo mundo, veja só como são mais legais os seus filhos, netos, cachorros, casas, jardins, amigos, a comida e a bebida que os alimenta. Falam com tanta propriedade que juntam gente à sua volta, como o ilusionista que faz mágica nas praças da cidade. Passam cartolas, não chapéus.

Em compensação, não desistiremos nunca, tão acostumados às repetições de padrões que tornam fáceis até as previsões dos dias. Passo a passo, seguimos. E ainda conseguiremos rir e fazer piada. Isso é vida. Somos normais, enfim.

FOTO: CATHERINE KRULIK___________________________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

ARTIGO – Mulheres, dias, meses, anos e anos. Por Marli Gonçalves

Nós, mulheres, nos espalhamos cada vez mais em todos os campos da sociedade. Não há o que não possamos fazer e todo dia entendemos e ouvimos que podemos tudo, ser o que quisermos ser, um mantra usado para nos dar força e destacar a ocorrência de algum pioneirismo que por ventura ainda reste sem nós aqui ou ali.

Isso é notícia. De um lado, legal, porque incentiva mais e mais outras mulheres, mas teremos chegado realmente a algum lugar somente quando isso tudo for naturalizado, o que ainda nos parece infelizmente distante e embora tenhamos dado alguns passos bem largos nas últimas décadas. Mas também demos muitos outros passinhos, devagar, devagarinho.  Sempre tem quem ainda ponha um pé na frente para o tropeço; algum grupo reacionário se juntando para perturbar e retroceder.

Já há quase 50 anos acompanho esse assunto e não só por ser mulher, mas mulher, jornalista, feminista e com todas as características do contra para quem ainda não entendeu a história: diferente, solteira e sem filhos por opção, o que ainda, acreditem, causa furor. Que enfrentou desde muito cedo toda a sorte do que ocorre com a mulher brasileira, inclusive o horror da violência doméstica, da qual não é possível esquecer ou até mesmo muitas vezes se recuperar.

Violência esta que em pleno 2023 se apresenta a toda e todos nós com números cada vez mais vergonhosos e crescentes. Parecemos estar todos os dias iniciando e me surpreendo sempre quando ainda listamos as palavras inclusão, igualdade, segurança, respeito, entre as mais mais de um tudo que nós, mulheres, precisamos conquistar para todas.

Essa semana mesmo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou uma pesquisa alarmante, o que já intuíamos ao seguir o noticiário diário. Um terço das mulheres brasileiras já sofreu violência física ou sexual de parceiros. Houve crescimento de todas as formas de violência contra mulher no último ano de 2022 (pior até do que durante a pandemia, que já foi bem punk). Mais de 18 milhões de mulheres vítimas de violência no último ano. São mais de 50 mil vítimas por dia. Ao todo, 28,9% das mulheres, ou 18,6 milhões, sofreram algum tipo de violência ou agressão no último ano, a maior prevalência já verificada na série histórica (desde 2017 a pesquisa se repete de dois em dois anos). A cada segundo uma mulher sofreu assédio aqui no país.

Isso tudo já é péssimo, mas piora quando se sabe que em quase metade dos casos de agressão, 45% – e aí você põe espancamento, chutes, socos, pontapés e outras amarguras – as vítimas não tomaram nenhuma atitude, seja por medo de represália ou por achar que não era algo tão grave. O famoso foi só desta vez, vai passar, ele não é assim todo dia, não vai fazer mais, prometeu e pediu desculpas … Por vergonha ou medo. Ou uma outra coisa qualquer, que não é fácil, gente, principalmente para as que têm filhos, sob ameaça. Filhos, tantos deles, que com o aumento da violência acabam sendo testemunhas da morte da própria mãe, o que certamente os marcará por toda a vida. Agora até vem sendo discutida a liberação de um valor destinado aos órfãos dos feminicídios, tanto se tornaram visíveis. Só no primeiro semestre do ano passado, 699 mulheres foram mortas.  Conte e some outro tanto no segundo semestre que não vai ser muito diferente, e pode até ter piorado.

Estamos em grande perigo. Nessa área aí está tudo piorando, muito e rapidamente, para o lado das mulheres: essas mortes, a violência, assédio, estupros. Grupos misóginos se juntando virtualmente para conspirar e atacar. Alguma coisa está acontecendo, e bem errada, e é bom que se aproveite esse agora tão festejado Dia da Mulher para discutir e resolver isso o quanto antes. Não adiantam só flores e chocolates; o dia 8 de Março é de luta, coisa séria, que o mercado publicitário busca envolver e absorver com suas sugestões de consumo sem dar em troca a divulgação das necessidades urgentes.

Do meu ponto de vista, estamos tratando aqui de comportamento cultural e costumes – daí a necessidade de agirmos rápido para interromper essa realidade. Isso tudo vem sendo construído como uma espécie de oposição, como reação raivosa ao que nós mulheres temos conseguido e onde muitas vezes chegamos e nos mostramos até mais competentes. Aos espaços que abrimos e à liberdade maior que conhecemos, inclusive a sexual.

Que não deixemos passar mais tantos dias meses, anos, minutos. Nem mais um segundo.

___________________________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

ARTIGO – Se uma mulher incomoda muita gente… Por Marli Gonçalves

Uma mulher incomoda muita gente. Muitas, incomodarão muito mais. Impressionante como vem sendo grosseira e até às vezes muito boba a razão e forma dos ataques, comentários e críticas feitas à Janja logo nesses primeiros dias de governo Lula.  Só isso já deixa bem claro o quanto nós mulheres estamos ainda distantes de nossa participação ativa ser avaliada normalmente, sem paixões, sem ciúmes, sem clima de fofoquinha de salões de beleza. Que, inclusive, todas sejamos respeitadas por outras todas – somos a maioria desta nação.

5 detalhes imperdíveis nos looks da posse presidencial - Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site

Momento político tenso. Novas perspectivas. Posse de um líder político e de um partido que renasce para um terceiro mandato anos depois, após período de prisão e baixa total. Consegue reunir uma admirável frente mais ampla de apoio, vencendo uma tumultuada eleição, ameaças de crises e golpes. Forma uma equipe de ministros que pela primeira vez reúne um número recorde – embora ainda minoritário – de mulheres. Ele próprio surge rejuvenescido, e a grande novidade é a companhia de sua nova, mais jovem e bastante ativa esposa, Janja, Rosângela Lula da Silva, 56 anos, socióloga, ativista. E feminista, que bom!

Uma posse histórica, com imagens importantes e simbólicas. E o que ainda nós ouvimos de ecos? O bafafá ao redor da roupa que Janja usou, pela primeira vez ao contrário de um vestido, um elaborado conjunto com pantalonas, com detalhes em bordados manuais e tingimentos naturais, roupa sobre a qual já ouvi de um tudo. Para que entendam do que estou falando, também até vou dar minha “opinião”, que a gente repara mesmo em tudo, mas não é esse o problema: adorei o rabinho do paletó, adoro rabinhos; detestei o bege, porque detesto bege. Pronto? Ah, Teve Lu Alckmin também, outra criticada, mas que vergava um elegante e mais do que clássico vestido branco, midi, pouco abaixo dos joelhos. Chega? Vamos amadurecer?

O que quero dizer é que qualquer coisa que falassem ou vestissem, especialmente a Janja, seria criticada. Qualquer movimento seu passa a ser alvo, e já de forma desmedida, alimentado pela imprensa, inclusive. Porque ela já deixou claro que vai, sim, ter voz, governar ao lado do marido, ter papel de destaque, opinião, e, embora, claro, já maravilhada pelo poder imediato tenha falado bobagens, citado a Evita, essas coisas, não ficará em segundo plano, invisível. Foi quem organizou a posse, que teve até a cadela Resistência, ao lado de representações de toda a sociedade, pobres, mulheres, negros e negras, crianças, deficientes, índios, lgbtqia+, todos participando da colocação da faixa presidencial (depois que o fujão foi pra Disney) e subida da rampa. Os ataques foram severos, e a vida de todos esses representantes foi escarafunchada pela direita raivosa que ainda não admitiu a sua derrota. E mais outros, gente rabugenta, até mulheres que não conseguem ver ninguém se dar bem. Admitam que foi uma sacada de gênia, e a imagem rendeu capas de jornais do mundo inteiro.

Ela, Janja, desde que apareceu ao lado de Lula, mostrou de forma evidente  sua personalidade forte e que não é igual à nenhuma de algumas das primeiras-damas recentes que conhecemos, em geral relegadas, ou como invisíveis, ou como recatadas e do lar, ou submissas religiosas que só apareciam em péssimas situações pontuais. No pós-ditadura, apenas Ruth Cardoso, intelectual brilhante, esposa de Fernando Henrique Cardoso, se destacou nesse posto. Mas era, digamos, discreta, como essa sociedade absurdamente machista ainda acha que todas as mulheres devem ser. Acabou, minha gente. Acordem.

Se tudo isso vai dar problema será outro ponto, e aposto que sim, já que visivelmente Janja conseguiu em pouco tempo reunir desafetos, inclusive no próprio grupo político. Aguardemos os próximos capítulos.

Neste Brasil absolutamente confuso, dividido, desorientado e desordenado que emergiu dos últimos anos levaremos ainda muito tempo para sanar o que vem saindo desse criadouro maluco. Qualquer assunto hoje racha, divide, polemiza, vira tititi no qual se perdem dias em discussões nas redes sociais e grupos de amigos. Vide o espaço ganho pela chefe do cerimonial que organizava com   rigor e elegância o desenrolar da posse, e o seu vestido de bolinhas. O vestido de bolinhas é que foi o destaque; não o seu trabalho.

Temos muito o que fazer e nós, mulheres, temos um papel fundamental nessas mudanças. Todos vão ouvir muito falar de nós, mulheres, de nós todas, e das ministras e das providências que precisarão urgentemente ser tomadas para acabar com os graves problemas nacionais e que nos afetam diretamente. Vamos ter de lutar por leis, pela igualdade, pelo fim da violência e feminicídios, por condições de saúde, educação, saneamento, habitação, meio ambiente, pelo respeito às novas formações familiares, e a nós mesmas.

Estejamos com cocar, minissaias, chinelos ou salto alto, por favor, vamos falar sério, enfrentar juntas, porque haverá sempre muita reação, assim como houve quando nos Anos 70 começamos a nos mobilizar nessa luta, e parece ainda hoje que estamos no começo, mais de meio século depois. Sei bem o que é isso.

Respeitem as minas!

___________________________________________________

MARLI - MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, feminista, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

ARTIGO – Jogue limpo, que está sujo, feio e malvado. Por Marli Gonçalves

Tá feio, muito feio, e a conta vai chegar para vocês. Será que consegue jogar limpo, ao menos sabe o que é isso? Resta um mínimo de bom senso? Queremos rezar para quem a gente quiser, como a gente quiser, onde quisermos, e em paz. Viver em paz. Não se meta. Queremos respeito às nossas decisões pessoais, respeito aos nossos sentimentos e crenças. Cuidem do país, que da gente cuidamos nós. Pare, apenas pare de nos causar asco todos os santos dias.

feio, sujo e malvado lata de lixo da história

 Caro Senhor Bolsonaro e seus admiradores, seguidores, apaniguados, vidrados e etceteras: respeito!

Respeito é bom e todos gostam.  Não vai ganhar no grito, e se acaso isso ocorrer, o grito que ouvirão depois será muito mais alto e perturbador. Segurem sua onda, que a gente pode tentar até segurar a nossa.  O mundo não se resume a vocês, aliás, graças a Deus, e seja em qual deus cada um de nós acredite e venere, ou não! Parem de ser tão crentes que estão abafando por aí com tanta sacanagem, aleivosias, violência, mentiras, ignorância e ódio que espalham por onde passam. Já conseguiram acabar com o orgulho de nossa bandeira, e cores, hoje quase insuportáveis. Buscam comprar votos com a mais lavada cara de pau, distribuindo benesses de última hora.  Joguem limpo. Querem respeito? Nos respeitem.

Não se sabe se atiçando medo já causam uma estranha, inaceitável e impressionante paralisia nas instituições que deveriam proteger, mas que estão rasgando, desonrando e pisando em artigos sagrados de nossa constituição.

Damares, a ex-ministra e agora senadora incrivelmente eleita, já deveria é estar presa e cassada, antes que esse estrupício manche ainda mais o Senado Federal. Se não na prisão, desculpem, em um hospício, interditada, porque ela está – acreditem – precisando de ajuda e tratamento urgente. Está fora de si, vendo muito mais do que Jesus na goiabeira. Isso não é religião: é problema sério, mental, que a faz, como ela própria diz – ouvir pelas ruas até relatos fantásticos de crianças com dentes arrancados para a prática de sexo oral, entre outras sandices que propaga em solos sagrados que ela própria deveria respeitar.

Isso tudo é muito sério. Não tem mais graça alguma nem para fazer memes. Precisamos parar de brincar. Está passando dos limites de qualquer aceitável.

O tal Ônix, candidato ao governo do Rio Grande do Sul, é outro que já deveria é estar sendo preso, processado, anulado, cancelado, sei lá. Não é de hoje, mas agora ousou dizer que os gaúchos deveriam votar nele para terem uma “primeira-dama de verdade”, já que não consegue ser melhor do que o seu concorrente que, sem problemas, sempre se assumiu gay. Homofóbico, preconceituoso, apoia tudo o que é, foi e será de ruim. Se nem ele é de verdade, um ser falso que há anos anda por aí atrás de qualquer poder para se aproximar.

Outro que se diz cristão, e também não dá para entender como os verdadeiros evangélicos se calam diante do uso deslavado de suas premissas nesses embates eleitorais.

Bolsonaro, não dá para listar nesse espaço todo o mal que espalha e permite que se espalhe, agora ainda por cima tentando uma guerra religiosa opondo católicos e evangélicos. O que aconteceu na Basílica de Nossa Senhora Aparecida é simplesmente imperdoável, não há justificativa possível. Aguente o tranco de seus ataques, que essa semana o senhor pisou em calos que não deveria, acredite.

Sabe, já tivemos – e os seus atos agora chacoalham nossa memória – vários seres desprezíveis no comando da nação, especialmente durante a ditadura militar que admira e tenta alimentar. Mas teve um, o tal Jânio Quadros, que saiu da história como maluco, quando governou o país e renunciou e, depois, mais, quando inacreditavelmente foi prefeito aqui por São Paulo. Teve também o Maluf que grassa agora largado doente e só em algum canto. Eles também tiveram apoio por algum tempo, juntaram alguns porcentos gritando “mito”. Mas sabe como é a política, não? Implacável.

O povo também sabe virar uma bandeira como ninguém. Tenta proibi-los de suas coisas, para ver só. Se acaso a resposta já não vier das urnas agora, acredite, não tardará, assim que tomarem consciência do perigo que representa e do que, para ganhar a eleição, fez, e que o país inteiro pagará por isso.

___________________________________________________

MARLI GONÇALVES – E nem adianta me xingar e chamar de petista, que não cola. Sou, sim, oposição ao que é ruim. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

ARTIGO – Eu não quero falar de…Por Marli Gonçalves

Eu não quero falar de como me senti depois do resultado geral desse primeiro turno eleitoral. Bem não queria. Dessa ressaca que não passa, e olha que eu não bebo, mas do quanto saí do prumo se é que tinha algum, mesmo sem estar entre os que acreditaram em situação resolvida de pronto. Não quero falar de quanto estou preocupada com o claro retrocesso que incrivelmente acelera e ameaça o país. Eu não quero falar, mas é impossível calar, também inclusive não criticar a forma que a oposição se comunica, errante

eu não quero falar

Eu não quero falar de política, mas nesse momento a política entra por todos os poros e canais e agora novamente com o horário eleitoral e as perturbadoras pílulas espalhadas na programação e para onde se olhe. Eu já não quero saber o que andam fazendo, falando, com quem se encontram, por onde passam, mas é impossível. Como não reagir ao contínuo sequestro do verde e amarelo, às aproveitadoras camisetas da seleção vestidas por pessoas que até então julgávamos razoáveis? Ao noticiário que traz à tona mortais brigas eleitorais entre amigos, nas casas, nos bares, nas esquinas, do nada. Como não se sentir mal vendo a negação descarada do que vivemos, do que perdemos, de quantos perdemos, do construído plano descarado e perigoso de virar a direção à extrema direita?

Eu não quero falar de como estamos desprotegidos e tudo virou uma imensa Casa da Mãe Joana quando não são punidos imediatamente – mas punidos mesmo, de verdade, não de mentirinha com passeios até as delegacias e logo liberados com cara lavada – os empresários que ameaçam seus funcionários de desemprego se não votarem nos candidatos deles, ou os que oferecem dinheiro em troca de votos. Não é fake news, essas denúncias vêm acompanhadas de batom nas cuecas, vídeos, fotos, depoimentos, vítimas.

Nem quero, por falar nisso, versar sobre a quantidade de fake news que estão cruzando os céus do país vindas das duas infelizes direções em que nos metemos, no jogo sujo, divididos palmo a palmo, com mentiras sobre tudo, como se não houvessem tantas verdades tão suficientes a serem usadas, colecionadas durante os últimos anos, dia após dia.

Nem quero lembrar da ingenuidade perdida e enterrada no trabalho de anos lidando com campanhas, com marketing político e seus temas afins, que aprendi e sei bem capaz de tudo. Mas não há como evitar ver a linha ética trespassada para borrar a realidade. Os apoios, as traições, as manipulações maquiadas dos bonzinhos e ruinzinhos, e, enfim, a revelação da cara daqueles que vieram construindo seus podres poderes nas sombras, pelos cantinhos.

Ah, como gostaria de não falar da vontade que dá de sacudir fortemente candidatos de oposição que não mudam o cansativo discurso de sempre. Aqueles que repetem incansavelmente as palavras que poucos entendem, “professoralmente” discursam insistentes sobre temas macro quando o que há é fome, dificuldades reais, economia desequilibrada, preços extorsivos, e do outro lado alguém prometendo facilitar mundos e fundos justamente para esse dia a dia.

Eu não quero falar, mas não posso me resignar quanto à tristeza que dá ver mulheres ali sorrindo do lado de quem as inferioriza, destrata e ameaça, e que assim continuará vencendo ou não, porque alçado a um inexplicável papel de líder. Ver a imprensa atacada e acuada tentando informar com suas parcas atuais condições de luta, e dentro dela jornalistas que um dia foram respeitados jogarem suas histórias no lixo da História.

Eu não quero falar, adoraria poder nem pensar, mas por responsabilidade jurada profissionalmente não posso me isentar e deixar de observar a gravidade da atual situação que quebra ao meio todo um país que continua agindo como se tudo fosse torcida de um imenso jogo de futebol onde há dois times grandes se enfrentando.

E ainda vai ter Copa.

___________________________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

ARTIGO – Os próximos longos três meses. Por Marli Gonçalves

Pensa que acabou? Seja o que for, o que resultar, teremos ainda longos três meses pela frente para acabar de roer as unhas até o toco, acalmar o coração, parar de ouvir tantas aleivosias, mentiras e preconceitos, poder sentir o que é que exatamente vem por aí

os próximos meses

89 dias. 2136 horas. 128.160 segundos. Uma eternidade. Viveremos ainda mais algumas guerrinhas de nervos daquelas pro bem e pro mal. Até as posses, chuááá, muita água ainda vai rolar e é difícil prever se ela, a principal, do presidente da República, será serena, limpa, transparente, se escoará naturalmente pelo rio da democracia, ou se alguma pororoca poderá vir nos assustar, com monstros soltos e atiçados.

Faz tempo, muito tempo, que não respiramos aliviados. E aí que está. Vamos ter de aguardar mais. Há tanta coisa para se arrumar no país escangalhado, dividido, raivoso, que só após muito tempo com alguma acomodação das forças – que costumam mesmo ser díspares – proclamadas vitoriosas em todo o país, poderemos ter uma leve noção do que exatamente emergiu das urnas.

Considerando que o debate para a eleição presidencial tomou para si boa parte da atenção geral, o resultado da ocupação dos legislativos poderá ser temerário. Com a eleição do mesmo dos mesmos bem ruinzinhos, chegada dos até então ainda mais desconhecidos e que vieram no pó da estrada grudados você bem sabem onde dos majoritários. Podem chegar de paraquedas, surpresos eles próprios, pelos quocientes eleitorais dos partidos e seus números jogados como loteria, patinhos na lagoa, cabalísticos, mágicos, ou chutados qualquer coisa. No Congresso Nacional e nas casas legislativas dos Estados fica a panela onde se cozinham os acordos, as leis, as verbas, as ideias, os ingredientes, as ameaças e liberações. O freio ou o acelerador das mudanças. Oxalá esse resultado seja ao menos melhor do que o que está aí, embora a gente saiba que, infelizmente, sempre pode mesmo piorar, e que o descuido e desconhecimento dos eleitores sobre essas pessoas faz parte de nossa estranha formação política.

Haverá uma reacomodação de terreno – isso será certo. Pedidos de desculpas entre quem se atacou dentro de um mesmo arco ideológico, para agora buscar um cantinho, uma lasquinha do vitorioso, alguma nomeação. Muitas viradas de costas, bananas e traições para os derrotados – algumas que vimos até logo durante o processo eleitoral. Os barcos vão sendo abandonados nas margens, à cada pesquisa divulgada. Uns vão fingir que não viram, não disseram, não pensaram, não conspiraram; os outros vão fingir que acreditam. No caso, não é varinha de condão, mas a caneta, e que esperamos que seja mais sofisticada em suas assinaturas pelo menos um pouco mais do que a tal Bic que suportamos nos últimos quatro anos.

De acordo com o resultado que sair das urnas, saberemos se haverá, se demorará, o resgate da bandeira nacional e suas cores, a coitada, sequestrada. Se a vitória for de um lado mais avermelhado, saber se os outros tons, mais róseos, digamos assim, serão por eles respeitados, já que certamente tomaram forte posição e importância nos últimos dias em prol de um resultado que afastasse o perigo de ruptura e de uma grave e dolorosa crise institucional.

Teremos de ter muita paciência e perseverança nas próximas semanas. Quando saberemos o quanto nos livraremos do circo cercadinho, das ridículas lives de toda uma turma desprezível, dos robôs da familícia, do desprezo pela Ciência, da misoginia, do racismo e desrespeito à liberdade religiosa e de gênero; que sejam desmascarados os pastores pecadores, os agro e tóxicos, os ministros que ninguém sabe o nome e  suas boiadas e fogo passando destruindo nossas matas. Dos metidos a besta em paragens onde não tinham posto os pés. Das ameaças de armas, CACs (caçadores de quê?) e de valentões de cara feia. Se recuperaremos alguma boa imagem junto à já atordoada comunidade internacional, de quem precisaremos ter apoio para nos levantarmos.

Especialmente, apenas nos próximos tempos poderemos sentir se a oposição, centro e esquerda, enfim amadureceram. Se saberão rever seus graves erros com pelo menos alguma humildade, aceitando que enfim e ao cabo foram esses erros que nos levaram ao atual desgoverno de direção.

Se todos poderão se sentar à mesa para o mais rápido possível compartilhar seus pratos e intenções para servir aos mais necessitados. Com respeito, educação e saúde.

___________________________________________________

Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

ARTIGO – Ansiedade, no momento teu nome é Brasil

Ansiedade, o Mal do Século? Ataca agora todo um país e, por incrível que pareça, é a única coisa que nos une a todos, em momento eleitoral tão dividido, violento, crucial. Me diz se não está aí também contando os dias, horas, minutos para acabar com essa expectativa, para mim uma das maiores do período democrático, pelo menos do que vivi.

ANSIEDADE ELEITORAL

Palpitação, tensão, nervosismo, até medo do que pode acontecer nos dias e horas que faltam para aquele final de tarde, começo de noite, quando os resultados começarem a ser divulgados, e depois disso.

De um lado, esse de cá, tanta vontade de se livrar desse bagulho (e de sua família e asseclas) o mais rápido possível e enquanto é tempo, e depois de viver aflições e ouvir desrespeitos praticamente todos os dias dos últimos quatro anos, que estamos até meio doentes. Brigamos entre nós quando deveríamos estar todos juntos em uma só direção e objetivo, sem divisões, como as que inclusive nos causaram todo esse desgosto.

É o que temos, sei bem que não é, sem dúvidas, o melhor dos mundos, mas é preciso decidir o mais rápido possível para que se aplaquem esses temores, ou melhor, para que possamos caminhar com mais segurança no caminho que as urnas traçarem, seja qual for, e logo, juntando os cacos. Teremos muitas coisas para resolver e necessitaremos de estar fortes para defendermos a ameaçada democracia custe o que custar. Hora da união da oposição. Seria maravilhoso que essa pendência principal fosse decidida logo, para acabar com a agonia e esclarecer quais serão as próximas fases do jogo.

Essa é a montanha-russa da política, movimento aparentemente normal, se estivéssemos vivendo momentos normais, o que não é decididamente o caso. Mais uma vez, por exemplo, as eleições legislativas, tão importantes quanto a decisão para os cargos de presidente e governador, estão sendo escamoteadas e vemos apenas aquelas pessoas aparecendo com frases curtas e em geral sem sentido, ou apenas em fotinhos e acenos. Aqui em São Paulo tem candidato ao Senado apelando para o seu cachorrinho que promete levar para a Brasília, tem astronauta perdido no espaço, cada um de espantar. Pouco nos atemos, por exemplo, não só ao rol de propostas mirabolantes, mas a aquelas letrinhas miúdas que trazem lá embaixo o nome de suplentes, na maioria francos desconhecidos e que poderão, como tantas vezes já mostrou a história, serem os que acabam sentados lá nas cadeiras do Congresso. Por momento assim na eleição anterior, além de acabarmos governados por um perigoso sem-noção, elegemos algumas das piores legislaturas de todos os tempos no Congresso e nos Estados. Aliás, anda perdido por aqui até um siderado candidato ao governo do Estado que não sabe nem onde ele próprio vai votar.  Sem um Waze nem para casa volta.

Tudo isso é o caldo grosso da política. Fatos que criam em todos essa ansiedade, faz ficar esperando resultados de pesquisas, tem tomado o tempo de muitos nas redes sociais se atacando entre si, insuflados pelo ódio reinante e desgastante cultivado nos últimos difíceis tempos que vivemos, pela pandemia que acabou por dominar nossa atenção, de um lado, e do outro, ver o quanto eles aproveitaram para se armar, tomar as cores da bandeira, disseminar mentiras absurdas, tentar destruir a imprensa, atacar e desmerecer conquistas fundamentais.

Enquanto isso, vamos nos distraindo um pouco tentando relaxar. As farmácias vendendo calmantes como nunca. “Influencers” surgindo de todos os lados e poucos sabem como se criam, mas sabemos o que comem, o que vestem, onde gastam, com quem transam. Ideias de desafios – alguns pegam, como esse último de postar foto com 13 livros de lombada vermelha, que – tudo bem – mas adoraria exatamente entender o sentido, além do vermelho e do 13, para virar voto. Artistas se mobilizam em fotos, vídeos, músicas e até hinos, como o do inominável, que lista em mais de 13 minutos os absurdos do bagulho – tantos foram que o vídeo ficou mesmo bem longo.

Legal. As mãos surgem, de um lado apontando, fazendo arminhas; do outro, transformando as tais arminhas no L, de Lula, o líder político ressuscitado desse país que se distraiu e esqueceu de formar novos quadros sérios e fortes o suficiente para encarar a caneta desse atual presidente apenas ignorante, que acha que é de direita porque ouviu dizer por aí, que subiu ao poder e dele quer se apropriar. Ainda acha que pode vencer jorrando impropérios e comprando com migalhas exatamente quem mais vem sofrendo com toda a situação. E não é só de ansiedade, mas de fome, de falta de saúde, trabalho, moradia, saneamento, segurança, já soterrados por dívidas.

Esses que ninguém engana, de mãos calejadas.

___________________________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

 

ARTIGO – Primaveras que vivemos para ver. Por Marli Gonçalves

Primaveras que damos graças em estar aqui para ver em meio a tantas perdas, tristezas e apreensões – e essas não são só eleitorais, são de uma infinidade que a memória guarda e que se aviva a cada acontecimento presenciado, e eles se sobrepõem com assustadora rapidez. Alguns para o bem, mas muitos para uma acelerada piora.

PRIMAVERAS

Flores para que te quero. Clamemos pela primavera, a estação que chega precisa às 22h04 do próximo dia 22 de setembro. Também chamamos primaveras quando se consolida uma luta, quando muitas pessoas se unem em torno de mudanças, de alguma conquista, lembra? Primavera Árabe ficou bastante conhecida. Uma estação que renova, ou pelo menos tenta, nossas esperanças, o ar fica mais respirável, e até os animais mudam seu comportamento, saindo da hibernação, procurando parceiros, apresentando seus filhotes. Borboletas e abelhas se apresentam mais ativas, ajudando a colorir o mundo aos nossos olhos. Momentos únicos.

Pois bem, cada um guarda suas lembranças. Até quando fazemos aniversário, mesmo que em outras datas, completamos poéticas e marcantes primaveras. São tempos memoráveis e certamente a deste ano será recordada por muitos outros temas. Saindo aos poucos de uma terrível pandemia, nós, os que sobreviveram, pensamos em voar por aí como borboletas visitando o que restou, e quando então chegamos à conclusão de tudo e quanto muito se modificou nesses últimos anos, quase três da aflição mundial. Somados aos quatro da aflição nacional de um desgoverno agressivo também acompanhada pelo mundo, como o é a guerra, como são as guerras, a mais visível no momento, na Ucrânia.

A normalidade, como se costumava, essa não volta mais, dada a experiência vivida por muitas gerações eternamente marcadas, seja como órfãos, pelas sequelas, pelos novos hábitos, pelas vacinas que serão sempre reaplicadas, pelos cortes em áreas fundamentais à sobrevivência. Não há como entender experiências esquecidas que a ignorância leva a que novamente possamos sofrer, antes erradicadas; por exemplo, quem são esses os que não sentem o pavor da poliomielite que a tantos aleijou por toda a vida, não vacinam seus filhos?

As primaveras que vivi para ver incluem de um tudo, experiências seja na vida pessoal, profissional, amorosa, e na de ver um país que tinha tudo para deslizar suave pela História, mas sempre acabou tropeçando, virando mato, pisando nas flores, queimando suas largadas. O tal país gentil, tropical, quando conseguíamos achar graça até do horário eleitoral, nem isso hoje, que deu tiririca em tudo.

País que, a cada crítica que faço, daqui da realidade que vivemos, recebo de revide comentários que enumeram para que eu considere – nem sei bem como as acham – coisas boas, que deveriam ser mais que óbvias e obrigatórias. Às vezes penso se não há mesmo um monte de planetas diferentes aqui nesse mesmo lugar. Planetas e órbitas onde se isolam economia, riqueza, pobreza, alegria, esperança, ética e liberdade, comportamentos e conquistas que nos são tão caros. Cada qual com seus habitantes.

Esse meu mundo – e creio que da maioria – tem muitas flores, sim, que jamais me afastarei delas e de otimismo pelo seu florescimento, mas não há como negar os espinhos, os percalços, as pragas, os cortes, os perigos de alguns venenos.

O momento é agora. De plantarmos mudanças e primaveras, da forma que pudermos, com quem pudermos contar, e uma delas é extirpar o que nos causa tanta vergonha diariamente, principalmente a nós, mulheres, que atacam insistentemente. Desejam anular o tanto, mas ainda pouco, que alcançamos, nossa honra, liberdade, igualdade. O fazem semeando a discórdia, matando, queimando e envenenando os nossos corpos, fazendo surgir sementes do mal que considerávamos que jamais veríamos brotar novamente na História. E que sempre pergunto a mim mesma: de onde saiu essa gente tão pavorosa? Onde escondiam seus ódios, pensamentos sórdidos, qual foi a tampa aberta?

Uma delas, o resultado que levou à eleição de 2018, que agora temos o dever de fazer voltar de onde veio e de onde nunca deveria ter saído. Na época, confusa, muita gente não sabia mesmo quem era e o que significava o ser que acabou vitorioso, que tanto tentamos alertar, e ainda por isso somos punidos diariamente – tentam destruir o jornalismo, essa profissão fundamental e a qual me dedico há décadas, nunca tão menosprezada.

Agora, sabemos, todos, o que era aquilo. Não há como negar, a não ser os que ainda estejam com seus sentidos tapados por um torpor fétido e nauseante espraiado no ar que busca tirar nosso viço, que é muito além do que perfilam, esquerda, direita, e que nem de direita ou esquerda o são.

Que nosso campo seja o da esperança. Que façamos desta, agora, uma primavera mais do que especial. A do recomeço, até para que possamos poder colher as flores boas e desprezar novamente os musgos, se for necessário.

___________________________________________________

MarliMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

ARTIGO – Os broches da rainha e a “brochada” do presidente. Por Marli Gonçalves

Não há como não lembrar da rainha Elizabeth eternamente com suas roupas elegantes e coloridas – dizem, para que nunca fosse perdida em meio à multidão – adornadas com broches maravilhosos, joias de pedrarias mais do que preciosas. Não há como não lembrar, na mesma semana de sua morte, do vergonhoso apelo do presidente a si próprio puxando o lastimável coro de imbrochável em meio aos festejos dos 200 anos da Independência do Brasil. Um pequeno e significativo jogo de palavras.

Elizabeth ll: conheça curiosidades sobre os looks icônicos da rainha

Imbrochável. Deus está vendo, hein? Ops, God save the Queen, agora God save the  King Charles III. Que devemos todas as homenagens à mais longeva rainha da História, Elizabeth II, à mulher que soube honrar durante 70 anos seu reinado desde a sua tenra juventude, abdicando de um tanto incalculável de coisas e prazeres, entre eles, alguns até frugais e que de vez em quando ela recordava. Semana triste e emblemática para o mundo todo essa morte.

Do outro lado, na mesma semana, mais essa inominável grossura – mais uma de uma lista gigantesca – do presidente do Brasil conflita ainda mais, bate de frente, com a maioria da população do país, as mulheres que ele tanto tenta alcançar e cada vez mais de nós se distancia. E se distancia com o asco que, garanto, seu atos trazem às mulheres dignas de assim o serem.

Mas são os broches da rainha o tema, e que já estão sendo lembrados. Eu, que amo broches desde sempre, e quem me conhece pode atestar, a cada aparição sua esticava o olho, procurava ver com qual ela estava, cada um mais belo e significativo que outro, que usou durante toda sua vida como um canal de comunicação, informação, símbolo, homenagem, sentimento. Agora, informam, são 98 deles ao todo, heranças, de parentes, presentes que colecionou pessoalmente durante toda a vida, muitos assinados por renomados artífices e casas de joalheria. São além das joias da Coroa.

Seus broches transmitiam mensagens de amor, reinado, história, continuidade, gerando até estudos sobre isso. Em sua última aparição pública, estava usando o sapphire chrysanthemum brooch, que sempre adornava suas roupas em tons azuis ou pasteis. Foi com ele, inclusive, que recebeu a nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, ao empossá-la na rápida cerimônia no castelo da família real na Escócia, sua última aparição pública e mesmo local onde, dois dias depois, repousou. Seu cansaço já era evidente e nesse dia todos notaram o enorme roxo em suas mãos, provavelmente veias por onde eram aplicados os remédios para aplacar suas dores.

broches
Bottons criados por Yoko Ono

Moda absoluta durante anos, os broches foram caindo em desuso ou sendo substituídos. Para os mais jovens, em geral também para passarem mensagens radicais, por bottons, ou pelos pins, aqueles alfinetes menores que são espetados nas roupas e muito usados em solenidades, inclusive por altas autoridades masculinas, bandeirinhas de seus países ou instituições. Também sempre serviram como propaganda de marcas e produtos. Todo mundo tem ou lembra de ter tido ou visto um dia uma jaqueta ou um colete com uma profusão deles. Ambos, pins e bottons, comuns no mundo do rock e das artes, por exemplo. Destaco, de minha coleção, em especial dois que quando usamos, eu ou o meu irmão, causam certo furor. Criados por Yoko Ono, um, a partir da imagem de seu mamilo, outro, de imagem frontal de sua vagina. São discretos, beges, mas olhares atentos sempre os percebem, impressionante.

Embora não sejam joias, muito ao contrário, acredito mesmo ter ao todo mais broches do que a rainha, também lembrada pelos chapéus de formas e cores sensacionais, marca da nobreza britânica, desfilados nos grandes eventos que nos acostumamos a acompanhar nas cabeças coroadas, de ontem, hoje e de amanhã, como na da Rainha Consorte, muita sorte, aliás, Camilla Parker Bowles, a eterna rival da Princesa Diana.

Grandes mulheres da política mundial, provavelmente até inspiradas na rainha, os usam em seus trajes, ternos, vestidos, ou prendendo-os aos lenços de seda. Repare. Broches são versáteis. Com eles, além de mensagens que podem ser até do humor do dia, em segundos se produz uma roupa nova a partir de qualquer tecido, prende ali, fecha aqui. Também, aprendam, podem salvar em ocasiões difíceis, como o rompimento de um botão ou costura, em cima de uma manchinha persistente. Mil e uma utilidades.

Bom poder – mesmo que em meio à tristeza – em uma mesma semana lembrar das grandes mulheres que mudam o mundo, esquecendo o machismo e a grosseria de alguns homens que o atrasam, e que temos um tão perto aqui, que necessita alardear seus visíveis problemas sexuais e o desrespeito em suas considerações misóginas.

Pessoalmente para mim foi bom especialmente lembrar daquele dia em 1968 em que vi a rainha passar ao lado do grande amor de sua vida, o príncipe consorte,  muita sorte, Phillips, Duque de Edimburgo, quando da visita ao Brasil, e em São Paulo, saindo correndo da escola, me postando pequenina em meio à multidão que esperava vê-la ali numa esquina da Avenida Cidade Jardim. Retrato bem guardado na memória.

___________________________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

ARTIGO – São Paulo continua feia. Por Marli Gonçalves

Duas cidades, São Paulo e Rio de Janeiro, vêm sendo escarafunchadas esses dias e ao fim e ao cabo sempre aparece aquela eterna luta entre a elite, sua miséria e glamour, e a realidade, sua miséria e  glamour, surpreendentemente lados iguais de situações tão distintas

SÃO PAULO - RIO
Visão geral – Rio de Janeiro – miséria e glamour

Com tantas coisas acontecendo, capazes de transtornar nossas vidas muito e ainda mais nos próximos anos, acreditem, a polêmica da vez na semana foi o texto, diríamos bem equivocado, mas bastante pessoal,  do artigo de Washington Olivetto publicado em O Globo, e a gigantesca repercussão do ótimo podcast “A Mulher da Casa Abandonada”, de Chico Felitti, para a Folha de S. Paulo.

No artigo “O Rio de Janeiro continua lindo”, como quem não quisesse nada, Olivetto descreve a tour de seu filho Theo, que acabou de entrar para uma faculdade, claro que lá fora, e que quis comemorar com mais quatro amigos, estrangeiros, só um também brasileiro, no Rio de Janeiro. O publicitário conta que tentou desfazer nos garotos, com a agenda que criou, a “péssima imagem que o Brasil vem construindo no exterior há vários anos”.

Mal sabia ele que o texto provocou o total contrário por aqui, inclusive prejudicando a sua própria imagem, a de pai, a de brasileiro, que inclusive já há alguns anos vive bem longe daqui, em Londres, e até a de escritor e publicitário premiado. No texto cheio de deslizes, como a citada babá que virou “parte da família”, mas sem ganhar exatamente o sobrenome famoso ou as coisas de que cuida na ausência do patrão internacional, ele discorre sobre passeios, as encomendas caras e certamente deliciosas que fez para os meninos, e ainda as idas a restaurantes com muitos $$$$$ e seus chefs maravilhosos.

Lendo o texto, admito que não pude deixar de comparar com a minha recente viagem de alguns poucos dias ao Rio de Janeiro, da qual recordarei ainda durante muitos meses pagando as prestações e cartão de crédito, e além dos bons momentos. Tudo bem, que adoro o Rio. Mas me diverti pensando, lembrando bem de que eu e meu irmão passamos na frente dos restaurantes citados, sei onde ficam, mas nós estávamos sempre a caminho de algum $$, no máximo. Assim como os turistas de Olivetto, também fomos ao Museu do Amanhã – idosos lá não pagam! – e na volta, de BRT, paramos na Cinelândia onde havia um enorme protesto estudantil – estão querendo cortar verbas da Universidade Federal. Também fomos ao Pão de Açúcar – lá idoso paga meia e no cartão deu para dividir o preço dos ingressos.

Fomos à praia tomar chuva e vento, que os dias que estivemos lá a temperatura estava tenebrosa, proibindo até aquele banho de mar de descarrego.

são paulo - rio
O estado dos ônibus no Rio de Janeiro

Lendo o texto tive dúvidas e fiquei pensando como todos se locomoveram, seguros. Um motorista? Também tivemos o nosso, os ônibus do Rio estão caindo aos pedaços e o motorista, cara de poucos amigos até para dar informação,  também é cobrador, com uma caixinha horrorosa e suja ao seu lado direito, de onde cobra e pega troco. Shows não fomos, vocês bem sabem: os ingressos estão na hora da morte. Mas Olivetto e os meninos devem mesmo ter sido convidados vip pelo Caetano Veloso.

No texto, o sonho acaba, com John Lennon citado e tudo. E todos voltam para a “vida real”, Londres! A última pérola foi a citação do filho que teria dito que aqueles dias haviam sido sua “pós-graduação de vida”.

Enquanto isso, na minha São Paulo, suja e malcuidada, a da Cracolândia móvel que aterroriza o Centro, dos roubos e sequestros em cada esquina, do barulho ensurdecedor, ficamos sabendo de excursões ao bairro “chique” de Higienópolis, onde fica a casa abandonada do podcast estrondoso. O que as pessoas querem? Ver se se surge na janela a mulher estranha com pomada branca na cara, ali escondida há 20 anos depois de fugir dos Estados Unidos para não cair – lá, porque aqui é difícil alguém rico  ser condenado – nas mãos da Justiça e onde escravizava e torturava a sua empregada doméstica. Querem ver a casa destruída onde ela, Margarida, seu nome, mora, em terreno muito, mas muito mesmo, valioso, dizem até que jogando excrementos nas paredes dos muros dos prédios vizinhos, entre outras esquisitices. Ninguém sabe exatamente se a mulher continua perambulando ali na casa abandonada e suja, pode ser que tenha saído – ela tem irmãs, e parte a receber do fabuloso inventário, que agora a imprensa revela inclusive mostrando fotos internas da casa, parte do processo que se alonga.

Diante da mansão fazem fotos, gravam vídeos, até caça-fantasmas apareceram ali, além de, claro, a turma da Luisa Mell que resgatou, pulando o muro, os enormes dois cachorros da casa.  O  assunto é notícia todos os santos dias, como se fosse essa a única casa abandonada dessa cidade, e fosse essa a única mulher a ter uma história tão terrível nessa cidade cheia de crueldades em cada esquina, em cada andar de apartamentos e condomínios.

Ainda não soube disso por aqui, mas desse jeito, com esse sucesso, não vai demorar para São Paulo copiar o Rio de Janeiro, e aparecerem agências de turismo fazendo tours para que as pessoas, dentro de jeeps mais parecidos a aqueles de safaris na África, até meio gradeados, e que vi muitos a caminho de seus destinos na orla da praia, cheios de gente indo visitar alguma das centenas de favelas que crescem mais e mais na Capital. Ou, quem sabe, que tal?, uma ida às Cracolândias, visita aos buracos de rua, conhecer como vivem os milhares jogados cobertos como sacos de lixo, dentro de caixas de papelão ou barracas improvisadas. Boiando em enchentes. Com fome. Catando lixo para comer.

A imagem do país no exterior tão cedo não vai mesmo melhorar. Mas, olha! Uma ideia de passeio para o Olivetto na próxima estada do filho e dos amigos no Brasil. Isso sim, acredito, seria uma excelente “pós-graduação na vida”.

______________________________________

Marli no Rio com Drummond
passeio na praia

 – MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

[FOTOS: ARQUIVO PESSOAL – MARLI GÔ]

ARTIGO – Tentam nos curvar de todas as maneiras. Por Marli Gonçalves

Nas ruas de nosso país observamos a angústia, a infelicidade, a preocupação, a ansiedade e luta por muitos e variados alguns. Andam perdidos, de cabeça baixa, os olhos sem brilho, desalento visível na caminhada lenta. Vítimas de uma absurda desorganização nas coisas de um governo que sacode e destrói a nação, do momento no qual a saúde é atingida pela desgraça da pandemia que continua em ondas malignas, e da natureza vingativa que castiga e desaba vidas e sonhos justamente dos mais vulneráveis

Bom, claro, tem também os curvados que passam te atropelando como se fossem os donos das calçadas, desatentos, pescoço caído torto, atenção apenas ao celular que não sei o que de tão interessante pode conter para esse exercício tão perigoso. Já vi muita gente atravessando ruas assim, alheios, assim como já os vi tropeçar, caírem em buracos e até quase serem atropelados justamente por estarem tão curvados nesse misterioso mundo. Serão as notícias?

Estarão interessados em eleições, candidatos, partidos? Em jogos de futebol, convocações de times? Talvez atentos ao YouTube e nos filmes absurdos sobre tudo que se pode procurar em diversas versões dos mesmos fatos? Nas dancinhas dos tiktokers?

Entendam os mais espertos em símbolos químicos, nos “cobres” a mais que parece está todo mundo atrás para se garantir e comentar. Pode ser que apenas estejam acompanhando as andanças e polêmicas do tatuado “cobre” da artista famosa e sem papas na língua e que acabou por desnudar um submundo de gastos públicos absurdos e nos mais miseráveis recônditos, justamente por isso sentindo-se livres para saquear o povo, entoando circo sem pão.

A polêmica já tem dias e mais de metro, criando mais uma divisão no país sempre repartido. Agora, são sertanejos e os “outros”. Tome-se por sertanejos alguns desses novos milionários de sucesso duvidoso, esbanjadores, apoiadores alinhados ao desgoverno e seus familiares, sorridentes em fotos e nas conquistas de prefeitos e outros candidatos a continuar fazendo a população continuar se curvando diante da vida. Esqueçam os violeiros antigos, os que por aí apenas cantam com sotaque a sua terrinha, seus amores, esses muitos que se apresentam em pequenos palcos e calçadas só em troca dos tais cobres, mas aí o da gíria de algum dinheiro.

A cantora influente e que está lá fora onde faz sucesso a ponto até de ganhar estátua de cera em museu famoso se diverte e nos diverte a cada vez que se pronuncia mostrando inclusive uma capacidade incrível de usar os sinônimos ao seu próprio e elogiado derrière. Na clara oposição sem partido – e que tanto perturba os caras – usa seus encantos para influenciar mais jovens a se entenderem, o que fez para que tirassem título de eleitor a tempo, ou doando e conclamando outros a doarem para ajudarem as vítimas de grandes tragédias. Faz mais com seu brioco, buzanfa, fiofó, rego, entre outras dezenas de formas, do que a caneta de governantes de Norte a Sul.

Uma tatuagem que deu pano para a manga, quando polemizada por aqueles homenzinhos esdrúxulos que não tinham é nada a ver com isso e poderiam ter ficado bem quietinhos. Inclusive para o bem de nossos ouvidos.

Pelo que se entende, ali no seu corpo que movimenta tão bem, ela apenas talvez tenha querido perpetuar o seu amor por alguém, dizem, marcando “I luv u”; pela frente, comenta-se, a flor de lótus. Só não sabemos ainda de que cor, que cada uma tem uma expressão. No geral, é flor que simboliza a superação, a força, a capacidade de passar pelas dificuldades e ver o lado positivo da situação, uma vez que é flor que nasce da lama.

Gosto de quem não se curva, de quem se defende e aguenta os trancos, e eles estão bem violentos porque mexeram com gente perigosa. Gosto mais ainda quando isso é feito com humor. Quem muito se abaixa, dito popular, mostra o traseiro. E ainda pode ser chutado, já que nem todos nascem virados para a Lua.

___________________________________________________

marli junho 22MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

ARTIGO – Juras de Junho. Por Marli Gonçalves

Junho sempre é mês especial, até porque nele inclusive fecho mais uma dessas voltas ao redor do Sol na vida louca. É mês que marca muitas festas populares, muitos santos reverenciados, promessas, arrasta-pés que levam a um estado de embriaguez e cheio de corações cata-enamorados espalhados nas vitrines. Mas…

Como anda difícil simplesmente ser feliz, viver a vida, quando se é sensível. Quase metade do ano já se foi e, teimosos, nos mantemos esperançosos neste imenso país tropical, nessa gigantesca aldeia global, onde creio que, espaço tem, deve haver algum cantinho desconhecido onde ainda seja possível manter-se alheio à realidade assoladora e aos fatos inquietantes próximos ou distantes.

Aiaiai, quanto mais a gente reza, mais o nosso coração sofre com as notícias que chegam de todos os lados, uma sobrepujando a outra, como se todas elas fossem naturais e devêssemos apenas seguir em frente.

A imagem daquele homem assassinado sufocado por gás dentro de um carro de polícia no Sergipe seguirá aterrorizando nossos sonhos e ficará esperando a Justiça onde quer que se vá. Assim como daquele que teve seu pescoço apertado por coturnos longos minutos se debatendo. Tudo registrado, provado, visto. Real. Se repete.

A malvadeza, se pode dizer, atinge a todos: especialmente os negros, as mulheres, as crianças, os povos originários que vivem naquele cantinho onde havia paz e uma comunidade. Ou nas comunidades emanadas da miséria que recebem a visita do que seria a lei, e o saldo são corpos cravejados contados em números flutuantes.

E ainda tem guerra, melhor, guerras, muitas, as reais e as que travamos diariamente contra nossos próprios medos. As crianças mortas por balas que zunem e elas não tinham a menor culpa de haver uma indústria que movimenta toda a política internacional, dos Senhores das Armas, e que também aqui, infelizmente, encontra guarida e incentivo.

A loucura piorada que atinge a todos de uma forma ou outra, seja os jovens desesperançados que compram as armas e matam, sempre pensando numa vingança que os dominou durante a vida social com a qual não souberam lidar, seja a que libera a maldade em atos inexplicáveis, como essa recente maldição das madrastas – uma que joga o enteado pela janela durante uma briga; a outra que trama envenenar os seus, mata uma, dois meses depois tenta acabar com o outro, e da mesma forma, ainda por cima fazendo sofrer, por envenenamento. Eram pessoas acima de suspeita, sabemos depois.

Pessoas acima de suspeita estão sempre muito perto de nós. E as que suspeitávamos e tentamos tanto avisar, sem sermos ouvidos, do perigo que representavam, estão aí, aqui, ali, inclusive mandando, governando vários povos, como o nosso, e cercando-se sempre de outros seres piores ainda.

Ah, mas a história diz que sempre foi assim. Não. Não tem de ser. Tanta modernidade, tecnologia, vem servindo para o quê? A comunicação que acreditávamos ampliada nos divide, e sem que possamos nem reagir já que são como fantasmas, muitas vezes criados apenas para o terror, para a mentira, para espalhar o ódio.

É junho. Sabia de uma coisa? Eu não sabia. Junho sempre tem chuva de meteoros. Nenhum mês começa no mesmo dia da semana que junho em qualquer ano. E todos os anos termina no mesmo dia da semana que termina março. Começa no mesmo dia que fevereiro do ano que vem. Nele, a floração das rosas atinge seu máximo e junho já foi chamado de Rosa Lua. Não faz diferença, não muda nossa vida, mas é leve.

Aqui, comemoramos três populares santos: Santo Antônio, São Pedro, São João. Vamos ver bandeirinhas coloridas espalhadas, vai ter quentão, danças de roda e a quadrilha, mas a boa, aquela que nos junta batendo palmas, cantando, dançando, tentando nos embriagar para esquecer que, como já disse, repito: aiaiai, quanto mais a gente reza, mais o nosso coração sofre com as notícias que chegam de todos os lados, uma sobrepujando a outra, como se todas elas fossem naturais e devêssemos apenas seguir em frente .

___________________________________________________

Marli - perfil cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

ARTIGO – Feminismo popular. Ninguém é Bruaca. Por Marli Gonçalves

O feminismo ganhando o que mais precisa, divulgação e entendimento de sua simplicidade e importância na força da ação e reação feminina. Está uma delícia. Todos os dias temos visto manifestações – algumas até bem engraçadas – de mulheres brasileiras revoltadas e resolvendo a situação com seus companheiros de forma inusitada: expondo o “gajo” nas redes. Na tevê, a reação das oprimidas faz sucesso e ensina de várias formas que há solução.

feminismo

A primeira é não se calar, e o quanto antes. É uma que “vira” onça diante do motel onde está sendo traída, e filma tudo.  A outra que gruda um cartaz no carro do companheiro traidor dando conselhos e inclusive apoiando, vejam só, a amante, pedindo respeito a ela também. Isso se espalha, viraliza. A sororidade se destaca mostrada com sucesso em personagens de novelas, como a Maria chamada de  Bruaca, de Pantanal, reagindo ao entender a situação vivida durante toda uma vida ao lado de um homem horrível,  machista, grosso, nocivo, tóxico, ao qual venerava até descobrir que, inclusive, o tal manteria outra família.

Em um país onde impera a desigualdade, os riscos e violência, e a ignorância tenta a cada dia botar mais as manguinhas de fora, é reconfortante assistir a matérias e matérias repercutindo a opinião de mulheres sobre como estão dando a volta por cima. Ou como estão entendendo muito bem o recado de que sempre chega a hora do “Basta!”. E que esse ponto final poderá salvar suas próprias vidas. O Brasil ainda ocupa o quinto país do mundo em mortes violentas de mulheres segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos – dado vergonhoso e que infelizmente se mantém, apenas piorado, ao longo dos últimos anos.

Em 2020 e 2021 houve uma severa explosão dos casos de violência contra a mulher e feminicídios – o assassinato de mulheres e meninas por questões de gênero, ou seja, exclusivamente em função do menosprezo ou discriminação à condição feminina. A pandemia de Covid, que obrigou ao isolamento, tornou a situação ainda mais calamitosa, especialmente entre as mulheres negras e mais pobres, mas atingindo brusca e diretamente a todas.

As denúncias recebidas pelo Disque Denúncia de São Paulo cresceram 35% em março deste ano, comparando com o mesmo período do ano passado. Em março deste ano foram 57 denúncias, contra 42 em março de 2021. Apenas no primeiro trimestre de 2022, foram 140 relatos de feminicídio no Estado – mais de um por dia!

Nos últimos anos o país tem piorado em muitas questões, particularmente algumas ligadas ao comportamento humano e liberdade individual, ou ligadas às minorias. Todos os dias ouvimos relatos de racismo, manifestações de violência contra as mulheres e contra a população LBGTQIA+.

Uma situação que não envolve apenas as mulheres, em geral atacadas por pessoas próximas, seus companheiros ou ex-companheiros, mas também seus filhos que muitas vezes presenciam esses atos. Atos e números desleais que precisam ser estancados, e luta para a qual todas as mulheres, maioria da população, deve assumir seu papel. Em todos os canais, inclusive políticos.

Daí a importância de divulgar vitórias, as reais e mesmo essas das ficção de filmes e novelas, de casos em redes sociais, muitas vezes a melhor forma de traduzir rapidamente essa batalha e seu significado. Repito: o feminismo é força, precisa ser compreendido em toda sua plenitude, e por homens e mulheres. Não diz respeito só a um ou a outro. São alicerces fundamentais para o futuro. Acredito firmemente que a humanidade não poderá ser assim chamada enquanto a mulher for tratada de forma inferior. Feminismo é prática diária. Presente em nossas vidas.

Não há de se ter vergonha. É preciso pedir ajuda. Por a boca no mundo. Como vítima dessa violência que deixa marcas profundas por toda uma vida, cada caso, cada morte que sei, é como se novamente a ferida fosse em minha pele, e me faz comemorar hoje conseguir ter ficado viva para contar a história, entender exatamente como ela se constrói, a dor que causa.

Me posicionar na frente dessa batalha, implorando pelo fim dessa guerra tão particular e odiosa.

feminismo

___________________________________________________

Marli - perfil cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

ARTIGO – Vermelho Sangue Mulher. Por Marli Gonçalves

Que o vermelho do sangue de todas ao menos nos una nessa batalha. Especialmente me dirijo às mulheres, apelando à sua sensibilidade sempre mais aflorada. Somos mais da metade da população. E, como mulheres, porque entendemos o que significa, porque sabemos o que é, do que exatamente trata e de como nos sentimos nesses dias, temos a obrigação de reagir fortemente ao veto desse ser, desse governo maldito, à distribuição de absorventes higiênicos às meninas, às mulheres pobres, das ruas, dos presídios. Mais de cinco milhões de mulheres foram atingidas pela insensibilidade que marca esse triste momento do país, governados por gente que constantemente nos desrespeita e que parecem nos odiar

Dormem nas ruas, jogadas no chão, ao lado de ratos, ratos homens e ratos bichos, o sangue escorre e elas não têm nem ao menos como se lavar. O sangue chega a coagular em suas pernas, atrai animais, insetos, causa infecções que as adoecem e matam. Não têm direito a um mínimo de dignidade, dependem da generosidade alheia e da sua própria força pela sobrevivência. Pão! Li que algumas usariam miolo de pão para conter a menstruação. Tá. Se não têm muitas vezes nem o pão para se alimentar! Usam qualquer coisa que acham nas ruas, jornal, panos velhos. A realidade não é como na literatura de mulheres libertárias que propõem deixar escorrer o sangue da menstruação como marca da força feminina. Estas têm água para se lavar, suas teses para defender, e seu sangue é usado como força; têm casa, comida, roupa lavada.

As mulheres, nas ruas, acabam por terem infecções terríveis, não sendo raro perderem seu sistema reprodutivo. Nos hospitais e postos de saúde muitas vezes, tal é a situação se encontram quando chegam, cheiro forte, que causam nojo e pouco são tocadas, cuidadas, atendidas. Essa é a realidade.

Estudantes pobres, no sistema público – só elas somam quatro milhões no Brasil – perdem aulas – não vão às escolas porque não têm como se proteger nesses dias, como fazer higiene e como conter a vergonha diante de todos.

Um assunto escancarado durante a pandemia que fez ainda mais pobres e miseráveis, o custo desse item tão básico e tão importante da higiene – absorventes menstruais – os tornou inacessíveis a muitas mulheres, mais do que já eram, muitas já obrigadas a usar toalhinhas ou chumaços de algodão e papel higiênico como nossas antepassadas criativamente faziam; quando podem, claro. Porque nem isso mais é possível para muitas.

 O veto de Bolsonaro ao projeto de lei que finalmente daria alguma dignidade e fim a essa situação que perdura há tantos anos – pobreza menstrual – é de uma covardia, maldade, violência, quase incapaz de ser descrita em palavras. Por tão pouco se faria tanto, tão bem. Mas esse governo masculino, incorreto, incapaz, tenebroso, cruel, parece não ter limites em sua caminhada nos levando ao horror. Dizem que não tem dinheiro, ousam dizer que não têm recursos para tal que, pelos cálculos do  projeto, custaria pouco mais de 80 milhões de reais por ano, em média 7 milhões de reais por mês, distribuindo (só, mas ajudaria) oito absorventes por mês, a 1 centavo cada. Seria dirigido às necessitadas, moradoras de rua, estudantes de baixa renda e distribuídos nas cestas básicas distribuídas pelo Sisan (Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional). As receitas viriam do programa de Atenção Primária à Saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). No caso das presas, os recursos viriam do Fundo Penitenciário Nacional.

Agora aguardamos – exigimos – que esse veto seja derrubado pelo Congresso, o mínimo que podem fazer, e para o qual estaremos atentas.

Não têm dinheiro? Alegam que seria crime de responsabilidade fiscal? Ah, mas para fazerem passeios de motocicleta, viagens com pencas de assessores por aí, gastarem seus cartões corporativos, pagarem salários gordos, roubar e deixarem roubar, mandarem seus dólares para paraísos fiscais, comprarem e mandarem o Exército fabricar remédios ineficazes que empurraram nos doentes, para isso nunca falta. Onde anda a Justiça e sua balança sempre pendente para um lado só?

Indignos, cuidam das rachadinhas em seus gabinetes, ironicamente. De lá, de suas decisões malditas verte o vermelho do sangue, menstrual ou não, de tantos brasileiros e brasileiras, vermelho que dizem e repetem – como bobos – não quererem na bandeira nacional, mas que cada vez mais a mancha.

E mancha de sangue é difícil de tirar. De nossa memória, não sairá. Eles não perdem por esperar.

___________________________________________________

Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

 (se republicar, por favor, se possível, mantenha esses links):
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
No Twitter: @marligo
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves

ARTIGO – A mosca azul e os mil artifícios para causar. Por Marli Gonçalves

Como é que se causa? Nada mais é natural agora que, ao que parece, todo mundo tem de causar para aparecer? Susto. Simplesmente tomei um susto, na verdade, mais um, porque cada vez que vou dar uma olhada nos realities não consigo deixar de me assustar muito com aquelas caras, bocas, bundas, cabelos, músculos e etceteras das e dos participantes. Mas agora também tem até ministro se arrumando todo para o poder, né, Queiroga?

MOSCA AZUL - CAUSAR

Patchwork. A mulher que aparece na tela – uma “celebridade” dessas que a gente não tem nem a menor ideia de quem é, de onde veio, para onde vai e quem deu o título – ganhou a melhor definição dada pelo meu irmão: um verdadeiro patchwork. Dá uma olhada nesse grupo que está em “A Fazenda”. Cada vez mais impressionante o que o que estão fazendo em prol de causar, virar notícia, surgir nas redes sociais, no mundo digital, para virarem influenciadores (pior é que estão mesmo influenciando). Isso, os que querem ficar “bonitos”, dentro de critérios discutíveis de boniteza.

Parecem retalhos, não de tecidos no caso, mas de pedaços de gente ajustados e que acabam por criar figuras desconexas; algumas grotescas. O nariz, não dá para saber como respira; a boca, tão gorducha e inflada para fazer biquinho, que deve ter toda hora sem querer espetado um garfo. A colher não deve penetrar. Levam quase que almofadas em seus traseiros, que querem que fique bem perto da nuca! Cílios postiços que pesam para abrir e fechar os olhos, como sobras dos apliques escondidos nas cachoeiras de cabelos que alisam e jogam sem parar para lá e para cá.

Viraram pessoas sem expressão, imexíveis, tantas aplicações de botox que endureceram os movimentos. A testa parece um bloco. Os homens surgem quase como bonecos infláveis – já estão na fase de implantar próteses penianas. E tudo, tudo, mas tudo mesmo, por mais íntimo que seja, fazem questão de divulgar – seja para pagar a conta dos cirurgiões com a divulgação, ou só para o tal “causar”.

Nessa confusão da semana, não é que surge um novo Ministro da Saúde, o Queiroga? Reparou? Sumiu aquele cara com ar simples e reservado. Tomou suco de galo, tirou o óculos, parece que fez harmonização facial e agora usa lentes de contato e ternos bem cortados. Mudou o comportamento: virou respondão com os governadores, a mosca azul picou certeira, e para se manter no poder tem aceitado até os mais esdrúxulos pitacos do Bolsonaro. Como essa de suspender do dia para a noite a vacinação de adolescentes, minando junto a importância das vacinas, e ainda ameaçando acabar com a obrigação de uso de máscaras de proteção contra o vírus. Bem, a máscara dele, essa ele tirou, e está mostrando exatamente ao que veio.

O louco é que muitas dessas transformações para causar são eternas, riscadas e implantadas nos corpos. Bem diferente, diria, de looks e roupas extravagantes usados por estrelas nos tapetes vermelhos da vida, como no Oscar ou no recente baile do MetGala. No dia seguinte, elas podem aparecer na boa, de jeans e camiseta, guardando a foto célebre que correu o mundo. Podem mudar de ideia a hora que quiserem. Como a filha de Madonna que adorou levantar os braços e mostrar bem seus pelos na axila – nada que uma boa depilada um dia destes não resolva. Aliás, repito, deixem os sovacos em paz! Não precisamos da Lei do Pelo Livre! Cada um usa os seus próprios pelos onde bem entender.

Ao contrário dos patchworkers, tem quem queira – também, claro, para causar – apenas ficar feio ou mesmo horroroso, propositalmente– daí implantam chifres e outras misérias.  Em geral, estes ao menos têm uma ideologia por trás, um pensamento libertador ou provocador muitas vezes, como na questão dos pelos no sovaco, das tatuagens cobrindo o corpo, dos cabelos coloridos ou em forma de vulcões prestes a explodir. É uma expressão política.

No fundo, no fundo, enfim, cada um faz o que quiser, e continua válida a máxima “Falem mal, mas falem de mim”. A gente pode gostar ou não, e assim levamos, cada um na sua.

Mas pior de tudo mesmo,  picados ou seduzidos pela mosca azul, a varejeira, que nasce na lama de suas ganâncias – e esses são os que fazem mal de verdade e não apenas aos nossos olhos, perigosos – são os que se travestem de gente simples, camisetas falsas, em verde e amarelo, fantasiados de patriotas, religiosos disso e daquilo, apenas para disfarçar como na verdade agem e ganham suas gordurinhas na corrupção, na mentira e na manipulação da ignorância de um povo que continuam a cultivar, subjugados.

___________________________________________________

Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

 (se republicar, por favor, se possível, mantenha esses links):
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
No Twitter: @marligo
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves

ARTIGO – O Homem não está nada bem. Por Marli Gonçalves

O homem não está bem; não está nada bem. O homem está confuso, nervoso, não sabe o que fazer, anda inseguro, percebe que está perdendo poder e que já não é mais invencível, daí reagir muitas vezes perigosa e virulentamente. O homem vê que a cada dia tem de dividir o poder com serenidade. Percebe que os tempos são outros e que há reação a qualquer de seus desmandos.

Sei que tudo isso se enquadra muito bem no que vivemos, e que claro deve ter vindo à sua cabeça a figura do presidente que essa semana, parece, criou, percebeu e sentiu a temperatura máxima, e essa não era um filme da tarde de domingo, muito menos do feriado nacional com tantos significados e que conseguiu transformar este ano em um dia de ódio e horror, terrível e tenso para os brasileiros.

Tudo bem que não dá para deixar passar isso em branco, vendo o desfile em verde e amarelo de tanta gente paramentada abanando a bandeira, confusa, enganada e/ ou apenas ignorantes em busca de um líder, sendo usada sem dó por oportunistas, pessoas más, para não dizer outras coisas, com pretensões da pior espécie, querendo fechar os horizontes da liberdade e da democracia. Brincando perigosamente com o futuro.

Claro que esse Homem aí, o que conclamou e tramou o que espantados assistimos, também não está bem, não está mesmo é nada bem. Mas isso não é de hoje. Esse aí nunca esteve bem, e em nada do que fez, nem como militar, muito menos como político, ocupação que exerce há mais de 30 anos sem brilho, e que por golpe de sorte e das condições daquele momento eleitoral foi posto no poder máximo.

Mais do que evidentemente não estar bem, repara só: esse Homem está bem maluco – não é impossível que acabe numa camisa-de-força – desorientado, inconsequente, e literalmente atirando para tudo quanto é lado na tentativa de se manter nele, no tal poder que, parece,  subiu para sua cabeça e, pior, para a de todos os seu filhos, parentes, amigos e ministros que o seguem nessa balada insana seja em cima de palanques, na frente da câmera de suas insensatas lives ou no cercadinho que se tornou o ponto de encontro da turminha que o anima.  E num país que se desmancha, precisando tanto de um governo.

Muito chato. Só imagino e adoraria saber detalhes de qual foi o real bastidor, os fatos que o levaram a apelar para a pena de Michel Temer para criar uma nota pública que pudesse por panos quentes e frios, pelo menos por hora, na perigosa confusão que armou. Queria ser a mosquinha que pudesse ver a real, que normal não foi, não caiu do céu esse arrego que deve estar causando forte azia e indisposição, inclusive em quem saiu atrás dos trios elétricos do horror achando que estava abafando.

Mas, enfim, pulando esse assunto que já deu, o que é visível é que o homem, o ser masculino, esse que já não aguento mais ver aparecer diariamente envolvido em tantas notícias de crueldades e feminicídios, talvez até por conta e somada a situação nacional, não está nada bem, e se debate angustiado. Com o avanço do movimento feminista, com a entrada cada vez mais expressiva  das mulheres no mercado de trabalho e lutando por sua independência e participação igualitária, as bases do tal domínio do macho estão ruindo à nossa frente, sendo levados pela onda de força que vem sendo demonstrada pelas mulheres, especialmente nesse momento de superação, da pandemia, onde fomos tão e mais brutalmente atingidas.

É preciso destacar esse momento importante. Porque dele poderá vir, finalmente, um novo mundo e quero estar aqui para presenciar e celebrar o resultado dessa luta de toda uma vida. Torcendo para que essa lufada, enfim, sopre cada vez mais forte aqui e em todo o planeta.

___________________________________________________

Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

 (se republicar, por favor, se possível, mantenha esses links):
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
No Twitter: @marligo
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves

ARTIGO – Estamos numa fria. Por Marli Gonçalves

Entramos e estamos numa boa fria, numa gelada, num enorme saco sem fundo. É tanta coisa acontecendo de esquisito, de ruim, e sem que possamos resolver de vez ou tomar medidas rápidas e objetivas – a solução não está só em nossas mãos, mas na de todos e em tantas mudanças e acertos – que só resta, sei lá, espirrar. Espirrar com muitos desses culpados de nossa frente

Saltos, piruetas, manobras espetaculares no asfalto, nos tatames, no mar, fôlego na piscina; as mulheres arrasando, a garotinha em cima do skate, a outra bailando com movimentos precisos bem na cara de suas próprias dificuldades. Orgulho, vitórias, e não só, também as derrotas, trouxeram distração para mais de 100 metros nas notícias e madrugadas olímpicas. Vimos novamente, felizes – mesmo que por instantes – a bandeira nacional tremulando sem que ela nos causasse essa certa repulsa que tanto fizeram que conseguiram nos fazer dela até enjoar nos últimos tempos.

Soubemos das incríveis lutas e histórias de superação dos atletas – os vimos felizes e também desolados quando ficaram pelo caminho em suas modalidades. Pelo menos ali acompanhamos um país se esforçando, lutando para se firmar e melhorar. Temos mais alguns dias para acompanhá-los e torcer.

Mas agosto está aí, sempre teremos agosto. E já está vindo embalado pela pandemia que continua matando muito mais de mil pessoas por dia e querem que isso pareça normal, quando vemos outros países indo e voltando de medidas restritivas nesse vaivém estonteante. Aqui, o pimpão prefeito do Rio de Janeiro, por exemplo, decretou que vai estar tudo bem até o outro mês e até já marcou feriado e festa. Uma vergonhosa corrida de Estado contra Estado, cada um querendo parecer melhor que outro, em campanha aberta, como se não bastasse o furdunço que virou o Governo Federal.

Às vezes acho que a água que os dirigentes e responsáveis pela condução do país tomam contém mesmo alguma coisa a mais – só pode ser. Não atingimos ainda nem os 20% de imunizados com as duas doses. Há ainda um inacreditável número de pessoas contrárias às vacinas ou que não voltaram para a segunda dose, quando necessária, como o é para a maioria. Ainda vemos quem tenta escolher qual marca tomar – e muitos desses estão tombando pelo caminho. O Ministro da Saúde ousa proclamar vitória e ações do governo, como se não tivéssemos já quase 560 mil mortos e mais de um ano e meio de pandemia muito mais cruel por causa dos erros deles.

Agora, as aulas vão voltar – e não se tem a menor ideia de como resolveremos os sérios problemas da Educação, da evasão, do atraso no ensino. O Ministério? Além de uma fala maluca do ministro, outro batendo no peito por feitos não feitos, pôs no ar uns anúncios moderninhos. Volta também o showzinho diário da CPI que, quando acabar, teremos um relatório enorme, e precisaremos torcer muito é para que ele não vá dormir em alguma gaveta.

Quem chacoalhou esse país para ele estar assim tão dividido? Quem abriu a tampa do bueiro para tantas absurdas ignorâncias? Um queima o Borba Gato; outros vêm e jogam tinta vermelha nas homenagens a Marighella e Marielle. O fogo queima nossa memória. As mentiras e notícias falsas se espalham e ecoam. O presidente monta um circo para dizer o que já sabíamos de suas acusações sobre as eleições – que ele não sabe de nada, não prova nada e isso é só mais um assunto para manter o percentual cada vez mais baixo de quem o segue, ainda achando que ele presta, mesmo vendendo seu mísero poder para outros míseros carrapatos que grudam em tudo que é governo, seja de qualquer lado do colchão. Não adianta virar, desvirar, por ao Sol.

É inverno e até o frio intenso e recorde que há muito não aparecia ataca o Sul e o Sudeste, expondo nosso total despreparo para qualquer situação extrema e a miséria que grassa nas ruas que acomodam friamente mais milhares de recém-chegados. Os preços disparam, sem controle, enquanto turistas fazem horrorosos bonequinhos de neve e a geada acaba com as plantações.

Estamos mesmo numa fria na qual entramos sem saber ainda como sair dela, estranhamente escaldados.

___________________________________________________

MARLI - cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

 (se republicar, por favor, se possível, mantenha esses links):
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
No Twitter: @marligo
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves

ARTIGO – Não tô gostando nada do que estou vendo. Por Marli Gonçalves

Não queria, mesmo, à essa altura da vida, assistir à essa despropositada série de ameaças e insanidades. Novamente, algumas; alguns fatos, na política, no país. Retrocessos em conquistas. Paralisação em progressos. Certamente se você já os viveu – acompanhou e fez parte de batalhas por mudanças – sente o mesmo; se for mais jovem, anote e acredite: o momento não é nada bom, já fomos melhores. Isso não é progresso.

Não tô gostando nada do que estou vendo

Na semana que estou fazendo um balanço, chegando aos 63 anos, os tais fatos que me surpreendem mal foram fortes. Por exemplo: pais e mães de uma escola de elite paulistana fizeram uma revoltinha. Acreditem, contra trechos do diário da adolescente judia Anne Frank que durante a Segunda Guerra, para sobreviver enquanto pode aos horrores, se escondeu em um porão onde achou forças para escrever o que passava, e um dos relatos mais pungentes sobre o Holocausto, publicado pela primeira vez em 1947. Que trechos chocaram pais em 2021, 74 anos após a divulgação do livro? Ah, o trecho onde ela expôs sua natural sexualidade. O livro estava sendo usado em aulas de inglês, leitura, para estudantes de 10 a 12 anos. Pasmem. Está o maior rebu por conta disso. Em que mundo esse povo vive?

Vejam só. Em 1966, aos oito anos de idade (e reparem que em plena ditadura), tive aulas na minha escolinha sobre todo o complexo sistema reprodutivo, tanto feminino como masculino, as transformações que logo sofreríamos. Explicações objetivas, com visuais explicativos. Lembro até hoje da minha alegria chegando em casa com um pacotinho de Modess. E hoje lembro que se não fosse isso não saberia nada, filha de mãe mineira e pai nortista, em vão ficaria esperando deles explicações sobre “essas coisas”, com as quais nunca tiveram tranquilidade em lidar.

Mas vamos lá, firmes, enfrentando esses dias que passam doidos, rápidos, lépidos, incontroláveis, atordoantes. Quando você se dá conta, pumba, já foi. Mais um ano. E que ano! Parabéns, conseguiu se esgueirar até aqui. Siga, firme! Todos os dias agradeço ao Universo essa chance, que tantos não tiveram – se você está aí lendo, creio que deveria fazer o mesmo, agradecer ao que tem fé. Vacinada, duas doses; entre os ainda apenas pouco mais de 10% da população desse país que claramente desanda, saiu dos trilhos, aparece descarrilado, sem rumo, tornando tudo mais difícil, mais custoso, conservador, burro, atrasado. Irritante.

Estar vivo. Isso hoje é honra valiosa. Mas não queria novamente estar vendo tudo isso acontecer, algumas coisas de novo, chatas, perigosas e repetitivas, e que agora chegam disfarçadas, embaladas em outros papéis, e o que as torna mais tenebrosas.

Estou, estamos, e como diz um amigo, a única alternativa possível ao envelhecer não é nada boa. Sendo assim, resta utilizar tudo o que se aprendeu nesse viver para seguir tendo consciência das mudanças, inclusive físicas, da responsabilidade justamente por isso, da vivência e experiência.

No geral, nós, mulheres, quando o tempo vai passando, vamos ficando cada vez mais invisíveis. Precisamos e continuamos a correr mais ainda atrás de esmolas emocionais, uma parte começa a se podar para se ajustar ao que a sociedade delas “espera”; essa sociedade que ainda hoje acha que tudo pode determinar com sua régua rígida, hipócrita e moralista. E quando, otimistas, achamos que isso estaria mudando, e estava, vem o tapa na cara. Percebemos que devemos continuar guerreando algumas das mesmas velhas lutas de mais de 50 anos atrás, brigando por condições no mínimo iguais, quando deveríamos ter até mais, respeito por direitos, pela liberdade de opinião e opções. Por uma educação decente que conduza as novas gerações aos desafios constantes, inclusive sexuais, e que vêm se impondo abertamente, desafiando limites.

Lá vamos nós, de novo, tendo de lidar com a ignorância, contra um emaranhado de atraso e no meio dessa pandemia que nos aprisiona e deprime. Nas ruas no último sábado, 29 de maio, embora muitos teimem não ter visto, sim, lá estávamos com as mais variadas bandeiras e a maioria não era partidária, vermelha ou verde e amarelo, essa que nos foi arrebatada. Éramos os mais velhos, muitos; os vi em cadeiras de rodas, com bengalas. Os vi, também, coloridos, com filhos e netos aos quais ensinavam cidadania. Todos conscientes, guardando distanciamento, certamente ali maioria já vacinada. Entre milhares, todos com máscaras usadas corretamente, conscientes do primeiro passo necessário para protestar. Também não estão gostando nada do que estão vendo.

Começamos a expressar mais claramente, nas ruas, o que se multiplicará nos próximos meses, esperamos de forma pacífica. O que renova a esperança e fará, com certeza, que se estanquem esses retrocessos. Que consigamos acabar com essa gente idiota, burra, cretina, nojenta que nos faz perder tempo quando tínhamos tudo para estar na vanguarda.

___________________________________________________

Marli - foto Alê RuaroMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

___________________________________________

 (se republicar, por favor, se possível, mantenha esses links):
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
No Twitter: @marligo
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves

ARTIGO – Como é o seu candidato ideal? Por Marli Gonçalves

Como é a pessoa em quem você votaria de olhos fechados, sairia feliz para votar até debaixo de chuva e frio, como se diz, ou até debaixo de facas, não temeria a pandemia e voltaria para casa orgulhoso por ter praticado a cidadania em sua melhor forma? Ela existe?

candidato

Mulher? Homem? Alguma causa social a ser defendida? Você se importa com o partido ao qual pertencem? É que temos tantos (33) que é até bem confuso, porque pouco eles se diferenciam entre si, sejam de centro, esquerda, direita, direções que cada vez mais apontá-las se torna indiferente nessa nova sociologia que enfrentamos. Existem tantos porque tem uma torneirinha que vaza nosso dinheiro para cada um deles.

Essa semana pensei muito nisso. Passamos por seis horas de imersão no tema eleições e marketing político, em curso online do jornalista e um dos experts no assunto, Carlos Brickmann. Foram seis horas, duas horas em três dias. Interessante pensar nos variados aspectos eleitorais pelo menos um pouco antes, e, especialmente, neste ano tão cheio de surpresas, mudanças, medo. Além da premente e visível necessidade de renovação e mudança. Tempo muito curto. Piscou, e vai chegar o dia, um domingo, 15 de novembro, primeiro turno; e onde houver segundo turno será 29 de novembro, apenas 14 dias depois.

Como será a presença? Terá forte abstenção? Vacina, até lá, desistam. A eleição atual será de âmbito municipal, prefeitos e vereadores, tudo o que é mais perto da gente, de onde moramos, vivemos, transitamos. A “outra”, nacional, federal e  estadual, tão esperada por grande parte da população que não sabe nem como é que chegaremos lá, tão destroçados que já estamos, só em 2022. Você seria a favor de que todas as eleições fossem unificadas? Gostaria que esta tivesse sido adiada? Você vai votar?

O tempo curto: a campanha começa oficialmente só no próximo dia 27 de setembro. Imagino que já deve ter recebido aceno de algum amigo ou conhecido que será candidato, com quem você há anos não falava e já esteja percebendo a candura e “saquinhos de bondades” de alguns prefeitos que adorariam se reeleger. Acredito ainda que já perceba de repente até algumas máquinas na pista e homens trabalhando em locais onde eram esperados já há algum tempo.

Nas nossas conversas sobre o assunto, na qual participaram pessoas de todas as regiões do país, percebemos a chegada de vários candidatos bem intencionados, que vão tentar serem eleitos para buscar contribuir com seus conhecimentos. Embora pelas Câmaras passem todos os assuntos, seria muito bom se nelas houvesse conhecimento mais preciso sobre temas como Saúde, Educação, Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano, Segurança Pública. Mas também é fundamental, muito especialmente, que a Câmara seja composta de forma diversificada e que atente também a temas comportamentais, como as questões de gênero, raça, entre outras que nos são tão caras e sempre tão esquecidas ou deixadas de lado.  Pense bem nisso quando for votar.

Na questão feminina, pela qual tenho especial apreço, pensa na importância de termos mais mulheres nos parlamentos. Não só pela luta pela igualdade, mas pelos aspectos que tanto nos afligem, e só a nós, que precisam ser consertados ou resgatados, inclusive em relação ao respeito aos direitos conquistados e nos tantos que ainda faltam. Cuidado com essa questão de cotas, onde muitas são postas apenas como números. Procure as que realmente fazem a diferença. É a hora das lideranças comunitárias, daquelas que há muito tempo guerreiam, sejam de qual idade forem. O mesmo para as questões LGBTs.

No curso, interessante, se concluiu que o povo vota por emoção, mas não gosta de quem ataca os adversários, especialmente se esse ataque for abaixo da linha da cintura. Agora não é hora de acirrar ainda mais essa divisão nacional, bolsonaristas, lulistas, etc… – mas, sim, hora – e oportunidade – de dissipá-las, em prol de uma união nacional. Vote em quem fala a verdade, aliás, quem sempre falou, porque nessa hora o que tem de gente esquecendo o que disse, o que escreveu, o que já prometeu e não cumpriu, não é brincadeira.

Se eu pudesse pedir voto, apenas diria: vote contra a ignorância que precisamos conter, com tanta força. Fique atento às notícias, promessas e informações falsas, a arma dos incompetentes. Muitas coisas talvez não dê para falar pessoalmente, nesse ano o contato será muito “digital”, com máscaras. Não se deixe enganar por quem é capaz de levantar, sem perceber, um anão, pensando ser uma criança. Esqueça a política antiga e, já que essa chegará em grande parte por redes sociais, utilize esse mesmo campo com consciência, seja para apoiar, seja para incrementar com os temas que farão a diferença nesse futuro ainda tão incerto que vivemos.

Ah, me conta, por favor, se puder, como é o seu candidato/candidata ideal? Não é de hoje que me dedico a tentar entender este país.

______________________________________________

MARLI GONÇALVES Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

_______________________________________________________________

 (se republicar, por favor, se possível, mantenha esses links):
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves
No Twitter: https://twitter.com/MarliGo

ARTIGO – Este país está uma piada. Por Marli Gonçalves

Uma piada de mau gosto, daquelas que a gente ri meio de lado, sem graça, com aquele sorriso amarelo; no fundo, no fundo, está é um desconsolo só, e na verdade só rimos para não chorar muito, porque cada vez mais sério. Já acorda certo de que vai ter a surpresa do dia, e o que é pior quando esta mostra o verdadeiro perfil de parte dos brasileiros, que só quer comida no prato, não importa quem a cozinhe, e nem quer saber dessa tal democracia.

Não é mais o país da piada pronta, mas o daquelas bem batidas, velhacas, que parecem contadas todos os dias em suas versões diferentes. O impasse é total. É pandemia, medo, recessão, paradeira mundial, milhões de infectados, milhares de mortos. Difícil até de acompanhar, e a gente então desiste, desiludido com a raça humana como muitos falam. Passa à etapa do ligar o foderaizer, uma alavanca mental, e querer apenas se salvar, tentando nadar e chegar à margem que ninguém tem ideia em qual distância está; aliás, onde está? Está?

Só isso pode explicar e é até fácil de entender as pesquisas que vêm mostrando neste momento a subida na aprovação do presidente.  Não é coisa para morrer de se preocupar, que ainda tem tempo e essa piada ainda vai longe. É fotografia de registro de momento: aquele dinheirinho do auxílio emergencial está mesmo fazendo a diferença: é como se fosse o oxigênio das máquinas de respiração para os que estão nas UTIs,  só que para quem está fora delas e conseguiu (incluindo os que não deviam nem ter pedido, mas conseguiram). Consciência política? –  Não é hora de ela ser chamada. Pode gritar que ela não vem. Não vai atender nem a porta.

Apontamos em direção deles, acusando: populistas!  Quem trabalha com marketing político sabe que essa palavra tem entendimento bem diferente – um é o que os intelectuais falam, e como entendem; outra é o que o povo mesmo ouve, e entende como coisa boa, positiva, popular. Então, não será por aí o embate.

Vamos ter de continuar rindo da caspa no paletó do ministro da Economia mais perdido que visitantes que entram errado em “comunidades” e saem alvejados. Como quem não tivesse onde atirar, esse senhor baixinho e prepotente se equilibra na corda bamba e quer agora taxar, vejam só, os livros, a cultura, essa que já está muito mais para lá do que para cá, tantas bordoadas tem levado nos últimos tempos. Fortunas, aviõezinhos, mercado de luxo? Não. Pensa ele, talvez: para que os livros, sem educação, sem escolas? – Algo que veremos os efeitos funestos mais adiante.

Aí explode o horror no Líbano. O que fazemos? Um voo da alegria para ajudar. Repararam, viram aquela feliz masculina comitiva embarcando? 13 pessoas. O que é que foram fazer lá? Os libaneses precisam de ajuda, mudanças na política, remédios, comida, decididamente, não precisavam da visita, entre outros, de Michel Temer, Paulo Skaf, amigos, ou do senador Nelson Trad, por exemplo, que tinha tanta coisa para ver aqui, como o tal dossiê que não pode ser aceito sob hipótese alguma. O que ele fez? Trancou o documento no armário e foi viajar, como se não houvesse ontem, hoje ou amanhã.

Aiai, que estou vendo você aí também até já confundindo Bolsonaros, os Filhos do Capitão, Carlos, Flávio, Eduardo. Podiam ser Huguinho, Zezinho, Luizinho. Porque cada um deles, todos, tem uma ficha corrida para explicar, a gente nem sabe mais qual é qual – todos com alguma capivara, como se fala no jargão policial. Chato, chato, assunto chato, só vai melhorar se o tal Queiroz e sua esposa, agora mandados de volta para a cadeia, resolverem, digamos, cantar. Duvido um pouco, porque a pele deles deve arder muito no fogo das milícias que os originam.

Enquanto tudo isso ocorre diante de nós, lá no Espírito Santo uma menininha de dez anos está grávida. Estuprada pelo seu tio desde os seis anos de idade, ela ainda está tendo de se sujeitar que discutam – sim, ainda estão discutindo – seu direito de abortar. Que compaixão é essa?  Onde está a humanidade? Que religião esse povo do poder acha que lhes dá esse direito? Dona Damares, por favor!. Essa criança não pode ser obrigada, nem condições tem, de ter essa outra criança. E, acredite, se algo lhe acontecer de mais mal ainda, porque ela pode não resistir, não serão poucas as pragas que rogaremos contra vocês.

Muito anos de luta para tentar fazer com que esse país fosse considerado e tentando que melhorássemos em pontos essenciais para agora estar assistindo a esse desmonte, esses desrespeitos, os ataques racistas, a continuidade da absurda desconsideração com as mulheres, essa marcha da insanidade contra tudo que nos é tão caro.

O país está uma piada que, quando nos contam, temos é muita vontade de chorar.

__________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

_________________________________________________________

 (se republicar, por favor, se possível, mantenha esses links):
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves
No Twitter: https://twitter.com/MarliGo

ARTIGO – Carta às 77.649.568 eleitoras brasileiras. Por Marli Gonçalves

Mais precisamente às 77 milhões, 649 mil, 569 eleitoras, contando comigo, que estou e estarei bastante atenta às questões relacionadas às mulheres e a outras que poderemos influenciar muito com o nosso voto, agora em 2020, e em todas as eleições para as quais as brasileiras forem chamadas a opinar; e somos maioria. O voto é uma arma, pacífica. Precisamos usá-la. Por nós, mulheres, pelas nossas famílias, por todos os brasileiros, por um futuro mais digno.

ELEITORAS

Prezadas,

Vejam que estamos em 2020 e ainda não somos respeitadas e nem representadas na medida em que somos a maioria da população brasileira. Nem nos cargos legislativos, nem em outros, incluindo Executivo, Judiciário e, ainda, nem na sociedade, nem dentro de empresas, ou no comando, nem no respeito. A população brasileira é composta por 48,2% de homens e 51,8% de mulheres. (Dados IBGE/ PNAD Contínua/2019). Em termos eleitorais, somos 52,49% do total; os homens, 47,48% do total. (TSE/2020). Podemos ser a decisão, pela melhoria para todos.

Acredita? Por aqui, por exemplo, as mulheres compõem apenas 10,5% do conjunto de deputados federais. E de um total de 192 países, o Brasil ocupa a 152ª posição no ranking de representatividade feminina na Câmara dos Deputados, ficando até atrás de países como o Senegal, Etiópia e Equador.

A eleição deste ano, para prefeitos e vereadores, é aquela que está mais perto de nós, de nossa ação. É a que cuida de nossa região, onde vivemos e onde passamos nossas vidas, onde está a nossa casa, as mesmas casas onde um número absurdo de mulheres continuam sendo assassinadas por seus companheiros e ex-companheiros, e onde a proteção policial e as promessas de proteção ou garantias não têm passado em geral de apenas promessas. Você está vendo isso, não? Sentindo na própria pele, talvez?

São Paulo, por exemplo, registrou 87 mortes por feminicídio apenas no primeiro semestre de 2020. O maior número de casos desde a criação, em 2015, da lei que especifica o crime – é o homicídio praticado contra a mulher em decorrência única e exclusiva do fato da vítima ser mulher (misoginia e menosprezo pela condição feminina ou discriminação de gênero, fatos que também podem envolver violência sexual), ou em decorrência de violência doméstica. No Brasil todo dados preliminares mostram aumento de mais de 22% nesse crime, em relação ao ano passado, que já era absurdo, e apenas contando os primeiros meses do ano. Uma situação ainda claramente mais agravada pela pandemia, quarentena e necessidade de isolamento social, crise econômica, etc.

Esta é apenas uma questão, mais específica. Temos todo um país a resolver, atrasado com relação a tudo, Educação, Saúde, Saneamento, aprimoramento da cidadania. Não é só uma questão de cotas – temos 30% de cotas nas candidaturas, mas sempre manipuladas, usadas para obtenção do Fundo Partidário, com nomes que muitas vezes, usadas como laranjas, nem as próprias mulheres sabem que as colocaram para votação nas chapas partidárias. Anime-se inclusive a se candidatar, vamos!

Junte-se a todas as mulheres do mundo!

Meu apelo é para a consciência; não é reserva de mercado, nem obrigação de votar apenas em mulheres, mas que o façam, participem, votem, e em pessoas sérias, que estejam comprometidas verdadeiramente com a sociedade em geral, sejam de que gênero ou raça forem, idade ou classe social. Será esse comportamento que levará à melhoria das condições, não só na política. Nos fazer ouvidas.

De qualquer forma são as mulheres que sempre têm a maior noção do que todos enfrentamos, fatos tão agravados este ano e que terão ainda ampla repercussão pelos próximos tempos: desemprego, falta de assistência, necessidades especiais e de direito reprodutivo, segurança – as mulheres são sempre as primeiras vítimas. E é cada vez maior o número de nós chefes de família, como principais responsáveis pelo sustento.

Chega de nos contentarmos com migalhas, segundo plano, pequenas conquistas que chegam de forma tão lenta, e que nos são devidas há décadas.

Animated%20Gif%20Women%20(63)Peço encarecidamente que se informem, não acreditem em notícias falsas, pensem com suas próprias cabeças, sejam independentes, respeitem-se entre si, estendam a mão a outras mulheres ampliando nossa ação, explicando como se dá a igualdade de direitos, e quais são esses direitos, que as mulheres, merecidamente, tem até em maior número por conta de sua fisiologia. Estenda a mão e atenda os gritos de socorro ao seu redor.

Vamos parar de achar normal o que não é – e nesse momento nada está normal; estamos vivendo num país perigosamente flertando com o retrocesso em vários campos, e onde até nossas acanhadas conquistas estão em risco, desmerecidas diariamente que vêm sendo.

Chamo você para o nosso encontro mais importante este ano: domingo, 15 de novembro, primeiro turno; e domingo, 29 de novembro, segundo turno, onde houver. Se arrume toda, chama a família, aproveite para arejar as ideias. Pensa bem em quem vai acreditar. Ah, e use máscara, que até lá ainda estaremos em perigo.

Todas nós contamos especialmente com todas nós.

____________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

________________________________________________________________________________

ME ENCONTRE, ME SIGA, JUNTOS SOMOS MAIS
 (se republicar, por favor, se possível, mantenha esses links):
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves
No Twitter: https://twitter.com/MarliGo

ARTIGO – Mulheres, avante! Que a Força esteja com vocês, com todas nós. Por Marli Gonçalves

É visível, está diferente, mais forte, libertário, perceptível e especialmente até a quem ainda ousa tentar negar a força represada das mulheres e que tem vindo à tona em todos os setores da sociedade. Os ataques, entretanto, também estão mais violentos e precisam ser denunciados dia e noite. Nesse momento complicado, mundial e nacional, serão as mulheres que farão a diferença. Pode acreditar.

Resultado de imagem para WOMAN ANIMATED GIFS

Nós, mulheres, com o tempo – histórico, mas lento, muito lento – aprendemos a ser mais corajosas diante de tantas coisas que cotidianamente temos de enfrentar. Logo se tornará atávico, transmitido para as novas gerações – homens e mulheres – que já demonstram a compreensão de seu papel, da importância desse tema. Onde quer que estejamos ainda temos que nos impor mais, observar mais, buscarmos ser respeitadas, demonstrar coragem para reagirmos ou, ainda, até para sairmos incólumes (e até vivas) de algumas lutas desleais. Todo dia. Toda hora. Em qualquer lugar. Dentro e fora de casa.

Liberdade para os mamilos censurados até em fotos quando deles brota o leite que amamenta bebês. Vidas recuperadas de histórias pouco conhecidas que marcaram esse avanço premiadas em escolas de samba e blocos que esse ano trouxeram às avenidas e ruas carnavalescas muitos retratos desse avanço, contra o assédio e os abusos. Há uma geração chegando pronta que precisa ser respeitada, e ela vem poderosa, orgulhosa, cheia de si, destemida, em campo aberto.

Essa é a realidade que molda esse novo tempo. E esse avanço não vai parar. Mas a cada vez que essa força se torna mais clara, resoluta, visível, e isso ocorre de tempos em tempos, também cresce a adversidade, e é incrível e incompreensível que entre esses adversários ainda encontramos algumas … mulheres.

Exemplos diários, demonstrados com força nesses últimos dias com os ataques que mulheres jornalistas têm sofrido por terem feito revelações fundamentais para o cenário político nacional. Suas vidas pessoais devassadas, seus filhos ameaçados, referências estéticas e sexuais torpes, ao invés de argumentos – até porque eles não os tem, sempre obrigados a contrapor com mentiras e mais mentiras, e essas são desmascaradas muito rapidamente. Estamos sendo governados por um presidente que desrespeita as mulheres diariamente e a inteligência de todos, com termos chulos, descontrolados, que espalha entre seus correligionários teleguiados por robôs e por seus filhos moleques e malcriados, descontrolados. Esse comportamento não pode, não deve, não vai prosperar.

Não é uma guerra de sexos o tema de que tratamos. O quanto antes precisamos recolocar as coisas em seus lugares, discutir a humanidade, o comportamento de toda a sociedade com liberdade e ênfase, combater essa loucura que se espalha e coloca o país no topo dos países onde mais se matam mulheres apenas por serem mulheres. O feminicídio alcança níveis brutais, e os índices demonstram crescimento alarmante e com reações ainda fracas, como se não fosse assunto para todos. 1310 mulheres foram vítimas de violência doméstica ou por sua condição de gênero, em 2019. Em 2018, foram 1222, assassinadas. Em média, e apenas contando dados oficiais certamente incompletos e defasados, três a quatro mulheres são mortas a cada dia no Brasil, na maioria dos casos por companheiros e ex-companheiros, pessoas de seu convívio.

Se faz necessária a cada dia uma reflexão mais profunda sobre o tema, que se expande agora dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, instituído pela ONU em 1975. Mas falar sério, não só entre convertidos, o que ainda parece ser hábito.

Não apenas lamentando ocorridos, mas buscando se antecipar a eles, criando redes de proteção, sanções mais vigorosas, e especialmente apoio entre todos. Rechaçando dia e noite ataques vindos de quem for, nas ruas junto à sociedade civil, buscando espaços para alardear fatos e feitos femininos, consolidando as vitórias e a coragem necessária para buscar e consolidar os direitos pelos quais tantas mulheres se sacrificam diariamente.

Como costumo dizer, isso é feminismo. Simples de ser compreendido e respeitado. É pedir muito?

__________________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

_____________________________________________________________________

ME ENCONTRE, ME SIGA, JUNTOS SOMOS MAIS
 (se republicar, por favor, se possível, mantenha esses links):
YouTube: https://www.youtube.com/c/MarliGon%C3%A7alvesjornalista
(marligoncalvesjornalista – o ç deixa o link assim)
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
Chumbo Gordo (site): www.chumbogordo.com.br
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves
No Twitter: https://twitter.com/MarliGo

ARTIGO – A claque dos bananas que aplaudem e dão gritinhos. Por Marli Gonçalves

Vamos tentar nos entender, por favor. Falar sério sobre comportamento, honra, orgulho, liturgia do cargo, capacidade, seriedade, educação e outros muitos “quesitos más” necessários a quem se elege presidente da República.  Seja ele ou ela quem for. E, no caso, o atual ocupante do cargo passa dos limites e abre a porteira da ignorância em todo o país. Por onde passa o boi, pode passar uma boiada incontrolável…

Um mau exemplo. Um péssimo exemplo e, pior, comportamento insano que vem sendo seguido como engraçadinho por outros integrantes do governo e pessoas que o cercam, os ainda apoiadores, talvez acreditando que somos todos bananas tropicais, povo pacato, alheio, que essa situação se estenderá, que ficará por isso mesmo, e que eles mandam e desmandam. Pensam, ou pior, se articulam para tal, que ficarão neste comando muito tempo.

Pisamos em brasas. Eles passaram; mas não ficarão – e isso é certo se mantivermos atenção e cuidados com a liberdade de expressão, críticas, comentários, força e união, assim como a devida responsabilidade necessária entre os formadores de opinião. A imprensa, onde me insiro.  Entre as mulheres, onde batalho. Entre os ecologistas, que apoio. Entre os gays, que defendo. Entre os líderes, entre os livres, que buscam Justiça, onde pretendo me manter, sempre, sem fechar os olhos aos desmandos, e como sempre fiz ao longo da vida que já é longa o suficiente para me gabar disso.

Já. O momento é já. Buscarmos novas lideranças, arejar a política, ocupar os espaços vazios, combater a beligerância, a ignorância, o oportunismo e o radicalismo de outras partes é obrigação que temos com a história e com o futuro, e mesmo que nele não estejamos. Aceitar que saímos do ruim para o pior.

Os últimos acontecimentos, as bananas que o presidente nos manda, sorridente e agressivo, como foi nas falas contra a repórter da Folha de S. Paulo, as inacreditáveis e baixas afirmações e ameaças – outro dia disse que seu amigo, o carioca deputado negro Hélio Lopes,  aquele que está sempre por perto dele, olhos arregalados, é negro devido ao tempo a mais que ele teria passado na barriga da mãe; teria dado uma “queimadinha” no forno por demorar dez meses para nascer. Sim, ele também disse mais essa, em uma live de quem pensa que está brincando de internet, de ser piadista, e dando aquela risadinha ridícula já nos dá náuseas. Isso não é humor, não tem graça, nem nunca teve.

Não há tom de brincadeira que possamos aceitar. Até porque visivelmente não é brincadeira. Ele pensa desse jeito torto. Os militares de alta patente que ocupam cada vez mais o governo sabem disso, e não é por menos que estão se espalhando. Nunca confiaram no Capitão, sempre visto como mau militar. Não confiam em sua capacidade de governar. O fato de estarem agora até na Casa Civil(!) é bastante revelador, e o intestino do poder está se alimentando fora de casa.  Os fatos vêm se sobrepondo – todo dia, sem parar, problemas, falas que afetam e trazem desconfiança ao mercado, falas feitas naquele cercadinho ridículo ao qual a imprensa incompreensivelmente ainda se sujeita, com aquela claque nojenta, uma escalada que culmina ainda com a clara e antiga ligação a grupos milicianos.

Não é brincadeira. Não tem graça, nem nunca terá. O Carnaval passará. 2020 precisa acontecer, sim, e não temos mais como perder outra década ensacando ventos, com sacos roxos, precisando “manter isso daí”, nem com gente que lavou dinheiro a jato, se lambuzou e deixou esse buraco da política para agora vir a ser preenchido por um amador em tudo: como militar, como homem, como presidente, e até como engraçadinho.

O que não tem decência. O que não tem juízo. Nem nunca terá.

Está chato. E nós queremos dar nossas risadas. Usando a mais ( e irritante ) nova expressão, que surgiu há alguns dias, temos de “cancelar” todos esses caras.

_________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

____________________________________________________________

ME ENCONTRE, ME SIGA, JUNTOS SOMOS MAIS

 (se republicar, por favor, se possível, mantenha esses links):
YouTube: https://www.youtube.com/c/MarliGon%C3%A7alvesjornalista
(marligoncalvesjornalista – o ç deixa o link assim)
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
Chumbo Gordo (site): www.chumbogordo.com.br
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves
No Twitter: https://twitter.com/MarliGo

ARTIGO – O país do eterno carnaval. Por Marli Gonçalves

Lá vem ele, o Carnaval, em seus dias oficiais, chegando pelas ruas e avenidas, nos sambódromos e batuques, nos blocos e desfiles. Mas agora os românticos arlequins, pierrôs e colombinas chegam substituídos por quase inexplicáveis unicórnios e outros símbolos e, mais uma vez, o carnaval virará a ocasião para que os protestos que parecem silenciar durante todo o ano surjam em forma de fantasias, plaquinhas, alegorias, refrões

A gente passa o ano fantasiando um país melhor. O país, por sua vez, está sendo fantasiado cada vez mais com vestimentas difíceis de serem reconhecidas, camuflado com insígnias, verde-oliva, afirmações despropositadas, um momento de apreensão sobre seus rumos, esse vaivém incerto. Um dia ouvimos números positivos; nos outros, sabemos de quedas significativas. Parece sempre que cada sucesso é logo zerado por um fracasso. Cada plano fica pelo caminho, capota, tomba no acostamento. A expectativa se perde quando chega o momento de sua consolidação. Os passos dessa nossa dança são em círculos.

Avistamos, então, apenas poucos blocos: entre eles o a favor de tudo, dos adoradores, absolutamente incapazes de reconhecer erros, mesmo que até estejam entre os prejudicados; não querem saber, a ignorância vira bênção, e costumam repetir mantras como autômatos, chegando a ser violentos porque os seus  argumentos a cada dia se tornam mais escassos, em defesa de um mito que inventaram e veneram.

Em contraponto, os contra tudo, órfãos dos governos passados, especialmente os petistas que mantêm inabalável confiança nos mitos que ainda, mesmo ultrapassados, veneram, igual fazem os “a favor”, e todos muito radicais. De nada adianta qualquer argumentação, fato, informação. Só eles sabem; só eles se consideram oposição; adoram desenvolver suas narrativas, seus “lugares de fala”, entre outras palavras que dão até alergia quando começam a surgir em discursos, na ultrapassada dicotomia direita-esquerda.

No meio de tudo isso, já é bem visível uma maioria que não tem líder, qualquer mito intocável, mas que busca ansiosa o surgimento de alguma liderança mais razoável, que procura seguir adiante, mas não se omite diante de acontecimentos incontestáveis, como a censura, os ataques à liberdade de expressão, falas ignorantes e desgovernadas sobre assuntos sensíveis, como meio ambiente, cultura, comportamento, liberdades individuais. Uma parte admite arrependimento total com a decisão que acabou levando à vitória que hoje amargamos, mas não deixa que se esqueça que as opções que foram postas à sua frente na hora desta decisão não davam chance – uma era a continuidade; a outra, uma certa esperança e mudança, desconhecida, mas esta se diluiu já logo nos primeiros acordes.

Nesta terceira faixa correm os que votaram nulo, em branco, não votaram, e que diante disso tudo sentem-se até um pouco mais confortáveis e inocentes. O problema ainda é um confronto desleal dos blocos nas ruas, e ainda dentro das casas, das famílias, entre amigos, nas redes sociais.

Confrontos com robôs teleguiados e que, quando descobertos seus malignos manipuladores, estes reagem com desmedida virulência. Assistimos essa semana aos ataques inaceitáveis desferidos contra a repórter Patricia Campos Mello, quem levantou detalhes sobre as redes de fake news montadas nas eleições. Na CPI em curso no Congresso vimos um “motorista” de robôs mostrando o seu pior, com mentiras e ataques de cunho sexual contra ao fim e ao cabo, todas as mulheres.

Em São Paulo, um numeroso grupo de artistas há uma semana se reúne, religiosamente todo dia, ao meio dia, e até o dia 18, em ruidosa manifestação nas escadarias diante do Theatro Municipal. A Semana “Arte contra a Barbárie” e o Movimento Artigo Quinto já listaram, de 2019 até aqui, 378 atos de censura ou tentativas de censura, envolvendo obras de arte, imprensa, estudiosos, professores, eventos, um levantamento bastante completo.

Fazem barulho, mostram coreografias, música e poesia, cantam o Samba do Artigo Quinto, se apresentam de cara lavada, antecedendo o Carnaval e buscando apoio para a formação de Bloco maior que, este sim, deveria se tornar gigante, ser notícia todo dia, atrair mais e mais pessoas, jogando luzes com seriedade, mas também humor e alegria, apaziguando ânimos de forma positiva e com a cara mais nacional do Brasil, País do carnaval: o Bloco do Bom Senso.carnival-mask-source_m6l

 _____________________________________________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

 

 

_________________________________________________

 

ME ENCONTRE, ME SIGA, JUNTOS SOMOS MAIS
 (se republicar, por favor, se possível, mantenha esses links):
YouTube: https://www.youtube.com/c/MarliGon%C3%A7alvesjornalista
(marligoncalvesjornalista – o ç deixa o link assim)
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
Chumbo Gordo (site): www.chumbogordo.com.br
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves
No Twitter: https://twitter.com/MarliGo

#ADEHOJE – CAIU UM AVIÃO E 182 MULHERES MORRERAM. SE LIGA.

#ADEHOJE – CAIU UM AVIÃO E 182 MULHERES MORRERAM. SE LIGA.

 

SÓ UM MINUTO E MEIO!Se eu falar que caiu um avião no ano passado e que matou 182 mulheres só no Estado de São Paulo vocês vão ficar comovidos, pedir investigações, noticiar de dia, de tarde e de noite, buscar especialistas para perguntar o porquê desse desastre? Pois bem, não caiu o avião. Mas 182 mulheres foram vítimas de feminicídio apenas no ano passado, e contando apenas as ocorrências aqui no Estado de São Paulo. Em 2018, esse “avião” matou outras 136 mulheres. Agora em 2019, repito, foram 182. Isso, contando os casos declarados como feminicídio.

Foram 55 mil lesões, ou seja, mulheres que não foram assassinadas, mas machucadas, com lesões sérias. Também só em SP esse número. O que dá mais ou menos 150 casos por dia.

Está entendendo a gravidade do problema ou será preciso que mais um ano passe e mais muitos aviões destes matem? Vamos falar sério sobre esse assunto?

Imagem relacionada

#ADEHOJE – MUDANÇAS MORAIS, ACIMA DE TUDO. E CPI QUENTE

#ADEHOJE – MUDANÇAS MORAIS, ACIMA DE TUDO. E CPI QUENTE

SÓ UM MINUTO – O senhor Jair Bolsonaro apavora, apavora, mas não pode impedir que a sociedade reaja em suas vidas, e que o comportamento avance. O IBGE divulgou hoje dados de 2018, em número muito interessante sobre casamento civil de pessoas do mesmo sexo: casamentos LGBTs crescem 61,7% em 2018. Os casamentos civis, só 1,6%. Outro dado, também de 2018, que significa muito, inclusive para luta das mulheres: o número de mulheres que só tem seus filhos entre 35 e 39 anos aumentou 56 %. Elas esperam um maior equilíbrio em suas vidas, inclusive do ponto de vista profissional.

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) das Fake News, que investiga a divulgação de notícias falsas nas redes sociais e assédio virtual, ouve hoje a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Congresso. Ela brigou feio com os Filhos do Capitão, que puseram uma horda de robôs para atacá-la nas redes sociais. Joyce não tem tampa e podemos dizer que ela ficou muito…digamos, brava, com o fato de não ter sido reconhecida em tudo o que fez e apoiou o atual desastrado governo. Agora, se ligou na roubada que entrou. E vai abrir o bico para tentar se livrar dela.

VIVA YANSÃ EM SEU DIA!

 

Resultado de imagem para YANSÃ