ARTIGO – Santos, Santos, Santos! Por Marli Gonçalves

Exatamente, exatamente, não se sabe quantos são mesmo os santos da Igreja Católica. Os números oscilam, tremendamente aliás, entre mil e oito mil reconhecidos oficialmente. Brasileiros, seriam 37, contando todos os que ou nasceram aqui, ou pelo menos deram uma boa passadinha por esta terra que já foi bem gentil. Agora em junho temos três santos bem populares, mais um que acaba meio esquecido. Aproveitemos para pedir aquela forcinha, com simpatias e alegria, e por todos.

santos
SANTO ANTONIO, SÃO JOÃO, SÃO PEDRO, SÃO PAULO

O Brasil é um país que reza pra tudo quanto é lado. Não dá para entender como ainda ocorre qualquer divergência entre as religiões, até porque muitos de nós professam bem mais do que uma só, seja por simpatia, tentativas, ou porque todas acabam levando a um só lugar, divergindo apenas em textos e formas de consagração; a gente tem um pezinho aqui, outro lá, até por garantia, que pulamos de galho em galho atrás de uma luz para seguir andando com fé, que a fé não costuma falhar – o que dizem. Eu acredito.

E como tudo aqui é gigante há épocas que a fé aflora para tudo quanto é lado. Milhares marcham por Jesus nas ruas trazendo no solado dos pés seus pedidos nas caminhadas evangélicas, religião que cresce, e a medida é o número de vezes que agora ouvimos alguém falar “misericórdia!”. Com maior visibilidade alcançada nos últimos tempos, os evangélicos se veem hoje melhor retratados (e aceitos) nas novelas, nas músicas, nas expressões e na representação. Obviamente falo do que é sério, não desses que nos atazanam a todos, líderes e pastores que se auto proclamam, perigosos, em busca de riqueza pessoal, poder político, de dízimos, e que ainda miseravelmente se aproveitam da inocência dos mais humildes para disseminar preconceitos, mentiras e brigas religiosas, inclusive entre eles próprios. É preciso, aqui mais do que nunca, separar o joio do trigo.

Nesta mesma semana quilômetros de arte da mais bela feita com amor e esforços, flores e serragens coloridas, formando tapetes maravilhosos com o retrato de passagens bíblicas e por onde passaram procissões celebrando o corpo de Cristo, numa festa que se espalhou em todas as regiões, como uma tradição católica de décadas, renovada todos os anos. Arte instantânea, volátil. E vivas sempre à Padroeira, Nossa Senhora Aparecida.

Nos terreiros se fecha o semestre com os orixás representando as forças da natureza, os lados da vida, as fraquezas e forças dos seres de todas as dimensões.

E, como é junho, chegam as grandes festas dos três santos mais populares e que juntam todo mundo no forró, no quentão, no bate-coxa, nos arraiais, nas danças das orquestradas e festivas quadrilhas. Santo Antônio, São João, São Pedro.

O primeiro, agora do dia 13, o santo casamenteiro, do amor, seja para conseguir um ou mesmo recuperar algum amor perdido. Coitado do Santo Antônio. O viram de cabeça pra baixo, o deixam afogado, sequestram o menino Jesus de seus braços, tudo para praticamente coagi-lo a agir. Só desviram o coitado e devolvem o menino se forem atendidos, esses fiéis. Um santo praticamente torturado, vejam só. Mas a fé é assim, bem doida.

São João, do dia 24, parece mais bem tratado nas suas festas. Padroeiro dos hoteleiros, hóspedes (e ajuda mesmo o Turismo) e prisioneiros, conhecido como protetor dos casados e enfermos, condições que às vezes até andam juntas. Acredita-se que cuida também dos que sofrem com dor de cabeça e de garganta.

Por último, o São Pedro, o Pedrão, do dia 29, danado, que tem as chaves do céu, e pode bater a porta em nossa cara quando tentarmos entrar lá,  além do poder sobre o tempo, as chuvas. “Eu te darei as chaves do reino dos céus e o que ligares na Terra será ligado nos céus”, proclamou Jesus, de acordo com os escritos. E ainda tem São Paulo, o santo “esquecido” e que se agrega ao Dia de São Pedro.

Seria bom mesmo é se todos os nossos pedidos – para todos os lados – fossem além dos pessoais. No coletivo, pela união de toda essa fé e forças, que pudessem ser convertidas para convivermos em paz tornando esse mundo que a gente vive aqui e agora, na real, um lugar melhor, respeitoso, mais seguro, e onde todos pudéssemos festejar as imagens geradas na alegria de cada uma das variadas consagrações.

Axé, Amém, Misericórdia. Santos, santos, santos e santas.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Se os carros falassem. Por Marli Gonçalves

Os carros andavam em total baixão, dispensados sem dó, trocados por Ubers, motos, transporte coletivo, bicicletas, patins, rodinhas, patinetes. Agora? Voltando gloriosos, cheios até de sentimentos, vejam só. Avançaram muito junto às famílias dos humanos nesse ano pandêmico, uma coisa impressionante. Faltam falar. Se bem que…
carros

Alguns até meio que  já falam. Cada vez mais digitais, com controles ligados à internet, redes sociais, aplicativos e câmeras que praticamente os manobram sozinhos para os motoristas na sempre odiada baliza. E dizer que aquele apito que davam ao se aproximar do carro de trás e da frente nas estacionadas já era um avanço. Pensar que suas piscadas de luzes no painel já eram alguma interação, e que os barulhos que emitiam de repente tentavam a comunicação com seus donos. Que os “grilos” já eram uma linguagem.

Agora? Entraram na nova e gloriosa era do Drive-thru, do Drive-in, este completamente modificado do que outrora, verdadeiros motéis mais baratos e descomplicados. Têm vez. Já meio que falam; robóticos, mas se comunicam. Alguns até se recusam a sair do lugar, empacados como mulas, enquanto não estiver tudo ok, todos com cintos de segurança, portas travadas, coisas assim. Até a chave da partida anda virando é botão de apertar.

Nesse 2020 frequentam pomposos – juntinho com suas donas famílias – o cinema, o teatro, casamentos, shows, e essa semana os vimos em comícios e, inacreditável, até na igreja, fiéis. A Marcha para Jesus, a grande e anual manifestação evangélica liderada pela Igreja Renascer, este ano não foi marcha; foi carreata, com mais de dez mil, entremeada por trios elétricos. E terminou com 1500 deles no Anhembi em São Paulo, assanhados, ouvindo discursos e cânticos, além de shows. Tive dúvida de um detalhe: na Marcha, os fiéis costumam usar papeis dentro de seus sapatos, debaixo de seus pés, onde colocam os pedidos, as graças alcançadas, e sobre as quais andavam nas grandes caminhadas. Esse ano não sei como foi feito, se os pneus tiveram alguma participação.

Pois bem, não é que eles, os carros, participam ativamente das solenidades? Buzinam, piscam faróis, o som do rádio num frequência especial repica lá dentro o que está no palco. Faltam bater palminhas. São eles que manifestam os sentimentos de seus donos. O velho Herbie, o fusca do famoso “Se o meu fusca falasse”, o 53, criado em 1968, deve andar por aí todo deprimido com tantas novidades.

Mas não para aí. Antes, nos fins de semana, os amados carros eram lavados, polidos, vistos brilhando nas portas das casas – era comum ver isso. O orgulho da propriedade. Seus donos eram levados por eles para paquerar (sim, essa é a expressão) outras pessoas, em outros carros. Na Rua Augusta houve até um programa de rádio que era feito exclusivamente para ajudar esses encontros – na ladeira, carros rodavam subindo e descendo – emitindo recados, onde eram eles os citados. “A loira do fusca azul” quer falar com o “rapaz da Belina amarela”. Era bem legal.

Agora? Já tem até apartamentos sendo feitos especialmente para que eles – os carros! – possam ser guardados dentro de casa, tipo na sala – sobem pelo elevador. E você achava que o Eike Batista que guardava um dos dele, especial, na sala, era maluco? Pois bem, um sertanejo desses aí acaba de comprar um apartamento assim, lá em Goiânia – e divulgar pra quem quiser babar. Tudo bem, já sei, você aí não tem espaço nem onde deixar sua bicicleta…Fazer o quê? Quem pode, pode.

Sempre estranhei um pouco essa coisa, muito paulistana, inclusive. Via gente que, se pudesse, levava o carro para sentar na mesa do restaurante. Agora a coisa se adiantou. Há várias montadoras que até antes das pandemia já desenvolviam estudos acelerados para implantar a inteligência emocional nos novos bichinhos que, assim, seriam capazes até de “conversar “com os seus motoristas (claro, também há estudos para que não precise mais nem de motoristas nos carros autônomos). Eles discutiriam futebol, por exemplo. Perceberiam se o cara está com sono e o despertariam “puxando assunto”. Uma humanização. Já houve experiências que mostraram carros emitindo sentimentos reais, pedindo beijos, abraços, carinhos. Piscando, mandando beijinhos pra quem passasse por eles.

Enquanto esperamos que os carros ao menos não sejam mais usados para matar, guiados por bêbados ou irresponsáveis, ficamos por aqui, sonhando se algum dia teremos como comprar essas novidades bem caras, distantes dos comuns.

Eu, por exemplo: coitado do meu “Poiszé”, tão antigo que ainda é totalmente manual, analógico. Até para ver o velocímetro – e respeitar velocidades máximas – tenho de contar risquinhos. E quando o Waze fala “em duzentos metros vire à direita” tenho de calcular nos dedos olhando o odômetro. Ó, vida!

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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#ADEHOJE – CORRIDA DE F1 E LUTA LIVRE. POLÍTICA NACIONAL

#ADEHOJE – CORRIDA DE F1 E LUTA LIVRE. POLÍTICA NACIONAL

 

Só um minuto – Vejam vocês se não é para a gente se preocupar. Por mais otimistas, mais equilibrados que tentemos aparentar. Depois de se lançar à reeleição durante a Marcha para Jesus onde estava com aquela camiseta fálica que inventaram este ano – Bolsonaro agora reedita São Paulo X Rio no caso da Fórmula 1 a partir de 2021.

Foi dada a largada – queimando a pista – para a sucessão, e isso menos de seis meses depois da posse desse ser que nos desgoverna, a nova Rainha da Inglaterra. Não conhece João Doria, que mata sorrindo e vai adorar esse embate. Conheço bem. Fora isso, para completar o caldo, a dona Joice Hasselmann, também conhecida como Miss Piggy se lançou à Prefeitura de S. Paulo.

Adivinhe quem tem vontade de sair correndo, e não precisa nem atirar com arminha para dar a partida! Os brasileiros do bem.

CAMISETA FÁLICA

ARTIGO – Nas ruas, com fé, todos os corpos de Cristo. Por Marli Gonçalves

Ruas frias, quentes, religiosas, coloridas, para todos. Tem Marcha para Jesus, Parada do Orgulho Gay, procissões, e até torcidas uniformizadas. Têm fogueiras, quentão, danças caipiras. Quem põe mais gente na rua, se esse ano vai ser maior ou menor, quem vai, quem aparece, mobiliza daqui, dali, conta quantos juntos por metro quadrado. Essa semana vai ter muito povo nas ruas, rezando ou brincando, festejando ou protestando no mundo paralelo que corre junto à realidade, a parada dura. As pessoas estão com seus “corpus” nas ruas, e o espírito, santo.

RUAS

O povo caminha nas ruas. De alguma forma, por mais diferentes que pareçam, o objetivo comum sempre é conseguir. Conseguir viver, conquistar, ser feliz, agradecer, nem que para isso também precise protestar, mostrar força, e até escandalizar um pouco para ver se as coisas andam mais rápido.

Feriado em alguns lugares, só ponto facultativo em outros, dia para começar a enforcar a sexta-feira. Na quinta-feira, dia de Corpus Christi vamos saber de muita gente nas ruas, seja percorrendo avenidas na evangélica Marcha para Jesus, seja nos belos, coloridos e artísticos tapetes de serragem que adornarão os caminhos dos católicos e seus templos.

Nos pés, na sola, dentro de seus sapatos, os evangélicos levam escritos os seus pedidos na longa caminhada onde entoam seus cânticos, seguindo seus líderes. É a tradicional Marcha para Jesus. Os shows são todos de clamor, gênero gospel, sempre aquela palavra dirigida à fé, louvores e glorificações em uma adoração sem imagens.

Em tantos outros locais, nas mãos, os católicos carregam as velas acesas que simbolizam suas promessas, suas dívidas, seus desejos. A reza tenta chegar aos ouvidos daquele que não é visto, mas sentido e homenageado com adoração. A procissão de Corpus Christi lembra a caminhada do povo de Deus, peregrino, em busca da Terra Prometida. Os fiéis admiram e passam sobre os tapetes feitos durante a noite para serem admirados, trilhados e espalhados durante o dia. Quem sabe possam ser vistos por Deus, lá do céu. Por isso tão extensos, tão belos, e tão efêmeros.

LGBTNo domingo, a Avenida símbolo de São Paulo, a Avenida Paulista, tomada pela diversidade na Parada Gay, ou melhor, LGBTQIA+, todas as formas e letras de amor que valham a pena. A música é eletrônica, barulhenta, vem da dezenas de trios elétricos que desfilam, embalam a diversidade, a liberdade sexual, as conquistas e avanços. A caminhada é feita com dança, feliz, como em uma festa de Baco, embalada. O capricho das roupas, as fantasias, as transformações também de certa forma louvam a vida, a possibilidade de transformação da sociedade, a cultura da alegria. O arco-íris, suas sete cores, as bandeiras que tremulam e também pedem proteção. A divina e a da sociedade.

Eles vêm de todos os lugares, fazem alarido, têm todas as idades, formas, classes sociais, cores de pele, alguns trazem suas famílias, criam personagens, se equilibram em imensos saltos plataforma, sacodem suas perucas, piscam com cílios postiços, seios postiços, traseiros postiços, e o que mais puder ser postiço para desfilarem garbosos, estrelas máximas nesse dia do ano. Os homens, como mulheres; muitas mulheres, como homens. Lá, se é o que se quiser ser. Inclusive religioso, católico, evangélico, umbandista, que todos levam suas representações.

O Brasil, que bom, decididamente, aprendeu o caminho das ruas. Esperamos agora que todos caminhem juntos também para empurrar o país para a frente, e à frente de seu tempo, para o futuro melhor que nos observa, solene, ao longe.

Andar com fé eu vou que a fé não costuma falhar.


Marli Gonçalves, jornalista

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Brasil, inverno, 2019


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Fiz esse pequeno vídeo de uma parte que achei interessante, sobre o preconceito contra os evangélicos. Fala o líder da Renascer, Apóstolo Estevam

Fiz esse filmete sem muitos recursos, mas já é legal para vocês terem uma idéia de como é animada a coisa da Marcha para Jesus. E o que é mais impressionante, em um clima de paz, tranquilidade e alegria, difíceis de descrever.

Lembro-me que na do ano passado, conversando com um taxista ele me disse o quanto ele e os outros taxistas dali adoravam quando o evento na região da Zona Norte era a Marcha. Lembro-me de ele ter falado muito e em detalhes sobre o horror das festas de 1º de Maio, das Centrais, onde todo mundo bebe. E muitos usam faca.

Na Marcha hoje, era tudo verde e amarelo!