Artigo -Chove lá fora, e aqui. Por Marli Gonçalves

Chove lá fora, e chove de um tudo, muito além da água que inunda um Estado inteiro. Nossos olhos chovem incontroláveis vendo as cenas da tragédia no Sul. Mas chove também preconceito, tirania, violência, mentiras e incompreensão.

 

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Uma chuva para a qual não adianta abrir guarda-chuvas, porque não existe nenhum tão grande e forte que nos resguarde de tantos acontecimentos que, pasmos, assistimos nos últimos tempos molhados e escaldados pós-pandemia, aquela que acreditamos severamente que mudaria o mundo para melhor. Piorou. E parece que muito.

Guerras se multiplicam e permanecem, e os que as promovem mantêm seus ouvidos moucos a qualquer apelo de cessar fogo, acordos, tentativas de mediação de nações e organismos internacionais cada vez mais fracos. Vencem os senhores da guerra, os donos das armas.

Não são os alquimistas que estão voltando. São os moralistas e hipócritas haja visto a impressionante avalanche deles que, por exemplo, sucedeu o show de Madonna, inundando, sim, todas as redes sociais, e com comentários inacreditáveis em pleno 2024. Pior, os chatos foram quem botaram galochas para fazê-los, alguns muitos anônimos; outros, infelizmente, entre nossos próprios grupos e amigos, o que foi mais terrível constatar, apareceram mostrando a verdadeira cara. Há muito não lia tanta hipocrisia, moralismo barato, desconhecimento, maldade, absurdos e bobagens como nessa semana, ultrapassando qualquer limite. Nunca tinham visto, talvez, um espetáculo livre de amarras, curtido um rock, ido a um teatro, lido um texto forte de tantos autores que temos, e não é de hoje, odeiam a arte. Ah, também não fazem sexo; Oh! – mas o que é isto? Não têm prazer, nem admitem que exista, que há quem goste, que a diversidade abriu as portas, escancarou as janelas.

Até parece. Santos do pau muito oco. São os mesmos que alimentam a audiência absurda de sites e perfis pornô, e nem se fala mais no escurinho do cinema. Ficaram mais incomodados ainda porque o espetáculo passou também na tevê, além daquele um milhão e meio de pessoas registrado nas areias de Copacabana, e que tudo correu em paz, ao contrário do que eles previam e até apostavam contra. Aliás, eles também assistiram, alguns até pessoalmente, como a turma da extrema direita captada mexendo os pezinhos com a música e que depois correram para se explicar para seu grupo maldito. Um deles ousou dizer que foi ao show de Madonna porque ela é “amiga de Israel”.

Chove ignorância. Chove preconceito, e no caso também mais uma mostra do etarismo que condena as mulheres – Madonna, 65 anos, quase 66! Nem viram nada quando ela chegar aos 80 rebolando mais que Mick Jagger quase com 81, ambos leoninos da gema.

Chove, acima de tudo, negacionistas, uma enchente. Negacionistas, não só de mudanças climáticas, embora já claramente as estejamos vivendo. Negam tudo que não seja para eles. Gostariam que o mundo regredisse ao estágio que sonham ainda poderiam controlar, e que nos tiraria os direitos tão duramente conquistados. Se aproveitam inclusive da liberdade, que conquistamos, pela qual tantos morreram, para espalhar sem limites as mentiras, o ódio e a tirania, as malditas divisões que promovem.

Essa chuva de horror tem de parar, para evitar novas tragédias que nos enlameiem ainda mais enquanto sociedade civilizada.

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marli goMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

ARTIGO – Perigo, perigo. O XYZ da questão. Por Marli Gonçalves

“Perigo, perigo”, sairia dizendo o robozinho de Perdidos no Espaço, nervoso, se balançando agitado, correndo pelo mundo todo.  Alertas laranjas, de risco alto, nos céus. Se possível, alerta que deveria já estar apitando nos celulares das pessoas de bem do planeta.

perigo, perigo

Eles estão entre nós. Não, não são alienígenas, pelo menos a princípio, mas pessoas de carne e osso que estão se agrupando em todo o mundo num perigoso movimento de tomada de poder para a qual não medem esforços nem violentas formas de ação, entre elas, guerras sangrentas, bravatas, mentiras deslavadas, ódio, derrubada de líderes para a ascensão de seus ícones, ataques às conquistas e liberdades individuais. Não é necessário microscópio algum para avistá-los. São bem visíveis, até histriônicos, você já os está vendo em toda parte. Agem como se fossem legais, fazem de um tudo para que se saiba deles. Mas olhe bem, perceba o quão de estranho há em seus atos. Alguns já estão aí. Outros surgem do nada. Quando os percebemos já se desenvolveram e criaram tentáculos. Procriam rápido.

A lista é grande. O XYZ da questão é muito mais que este estranho Elon Musk, que agora sobrevoa o Brasil fazendo amigos, ou a cabeleira do Milei e do Trump. O bigodinho de um, a barba de outro coberto em trajes religiosos e armados até os dentes; esta família boba com ficha corrida daqui é só uma pontinha. Há outras se perenizando, o que talvez até explique a falta de reações adequadas e na hora devida. A coisa é internacional. Ocidente e Oriente. O cerco se fechando. O dinheiro, na frente. O moralismo, na rabeira. O poder como alvo.

Percebemos que não tem bonzinho nenhum, e tomara que antes que seja tarde demais como várias vezes dramaticamente ocorreu no século passado. Agora as armas são outras, e nos usam, somos parte delas na vida digital. Nela acrescentam robôs para alastrarem os seus esforços, exércitos invisíveis, que nada tem de bonitos, de engraçadinhos, muito menos inteligentes, embora artificiais – são humanos que os alimentam e guiam em máquinas.

Usam, principalmente, para sua expansão, as mentes jovens e ainda não formadas na vida, aproveitam sua inexperiência e desinformação da História. Apelam ainda aos mais velhos e rançosos que internamente por toda a vida não admitiram os avanços e agora imaginam que antes de morrer podem deixar o mundo no atraso que gostariam. Conseguem nos dividir em tudo que é tema que entre em discussão. Divididos, somos mais fracos, mais propensos à dominação.

Apelam para o que entendem como liberdade, e uma tal democracia deles, e muito longe do que é mesmo, democracia esta que em vários lugares e situações está atacada perigosamente. Na primeira oportunidade que conseguem, são os primeiros a cancelá-la: a liberdade de expressão que defendem, não se enganem, é só a deles, desses grupos que se juntam como vírus ou bactérias, e que mantidas as condições, criam a epidemia sem controle que nos afetará – e às próximas gerações – severamente.

Firmam-se no momento à direita – e à esquerda – em duelos, como se combates existissem, sendo que ambos estão no mesmo caminho onde, como numa balança, se alternam. É preciso denunciar todas as formações. O alerta de perigo é mais sério do que as bobagens locais que alimentam os comentaristas no dia a dia. Esqueça a pendenga, os peixes pequenos diante da organização que se avoluma aproveitando a nossa fragilidade e a pequeneza. São ousados, querem ser extremos: usam Deus, as religiões, suas canetas e fortunas, e até o espaço sideral, mesmo que entre eles há ainda quem acredite que a Terra seja plana, e como se fosse a pista do aeroporto daqui partam foguetes para colonizar o espaço. De um lado, o Estado é tudo; de outro, não é nada.

Não podemos nos distrair. Eles estão entre nós, muito próximos, em busca de cooptar mais corações, mentes e até almas, como se vê na violência crescente, espalhada, cruel. É realidade. Não é filme ou série. Não é caso para um herói ou salvador das pátrias.

As pátrias somos nós, os terrenos que pisamos com os nossos pés nesses tempos duros.

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marli goMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

ARTIGO – Migalhas que catamos. Migalhas que perdemos. Por Marli Gonçalves

Migalhas que catamos, igual à história de João e Maria, que espalhavam tecos, migalhas de pão, para marcar os caminhos e não se perderem, mas elas foram (ou estão sendo) comidas. Assim, está sendo, infelizmente, com as mulheres, sempre na luta e, ainda, agora, lidando com os absurdos retrocessos em suas bravas conquistas. Mas não são só as mulheres.

Migalhas João e Maria

Todo ano, a mesma coisa. E o ano que vem, parece, tem mais. O histórico 8 de Março, Dia Internacional da Mulher – veja bem, dia marcado pela luta secular, não é mês, nem semana, é dia – marca uma avalanche de notícias, uma atenção especial; mas os dados que surgem são ainda estarrecedores em nosso país. Continuamos em filas por empregos, saúde, reconhecimento de jornadas, salários iguais e segurança, entre tantos outros temas que nos são tão caros.

2023 bateu o recorde de feminicídios no Brasil, 1.463 mortes. Fale esse número bem alto, para ouvir bem tal absurdo. Uma alta de 1,6% em relação ao ano anterior, o maior da série histórica. Um feminicídio, quando o assassinato é motivado apenas pelo fato de ser mulher, a cada 6 horas, metade deles por armas de fogo, a maior parte de mulheres negras e pobres, a maioria dentro de suas casas, vitimadas por companheiros e ex-companheiros. Os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública são estarrecedores.

Mulheres de todo o mundo vêm sendo massacradas em pleno Século XXI, massacre ampliado com as guerras, onde elas e suas crianças têm sido as maiores vítimas, tudo diante de nossos olhos. Mas precisamos tratar do que ocorre aqui, nos nossos caminhos, nas migalhas comidas pelos retrocessos muitas vezes antes que possamos desfrutar.

Ouvi com atenção o – desculpe, fraco – discurso feito em horário nobre pela ministra Cida Gonçalves, Ministra das Mulheres do Brasil, nome pomposo. Fiquei surpresa, sim, mas com o número de vezes que a fala grifou o nome do presidente Lula, como se este fosse o Salvador de nossos mais íntimos desejos. Cinco vezes, se não errei a conta. Mais um pacto anunciado, o de Prevenção aos Feminicídios. E mais medidas protetivas, dessas muitas que na Hora H, conforme os números claramente mostram, não têm funcionado. As armas de fogo amplamente difundidas especialmente no governo anterior estão aí, e matando a todos nós brasileiros, homens e mulheres, espalhadas, nas ruas, trazendo o horror. Dependendo do Estado o efetivo policial anda bastante ocupado em matar antes de perguntar, e mais mulheres e o sofrimento de ver seus filhos sendo levados, uma espécie de morte em vida para mães, e que não entra nos registros.

Como mulher e feminista, lido com esse tema há praticamente 50 anos, e me surpreendo ao ver que em praticamente todos os temas estamos na mesma e cansativa luta, embora estejamos conseguindo ampliar os espaços no mercado de trabalho e sermos mais notadas, inclusive nas reinvindicações. Só para lembrar o óbvio: somos mais da metade da população; ninguém, decididamente, está nos fazendo favor algum.

Há, contudo, e é preciso que atentemos urgentemente a isto, uma onda alta, muito perigosa para todos, homens e mulheres, já visível, de conservadorismo reacionário vindo das ervas daninhas que se proliferam ladinas em todos os cantos, nos parlamentos, igrejas, no poder, adentrando escolas e instituições, muitas vezes aproveitando a distração dos pescoços curvados em celulares ouvindo e crendo em líderes de barro.

São tapas em nossos rostos. Censura de livros em alguns Estados, como o que fazem de “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, tratando do racismo. Um moleque sem noção, deputado federal, Nikolas Ferreira, à frente da Comissão de Educação, da qual não tem a menor ideia. A mais importante Comissão, de Constituição e Justiça, presidida por uma inexpressiva deputada, Caroline de Toni. Escolhidos pela atual e triste oposição que se traveste de verde e amarelo. Em São Paulo, a Assembleia discute, acreditem, a implementação do modelo de Escola Cívico-Militar, e em áreas de maior vulnerabilidade social. Disciplina baseada obviamente em valores militares, que já vivemos para ver e sentir.

Apenas alguns itens de uma lista macabra. Agora, também em verde e amarelo, o lançamento de uma linha de perfumes Bolsonaro, além das botinas, canecas e chinelos com seu nome.  Estão brincando. E nós a cada dia ficando sem lado no meio de todo esse bombardeio que já empesteia o ar.

É preciso gritar. E alto. Rápido. Antes que nos percamos definitivamente em nossos caminhos e acabemos encurralados em jaulas onde nos engordarão tal como na história de João e Maria. Nós, as Marias e os Joões, e nos querem como alimentos. Isso não é uma história infantil. O final, mantido assim, não é feliz. E já “Era uma vez”.

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marli goMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

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ARTIGO – Carta às 77.649.568 eleitoras brasileiras. Por Marli Gonçalves

Mais precisamente às 77 milhões, 649 mil, 569 eleitoras, contando comigo, que estou e estarei bastante atenta às questões relacionadas às mulheres e a outras que poderemos influenciar muito com o nosso voto, agora em 2020, e em todas as eleições para as quais as brasileiras forem chamadas a opinar; e somos maioria. O voto é uma arma, pacífica. Precisamos usá-la. Por nós, mulheres, pelas nossas famílias, por todos os brasileiros, por um futuro mais digno.

ELEITORAS

Prezadas,

Vejam que estamos em 2020 e ainda não somos respeitadas e nem representadas na medida em que somos a maioria da população brasileira. Nem nos cargos legislativos, nem em outros, incluindo Executivo, Judiciário e, ainda, nem na sociedade, nem dentro de empresas, ou no comando, nem no respeito. A população brasileira é composta por 48,2% de homens e 51,8% de mulheres. (Dados IBGE/ PNAD Contínua/2019). Em termos eleitorais, somos 52,49% do total; os homens, 47,48% do total. (TSE/2020). Podemos ser a decisão, pela melhoria para todos.

Acredita? Por aqui, por exemplo, as mulheres compõem apenas 10,5% do conjunto de deputados federais. E de um total de 192 países, o Brasil ocupa a 152ª posição no ranking de representatividade feminina na Câmara dos Deputados, ficando até atrás de países como o Senegal, Etiópia e Equador.

A eleição deste ano, para prefeitos e vereadores, é aquela que está mais perto de nós, de nossa ação. É a que cuida de nossa região, onde vivemos e onde passamos nossas vidas, onde está a nossa casa, as mesmas casas onde um número absurdo de mulheres continuam sendo assassinadas por seus companheiros e ex-companheiros, e onde a proteção policial e as promessas de proteção ou garantias não têm passado em geral de apenas promessas. Você está vendo isso, não? Sentindo na própria pele, talvez?

São Paulo, por exemplo, registrou 87 mortes por feminicídio apenas no primeiro semestre de 2020. O maior número de casos desde a criação, em 2015, da lei que especifica o crime – é o homicídio praticado contra a mulher em decorrência única e exclusiva do fato da vítima ser mulher (misoginia e menosprezo pela condição feminina ou discriminação de gênero, fatos que também podem envolver violência sexual), ou em decorrência de violência doméstica. No Brasil todo dados preliminares mostram aumento de mais de 22% nesse crime, em relação ao ano passado, que já era absurdo, e apenas contando os primeiros meses do ano. Uma situação ainda claramente mais agravada pela pandemia, quarentena e necessidade de isolamento social, crise econômica, etc.

Esta é apenas uma questão, mais específica. Temos todo um país a resolver, atrasado com relação a tudo, Educação, Saúde, Saneamento, aprimoramento da cidadania. Não é só uma questão de cotas – temos 30% de cotas nas candidaturas, mas sempre manipuladas, usadas para obtenção do Fundo Partidário, com nomes que muitas vezes, usadas como laranjas, nem as próprias mulheres sabem que as colocaram para votação nas chapas partidárias. Anime-se inclusive a se candidatar, vamos!

Junte-se a todas as mulheres do mundo!

Meu apelo é para a consciência; não é reserva de mercado, nem obrigação de votar apenas em mulheres, mas que o façam, participem, votem, e em pessoas sérias, que estejam comprometidas verdadeiramente com a sociedade em geral, sejam de que gênero ou raça forem, idade ou classe social. Será esse comportamento que levará à melhoria das condições, não só na política. Nos fazer ouvidas.

De qualquer forma são as mulheres que sempre têm a maior noção do que todos enfrentamos, fatos tão agravados este ano e que terão ainda ampla repercussão pelos próximos tempos: desemprego, falta de assistência, necessidades especiais e de direito reprodutivo, segurança – as mulheres são sempre as primeiras vítimas. E é cada vez maior o número de nós chefes de família, como principais responsáveis pelo sustento.

Chega de nos contentarmos com migalhas, segundo plano, pequenas conquistas que chegam de forma tão lenta, e que nos são devidas há décadas.

Animated%20Gif%20Women%20(63)Peço encarecidamente que se informem, não acreditem em notícias falsas, pensem com suas próprias cabeças, sejam independentes, respeitem-se entre si, estendam a mão a outras mulheres ampliando nossa ação, explicando como se dá a igualdade de direitos, e quais são esses direitos, que as mulheres, merecidamente, tem até em maior número por conta de sua fisiologia. Estenda a mão e atenda os gritos de socorro ao seu redor.

Vamos parar de achar normal o que não é – e nesse momento nada está normal; estamos vivendo num país perigosamente flertando com o retrocesso em vários campos, e onde até nossas acanhadas conquistas estão em risco, desmerecidas diariamente que vêm sendo.

Chamo você para o nosso encontro mais importante este ano: domingo, 15 de novembro, primeiro turno; e domingo, 29 de novembro, segundo turno, onde houver. Se arrume toda, chama a família, aproveite para arejar as ideias. Pensa bem em quem vai acreditar. Ah, e use máscara, que até lá ainda estaremos em perigo.

Todas nós contamos especialmente com todas nós.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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ARTIGO – Banhos. Por Marli Gonçalves

 

Mesmo que não exatamente de água tomamos banhos todos os dias, sejam de espirros de água fria em nossos desejos, jatos quentes das decisões que tomam por nós, ou que por nós precisam ser tomadas. Duchas geladas em muitas esperanças que acabam varridas. Mas também tem os bons banhos, e os que podemos preparar para esquecer tudo isso

Nada como um bom banho para esfriar a cabeça. Os últimos dias têm sido verdadeiramente horríveis de acompanhar e digo isso olhando para todo o planeta e para o microcosmo mais próximo; nosso país, nosso Estado, nossa cidade, meu bairro, minha vida, e isso não é slogan governamental da área de habitação. Tudo isso esquenta a cabeça, estressa, dá fios brancos nos cabelos, angústias. Pela profissão, no meu caso, não posso desligar os comandos, me abster de saber, acompanhar e, claro, me preocupar muito com a ignorância que avança de forma tão célere entre aqueles que apenas ouvem o galo cantar por aí e acreditam que já é amanhecer; e esse galo ou mente total, ou cacareja só pedaços das histórias que alardeia, seja de direita, esquerda, esteja no telhado ou em cima do muro. Temo sempre é a ameaça do anoitecer, se é que me compreendem.

E em um desses dias de apreensão tive necessidade de me esquecer mais um tempo debaixo do chuveiro, como se aquele ambiente isolado fosse o único que pudesse me resguardar de todo o resto. Nada que prendesse, nua, sem censura. Só o barulho da água, não querendo sair dali nunca mais, me peguei brincando de desenhar no embaçado do box, desejando apenas pensar que trocaria aquele momento por outro, mas que seria muito parecido. No caso, dentro de uma banheira, objeto de desejo sempre. Ai, meu sais! Olhos os potes e penso que não há como usá-los em chuveiros. Continuo desenhando no vidro do box, corações imaginários que ali abrem janelas para o mundo externo.

Banhos, quantas formas, sorte de quem tem um canto, um tempo, uma maneira para ele, seja uma vez ao dia, sejam os especiais. De balde, bacia, rio, lago, cachoeira, riacho, mar, piscina, frio, quente, morno. De gato.  Ainda tem o de assento…

banhando-seDe Lua, de Sol, ouro, Sete Ervas, rosas, lavanda, alfazema, de cheiro. Sal grosso do pescoço para baixo. Turco, vapor bem quente, seguido do choque gelado, ou o grego, com aromas de chocolate e café. O japonês, do ofurô, que acalenta sonhos.

Os banhos podem ter muitos sentidos, além de limpeza corporal. Individuais ou coletivos. Pode purificar, como nas religiões, algumas com batismo feito com o mergulho do batismo nos braços de um pastor, a criança batizada na pia da igreja, ou aquele bem louco, junto a outras milhares de pessoas como nos rios da Índia. Com roupa, sem roupa, pouca roupa. Mas sempre pode ser muito bom, por isso, inclusive, quem já ficou internado em hospitais sabe que dele ali não se foge pela manhã. Banho de leito, como chamam as enfermeiras que em geral atacam, sem dó, em duplas, logo após o café da manhã.

Tá bom. Cozinhei vocês em banho-maria até agora. Mas foi para suavizar.

Está tudo muito chato. É que é tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, que quando a gente acaba de formar opinião sobre uma, é atropelado por alguma outra informação, notícia, desastre, tragédia, ameaça. Desairosas, cabulosas, cheias de barbaridades, como as falas, ideias e ações propostas pelo presidente nesse governo sinuoso, destrambelhado, e ainda tem os que agem em nome do pai. Ou teimosas, como as de uma estranha oposição que, dirigindo-se apenas aos seus iguais não consegue conquistas, adesões, novos líderes. Vindas da Justiça que brinca com os homens em seus vaivéns.

Só abrindo a torneira. E deixando tudo fluir pelo ralo se, repito, me entendem. E a vontade de mandar um monte de gente ir tomar banho, uma delicada forma de sai-pra-lá, que eu vou passar?banho

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ARTIGO – Mulher. Simples assim. Por Marli Gonçalves

3d_girl_woman_bathing_suite_bikiniSim. Com dia e tudo. Mas vejam bem, vale lembrar… Falta muito ainda para que sejamos realmente notadas elderly2

Somos de todos os tipos, cores e tamanhos. É. Também temos tamanhos, aqui e ali, sabe? E formas. Também somos até o arco-íris inteiro, quando mulheres amam mulheres. Com filhos, sem filhos; amas, quando produzimos e damos o alimento da vida do nosso próprio corpo, leite branco tanto quanto a criação inicial. Coloridas na forma, sempre de alguma forma: na maquiagem, no batonzinho, no sapato bonito, no brinco que adorna, nas unhas que podem arranhar profundamente. Na bolsa que guarda coisas que nem Deus acredita.pink_lady

Mulheres amadas, mesmo que por minutos, e mesmo que estes minutos tenham sido pagos, que não tem quem finja melhor que mulher. Somos mulheres amantes, que esperam seus amores o tempo que for, tecendo ou desfazendo tudo a cada dia, principalmente as lembranças das mentiras ao pé do ouvido que naquela hora foram palavras mágicas de abrir flor. De abrir portas para aceitar desculpas, que logo se repetirão, como sempre, junto com as mentiras.

candystriper_pushing_pregnant_woman_hg_clrAmorosas quase sempre. Diferentes, mesmo quando indiferentes à nossa condição mais do que especial, que nem todas percebem ainda; teimam. Somos mulheres quando olhamos, pensamos, escrevemos, pintamos. Ou andamos, na ginga que quebra pescoços, provoca assobios.

Somos calmas e também muito nervosas – eles acham isso. Acham que somos implicantes, chatas, ciumentas, vaidosas. E também acham que queremos o lugar deles, quando apenas queremos o nosso.3d_animasi_woman_bikini_animat

Somos passionais, guerreiras. Mas também frias, calculistas, como todos os humanos podem ser; ou apáticas, aguentando em silêncio o que homem algum suportaria. Podemos ser bem loucas, atazanando de tal forma que enlouquecemos outros. E outras. Que briga de mulher com mulher, ódio de mulher para mulher, vamos e venhamos, chega a ser mortal.0c0ae651aa1319951277428cad2fc1ea

2ed79qhPorque ainda nos enfrentamos, tanto, umas às outras? Tantas vezes desnecessariamente porque uma é mais magra, ou loira, ou feia, ou mais bonita, por ciúmes, por homens que não valem a pena.

Para chegar aqui, em algumas vitórias, sim, tivemos de nos unir. Até para morrer, como juntas, queimadas, morreram as tecelãs que simbolizam nossa luta. Para marchar, como agora marcham mulheres de branco, na Venezuela, ou apenas se juntam, chorando, em praças deste mundão todo, clamando por Justiça e dignidade. Com a cara lavada, com a cabeça coberta, com os seios à mostra.

women4Sim, mulher com dia e tudo. Inclusive de menstruar, dias de dar, em tabelinhas, inclusive aquelas do que comer ou não comer. Mas veja bem o quanto falta. Por exemplo, ainda sermos só nós a nos cuidar, não descuidar.

Estamos em casa, lavando, passando, secando, torcendo. Nas ruas, tentando, trabalhando, algumas em lugares que nem nos nossos melhores sonhos passados esperávamos. Lugares que até nem queríamos, mas em que precisamos estar – e todo mundo aplaude como também somos capazes, fortes, iguais, etc. e etc. Somos milhões, metades, um pouco mais, um pouco menos. Problema é que – coisa que não entendo – muitas, quando chegam lá viram homens, com seus cacoetes todos, como se endurecer fosse poder, sem trocadilhos.walking-woman

Buzzed_womanAh que nestes dias vamos ouvir muito falar de nós mesmas, até o limite de nossa estreita paciência. Vão nos tentar vender de todas as formas, vender para a gente, vender a gente. Vão querer até que nós sejamos presenteadas, coisa que não é bem apropriada para um dia que deveria ser igual a todos os dias, sendo respeitadas.

Principalmente, digo, gostaria de realmente estar sendo mais bem representada aqui neste meu país tão varonil.

São Paulo, marco de 8 de Março, 2014
cartoon-woman-walkingMarli Gonçalves é jornalista Foi no primeiro 8 de março oficial, em 1975, que descobri como era importante ser mulher. Desde então estou nessa luta. Venha você também. Não fique discutindo a vírgula que não temos, ou se isso tudo é feminista ou feminino. É mulher, ponto.

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