ARTIGO – Perigo, perigo. O XYZ da questão. Por Marli Gonçalves

“Perigo, perigo”, sairia dizendo o robozinho de Perdidos no Espaço, nervoso, se balançando agitado, correndo pelo mundo todo.  Alertas laranjas, de risco alto, nos céus. Se possível, alerta que deveria já estar apitando nos celulares das pessoas de bem do planeta.

perigo, perigo

Eles estão entre nós. Não, não são alienígenas, pelo menos a princípio, mas pessoas de carne e osso que estão se agrupando em todo o mundo num perigoso movimento de tomada de poder para a qual não medem esforços nem violentas formas de ação, entre elas, guerras sangrentas, bravatas, mentiras deslavadas, ódio, derrubada de líderes para a ascensão de seus ícones, ataques às conquistas e liberdades individuais. Não é necessário microscópio algum para avistá-los. São bem visíveis, até histriônicos, você já os está vendo em toda parte. Agem como se fossem legais, fazem de um tudo para que se saiba deles. Mas olhe bem, perceba o quão de estranho há em seus atos. Alguns já estão aí. Outros surgem do nada. Quando os percebemos já se desenvolveram e criaram tentáculos. Procriam rápido.

A lista é grande. O XYZ da questão é muito mais que este estranho Elon Musk, que agora sobrevoa o Brasil fazendo amigos, ou a cabeleira do Milei e do Trump. O bigodinho de um, a barba de outro coberto em trajes religiosos e armados até os dentes; esta família boba com ficha corrida daqui é só uma pontinha. Há outras se perenizando, o que talvez até explique a falta de reações adequadas e na hora devida. A coisa é internacional. Ocidente e Oriente. O cerco se fechando. O dinheiro, na frente. O moralismo, na rabeira. O poder como alvo.

Percebemos que não tem bonzinho nenhum, e tomara que antes que seja tarde demais como várias vezes dramaticamente ocorreu no século passado. Agora as armas são outras, e nos usam, somos parte delas na vida digital. Nela acrescentam robôs para alastrarem os seus esforços, exércitos invisíveis, que nada tem de bonitos, de engraçadinhos, muito menos inteligentes, embora artificiais – são humanos que os alimentam e guiam em máquinas.

Usam, principalmente, para sua expansão, as mentes jovens e ainda não formadas na vida, aproveitam sua inexperiência e desinformação da História. Apelam ainda aos mais velhos e rançosos que internamente por toda a vida não admitiram os avanços e agora imaginam que antes de morrer podem deixar o mundo no atraso que gostariam. Conseguem nos dividir em tudo que é tema que entre em discussão. Divididos, somos mais fracos, mais propensos à dominação.

Apelam para o que entendem como liberdade, e uma tal democracia deles, e muito longe do que é mesmo, democracia esta que em vários lugares e situações está atacada perigosamente. Na primeira oportunidade que conseguem, são os primeiros a cancelá-la: a liberdade de expressão que defendem, não se enganem, é só a deles, desses grupos que se juntam como vírus ou bactérias, e que mantidas as condições, criam a epidemia sem controle que nos afetará – e às próximas gerações – severamente.

Firmam-se no momento à direita – e à esquerda – em duelos, como se combates existissem, sendo que ambos estão no mesmo caminho onde, como numa balança, se alternam. É preciso denunciar todas as formações. O alerta de perigo é mais sério do que as bobagens locais que alimentam os comentaristas no dia a dia. Esqueça a pendenga, os peixes pequenos diante da organização que se avoluma aproveitando a nossa fragilidade e a pequeneza. São ousados, querem ser extremos: usam Deus, as religiões, suas canetas e fortunas, e até o espaço sideral, mesmo que entre eles há ainda quem acredite que a Terra seja plana, e como se fosse a pista do aeroporto daqui partam foguetes para colonizar o espaço. De um lado, o Estado é tudo; de outro, não é nada.

Não podemos nos distrair. Eles estão entre nós, muito próximos, em busca de cooptar mais corações, mentes e até almas, como se vê na violência crescente, espalhada, cruel. É realidade. Não é filme ou série. Não é caso para um herói ou salvador das pátrias.

As pátrias somos nós, os terrenos que pisamos com os nossos pés nesses tempos duros.

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marli goMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

ARTIGO – Que gracinha…Por Marli Gonçalves

Que gracinha… creio, diria muito, irônica, repetiria muitas e muitas vezes e a toda hora a nossa inesquecível Hebe Camargo ao saber de cada uma dessas coisinhas que acontecem por aqui e que querem que aceitemos como naturais e certas. Hebe não está mais entre nós com aquele seu jeitinho que chegava a ser engraçado de falar engraçado coisas sérias. Mas nós estamos. Então, “que gracinha!”

gracinha

Foram me chamar, eu estou aqui, o que que há?

“Que gracinha”, não? Ela diz que vai apoiar a reeleição do atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, mas jura de pés juntos que não sobe nem chega perto do palanque onde estiver o ex-presidente Jair Bolsonaro, por acaso, vejam só, um dos maiores apoiadores de Nunes, que agora segue cercado de bolsonaristas, e onde quer que este vá, indômito, desafiando até a Justiça, como fez recentemente para entregar à Dona Michelle Bolsonaro um título de Cidadã Paulistana (!) usando (e conspurcando) a estrutura do Theatro Municipal de São Paulo. E tudo fica por isso mesmo.

Quem é essa gracinha? A atual ministra do MDB, Simone Tebet, do Planejamento e Orçamento do Brasil que há meses faz cara de boa gente, e ocupa um importante cargo no Governo Lula 3, obviamente o maior adversário disso tudo. A ponto de Lula ter trançado uns pauzinhos para trazer de volta ao PT a Marta Suplicy, de forma que essa possa ser candidata a vice na chapa de Guilherme Boulos, do PSOL.

Tebet acha mesmo que convence? A quem? Que ela olhe bem, porque no tal palanque vai estar cheio de gente de amarelinho recitando as barbaridades de costume. E vai encontrar com outro “gracinha”, Tarcísio de Freitas, o Governador “tô nem aí”, que também se esmera faz tempo andando da esquerda pra direita. O palco completo.

Que gracinha, cada fala estouvada do presidente Lula, outro que anda numa corda bamba de dar dó para parecer neutro: hora sai na defesa do Maduro, o ditador na Venezuela; hora faz alguma criticazinha sem mover uma palha. Manda beijos e abraços para Putin, e se esquiva como pode de perguntas sobre essas duvidosas “democracias”. Abaixo de seus pés deixa aliados fervendo em caldeirões, estimulando brigas e fofocas para poder mudar aqui e ali a equipe, e tentar ver se melhora um tiquinho a sua aprovação pública que não anda lá essas coisas.

A gente vai escutando. Aliás, escutando só, não. Que a turba faz é barulho nas redes sociais, onde quer que a gente tente se informar. Cada um puxa a corda para um lado, como se houvessem, repito, só dois lados e uma corda. A nova mania é querer obrigar.

Exemplo? O filhote mais novo de Lula, que também há anos vive envolto em polêmicas, agora foi denunciado por violência doméstica contra a sua companheira. Ruim. Péssimo. Mas os bolsonaristas soltam fogos de alegria, acham lindo ver o circo pegar fogo, como se esse horror justificasse os conhecidos horrores do pai e dos Filhos do Capitão, 01, 02, 03,04.

O que me irritou mesmo foi a provocação “nhem nhem nhem”: onde estão as feministas agora?”

Oiê! Estamos aqui. Bem atentas.

Foram nos chamar, estamos aqui, e em defesa de todas as mulheres que forem vítimas de violência, de ataques, sejam elas quem forem. O feminismo é um movimento histórico, importante, sério, de luta e libertação, e acima dessas picuinhas que, em geral, claro, são criadas por homens. Você pode ser feminista, e deveria, em todas as instituições a qual pertencer, sociais, políticas ou religiosas. Não se calar é a palavra de ordem.

Dito isso, aliás, o caso do filhote de Lula está sendo tratado na Justiça, que já concedeu medidas protetivas à ex-mulher e outras ordens. Leiam os jornais sérios. Está tudo lá, e se quiser um pouco de fofoca, tem também, nos portais, entrevista da vítima contando detalhes da barafunda.

Para terminar, mais um “que gracinha”! Um caso tumultuado. O riquinho motorista da Porsche assassina, que jura que não tinha bebido antes de pegar a direção e se envolver no acidente que matou um motorista de aplicativo e feriu gravemente o seu próprio amigo também. Tirado do local pela mamãe, só apareceu na delegacia com cara de nada dias depois. E dias depois, todos os dias, aparecem testemunhas contando dos bons drinques que ele teria ingerido. Tudo muito mal explicado. Enganam quem? Sempre para confundir, essas gracinhas.

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marli goMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.
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ARTIGO – O país de uma nota só. Por Marli Gonçalves

Chaaata! Uma nota só, e que não é de samba bom, vira mania para qualquer assunto e é uma nota perturbadora, porque seja qual for o assunto parece sempre se obrigar a dividir em apenas dois tons de opinião, como se muitos outros tons não houvessem, ou não precisassem ser considerados para o melhor entendimento e posicionamento em qualquer questão. Fora que outros assuntos importantes acabam negligenciados.

A tecla fica até gasta. O debate, cada vez mais pobre. Gente atarracada numa posição, grudada mesmo, moucos a qualquer contra argumentação. Moucos, mas estridentes, porque não param sequer um instante de repisar, enviar “gracinhas”, ataques, informações falsas, memes de mau gosto e etceteras esculhambando quem ouse mudar o ritmo e tentar trazer algum fato ou argumentação que navegue entre o sim e o não. Recordei muito de uma antiga propaganda, creio que de tintas, se a memória não falha: O que seria do vermelho se todos gostassem do azul?

O indefensável. Não poderia haver exemplo maior do que alguns fatos desses dias, como a desastrada declaração de Lula, que juntou a palavra Holocausto e sua triste memória ao horror da guerra que se desenvolve mortal e cruel no Oriente Médio em pleno 2024, criando uma polêmica que a última coisa que conseguiu foi buscar a paz ou solução, desviando a atenção, piorando as coisas, e sendo utilizada para aumentar o barulho e ainda mais a divisão. Ou, também, como a inócua discussão ainda tentando absolver o abominável e fracassado – além de cheio de provas – plano de golpe perpetrado pelo grupo que, travestido de verde e amarelo, tenta reescrever a palavra patriota, sempre com a tinta do ódio e da divisão que assistimos nos últimos anos. E, pior, muito pior, agora envolvendo o delicado aspecto da religião. Tudo isso para aumentar o grau de fervura que querem levar para as ruas.

Assim, fica difícil expressar a falta de cuidado das declarações do atual presidente, para quem o considera intocável. Virou guerra também. Criticar muitas das medidas tomadas monocraticamente pelo Xandão, o xerife. Enumerar a lista telefônica de barbaridades cometidas durante o Governo Bolsonaro, às quais se soma agora a execrável caminhada pró-golpe que ainda tentam defender, mas que quem viveu o negro período da ditadura militar ainda mostra no corpo e mente as suas cicatrizes.

Outro dia precisei pedir, com muito cuidado, mãozinhas juntas, a um velho jornalista e amigo descambado que, por favor,  não mais me enviasse vídeozinhos ridículos – a gota d´água foi um sobre dois otários segurando uma faixa pedindo o impeachment de Lula em cima de um viaduto – ou mensagens quilométricas de como os militares consertariam o país. A resposta foi que, como jornalista, eu seria obrigada a ver, como se nas quase 18 horas diárias de trabalho nas quais passo na ativa diante do mundo já não fosse obrigada não só a ver, ignorar ou mesmo responder a coisas até piores que parecem mostrar o país indo para um brejo do qual demoraremos a tirar o pé. Chegam por todos os lados: e-mails, redes, imagens. E até no noticiário oficial, diário. Atrapalha o serviço de uma forma indescritível.

O país de uma nota só está de tal forma cansativo que, ao mesmo tempo, tenho conhecido muitas pessoas que fogem de tudo isso, como se diz, como o diabo foge da cruz, e se alienam em seus sins ou nãos, sem qualquer vontade ou capacidade de rever a posição, que acaba cristalizada, como assistimos.

Pior é a dificuldade que tudo isso traz exatamente quando queremos mudar de assunto, uma vez que tantos estão na lista de espera. Quase impossível. A verdade é cada vez mais alcançamos menos, falamos mais para nossos próprios bandos na refeição feita com uma só panela. Na mistura, o tempero vem sendo complexo: misoginia, preconceitos de todo o tipo, individualismo, verborragia, e, por fim, a liberação de aspectos que jamais imaginávamos encontrar em muitos dos que nos cercam.

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marli goMARLI GONÇALVES Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

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ARTIGO – Vai-Vai. Quem vai? Quem não vai? Por Marli Gonçalves

Vaivai, vai, vainão vou… Mais uma coisa bem chata para acompanhar esses próximos dias, como se ainda faltasse programação, além de tictacs, toctocs e a captura de dois fugitivos lá no Rio Grande do Norte: a listinha de confirmações, os convidados para o palco da festinha dominical temporã e sem noção programada para causar tumulto na Avenida Paulista daqui a alguns dias. Quem vai ter coragem de mostrar a carinha?

vai vai, quem vai

Não que ainda seja necessário, haja dúvidas, porque a cada dia estão mais claras e comprovadas quais foram as intenções, os participantes e simpatizantes da tentativa de golpe e perpetuação no poder do grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro. O que causou as balbúrdias e o vilipêndio dos símbolos nacionais, os mesmos que novamente querem que sejam usados como uniforme de identificação. Será a tentativa de defesa do indefensável. Mais uma aposta na divisão do país que há mais de um ano tenta se reencontrar em paz novamente. Mas está difícil.

Repito que estamos em busca do tempo perdido, sem a poesia de Proust. As ervas daninhas continuaram a crescer, e ao que parece cada vez de forma mais desordenada de todos os lados.  Redes sociais agitadas, robôs em ação espalhando fake news e discursos para confundir aqueles que não sabem de todas as coisas da política.

Qual desfile veremos na avenida? Que outras cores? Do outro lado, torcidas organizadas de vários times garantem presença no mesmo dia e hora, em defesa da democracia atacada. Coisa boa daí não sai.

Enquanto isso o homem que virou xerife, há de ser dito, dá ordens também estranhas, ultrapassando os limites jurídicos do poder que vem concentrando em suas mãos e criando, assim, mais uma divisão. Distribui sentenças de mais de década a uns coitados usados pelos poderosos como linha de frente da destruição de 8 de janeiro, enquanto os mandantes e influenciadores continuam por aí atrás, inclusive, de angariar mais incautos que se rebelem por eles. Tudo fica mantido: o que posa de coitado para se manter em destaque. O que se destaca para continuar impune. Os que aparecem como salvadores perdendo as oportunidades com o tempo correndo, quando tudo poderia já estar caminhando melhor, incluindo aqui as falas e atos do atual presidente.

Vai-Vai é nome de escola de samba, inclusive a que este ano trouxe uma ala infernal que irritou a polícia ao retratá-la violenta no que é quando empunha escudos. E a questão diariamente até lá será: quem vai, quem não vai? Como se comportará a plateia de mais esse show de horror?

Mais dias ainda de o Brasil acompanhar a captura dos dois fugitivos da prisão de segurança máxima em Mossoró, RN. Não podia acontecer, mas aconteceu. Parece que esqueceram que preso – em qualquer lugar que seja –  só pensa em fugir, maquinando ou aproveitando qualquer chance ou oportunidade, e no caso parece que algumas ajudaram – inclusive a inépcia da segurança cheia de buracos do local, apenas agora identificada, embora realmente seja mesmo estranho segurança máxima sem muros, só com telas. Se capturados, ouviremos desculpas e requintadas explicações.

Temos um arrastado ano eleitoral pela frente, onde qualquer detalhe será usado para se jogar no tabuleiro.

Pior é não faltarem detalhes, porque de sobra há tempo perdido em todos os setores. Enfrentamos uma epidemia de dengue, sem vacina para todos; vacina, entre outras, contra Covid, ainda demonizada pela ignorância que não se satisfez com as milhares de mortes, o que contribui para que a doença ainda esteja aterrorizando a todos.

O país do Carnaval busca enredos cada dia mais difíceis de serem compreendidos, e o samba com certeza vai desafinar. Lembro bem – e a tempo – de um trecho de “O Canto de Ossanha”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes:

“… O homem que diz dou (não dá)/ Porque quem dá mesmo (não diz)/  O homem que diz vou (não vai)/ Porque quando foi Já não quis/ O homem que diz sou (não é)/ Porque quem é mesmo é (não sou)/ O homem que diz ‘tô (não ‘tá)/ Porque ninguém ‘tá” Quando quer/ Coitado do homem que cai/  No canto de Ossanha traidor…

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marliMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

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ARTIGO – Não existe Democracia com facções. Por Marli Gonçalves

Não há democracia quando chegamos a um ponto em que continuamos nessa toada, misturando facções, chacinas, supostos suspeitos, justiçamentos, guerras, ações policiais, noticiário do dia esquecidos à noite, ou melhor, atropelados e abafados por coisas ainda piores, mentiras espalhadas, e especialmente aparentando certa normalidade como se normais os fatos fossem.

democracia

Não há nada de normal. Nada. Não se pode aparentar normalidade quando se insere nos grupos de poder e ação fatos complexos como os que presenciamos. Quatro médicos conceituados, no Rio de Janeiro para participar de um Congresso internacional, atravessam a rua diante do hotel onde se hospedam para aproveitar o beira-mar em um dos quiosques da orla. Um carro para e dele descem três homens que metralham o grupo sentado à mesa. Em 30 segundos três deles estarão mortos, um ferido seriamente, e o Brasil todo abalado. Depois, em menos de 24 horas, caso “resolvido”. Como se a vida pudesse voltar ao normal. Inclusive no próprio quiosque que poucas horas depois recebia alegremente seus clientes, sentados na mesma mesa com marca de tiros e certamente rastros de sangue. Um jornalista até reparou que sobre ela botaram uma garrafa de pimenta, ao lado dos guardanapos. Um requinte incomparável.

Traficantes teriam confundido um dos médicos com um miliciano marcado para morrer porque tinha matado um traficante líder. É guerra na Zona Norte do Rio de Janeiro. Guerra pelo poder e comunidades. Guerras que se espalham pelo país. Todos matam e muito. Polícia, milicianos, traficantes, golpistas. Vou incluir aqui também bolsonaristas inescrupulosos que distribuem o ódio, a ode aos armamentos que se espalharam como nunca, sempre tentando atentar contra o que for contra os seus preceitos, sejam religiosos, estéticos, políticos ou comportamentais. Distribuíram com rapidez recorde sua baba sobre a deputada Sâmia Bomfim, do PSOL, irmã de um dos médicos assassinados. Crueldade e oportunismo.

O caso teve repercussão mundial. Em poucas horas, resolvido. Pela polícia? Um pouco, sim, porque todas foram para lá. Mas, mais do que isso, os culpados pelo ataque não amanheceram o dia seguinte, não viram a luz do outro dia: pena de morte. Da Justiça? Não! Dos próprios traficantes do Comando Vermelho que não perdoaram o erro que tanta atenção chamou e os quatro assassinos trapalhões foram condenados pelo seu “tribunal”. Tribunal? Se reuniram na comunidade, com algum juiz ou autoridade? Não! Estavam presos no complexo penitenciário do Bangu 3 e em videoconferência deram a ordem. Julgaram. Fim.

Você entendeu bem. Vou repetir: decisão tomada em videoconferência de presos dento do Presídio de segurança, onde inclusive deveriam estar funcionando bloqueadores de comunicação. Resultado final: três médicos mortos por engano, mais quatro traficantes, esses com corpos encontrados espalhados na região, punidos imediatamente por terem errado ordens de seus líderes. Sete mortos. Chacina.

Percebe que falamos de milicianos e traficantes como se eles fossem praticamente membros da sociedade? Normalmente, a sociedade civil tem instituições, como a ABI, OAB, entre outras. O poder paralelo não é uma instituição, mas é quem tem dado as cartas, inclusive de dentro das instituições oficiais. Polícia para quem precisa. Os caras sabem exatamente quem manda no quê, onde lideram, seus nomes e até apelidos. Ouvem as suas conversas em investigações lentas, que duram anos, como se tivéssemos todo o tempo do mundo. O erro do ataque aos médicos foi detectado logo porque há um grupo sombra, assim se denominam, que já ouvia há um ano e meio as conversas e ouviu mais essa que percebeu que os médicos foram executados porque um deles era mesmo a cara do miliciano marcado, o tal Taillon, que inclusive, sabe-se, mora ali bem perto, também na Barra da Tijuca.

O reconhecimento facial deles está com defeito, e ainda podemos todos ser confundidos. Eles mandam e desmandam. É Comando Vermelho, Amigos dos Amigos, Terceiro Comando, Primeiro Comando da Capital, PCC, Primeiro Comando Mineiro, Paz, Liberdade e Direito, Comando Norte/Nordeste, Bonde dos Malucos, nomes de facções criminosas espalhadas de Norte a Sul do país – já se conta que há 53 delas. Fora as milícias, grupos paramilitares se espalhando e impondo terror onde se infiltram como cupins, dominando e amedrontando comunidades inteiras.

Não aguento mais ver – neste e a cada caso frequente – a cara de tacho das autoridades, de todos os níveis, com seus terninhos e caras consternadas dizendo que estão sendo tomadas providências, que investigações estão em curso. Inaceitáveis explicações em gerúndios.

Não há democracia que sobreviva a essa insegurança. Não há democracia.

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MarliMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).

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ARTIGO – Bola, bolinhas, verde, amarelo e o vermelho. Por Marli Gonçalves

Olha a bola batendo em nossas canelas, e o complexo esforço para que o país todo faça as pazes com o aviltado verde e amarelo e comece a torcer pela Seleção, digamos numa só direção. Chega a ser até engraçado esse visível movimento todo, especialmente da propaganda e marketing, no sentido de sensibilizar e tentar virar a chave das pendengas eleitorais que ainda se prolongam em inacreditáveis cenas de delírio ufanista.

bola

Bandeira branca, amor! Vai ser difícil, mas não impossível, embora muito em cima da hora, e depois de muito tempo correndo solto o sequestro da bandeira nacional nos embates políticos dos últimos tempos, e do verde e amarelo ligado ao pior ufanismo, nacionalismo e ranço antidemocrático. A Copa do Mundo está aí, a bolinha que agora é toda colorida vai rolar no campo e dependendo do resultado dos primeiros jogos é capaz até de emocionar corações e mentes crentes no tal hexa, uma estrelinha (ironia simbólica) a mais sendo pregada nas coisas.

Vai ter de este ano, já que a Copa pela primeira vez chega praticamente junto com o Natal e suas bugigangas, competir com o vermelho (outra ironia do destino) que normalmente marca essa época.  A propaganda já está enlouquecida com isso, batendo cabeça, digamos dando tratos à bola. Primeiro quer que a gente torça.  Depois que compremos peru, presentes, demos atenção ao Papai Noel, suas renas e tudo o mais. Querem que consumamos pelos dois eventos, de cores mais uma vez opostas.

Alguns disfarçam. A Ivete Sangalo tem aparecido vendendo linguiça para comer durante os jogos. Vestida predominantemente de azul, com pinceladas de amarelo. Mas está massiva a publicidade de carros, bancos, tudo quanto é coisa que precisa  se atrelar ao  povo e ao futebol, implorando para que o país volte a torcer pela tal seleção canarinho, use as caríssimas camisetas oficiais x ou y, faça as pazes entre si e com os símbolos nacionais, consuma. E não pareça ser bolsominion, ou identificado como um, principalmente desses que ainda andam por aí falando e fazendo bobagens.

O problema é que a eleição terminou, mas as maluquices não. Persistem. Parece que só pioram, numa espécie de surto coletivo da extrema direita incentivando a criação de problemas para a posse e o novo governo eleito. Diariamente, ainda, damos de cara com notícias e  centenas de imagens de  pequenos grupos espalhados inconformados rezando em transe, ajoelhados diante de muros dos quartéis, fazendo discursos odiosos e inflamados repletos de fake news, evocando ditadura, intervenção militar, alguns até em acampamentos – sempre instigados e financiados pelos péssimos exemplos do desgoverno que se vai e esvai,  deixando lamentáveis lembranças e lambanças. E bodes como esse, da coitada da bandeira e do verde e amarelo. Já tivemos isso no passado, um tal Brasil, Ame-o ou Deixe-o de tristíssima memória, e que tinha até musiquinha reacionária à moda dos atuais sertanejos.

Para completar, a Copa será realizada distante, num lugar caro, inacessível para uma maioria, e cheio de não pode isso, não pode aquilo, de tirar tesão de qualquer torcida do mundo. As famílias, os amigos, os grupos ainda estão abalados com tantas brigas e pela terrível divisão imposta entre as duas forças políticas que se enfrentaram, e o que pode abalar os churrascos, os encontros, as animadas torcidas nos bares. E como ultimamente o Brasil tem sido para os fortes some-se a isso o claro, visível e preocupante aumento dos casos de Covid. A volta dos aconselhamentos de distanciamento social, de  uso de máscaras e o temor de que essa nova cepa seja mais perigosa e ainda sem cobertura vacinal que a abarque por aqui, em mais um final de ato melancólico da temporada de Queiroga & Cia no Ministério da Saúde, que já levou embora 700 mil brasileiros, isso contando os números oficiais.

A bola de futebol antes branca e preta agora é toda colorida, cheia de marca, mas sem arco-íris para o país do Oriente Médio que não gosta nada dessas coisas. O impasse está aí.

A proposta? Vamos voltar ao clássico branco e preto. O futuro vice-presidente Geraldo Alckmin já até inovou outro dia deixando à mostra suas meias soquetes pretas, de bolinhas brancas. Um sucesso.

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MARLI GONÇALVES – Viva o democrático branco e preto. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Sonhos, quatro linhas e transição. Por Marli Gonçalves

Acordei esgotada de passar a noite inteira sonhando que estava arrumando malas e sei lá para onde é que era para ir. Vocês já tiveram sonhos desses, de noite inteira, de sonhar contínuo? Acordar, voltar a dormir e continuar com o mesmo sonho, quase um delírio?

SONHOS
 AVENIDA PAULISTA, 29 DE OUTUBRO DE 2022

Pois foi isso que me deixou encucada. Primeiro porque é bem difícil eu lembrar com o que sonhei; segundo, porque inacreditavelmente lembro de ter praticamente arrumado e repassado o meu armário inteiro – e isso é muito. Ou seja, tudo o que tenho passou na minha mente, guardados de décadas, outras para lembrar dias e emoções – sim, a roupa que estava em um dia ou outro importante, amoroso, quase um museu particular. Coisas para doar, cores, casacos, calcinhas rotas até. Eu ia separando e arrumando tudo num movimento sem fim. Não foi por menos que acordei cansada.

Aí me toquei: ressaca eleitoral, só pode ser. Fiquei muito traumatizada com uma pequena saída que dei dia 2 de novembro, no feriado, dois depois do término das eleições. Andei dois quarteirões até o supermercado e vi um monte de gente muito esquisita lá dentro e perambulando pela rua iguais aos viciados da Cracolândia. Zumbis. Não estavam enrolados em cobertas de lã, mas com a bandeira nacional, a coitada vilipendiada. Traziam pela mãos criancinhas, que depois vi também serem usadas como escudos nos bloqueios das estradas.

Já não estava com bom humor, admito, depois de ter passado a noite anterior inteira tentando dormir ouvindo estouros de rojões, muitos, centenas, um atrás do outro, som que vinha ali dos arredores do Parque Ibirapuera, de onde moro há uns três quilômetros de distância. A noite inteira. Se foi inferno para mim, imagino o que assustou a fauna do parque.  Pensei que tipo de comemoração seria aquela, até pela manhã saber que havia uma reunião desses zumbis pedindo intervenção militar, negando o resultado eleitoral, marchando e entoando palavras estranhas diante do quartel – o mesmo onde dezenas de pessoas foram presas e torturadas e mortas durante a ditadura militar. As bombas vinham de lá. Creio que eles tinham comprado para comemorar a eleição do coisinho e como ele dançou foram usar para gastar e perturbar. Mas devia ser um caminhão, um caminhão de pólvora. Quanta comida daria para ser comprada. Mas eles quiseram fazer barulho, perturbar, sentirem-se fazendo guerra.

Fiquei mal mesmo, de verdade. Doente, de cama. Depois acompanhando os movimentos pela tevê, os bloqueios e a violência, só piorei. E a pergunta que faço há meses continua. De onde saiu essa gente? Vocês devem ter visto nas redes os compilados e gravações desses movimentos em todo o país juntando grupinhos de alucinados quase se auto chicoteando, se imolando, alguns de joelhos rezando e gritando, outros marchando para lá e para cá irradiando ódio. Todos de verde e amarelo batendo no peito como se fossem só eles os patriotas. Um movimento claramente incentivado e organizado dias antes das eleições.

Porque natural, ah, natural não era! Natural mesmo foi o mar de gente tomando a Avenida Paulista cantando e dançando feliz durante toda a noite depois do resultado oficial, sofrido, mas vitorioso para quem não aguentava mais esses quatro anos de ataques e retrocessos.  Também moro perto, há um quilômetro, do MASP, na Avenida Paulista e daqui de casa ouvi a repercussão da festa. Depois, na madruga, dava pra escutar até o show da Daniela Mercury, de quem não gosto nada, mas achei até legal ficar ouvindo daqui da janela. Combinou com a festa toda. Natural também já tinha sido no sábado, e este movimento eu presenciei, dia anterior ao segundo turno, a mesma Paulista ocupada por milhares e milhares de pessoas de todos os tipos acompanhando o último evento da campanha de Lula e da Frente Democrática. Todos sorriam, se cumprimentavam, cantavam, num clima realmente de confraternização. Uma diferença enorme.

Começamos então a ouvir falar da transição de governo e agora entendi meu sonho desta noite. Simbolicamente estava arrumando minhas malas para esse novo tempo. Bem sei, nem vem! Não é que muita coisa vá mudar mesmo, estou acostumada com a política, e já dei muita risada com o Centrão imediatamente abandonando a barca e tentando subir nesse outro governo.

Mas outras cores – todas, na verdade, o arco-íris – chegam e podem ser usadas. Sem medo de ser feliz, sem o ódio e a ignorância que se incutiu nas mentes de forma tão deplorável e ignorante como o fez o tal bolsonarismo.

Ufa! No meu sonho, então, me preparava para outra viagem: a de novamente continuar a ser oposição, como já disse, a tudo o que for ruim, esse o papel da imprensa. Conheço bem os perigos dos tais ídolos de barro.

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marli - apostaMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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SONHOS

AVENIDA PAULISTA, 29 DE OUTUBRO DE 2022

SONHOS
AVENIDA PAULISTA, 29 DE OUTUBRO DE 2022

ARTIGO – No que é que você aposta? Por Marli Gonçalves

No que você aposta? A gente passa a vida apostando em algo, pode até ser com a gente mesmo, com o tal íntimo. Entre uma coisa e outra. Um caminho ou outro. Em alguém. Se vai conseguir ou não. Ganhar ou perder, eis a emocionante questão.

Administracion educativa: Proceso administrativo- Dirección

Não é por menos que nos últimos tempos têm proliferado, inclusive por aqui- e já era mania no exterior – esses sites e aplicativos de apostas, que ainda não consegui ter certeza se são bancos, se são sérios, se logo saberemos seus intentos. Por enquanto, ao menos que eu saiba, ainda só na área de futebol, mas não vai demorar muito para oficializarem apostas como esta que estamos fazendo agora em nosso futuro, quem vai levar o Brasil. Tudo virando um imenso sim ou não. Roleta russa, quase. Muita coisa em jogo.

O problema, e grande possibilidade, é que acabemos nos tornando completamente viciados nessas divisões, no país fragmentado de agora, aconteça o que acontecer. Já pensaram se a moda pega? Tudo dá aposta. Vermelho ou verde e amarelo? Já não é mais final de novela, ficção, o “quem matou Odete Roitman”? Tem reality pra dar e vender, e a cada dia sendo criadas novas formas de influenciar resultados.

Não vai demorar para que cheguem aqui as tais milionárias bolsas de apostas, aliás que por aí já devem estar bombando para a Copa do Mundo. Detalhada, não só para quem vai ganhar ou não. Quantas vezes Neymar vai cair em campo gritando e se contorcendo todo a qualquer esbarrão? O mais novo escândalo da FIFA (ou CBF)?  Alemanha? Argentina? Brasil? A Copa no Catar, com todas as idiossincrasias da região, vai dar certo? Mil possibilidades de apostas.

Fico imaginando também o número de apostas que vêm sendo feitas nos cantinhos, esquinas e mesas de bar sobre esse segundo turno presidencial, e acho até que não é por menos que a disseminação de fake news e tentativas de intimidação estão bombando, recordes. Obviamente que ninguém quer perder. E se for aposta a dinheiro, e quase todas as emocionantes o são, então, aí a coisa vai mais longe. Imaginem esses seres que apostaram milhões (contribuições eleitorais não deixam de ser apostas) nos candidatos, especialmente nesse aí que adoraria nos infernizar por mais quatro anos. Se ganharem, quem apostou espera ganhar muito – inclusive dentro do governo e se fazendo lembrar logo na hora seguinte. Ou acaso vocês pensam que essa loucura que vivemos é apenas ideológica? Aposte que não.

Apostar vicia. Perdendo, aposta-se até ganhar. Ganhando, se testa até onde vai a sorte. O Brasil tem amplo potencial apostador. Apostamos há décadas que um dia o país vai tomar jeito! Imagine se não. Aliás, aposta aqui é truco certo.

Conheço quem tenha muitas vitórias e acertos, mas eu nunca fui premiada em nada, pelo menos que me lembre. Ainda acho estranho passar na frente das lotéricas e ver aquelas filas enormes principalmente em dias que o prêmio acumulou. Gente que muitas vezes deixa de comer para apostar. A parte mais legal é quando essas pessoas são entrevistadas e começam a listar o que vão fazer com o prêmio. Ali, todo mundo é bonzinho e vai ajudar a família, os amigos. Deus tá vendo! Sonhar é bom, apostar nem tanto. “Não trabalha não pra ver”, cansei de ouvir de meu pai. Mais jovem, ele gostava de apostar em jogos de cartas. Um dia parou, completamente, creio que deve ter perdido ali algo pesado. Nunca soube o que houve. Mas deve ter sido sério.

Em geral apostas podem não ser nada saudáveis, inclusive para as famílias – muitas veem tudo ser perdido do dia para a noite em bancas. Melhor mesmo ficar só com as apostas bobinhas, que não fazem mal a ninguém, muito menos a nós mesmos. Melhor desafiar-se a si mesmo.

Pensando bem, nesse momento, e a esta altura do jogo, jamais apostaria de verdade em um ou outro, embora, claro, tenho minha preferência.  Acredito que não peguei esse hábito – pelo menos não a dinheiro, e menos ainda com outras pessoas – por causa da ansiedade que me abala muito, sempre, até que algo se decida.  Detesto perder. Já gostei muito mais de torcer pela vitória de uma coisa ou outra, mas na maturidade, e dependendo do tema, já vivi bastante para saber exatamente que nada – muito menos a política – vale a pena sofrimento, aposta radical, sacrifício, queimar meus lindos dedinhos no fogo.

E você, anda apostando muito? Par ou ímpar? #EleSim ou #EleNão? Vai ou racha?

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marli - apostaMARLI GONÇALVES – Oposição ao que é ruim, seja de que lado for. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

ARTIGO – Amigos, razão, sensibilidade, palpitações. Por Marli Gonçalves

Tudo bem aí? Tomara! Por aqui de vez em quando preciso medir pulso e pressão para ver se essa ansiedade que quase me tira o ar, faz ranger os dentes, esses medos repentinos e pensamentos atravessados, não são o meu corpo reagindo fortemente a esse tempo louco que passamos. Tempos estranhos esses em que não adianta quase nada ter razão. Tempos estranhos esses em que ser sensível à sua própria dor e a dos outros traz tantos dissabores.

palpitações

Só me sinto um pouco melhor quando vejo que não é sentimento exclusivo meu. Gente importante, famosa, rica, linda, resolvida, exemplos de equilíbrio que acompanho ou que mantenho entre meus amigos relatam sintomas muito parecidos aos meus. Alguns até descrevem situações ainda mais aterrorizantes e melancólicas. Creio até que meu bom humor e capacidade de adaptação me ajudam a que ainda não esteja tão atingida.

Antes de continuar, peraí! O que se transformou a eleição é só um item, antes que as defesas de todos os lados se armem e comecem a me mandar desaforos, que já ando cheia de receber e me controlar para não mandar uns coices de volta.

Muda de assunto um pouco que esse aí é pequeno diante da real e já encheu, se esgotou e nos esgotou profundamente, levando justamente mais pedaços de nossa saúde, especialmente a emocional. Falo do que restará após esse período tão longo, de anos, de dificuldades, destemperos, retrocessos, ataques, violência e desconsideração, doenças. Do que surgiu dessa situação pós pandemia, que tantos tentam resumir e afastar como se nada tivesse acontecido. Faltam assobiar para muito mais de meio milhão de mortos, cenas angustiantes, covas a céu aberto, aqueles números, gráficos, falta de assistência, remédios, ar, isolamento. Excesso de negação, ignorância, demora de tomada de providências. Muitos dessas consequências e reflexos, incluindo econômicos, só estão sendo sentidos agora, e o que até pode explicar um pouco da loucura, agressividade aflorada, da irracionalidade das discussões sobre qualquer tema; inclusive, a busca de mitos tão dispares entre si.

Por questão de dias, porque não tiveram tempo de tomar a vacina, perdi – aliás, o Brasil perdeu – enormes pedaços de nossa história, de minha história, amigos que por décadas as construíram e que perderam o tempo que tinham por aqui para fazer muito mais. Seus legados, suas obras, as lembranças e aprendizado dos que com eles conviveram. Não quero perder mais ninguém. E tem muita gente atingida.

Temos o dever de honrar a memória de todos e buscar que nada mais se repita assim.  Por conta da negação desenfreada e disseminada muitos outros foram embora, senão da vida mesmo, de nossas vidas, por não conseguirmos mais com eles conviver. Por mais que tivéssemos tentado alertar, eles acreditaram e, talvez, ainda acreditem nas mentiras, nas falseadas, passam por certa lavagem cerebral.

E mentiras matam. São insidiosas, convencem e comprometem o entendimento. Agora vêm revestidas, buriladas, maquiadas com ar tão inocente que conseguem provocar e escavar mundos sombrios, como a censura, o ódio e o confronto insuportável. Comprometem a liberdade.

Teremos de lidar com isso tudo ainda por muito tempo. Esse ar irrespirável. Pior, temos de nos preparar para isso como se em nossas vidas fossem estas as únicas preocupações, sendo que temos tantas outras que se aglomeram e nos pegam justamente tão frágeis, dificultando que possamos resolvê-las por não conseguirmos prever nem o que ocorrerá nos minutos seguintes.

Vocês entendem? Amigos, razão, sensibilidade e palpitações. E expectativas, muitas. Como sempre me aconselha um considerado leitor: “Tem calma, tem calma”

Difícil.

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MARLI GONÇALVES – Oposição ao que é ruim, seja de que lado for. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Jogue limpo, que está sujo, feio e malvado. Por Marli Gonçalves

Tá feio, muito feio, e a conta vai chegar para vocês. Será que consegue jogar limpo, ao menos sabe o que é isso? Resta um mínimo de bom senso? Queremos rezar para quem a gente quiser, como a gente quiser, onde quisermos, e em paz. Viver em paz. Não se meta. Queremos respeito às nossas decisões pessoais, respeito aos nossos sentimentos e crenças. Cuidem do país, que da gente cuidamos nós. Pare, apenas pare de nos causar asco todos os santos dias.

feio, sujo e malvado lata de lixo da história

 Caro Senhor Bolsonaro e seus admiradores, seguidores, apaniguados, vidrados e etceteras: respeito!

Respeito é bom e todos gostam.  Não vai ganhar no grito, e se acaso isso ocorrer, o grito que ouvirão depois será muito mais alto e perturbador. Segurem sua onda, que a gente pode tentar até segurar a nossa.  O mundo não se resume a vocês, aliás, graças a Deus, e seja em qual deus cada um de nós acredite e venere, ou não! Parem de ser tão crentes que estão abafando por aí com tanta sacanagem, aleivosias, violência, mentiras, ignorância e ódio que espalham por onde passam. Já conseguiram acabar com o orgulho de nossa bandeira, e cores, hoje quase insuportáveis. Buscam comprar votos com a mais lavada cara de pau, distribuindo benesses de última hora.  Joguem limpo. Querem respeito? Nos respeitem.

Não se sabe se atiçando medo já causam uma estranha, inaceitável e impressionante paralisia nas instituições que deveriam proteger, mas que estão rasgando, desonrando e pisando em artigos sagrados de nossa constituição.

Damares, a ex-ministra e agora senadora incrivelmente eleita, já deveria é estar presa e cassada, antes que esse estrupício manche ainda mais o Senado Federal. Se não na prisão, desculpem, em um hospício, interditada, porque ela está – acreditem – precisando de ajuda e tratamento urgente. Está fora de si, vendo muito mais do que Jesus na goiabeira. Isso não é religião: é problema sério, mental, que a faz, como ela própria diz – ouvir pelas ruas até relatos fantásticos de crianças com dentes arrancados para a prática de sexo oral, entre outras sandices que propaga em solos sagrados que ela própria deveria respeitar.

Isso tudo é muito sério. Não tem mais graça alguma nem para fazer memes. Precisamos parar de brincar. Está passando dos limites de qualquer aceitável.

O tal Ônix, candidato ao governo do Rio Grande do Sul, é outro que já deveria é estar sendo preso, processado, anulado, cancelado, sei lá. Não é de hoje, mas agora ousou dizer que os gaúchos deveriam votar nele para terem uma “primeira-dama de verdade”, já que não consegue ser melhor do que o seu concorrente que, sem problemas, sempre se assumiu gay. Homofóbico, preconceituoso, apoia tudo o que é, foi e será de ruim. Se nem ele é de verdade, um ser falso que há anos anda por aí atrás de qualquer poder para se aproximar.

Outro que se diz cristão, e também não dá para entender como os verdadeiros evangélicos se calam diante do uso deslavado de suas premissas nesses embates eleitorais.

Bolsonaro, não dá para listar nesse espaço todo o mal que espalha e permite que se espalhe, agora ainda por cima tentando uma guerra religiosa opondo católicos e evangélicos. O que aconteceu na Basílica de Nossa Senhora Aparecida é simplesmente imperdoável, não há justificativa possível. Aguente o tranco de seus ataques, que essa semana o senhor pisou em calos que não deveria, acredite.

Sabe, já tivemos – e os seus atos agora chacoalham nossa memória – vários seres desprezíveis no comando da nação, especialmente durante a ditadura militar que admira e tenta alimentar. Mas teve um, o tal Jânio Quadros, que saiu da história como maluco, quando governou o país e renunciou e, depois, mais, quando inacreditavelmente foi prefeito aqui por São Paulo. Teve também o Maluf que grassa agora largado doente e só em algum canto. Eles também tiveram apoio por algum tempo, juntaram alguns porcentos gritando “mito”. Mas sabe como é a política, não? Implacável.

O povo também sabe virar uma bandeira como ninguém. Tenta proibi-los de suas coisas, para ver só. Se acaso a resposta já não vier das urnas agora, acredite, não tardará, assim que tomarem consciência do perigo que representa e do que, para ganhar a eleição, fez, e que o país inteiro pagará por isso.

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MARLI GONÇALVES – E nem adianta me xingar e chamar de petista, que não cola. Sou, sim, oposição ao que é ruim. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Eu não quero falar de…Por Marli Gonçalves

Eu não quero falar de como me senti depois do resultado geral desse primeiro turno eleitoral. Bem não queria. Dessa ressaca que não passa, e olha que eu não bebo, mas do quanto saí do prumo se é que tinha algum, mesmo sem estar entre os que acreditaram em situação resolvida de pronto. Não quero falar de quanto estou preocupada com o claro retrocesso que incrivelmente acelera e ameaça o país. Eu não quero falar, mas é impossível calar, também inclusive não criticar a forma que a oposição se comunica, errante

eu não quero falar

Eu não quero falar de política, mas nesse momento a política entra por todos os poros e canais e agora novamente com o horário eleitoral e as perturbadoras pílulas espalhadas na programação e para onde se olhe. Eu já não quero saber o que andam fazendo, falando, com quem se encontram, por onde passam, mas é impossível. Como não reagir ao contínuo sequestro do verde e amarelo, às aproveitadoras camisetas da seleção vestidas por pessoas que até então julgávamos razoáveis? Ao noticiário que traz à tona mortais brigas eleitorais entre amigos, nas casas, nos bares, nas esquinas, do nada. Como não se sentir mal vendo a negação descarada do que vivemos, do que perdemos, de quantos perdemos, do construído plano descarado e perigoso de virar a direção à extrema direita?

Eu não quero falar de como estamos desprotegidos e tudo virou uma imensa Casa da Mãe Joana quando não são punidos imediatamente – mas punidos mesmo, de verdade, não de mentirinha com passeios até as delegacias e logo liberados com cara lavada – os empresários que ameaçam seus funcionários de desemprego se não votarem nos candidatos deles, ou os que oferecem dinheiro em troca de votos. Não é fake news, essas denúncias vêm acompanhadas de batom nas cuecas, vídeos, fotos, depoimentos, vítimas.

Nem quero, por falar nisso, versar sobre a quantidade de fake news que estão cruzando os céus do país vindas das duas infelizes direções em que nos metemos, no jogo sujo, divididos palmo a palmo, com mentiras sobre tudo, como se não houvessem tantas verdades tão suficientes a serem usadas, colecionadas durante os últimos anos, dia após dia.

Nem quero lembrar da ingenuidade perdida e enterrada no trabalho de anos lidando com campanhas, com marketing político e seus temas afins, que aprendi e sei bem capaz de tudo. Mas não há como evitar ver a linha ética trespassada para borrar a realidade. Os apoios, as traições, as manipulações maquiadas dos bonzinhos e ruinzinhos, e, enfim, a revelação da cara daqueles que vieram construindo seus podres poderes nas sombras, pelos cantinhos.

Ah, como gostaria de não falar da vontade que dá de sacudir fortemente candidatos de oposição que não mudam o cansativo discurso de sempre. Aqueles que repetem incansavelmente as palavras que poucos entendem, “professoralmente” discursam insistentes sobre temas macro quando o que há é fome, dificuldades reais, economia desequilibrada, preços extorsivos, e do outro lado alguém prometendo facilitar mundos e fundos justamente para esse dia a dia.

Eu não quero falar, mas não posso me resignar quanto à tristeza que dá ver mulheres ali sorrindo do lado de quem as inferioriza, destrata e ameaça, e que assim continuará vencendo ou não, porque alçado a um inexplicável papel de líder. Ver a imprensa atacada e acuada tentando informar com suas parcas atuais condições de luta, e dentro dela jornalistas que um dia foram respeitados jogarem suas histórias no lixo da História.

Eu não quero falar, adoraria poder nem pensar, mas por responsabilidade jurada profissionalmente não posso me isentar e deixar de observar a gravidade da atual situação que quebra ao meio todo um país que continua agindo como se tudo fosse torcida de um imenso jogo de futebol onde há dois times grandes se enfrentando.

E ainda vai ter Copa.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Os próximos longos três meses. Por Marli Gonçalves

Pensa que acabou? Seja o que for, o que resultar, teremos ainda longos três meses pela frente para acabar de roer as unhas até o toco, acalmar o coração, parar de ouvir tantas aleivosias, mentiras e preconceitos, poder sentir o que é que exatamente vem por aí

os próximos meses

89 dias. 2136 horas. 128.160 segundos. Uma eternidade. Viveremos ainda mais algumas guerrinhas de nervos daquelas pro bem e pro mal. Até as posses, chuááá, muita água ainda vai rolar e é difícil prever se ela, a principal, do presidente da República, será serena, limpa, transparente, se escoará naturalmente pelo rio da democracia, ou se alguma pororoca poderá vir nos assustar, com monstros soltos e atiçados.

Faz tempo, muito tempo, que não respiramos aliviados. E aí que está. Vamos ter de aguardar mais. Há tanta coisa para se arrumar no país escangalhado, dividido, raivoso, que só após muito tempo com alguma acomodação das forças – que costumam mesmo ser díspares – proclamadas vitoriosas em todo o país, poderemos ter uma leve noção do que exatamente emergiu das urnas.

Considerando que o debate para a eleição presidencial tomou para si boa parte da atenção geral, o resultado da ocupação dos legislativos poderá ser temerário. Com a eleição do mesmo dos mesmos bem ruinzinhos, chegada dos até então ainda mais desconhecidos e que vieram no pó da estrada grudados você bem sabem onde dos majoritários. Podem chegar de paraquedas, surpresos eles próprios, pelos quocientes eleitorais dos partidos e seus números jogados como loteria, patinhos na lagoa, cabalísticos, mágicos, ou chutados qualquer coisa. No Congresso Nacional e nas casas legislativas dos Estados fica a panela onde se cozinham os acordos, as leis, as verbas, as ideias, os ingredientes, as ameaças e liberações. O freio ou o acelerador das mudanças. Oxalá esse resultado seja ao menos melhor do que o que está aí, embora a gente saiba que, infelizmente, sempre pode mesmo piorar, e que o descuido e desconhecimento dos eleitores sobre essas pessoas faz parte de nossa estranha formação política.

Haverá uma reacomodação de terreno – isso será certo. Pedidos de desculpas entre quem se atacou dentro de um mesmo arco ideológico, para agora buscar um cantinho, uma lasquinha do vitorioso, alguma nomeação. Muitas viradas de costas, bananas e traições para os derrotados – algumas que vimos até logo durante o processo eleitoral. Os barcos vão sendo abandonados nas margens, à cada pesquisa divulgada. Uns vão fingir que não viram, não disseram, não pensaram, não conspiraram; os outros vão fingir que acreditam. No caso, não é varinha de condão, mas a caneta, e que esperamos que seja mais sofisticada em suas assinaturas pelo menos um pouco mais do que a tal Bic que suportamos nos últimos quatro anos.

De acordo com o resultado que sair das urnas, saberemos se haverá, se demorará, o resgate da bandeira nacional e suas cores, a coitada, sequestrada. Se a vitória for de um lado mais avermelhado, saber se os outros tons, mais róseos, digamos assim, serão por eles respeitados, já que certamente tomaram forte posição e importância nos últimos dias em prol de um resultado que afastasse o perigo de ruptura e de uma grave e dolorosa crise institucional.

Teremos de ter muita paciência e perseverança nas próximas semanas. Quando saberemos o quanto nos livraremos do circo cercadinho, das ridículas lives de toda uma turma desprezível, dos robôs da familícia, do desprezo pela Ciência, da misoginia, do racismo e desrespeito à liberdade religiosa e de gênero; que sejam desmascarados os pastores pecadores, os agro e tóxicos, os ministros que ninguém sabe o nome e  suas boiadas e fogo passando destruindo nossas matas. Dos metidos a besta em paragens onde não tinham posto os pés. Das ameaças de armas, CACs (caçadores de quê?) e de valentões de cara feia. Se recuperaremos alguma boa imagem junto à já atordoada comunidade internacional, de quem precisaremos ter apoio para nos levantarmos.

Especialmente, apenas nos próximos tempos poderemos sentir se a oposição, centro e esquerda, enfim amadureceram. Se saberão rever seus graves erros com pelo menos alguma humildade, aceitando que enfim e ao cabo foram esses erros que nos levaram ao atual desgoverno de direção.

Se todos poderão se sentar à mesa para o mais rápido possível compartilhar seus pratos e intenções para servir aos mais necessitados. Com respeito, educação e saúde.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Ansiedade, no momento teu nome é Brasil

Ansiedade, o Mal do Século? Ataca agora todo um país e, por incrível que pareça, é a única coisa que nos une a todos, em momento eleitoral tão dividido, violento, crucial. Me diz se não está aí também contando os dias, horas, minutos para acabar com essa expectativa, para mim uma das maiores do período democrático, pelo menos do que vivi.

ANSIEDADE ELEITORAL

Palpitação, tensão, nervosismo, até medo do que pode acontecer nos dias e horas que faltam para aquele final de tarde, começo de noite, quando os resultados começarem a ser divulgados, e depois disso.

De um lado, esse de cá, tanta vontade de se livrar desse bagulho (e de sua família e asseclas) o mais rápido possível e enquanto é tempo, e depois de viver aflições e ouvir desrespeitos praticamente todos os dias dos últimos quatro anos, que estamos até meio doentes. Brigamos entre nós quando deveríamos estar todos juntos em uma só direção e objetivo, sem divisões, como as que inclusive nos causaram todo esse desgosto.

É o que temos, sei bem que não é, sem dúvidas, o melhor dos mundos, mas é preciso decidir o mais rápido possível para que se aplaquem esses temores, ou melhor, para que possamos caminhar com mais segurança no caminho que as urnas traçarem, seja qual for, e logo, juntando os cacos. Teremos muitas coisas para resolver e necessitaremos de estar fortes para defendermos a ameaçada democracia custe o que custar. Hora da união da oposição. Seria maravilhoso que essa pendência principal fosse decidida logo, para acabar com a agonia e esclarecer quais serão as próximas fases do jogo.

Essa é a montanha-russa da política, movimento aparentemente normal, se estivéssemos vivendo momentos normais, o que não é decididamente o caso. Mais uma vez, por exemplo, as eleições legislativas, tão importantes quanto a decisão para os cargos de presidente e governador, estão sendo escamoteadas e vemos apenas aquelas pessoas aparecendo com frases curtas e em geral sem sentido, ou apenas em fotinhos e acenos. Aqui em São Paulo tem candidato ao Senado apelando para o seu cachorrinho que promete levar para a Brasília, tem astronauta perdido no espaço, cada um de espantar. Pouco nos atemos, por exemplo, não só ao rol de propostas mirabolantes, mas a aquelas letrinhas miúdas que trazem lá embaixo o nome de suplentes, na maioria francos desconhecidos e que poderão, como tantas vezes já mostrou a história, serem os que acabam sentados lá nas cadeiras do Congresso. Por momento assim na eleição anterior, além de acabarmos governados por um perigoso sem-noção, elegemos algumas das piores legislaturas de todos os tempos no Congresso e nos Estados. Aliás, anda perdido por aqui até um siderado candidato ao governo do Estado que não sabe nem onde ele próprio vai votar.  Sem um Waze nem para casa volta.

Tudo isso é o caldo grosso da política. Fatos que criam em todos essa ansiedade, faz ficar esperando resultados de pesquisas, tem tomado o tempo de muitos nas redes sociais se atacando entre si, insuflados pelo ódio reinante e desgastante cultivado nos últimos difíceis tempos que vivemos, pela pandemia que acabou por dominar nossa atenção, de um lado, e do outro, ver o quanto eles aproveitaram para se armar, tomar as cores da bandeira, disseminar mentiras absurdas, tentar destruir a imprensa, atacar e desmerecer conquistas fundamentais.

Enquanto isso, vamos nos distraindo um pouco tentando relaxar. As farmácias vendendo calmantes como nunca. “Influencers” surgindo de todos os lados e poucos sabem como se criam, mas sabemos o que comem, o que vestem, onde gastam, com quem transam. Ideias de desafios – alguns pegam, como esse último de postar foto com 13 livros de lombada vermelha, que – tudo bem – mas adoraria exatamente entender o sentido, além do vermelho e do 13, para virar voto. Artistas se mobilizam em fotos, vídeos, músicas e até hinos, como o do inominável, que lista em mais de 13 minutos os absurdos do bagulho – tantos foram que o vídeo ficou mesmo bem longo.

Legal. As mãos surgem, de um lado apontando, fazendo arminhas; do outro, transformando as tais arminhas no L, de Lula, o líder político ressuscitado desse país que se distraiu e esqueceu de formar novos quadros sérios e fortes o suficiente para encarar a caneta desse atual presidente apenas ignorante, que acha que é de direita porque ouviu dizer por aí, que subiu ao poder e dele quer se apropriar. Ainda acha que pode vencer jorrando impropérios e comprando com migalhas exatamente quem mais vem sofrendo com toda a situação. E não é só de ansiedade, mas de fome, de falta de saúde, trabalho, moradia, saneamento, segurança, já soterrados por dívidas.

Esses que ninguém engana, de mãos calejadas.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Primaveras que vivemos para ver. Por Marli Gonçalves

Primaveras que damos graças em estar aqui para ver em meio a tantas perdas, tristezas e apreensões – e essas não são só eleitorais, são de uma infinidade que a memória guarda e que se aviva a cada acontecimento presenciado, e eles se sobrepõem com assustadora rapidez. Alguns para o bem, mas muitos para uma acelerada piora.

PRIMAVERAS

Flores para que te quero. Clamemos pela primavera, a estação que chega precisa às 22h04 do próximo dia 22 de setembro. Também chamamos primaveras quando se consolida uma luta, quando muitas pessoas se unem em torno de mudanças, de alguma conquista, lembra? Primavera Árabe ficou bastante conhecida. Uma estação que renova, ou pelo menos tenta, nossas esperanças, o ar fica mais respirável, e até os animais mudam seu comportamento, saindo da hibernação, procurando parceiros, apresentando seus filhotes. Borboletas e abelhas se apresentam mais ativas, ajudando a colorir o mundo aos nossos olhos. Momentos únicos.

Pois bem, cada um guarda suas lembranças. Até quando fazemos aniversário, mesmo que em outras datas, completamos poéticas e marcantes primaveras. São tempos memoráveis e certamente a deste ano será recordada por muitos outros temas. Saindo aos poucos de uma terrível pandemia, nós, os que sobreviveram, pensamos em voar por aí como borboletas visitando o que restou, e quando então chegamos à conclusão de tudo e quanto muito se modificou nesses últimos anos, quase três da aflição mundial. Somados aos quatro da aflição nacional de um desgoverno agressivo também acompanhada pelo mundo, como o é a guerra, como são as guerras, a mais visível no momento, na Ucrânia.

A normalidade, como se costumava, essa não volta mais, dada a experiência vivida por muitas gerações eternamente marcadas, seja como órfãos, pelas sequelas, pelos novos hábitos, pelas vacinas que serão sempre reaplicadas, pelos cortes em áreas fundamentais à sobrevivência. Não há como entender experiências esquecidas que a ignorância leva a que novamente possamos sofrer, antes erradicadas; por exemplo, quem são esses os que não sentem o pavor da poliomielite que a tantos aleijou por toda a vida, não vacinam seus filhos?

As primaveras que vivi para ver incluem de um tudo, experiências seja na vida pessoal, profissional, amorosa, e na de ver um país que tinha tudo para deslizar suave pela História, mas sempre acabou tropeçando, virando mato, pisando nas flores, queimando suas largadas. O tal país gentil, tropical, quando conseguíamos achar graça até do horário eleitoral, nem isso hoje, que deu tiririca em tudo.

País que, a cada crítica que faço, daqui da realidade que vivemos, recebo de revide comentários que enumeram para que eu considere – nem sei bem como as acham – coisas boas, que deveriam ser mais que óbvias e obrigatórias. Às vezes penso se não há mesmo um monte de planetas diferentes aqui nesse mesmo lugar. Planetas e órbitas onde se isolam economia, riqueza, pobreza, alegria, esperança, ética e liberdade, comportamentos e conquistas que nos são tão caros. Cada qual com seus habitantes.

Esse meu mundo – e creio que da maioria – tem muitas flores, sim, que jamais me afastarei delas e de otimismo pelo seu florescimento, mas não há como negar os espinhos, os percalços, as pragas, os cortes, os perigos de alguns venenos.

O momento é agora. De plantarmos mudanças e primaveras, da forma que pudermos, com quem pudermos contar, e uma delas é extirpar o que nos causa tanta vergonha diariamente, principalmente a nós, mulheres, que atacam insistentemente. Desejam anular o tanto, mas ainda pouco, que alcançamos, nossa honra, liberdade, igualdade. O fazem semeando a discórdia, matando, queimando e envenenando os nossos corpos, fazendo surgir sementes do mal que considerávamos que jamais veríamos brotar novamente na História. E que sempre pergunto a mim mesma: de onde saiu essa gente tão pavorosa? Onde escondiam seus ódios, pensamentos sórdidos, qual foi a tampa aberta?

Uma delas, o resultado que levou à eleição de 2018, que agora temos o dever de fazer voltar de onde veio e de onde nunca deveria ter saído. Na época, confusa, muita gente não sabia mesmo quem era e o que significava o ser que acabou vitorioso, que tanto tentamos alertar, e ainda por isso somos punidos diariamente – tentam destruir o jornalismo, essa profissão fundamental e a qual me dedico há décadas, nunca tão menosprezada.

Agora, sabemos, todos, o que era aquilo. Não há como negar, a não ser os que ainda estejam com seus sentidos tapados por um torpor fétido e nauseante espraiado no ar que busca tirar nosso viço, que é muito além do que perfilam, esquerda, direita, e que nem de direita ou esquerda o são.

Que nosso campo seja o da esperança. Que façamos desta, agora, uma primavera mais do que especial. A do recomeço, até para que possamos poder colher as flores boas e desprezar novamente os musgos, se for necessário.

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MarliMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Os broches da rainha e a “brochada” do presidente. Por Marli Gonçalves

Não há como não lembrar da rainha Elizabeth eternamente com suas roupas elegantes e coloridas – dizem, para que nunca fosse perdida em meio à multidão – adornadas com broches maravilhosos, joias de pedrarias mais do que preciosas. Não há como não lembrar, na mesma semana de sua morte, do vergonhoso apelo do presidente a si próprio puxando o lastimável coro de imbrochável em meio aos festejos dos 200 anos da Independência do Brasil. Um pequeno e significativo jogo de palavras.

Elizabeth ll: conheça curiosidades sobre os looks icônicos da rainha

Imbrochável. Deus está vendo, hein? Ops, God save the Queen, agora God save the  King Charles III. Que devemos todas as homenagens à mais longeva rainha da História, Elizabeth II, à mulher que soube honrar durante 70 anos seu reinado desde a sua tenra juventude, abdicando de um tanto incalculável de coisas e prazeres, entre eles, alguns até frugais e que de vez em quando ela recordava. Semana triste e emblemática para o mundo todo essa morte.

Do outro lado, na mesma semana, mais essa inominável grossura – mais uma de uma lista gigantesca – do presidente do Brasil conflita ainda mais, bate de frente, com a maioria da população do país, as mulheres que ele tanto tenta alcançar e cada vez mais de nós se distancia. E se distancia com o asco que, garanto, seu atos trazem às mulheres dignas de assim o serem.

Mas são os broches da rainha o tema, e que já estão sendo lembrados. Eu, que amo broches desde sempre, e quem me conhece pode atestar, a cada aparição sua esticava o olho, procurava ver com qual ela estava, cada um mais belo e significativo que outro, que usou durante toda sua vida como um canal de comunicação, informação, símbolo, homenagem, sentimento. Agora, informam, são 98 deles ao todo, heranças, de parentes, presentes que colecionou pessoalmente durante toda a vida, muitos assinados por renomados artífices e casas de joalheria. São além das joias da Coroa.

Seus broches transmitiam mensagens de amor, reinado, história, continuidade, gerando até estudos sobre isso. Em sua última aparição pública, estava usando o sapphire chrysanthemum brooch, que sempre adornava suas roupas em tons azuis ou pasteis. Foi com ele, inclusive, que recebeu a nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, ao empossá-la na rápida cerimônia no castelo da família real na Escócia, sua última aparição pública e mesmo local onde, dois dias depois, repousou. Seu cansaço já era evidente e nesse dia todos notaram o enorme roxo em suas mãos, provavelmente veias por onde eram aplicados os remédios para aplacar suas dores.

broches
Bottons criados por Yoko Ono

Moda absoluta durante anos, os broches foram caindo em desuso ou sendo substituídos. Para os mais jovens, em geral também para passarem mensagens radicais, por bottons, ou pelos pins, aqueles alfinetes menores que são espetados nas roupas e muito usados em solenidades, inclusive por altas autoridades masculinas, bandeirinhas de seus países ou instituições. Também sempre serviram como propaganda de marcas e produtos. Todo mundo tem ou lembra de ter tido ou visto um dia uma jaqueta ou um colete com uma profusão deles. Ambos, pins e bottons, comuns no mundo do rock e das artes, por exemplo. Destaco, de minha coleção, em especial dois que quando usamos, eu ou o meu irmão, causam certo furor. Criados por Yoko Ono, um, a partir da imagem de seu mamilo, outro, de imagem frontal de sua vagina. São discretos, beges, mas olhares atentos sempre os percebem, impressionante.

Embora não sejam joias, muito ao contrário, acredito mesmo ter ao todo mais broches do que a rainha, também lembrada pelos chapéus de formas e cores sensacionais, marca da nobreza britânica, desfilados nos grandes eventos que nos acostumamos a acompanhar nas cabeças coroadas, de ontem, hoje e de amanhã, como na da Rainha Consorte, muita sorte, aliás, Camilla Parker Bowles, a eterna rival da Princesa Diana.

Grandes mulheres da política mundial, provavelmente até inspiradas na rainha, os usam em seus trajes, ternos, vestidos, ou prendendo-os aos lenços de seda. Repare. Broches são versáteis. Com eles, além de mensagens que podem ser até do humor do dia, em segundos se produz uma roupa nova a partir de qualquer tecido, prende ali, fecha aqui. Também, aprendam, podem salvar em ocasiões difíceis, como o rompimento de um botão ou costura, em cima de uma manchinha persistente. Mil e uma utilidades.

Bom poder – mesmo que em meio à tristeza – em uma mesma semana lembrar das grandes mulheres que mudam o mundo, esquecendo o machismo e a grosseria de alguns homens que o atrasam, e que temos um tão perto aqui, que necessita alardear seus visíveis problemas sexuais e o desrespeito em suas considerações misóginas.

Pessoalmente para mim foi bom especialmente lembrar daquele dia em 1968 em que vi a rainha passar ao lado do grande amor de sua vida, o príncipe consorte,  muita sorte, Phillips, Duque de Edimburgo, quando da visita ao Brasil, e em São Paulo, saindo correndo da escola, me postando pequenina em meio à multidão que esperava vê-la ali numa esquina da Avenida Cidade Jardim. Retrato bem guardado na memória.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Dependência. Por Marli Gonçalves

200 anos de Independência do Brasil. Do Brasil. Mas e a dos brasileiros? Mais do que uma pendência, ou várias nesse sentido, ano após ano, nossa dependência aumenta, e de todas, várias formas, muito além da política, de gritos, da alternativa Independência ou Morte!

dependency theory Archives - Progress in Political Economy (PPE)

Lá vem mais uma vez um 7 de Setembro, só que de novo ao invés de podermos pensar em comemorações, conhecimento da história do país, festejos da data redonda e até na reabertura do Museu do Ipiranga, ainda também teremos de nos preocupar com os ataques à democracia vindos de uma parcela que parece tomou conta, se apossou, do verde e amarelo.  Ele se preparam para levar às ruas seu ódio, fanatismo, ameaças, além de fumacentos desfiles militares, intermináveis continências. Que tédio.

Sem sossego, e esse é só mais um momento. Estamos sempre na dependência do que vai ou poderá acontecer, seja nessa data, ou em outras significativas, como as eleições, primeiro, segundo turno. Dias tensos, atentos.

O pior é que delas, das datas, sejam cívicas ou religiosas, sempre resta algum traço de necessidade. Visitando a história nacional, então, pior, sentimos que tudo pode acontecer e a qualquer momento, como inclusive já ocorreu em diversos períodos. E esse medo nos torna ainda mais dependentes do que já o somos.

Dependentes de atos e programas de governo, cada vez mais de auxílios econômicos, fixos ou emergenciais, das decisões sobre programas sociais, sua manutenção, até do controle de preços e da proteção aos direitos duramente conquistados, de tanta coisa vinda de cima, quem realmente pode pensar livremente?

Quantos e quem são os “livres”, que não devem nem precisam de nada, nem devem obediência, sujeição ou subordinação? Não dependem de nada? Não precisam de ter ao menos algum medo, algum temor? De serem julgados sem Justiça, de perder trabalho, casa, família, amigos, condições mínimas, liberdades, possibilidades?

Quantos podem realmente se dar ao luxo do total livre pensar? Melhor, livre dizer, que agora até a liberdade de expressão anda virando falácia?

Pensar até pode. Que por enquanto isso ainda está livre, gracias. Mas quantas vezes ao dia me pego, por exemplo, no que chamo “pensando pra dentro”?  Não comentando, dizendo exatamente o que penso, acho, sobre alguma conversa ou fato? Difícil admitir, mas é verdade, e boa precaução, saudável, inclusive em um momento tão polarizado de todas as formas e que ainda não conseguimos localizar claramente quem realmente são os inimigos, quais serão as consequências dessas batalhas.

A tal dependência de muitos, no caso atual de algum mito, insisto, seja lá de qual lado/direção for, tem tornado difíceis conversas sinceras até sobre assuntos antes triviais, banais e comuns, tantos atarracados nessas idolatrias, que parecem vir acompanhadas de fechados manuais de instrução. Como drogados, dependentes – não das informações reais – mas do que ouviu falar por aí, e que saem repetindo tais como papagaios. Em vários instantes, creio, melhor não polemizar. Mais uma vez, vai saber onde uma discussão boba pode levar. Como aprendi, e que um amigo sempre lembra ter lido em um coletivo em Israel: qual vantagem conversar com o motorista?

Já vivi bastante para ver. Vários momentos nessas últimas décadas. Na maturidade, sei bem o quanto me custou buscar ser livre, agir, e ter pensamento original, e o quanto isso já provocou reações e insídias dos que não conseguem aceitar, experimentar ou conhecer o minimamente diferente.

Não é medo, que para chegar ao hoje, enfrentando de um tudo, muitos tiveram de superar e o fazem todos os dias. Chama cautela e cuidado com a saúde mental. Inclusive porque a paciência, essa sim, está bem esgotada, e o tempo urge para ser perdido com o que/quem não preza a real independência, um valioso bem para o qual todos deveriam estar voltados em suas buscas. Livres, de verdade, sem ter ou causar problemas a não ser a nós mesmos.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Pelejas nacionais e a palma de nossas mãos. Por Marli Gonçalves

Foi aberta a temporada oficial das pelejas eleitorais, e ainda além das nossas muitas pelejas do dia a dia. Agora não adianta nem tentar fugir porque elas entrarão por todos os canais, os da tevê aberta, de comunicação, nas redes sociais e os de nossos sentidos. Vamos esbarrar nelas, mesmo tentando delas se esquivar.

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Está no ar. Vão nos aborrecer, fazer torcer por alguns, ajudar-nos a escolher, e inclusive até nos divertir muito porque lá vem aquele desfile de gente muito estranha, com nomes e até codinomes, apelidos, anexados como patentes, religião e profissões, propostas absurdas e algumas ideias escalafobéticas.

Parece simples, mas não é bem assim. No próximo dia 2 de outubro, primeiro turno que – tomara –  seja o único, para acabar logo com essa aflição toda, teremos cinco decisões a tomar, cinco vezes para ouvir o tilintar da urna: eleger presidente (a), governador(a), senador(a), deputado (a) estadual e deputado(a) federal.  As coisas andam tão polarizadas que até é possível que apenas a partir de agora muita gente se dê conta de prestar mais atenção, mesmo nas fugidias imagens de segundos de alguns dos que pretendem conquistar nossos votos, e nem eles mesmos sabem bem o que estão fazendo ali, na sopa de letrinhas dos partidos, federações, cotas, uniões e acordos.

É preciso entender que todo o processo eleitoral é importante, complexo, que não adianta achar que escolhendo só o presidente poderemos mudar alguma coisa, porque o buraco é bem mais embaixo, ou melhor, lá em cima. São interdependentes. São quadrados que precisam ser bem preenchidos. Com consciência nacional, e que ainda parece que não aprendemos, pela falta de cultura política.

Ficamos aqui de fora assistindo os debates, confrontos, o cara a cara, as entrevistas, torcendo para que um massacre o outro, mas não é jogo de futebol. Temos de escalar um time completo, mas para entrar em campo a partir do ano que vem, com condições de enfrentar a perigosa situação e momento que nos encontramos, poucas vezes vista tão desorganizada em todos os campos, tanto éticos, como sociais, ambientais, econômicos.

O Brasil precisa tomar consciência do tamanho dessa responsabilidade que até aqui parece esquecida, como se tal peleja fosse apenas entre duas pessoas. São muitas. É necessário que a representação de cada um de nós se espalhe pelas casas legislativas, hoje tomadas pelo que há de pior, que veio de carona no mesmo barco do ser que nos atormenta nos últimos quatro anos, trazendo para o poder o ódio e um grande número de elementos execráveis, vergonhosos, perigosos, incluindo a própria família.

Quando escolhemos o presidente ou o governador de nossos Estados para os cargos executivos essa alavanca já começa a ser acionada.

As pelejas nacionais já vêm se dando de forma assustadora não é de hoje, e entre todos os Poderes, especialmente envolvendo o Judiciário, obrigatoriamente acionado para coibir abusos, dar sequência à lei e à ordem, como guardião da Constituição, juiz das partidas. Também aqui colhemos muitas dúvidas, abusos, interpretações que dão espaço a intermináveis discussões se um está ou não invadindo a seara de outro nesse momento delicado, se há abusos contra a liberdade de expressão de golpistas ou censura prévia a condições, planos, pensamentos e financiamento de atitudes que até já vivemos e perigos que apagaram a luz do país por longos e tenebrosos 21 anos.

Pelejas são complexas, árduas, cansativas. Mas típicas da democracia, a palavrinha que temos de defender acima de tudo. Na expressão popular há a expressão cobertor peleja, aquele que não é completo – ora deixa os pés descobertos, ora a cabeça. É aquele cobertor de tecido grosseiro, em geral doados, e que aqui em São Paulo vemos diariamente sendo largados ou arrastados nas ruas por necessitados sem teto ou pelos viciados da Cracolândia, inclusive alguns dos muitos problemas que esperam soluções enquanto as tais autoridades que escolhemos pelejam entre si.

Vamos tentar decidir melhor quem serão esses contendores. Está em nossas mãos as letras que  escolheremos. No dia da eleição, levemos na palma delas o poder e a decisão. E já que a moda parece que está lançada, para agilizar as mudanças, a cola escrita com os números dos candidatos bem escolhidos.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – A gente não quer só…Por Marli Gonçalves

A gente não quer só eleições, a gente quer muito mais: eleições livres, e que nos livrem, seguras e, pelo que parece, divertidas, embora a realidade seja de chorar. A gente quer respeito. Embora também pareça que queremos conflitos, ao menos nas redes sociais onde os grupos se enfrentam diariamente armados de memes, hashtags e arrobas num velocidade espantosa.

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O problema geral é que não estamos vivendo uma piada, mas uma situação e um momento entre os mais sérios dos últimos anos. Quem está no poder está usando isso, aproveitando as grotescas gracinhas nesse ambiente para passar outras boiadas, muitas boiadas. Como a dos empresários do horror planejando golpe de Estado, as motociatas e passeios em pleno momento expediente e o Brasil à deriva.

Tudo é marketing político, para um, pra outro, para outros, ou mesmo para quem se dá bem sendo compartilhado com a assustadora rapidez em que as coisas acontecem nesse mundo virtual povoado de gente e robôs, de informações e mentiras, mas também de uma criatividade sem limites.

Todo dia tem novidades, e essa semana foi especialmente pródiga, culminando com o impagável chamado de “tchutchuca do Centrão”, ouvido na rebordosa que um jovem e  confuso youtuber promoveu no cercadinho do Planalto, e que irritou o presidente a ponto dele próprio voar para cima do menino tentando tirar seu celular que tudo gravava. Uma cena antológica.

Só que ele já estava com uma baita indigestão, e o tchutchuca foi gota de água cuspida no presidente capaz de falar mais besteiras por minuto de que temos notícia e de destratar jornalistas e seus próprios assessores quando se vê emparedado.

Começou com a festejada posse de Alexandre de Moraes na presidência do TSE, Tribunal Superior Eleitoral, que reuniu desafetos de toda ordem. O próprio ministro, com Bolsonaro sentadinho ao lado mais do que com cara de poucos amigos, com cara de tacho, cara de “o que eu tô fazendo aqui?”, entre outras que você pensou aí se viu as imagens. Diante dele, sentadinhos na primeira fila, um festejado Lula, e Dilma, Sarney, Temer. E também, na pontinha, mostrados de vez em quando, os inquietos e abismados ministros do STF indicados recentemente, André Mendonça e Kassio Marques. Um dos maiores registros de saia justa literal de que tivemos notícia.

O caloroso discurso de Alexandre de Moraes a favor do processo eleitoral e da democracia arrancando aplausos entusiastas da plateia, que chegou a aplaudir de pé em alguns momentos. O presidente pálido, crispado, parecia estar brincando de estátua! – assim como o filhote chefe da campanha. Sobrou até para o tchutchuca anterior, Paulo Guedes (assim foi chamado numa recente audiência pública), que teve de sair mais miudinho do que já é explicando porque deu as mãos, cumprimentou Lula. (Fora isso, claro, teve a cena de Dilma Rousseff de cara virada pro Michel Temer).

Isso é que foi festa.

Mas do lado de fora desses encontros, nas redes sociais, na internet, é que se dão tanto as nossas alegrias com piadas, charges, memes impagáveis, quanto os confrontos com as tentativas de respostas nesse triste ambiente ainda tão dividido. Pelo menos ali não rola sangue. Só grosserias nada chiques capazes de corar os influencers de etiqueta social que achavam que o saco roxo do Collor poderia ter sido o ápice.

A agilidade – no Twitter em poucos minutos centenas de milhares de citações, com compartilhamento dos vídeos, charges, memes, trocadilhos, e até versões musicais do tchutchuca do Centrão, o apelido que veio pra ficar – foi realmente impressionante, espantosa.

Mas na realidade silenciamos, porque pode até parecer brincadeira – mas não é – quando esse presidente anuncia exultante em suas lives a diminuição de impostos sobre jetskis, ou sobre – no país que tem muita fome – de whey protein, albumina, de suplementos nutritivos esportivos. E seu próprio perfil oficial publica a foto de um fisiculturista com uma cara parecida com a sua e o seu número de campanha grudado na sunga.

O que a gente faz? Ri ou chora copiosamente de vergonha?

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Feminismo popular. Ninguém é Bruaca. Por Marli Gonçalves

O feminismo ganhando o que mais precisa, divulgação e entendimento de sua simplicidade e importância na força da ação e reação feminina. Está uma delícia. Todos os dias temos visto manifestações – algumas até bem engraçadas – de mulheres brasileiras revoltadas e resolvendo a situação com seus companheiros de forma inusitada: expondo o “gajo” nas redes. Na tevê, a reação das oprimidas faz sucesso e ensina de várias formas que há solução.

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A primeira é não se calar, e o quanto antes. É uma que “vira” onça diante do motel onde está sendo traída, e filma tudo.  A outra que gruda um cartaz no carro do companheiro traidor dando conselhos e inclusive apoiando, vejam só, a amante, pedindo respeito a ela também. Isso se espalha, viraliza. A sororidade se destaca mostrada com sucesso em personagens de novelas, como a Maria chamada de  Bruaca, de Pantanal, reagindo ao entender a situação vivida durante toda uma vida ao lado de um homem horrível,  machista, grosso, nocivo, tóxico, ao qual venerava até descobrir que, inclusive, o tal manteria outra família.

Em um país onde impera a desigualdade, os riscos e violência, e a ignorância tenta a cada dia botar mais as manguinhas de fora, é reconfortante assistir a matérias e matérias repercutindo a opinião de mulheres sobre como estão dando a volta por cima. Ou como estão entendendo muito bem o recado de que sempre chega a hora do “Basta!”. E que esse ponto final poderá salvar suas próprias vidas. O Brasil ainda ocupa o quinto país do mundo em mortes violentas de mulheres segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos – dado vergonhoso e que infelizmente se mantém, apenas piorado, ao longo dos últimos anos.

Em 2020 e 2021 houve uma severa explosão dos casos de violência contra a mulher e feminicídios – o assassinato de mulheres e meninas por questões de gênero, ou seja, exclusivamente em função do menosprezo ou discriminação à condição feminina. A pandemia de Covid, que obrigou ao isolamento, tornou a situação ainda mais calamitosa, especialmente entre as mulheres negras e mais pobres, mas atingindo brusca e diretamente a todas.

As denúncias recebidas pelo Disque Denúncia de São Paulo cresceram 35% em março deste ano, comparando com o mesmo período do ano passado. Em março deste ano foram 57 denúncias, contra 42 em março de 2021. Apenas no primeiro trimestre de 2022, foram 140 relatos de feminicídio no Estado – mais de um por dia!

Nos últimos anos o país tem piorado em muitas questões, particularmente algumas ligadas ao comportamento humano e liberdade individual, ou ligadas às minorias. Todos os dias ouvimos relatos de racismo, manifestações de violência contra as mulheres e contra a população LBGTQIA+.

Uma situação que não envolve apenas as mulheres, em geral atacadas por pessoas próximas, seus companheiros ou ex-companheiros, mas também seus filhos que muitas vezes presenciam esses atos. Atos e números desleais que precisam ser estancados, e luta para a qual todas as mulheres, maioria da população, deve assumir seu papel. Em todos os canais, inclusive políticos.

Daí a importância de divulgar vitórias, as reais e mesmo essas das ficção de filmes e novelas, de casos em redes sociais, muitas vezes a melhor forma de traduzir rapidamente essa batalha e seu significado. Repito: o feminismo é força, precisa ser compreendido em toda sua plenitude, e por homens e mulheres. Não diz respeito só a um ou a outro. São alicerces fundamentais para o futuro. Acredito firmemente que a humanidade não poderá ser assim chamada enquanto a mulher for tratada de forma inferior. Feminismo é prática diária. Presente em nossas vidas.

Não há de se ter vergonha. É preciso pedir ajuda. Por a boca no mundo. Como vítima dessa violência que deixa marcas profundas por toda uma vida, cada caso, cada morte que sei, é como se novamente a ferida fosse em minha pele, e me faz comemorar hoje conseguir ter ficado viva para contar a história, entender exatamente como ela se constrói, a dor que causa.

Me posicionar na frente dessa batalha, implorando pelo fim dessa guerra tão particular e odiosa.

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Marli - perfil cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – O Homem não está nada bem. Por Marli Gonçalves

O homem não está bem; não está nada bem. O homem está confuso, nervoso, não sabe o que fazer, anda inseguro, percebe que está perdendo poder e que já não é mais invencível, daí reagir muitas vezes perigosa e virulentamente. O homem vê que a cada dia tem de dividir o poder com serenidade. Percebe que os tempos são outros e que há reação a qualquer de seus desmandos.

Sei que tudo isso se enquadra muito bem no que vivemos, e que claro deve ter vindo à sua cabeça a figura do presidente que essa semana, parece, criou, percebeu e sentiu a temperatura máxima, e essa não era um filme da tarde de domingo, muito menos do feriado nacional com tantos significados e que conseguiu transformar este ano em um dia de ódio e horror, terrível e tenso para os brasileiros.

Tudo bem que não dá para deixar passar isso em branco, vendo o desfile em verde e amarelo de tanta gente paramentada abanando a bandeira, confusa, enganada e/ ou apenas ignorantes em busca de um líder, sendo usada sem dó por oportunistas, pessoas más, para não dizer outras coisas, com pretensões da pior espécie, querendo fechar os horizontes da liberdade e da democracia. Brincando perigosamente com o futuro.

Claro que esse Homem aí, o que conclamou e tramou o que espantados assistimos, também não está bem, não está mesmo é nada bem. Mas isso não é de hoje. Esse aí nunca esteve bem, e em nada do que fez, nem como militar, muito menos como político, ocupação que exerce há mais de 30 anos sem brilho, e que por golpe de sorte e das condições daquele momento eleitoral foi posto no poder máximo.

Mais do que evidentemente não estar bem, repara só: esse Homem está bem maluco – não é impossível que acabe numa camisa-de-força – desorientado, inconsequente, e literalmente atirando para tudo quanto é lado na tentativa de se manter nele, no tal poder que, parece,  subiu para sua cabeça e, pior, para a de todos os seu filhos, parentes, amigos e ministros que o seguem nessa balada insana seja em cima de palanques, na frente da câmera de suas insensatas lives ou no cercadinho que se tornou o ponto de encontro da turminha que o anima.  E num país que se desmancha, precisando tanto de um governo.

Muito chato. Só imagino e adoraria saber detalhes de qual foi o real bastidor, os fatos que o levaram a apelar para a pena de Michel Temer para criar uma nota pública que pudesse por panos quentes e frios, pelo menos por hora, na perigosa confusão que armou. Queria ser a mosquinha que pudesse ver a real, que normal não foi, não caiu do céu esse arrego que deve estar causando forte azia e indisposição, inclusive em quem saiu atrás dos trios elétricos do horror achando que estava abafando.

Mas, enfim, pulando esse assunto que já deu, o que é visível é que o homem, o ser masculino, esse que já não aguento mais ver aparecer diariamente envolvido em tantas notícias de crueldades e feminicídios, talvez até por conta e somada a situação nacional, não está nada bem, e se debate angustiado. Com o avanço do movimento feminista, com a entrada cada vez mais expressiva  das mulheres no mercado de trabalho e lutando por sua independência e participação igualitária, as bases do tal domínio do macho estão ruindo à nossa frente, sendo levados pela onda de força que vem sendo demonstrada pelas mulheres, especialmente nesse momento de superação, da pandemia, onde fomos tão e mais brutalmente atingidas.

É preciso destacar esse momento importante. Porque dele poderá vir, finalmente, um novo mundo e quero estar aqui para presenciar e celebrar o resultado dessa luta de toda uma vida. Torcendo para que essa lufada, enfim, sopre cada vez mais forte aqui e em todo o planeta.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Os nossos loucos (primeiros) dias de setembro. Por Marli Gonçalves

O que será, que será? Posso quase apostar que muito barulho por nada, que vão dar com os burros n`água. Sempre aprendi que cão que muito ladra fica rouco e não morde. Poderemos esperar, contudo, que uma primavera floresça – sementes também têm surgido em meio a esse setembro que já chegou, veio se esgueirando entre tantas ameaças. O golpe deles já foi esse: exatamente como queriam, passamos os últimos dias falando dessa gente, de suas ameaças e boquirrotices.

loucos dias de setembro

Nem contamos até 10 – nem precisa, porque já andavam armando confusão desde bem antes deste mês. Coisa chata, como se não tivéssemos tanto a resolver no nosso dia a dia. Como se o país estivesse a mil maravilhas e não com uma inflação galopante e ameaças reais, as de falta de água, de energia, de saúde, vacinas, e tudo o mais.

Mas setembro chegou e com ele umas luzes poderosas que ainda podem realmente mudar algo, se forem coesas. Vindas da total perda de paciência com o desgoverno e inquietude agora bastante expressa objetivamente pelos empresários líderes dos principais setores da economia, surpreendentemente até do agronegócio, que souberam até afugentar e se sobrepor aos medrosos que pularam fora com medo de puxão de orelha e bicho-papão. Os que ficaram firmes em seus manifestos sabem que tudo vai melhor com democracia e paz. Claro, sempre melhor para eles, diga-se de passagem. Mas têm poder.

Quando até os bancos e banqueiros se mexem, o sinal está claro. E de qualquer forma ele ainda está fechado para nós, os que assistimos ainda inertes ao andamento desse espetáculo deplorável, o momento da política nacional que tanto nos fraciona, estilhaça; não é mais nem que nos divide, porque agora tem de um tudo.

Tem os adoradores, os que antagonizam, com seus erros de cada lado. Adoradores! Seja de um, seja de outro, se me entendem. Aí não tem conversa, nem explicação, apenas uma espécie de amor platônico. Precisam de um paizinho que os guie, acima de tudo, seja o que fazem ou fizeram, mesmo que tenha sido em situações justamente que nos levaram ao desastre atual.

Entre os adoradores estão os que ainda não conseguem perceber ou já estão se dando muito bem com o fundo do poço; tem os que pensam igual, e sonham dia e noite, rezando ou não, para que retrocedamos em tudo ao século passado no que ali havia de pior, de atrasado. Do outro lado, os que ainda não admitem qualquer outra nova possibilidade, mesmo que próxima do razoável para unir – só enxergam um homem, sua barba e, ultimamente, também as suas coxas firmes. Tudo bem, vai, que ninguém mais pode fazer tanto mal quanto o atual perturbador geral da Nação está fazendo.

Perigosos, nessa miríade há os que acham que estão, como meu pai diria, por cima da carne seca, sendo que no fundo estão é como nós, à mercê de tudo de ruim. São os que – só pode ser – cegos e surdos, mantêm-se ocupados em se desfazer de informações sérias, da imprensa, que xingam cada vez que esta os chama à realidade. Gostam das mentiras que os alimentam, e imaginam uma Pátria toda verde e amarela, não gentil, armada, onde pensam que um dia poderão se dar bem. São agressivos e a maioria dos que devem ir sem máscaras às ruas dia 7 para apoiar a familícia, já que a vida comezinha deles também não lhes dá outras diversões além da beligerância com que tratam temas sociais ou de comportamento.

Agora surgem – o que até positivo é – os mais ou menos, que há dois meses preparam outra grande manifestação, mas para o dia 12: arrumadinhos, esses, entre eles muitos arrependidos com o apoio que deram a Bolsonaro em 2018, tentam consertar o que acabaram criando. Têm e mantém críticas aqui e ali a algumas decisões do Poder Judiciário, STF incluso, ao Congresso, se apresentam como centro e centrados, numa pauta confusa, e buscam uma pista, uma terceira ou quarta via, mas que tenha afinidade com a mão inglesa, direção à direita. Também prometem fazer barulho e são organizados.

Enfim, há opções para quase, ressalte-se, quase, todos os gostos. No dia 7 até com locais diferenciados para não se estranharem ainda mais.

Passando tudo isso pode ser que surjam novas brechas onde, então, poderemos – nós, o que ainda não acharam espaços confiáveis – nos encaixar.

Aí, então, será a primavera.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Tá frio; tá quente: o jogo nacional e mundial. Por Marli Gonçalves

Tá frio; tá quente. Quando a gente acha que a coisa está indo, ela está é voltando, e em cima da gente. Até o tempo está igual: você não sabe mais nem se está quente ou frio. Se põe ou se tira. Não é brincadeira, não.

TÁ QUENTE; TÁ FRIO

Confesso: todo dia ao acordar, assim que dá, que lavo a cara, abro os olhos, me entendo no mundo, aciono o celular para verificar se algo mudou. Virou mania. Se o cara caiu. Se já foi interditado ou preso. Se avançamos, e se a situação – essa situação geral que vivemos, e digo geral, porque geral é mesmo, uma vez que, sinceramente, nada está bom, correto, nos trilhos – teve uma conclusão. Tenho bom humor, porque senão a decepção paralisaria. O que acontece todos os dias é que surgem mais pontos, mais fatos, e a confusão geral continua essa loucura, que eu até diria: está coletiva.

Porque só pode ser uma loucura coletiva, altamente transmissível. Aqui, pelo presidente que não governa, mas não para de demonstrar seu total despreparo para o cargo, que deixa o país como uma nau sem rumo. Ele governa de um barquinho, onde faz subir para acompanhá-lo o que de pior há em nossa praia, e que não cansa de chamar para o naufrágio que avistamos no horizonte.

Loucura no mundo, para uma geopolítica desconcertante, principalmente depois da pandemia ter bagunçado mais ainda o coreto. A impressão é de que, neste retorno, os países mais fortes sairão pisando a cabeça dos mais fracos, galgando uma montanha de corpos. Nada tem sintonia. Primeiro fazem; depois vão ver no que deu, lamentam, dão entrevistas e soltam farpas uns contra os outros.

Estamos todos com os olhos vendados e apalpando a História. Está quente? Logo o balde de água fria faz com que comecemos tudo de novo, e esse tudo de novo que digo nos leva ao século passado, com suas guerras (frias e quentes, aliás), religiões mortais, ideologias sanguinárias, padrão “já vimos esses filmes”.

Nem sei mais se as crianças ainda brincam disso, ou do que é que elas brincam quando não estão – até sem ter ainda noção – sendo vítimas das atrocidades e desse desenrolar do futuro que encontrarão.

Muitos artigos têm sido escritos dando conta que o presidente Bolsonaro não está (embora nunca tenha sido muito) normal das ideias. Cada vez que ele abre a boca, e o faz todos os dias, emite claros sinais disso. Cercou-se ainda de pessoas que pegaram a mesma tendência e que surgem dos gabinetes e dos ralos. Todos, que a gente nem sabe bem quem são – impossível listá-los de cabeça. O da Economia, o serzinho Paulo Guedes; o da Educação que você deve ouvido por aí; o cordato da Saúde, enfim, até os militares que abaixam a cabeça e batem continência para todos dançarem diante das graves e visíveis ameaças à estabilidade. A qualquer estabilidade. Inclusive a nossa, emocional.

As notícias são claras, cada vez mais mostram os fatos no momento exato que acontecem, com imagens e sons estridentes. E se repetem, como se não tivessem tempo nem de respirar. Ainda aparecem os querem brigar com elas, não acreditando, negando, seguindo líderes corruptos, que mancham os caminhos por onde passam.

Nós estamos confusos, sem conseguir achar a luz. Está frio. Está quente? O “agora, vai” fica pelo caminho. Continuamos agindo como os robôs que diariamente são ativados na vida digital, como se tudo isso fosse normal. Não é.

Minha proposta é que troquemos essa “brincadeira”. Lembram daquela – cor, flor, fruta – que alguém ficava lá pensando na letra até que falássemos STOP?

STOP!

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Golpes. Eles estão entre nós. Por Marli Gonçalves

Golpes. Golpe. Nunca ouvimos tanto essas palavras malditas. Nunca estiveram tão presentes e em suas mais variadas formas, de algum jeito sempre tenebroso. Perigoso. Eles nos cercam, ameaçam, nos põem em prontidão constante. Sempre tem algum que vaza, nem que seja um golpe de ar que resfria.

golpes

Tudo quanto é tipo de golpe. Todo dia alguém cria mais um, inclusive, sempre terrível, sempre com atos para ameaçar alguém, insidiosos como serpentes prestes a dar o bote. Pior, são criativos, e infinitos em seus estragos. Em geral, feitos, pensados maquiavelicamente para roubar, iludindo. Roubar até a nossa própria liberdade como vem sendo ameaçado todos os santos dias por esse desgoverno que parece pretender, sim, o golpe máximo, que nem mais é militar, mas sim acabar de vez com o país já tão maltratado, doente, miserável, ignorante.

Dificilmente os golpes são bonzinhos, ingênuos, mas sempre são tentados primeiro de forma a parecerem a salvação de alguma “pátria”, alguma questão. Assim, se realizam, enganam, penetram, inclusive entre os mal intencionados que adorariam ganhar algum de forma mais fácil, sem trabalho, e que se tornam, justamente por isso, presas fáceis. Esses, em geral, são enganados por estelionatários oferecendo vantagens que parecem baratas aos olhos de inocentes ou mal informados; ou, mesmo de tantos que parecem, como disse, sempre desejarem ser os espertos. O final da história é sempre ruim, seja para um lado ou outro.

Sempre alguém sai machucado. Na política, por um golpe de direita ou de esquerda desferido certeiro contra a democracia – esse o Golpe de Estado, que já conhecemos bem, infelizmente, mas parece que o aprendizado está passando, mesmo depois de recentes 21 anos de amargor e horror. Eles querem ser os que dão o golpe de misericórdia. Acham sempre que o deles será o de Mestre.

No amor, tem o tal Golpe do Baú, por exemplo, coisa antiga, que tanto apavora os ricos até que sejam enredados. Tem o Golpe da Barriga, outro, bem démodé, que tantas crianças infelizes põem no mundo, nascidas apenas para render, e que é constante sabermos de mais um, mesmo que a princípio se mostre cheio de encantos românticos e legais. O amor, aliás, origina uma série de formas de engano que levam a dar – e tomar – muitos golpes. Que machucam muito.

Os idosos, em geral, são as maiores vítimas de tudo quanto é tipo de golpe, às vezes até vindos de suas próprias famílias ou de quem eles ousaram confiar.  O golpe do bilhete premiado é um dos mais comuns. Bobo, até, mas ainda acontecem. Para catar a sofrida aposentadoria, os golpistas têm se esmerado em criatividade. Uma maldade sem igual.

Não está fácil para ninguém se livrar deles, dos golpes, porque estão vindo de todos os lados e formas; nos e-mails, nas redes sociais, no tal zap, com hackers malditos que invadem tudo. Nos roubam e se divertem. Não pode haver distração para não cair nesse buraco. No telefonema que avisa sobre o “sequestro” de alguém; nas instituições fantasmas que pedem doações, nos boletos falsos, nas compras que não chegam. No motoboy que vai buscar o cartão “clonado”! Até os que entregam a comida agora tentam passar valores extras no cartão. Na compra e venda de carros que nem existem. No emprego que, para conseguir, tem de pagar antes alguma “taxa”. No imóvel lindo da praia, das sonhadas férias, que, alugado, era apenas um terreno baldio iludido por uma foto tirada da internet.

Os golpes financeiros estão atingindo sofisticação máxima. É Pix e pow, golpe! Bitcoins, rentáveis, pirâmides que sempre acabam demolidas com vítimas nos escombros e na miséria. Notas falsas; outro dia apareceu uma de 420 reais! (que bicho teria na estampa? – a hiena, certamente, porque os golpistas dão muita risada na cara dos que enganam).

O nosso maior problema é estarmos totalmente nas mãos dos bandidos de todas as classes sociais (e partidos, e ideologias, e tudo o mais). Sem defesa. A polícia diz que vai investigar. Os bancos ficam mudos, e mudos continuam. As agências reguladoras e órgãos oficiais não mexem o traseiro para evitar o vazamento de dados – esses, vendidos nas esquinas do comércio popular. Os meus, os seus, os nossos. Os deles, em geral, são bem guardados.

Tomamos golpes de todos os lados. Até de falta de ar ao encontrar os preços subindo em escalada, com o momento aproveitado por oportunistas, só aumentando a fome, a miséria, o subdesenvolvimento. São golpistas esses que adoram essa confusão que está o país, insuflam os conflitos que jogam fumaça nos olhos. Esses que querem arregimentar “patriotas” para o caos com seus estúpidos argumentos e mentiras.

Insolentes, aproveitadores, os que deviam nos proteger, ameaçam com golpes e agora até na bovina versão de “contragolpe”, seja lá o que queiram dizer com isso.

Urgente, que tenhamos, sim, um golpe, mas de sorte, e que nos livre de todos esses males.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Os medos nossos de cada dia. Por Marli Gonçalves

Nossos medos, os meus medos, os seus medos. Todo dia ouvimos falar em retomada. Flexibilização. Dá uma angústia, ao invés de alegria, por não vermos o bicho totalmente dominado. Vemos as ruas cheias, inclusive de caras de pau sem máscaras gritando suas ignorâncias. Nas cidades, o som do burburinho, das buzinas. Vacinados, muitos, mas mesmo assim, vulneráveis; uma dose, duas, três, contando com a da gripe. Você já se sente seguro?

medos

Todos os dias ouvimos também os ecos das variantes e suas letras gregas mais transmissíveis e terríveis; sabemos de pessoas próximas doentes. Importantes, morrendo, mesmo depois de ter feito tudo certo. Como passarinhos que saem dos ninhos, e acabaram atacados por gaviões que os esperavam, silentes. Países se fechando de novo por muito menos do que o que ocorre aqui, onde ultimamente desgraça pouca é bobagem, a começar nas políticas, incluindo os malfeitos e a guerra das vacinas que não chegam aos braços, mal distribuídas. A tal média móvel que nos informam num sobe e desce infernal e ainda números absurdos de mortes e contaminações – registre-se, essas são apenas os dados oficiais desse Brasilzão de Deus, onde um grita e o outro não escuta. De dez mil em dez mil, fica mesmo difícil estar tranquilo.

Pouco se fala dessa angústia, não temos ajuda real que anime a sair por aí, o que torna difícil não cuidar apenas de um dia após o outro, e olhe lá. Medo, temor, receio, pavor. Ansiedade, insegurança. Tudo muito próximo.  Parece uma praga, uma tranca. Mais de um ano e meio depois, a estranha sensação de que o mundo não só mudou, mas que está travado, correndo atrás de seu próprio rabo, em círculos e ondas. Sem saber exatamente, e o que é mais estranho, de nada, nem do tempo que as vacinas protegem, nem de como controlar as novas cepas, o que pode vir por aí em novas ondas, muito menos como fazer o que nós, individualmente, já estamos sendo obrigados, a tal retomada, girar a roda. O nariz fora da porta, o pé na rua, a vida social, uma tal vida normal que, creio, para as gerações atingidas ainda por muito tempo de nada será normal, até que isso tudo seja pelo menos um pouco ultrapassado.

Aliás, e até mudando de tema, embora tudo pertença a um pacote só, os relatos sobre os problemas ambientais que ouvimos esses dias já é outro bom motivo para tremedeiras: aquecimento global, derretimento de geleiras, incêndios, enchentes, frios e calores intensos – já não são mais previsões, mas o que até já estamos presenciando e ainda há quem duvide.  Tudo muito interligado, as doenças, os fatos, a natureza. Nossa saúde.

Sou marcada, não por uma outra pandemia que não tenho século de vida, mas por uma epidemia, a da Aids, que nos anos 80 e 90 vivemos de perto e levou embora muitos amigos, e o meu melhor amigo. Ela nunca passou, apenas mantém-se controlada e como há ainda hoje quem não acredite que esta também afeta a todos, foi sendo deixada num cantinho, sem cura, sem grandes avanços na pesquisa, mais de 30 anos depois, empurrada com a barriga. Agora, inconformada, perdi de novo muitas pessoas importantes, trechos de minha existência, de nossa história, a minha e a do país.

Nessa realidade do coronavírus o mundo até levantou o bumbum da cadeira, aliás deve ter quem esteja ganhando muito com isso. Mas não é o suficiente para acabar com o medo. E em um momento que tudo quanto é tipo de maluco negacionista esteja aproveitando para angariar seguidores, aproveitando o progresso nas comunicações, especialmente a internet, para disseminar mais ainda mentiras e esse pavor que nos faz não reconhecer mais nem os próprios familiares, amigos, vizinhos, como no piores filmes de ficção: viraram seres possuídos por um mal para o qual, parece, não há exorcismo, informação, livro, atestado que cure.

Escrevo sobre isso, sobre esse sentimento que nos paralisa, porque estou vendo que pouco se fala sobre o que passa dentro de cada um de nós, esse mal estar, e que temos sempre tanta dificuldade para expressar. Sei que não estou sozinha e, como todos, reconheço que não temos mais muito tempo a não ser realmente enfrentar, fazendo tudo direito continuamente, e dando a mão a quem precisa – são muitas essas pessoas, em todos os locais,  ao seu lado – da forma que nos for possível.

Coragem. E terceira dose já!

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – O presidente boko-moko. Por Marli Gonçalves

Vamos relaxar, brincar um pouco, pensando no presidente boko-moko. Ele está fazendo tudo para o país, tal qual caranguejo, andar para trás e pros lados. Quer voto impresso e, entre outras, com a sua turma ataca nossas importantes conquistas. Só tirando muita onda com a cara deles, lembrando do que, então, poderíamos até querer de volta também.

PRESIDENTE BOKO-MOKO - FICHAS TELEFÔNICAS

Escrevo na máquina de escrever? Mando para vocês via telex, ou no teco-teco? Ah, já sei, enviarei um fax. Ou reproduzirei por mimeógrafo. Claro, só depois de comprar um pergaminho, que preciso perguntar onde tem. Telefonarei do orelhão com minhas fichas, que a fila da Telefônica lá da 7 de Abril está grande, dando voltas – muita gente querendo o plano de expansão. Mando um bip? Vou é jogar na loteria para ver se me arrumo na vida. Tem de furar o cartão da loteca.

Subo ou desço a Rua Augusta a 120 por hora? Olha só quantos Gordinis, Romisetas, que lindos SP1, coloridos, e cada cor tinha nome no documento. “Lanchas”, como o Galaxy, o Dodge, bancos de couro que a gente escorregava para lá e para cá a cada curva. O russo Lada, dizem, só vai aparecer quando cair uma tal de proteção nacional, de um tal presidente contra marajás, que também vai cair – pelo menos foi o que a vidente em borra do café disse.

Não, vou paquerar. Para achar os endereços, Guia de Ruas, aquele catatau. Qual tênis uso? Pampero, Conga, Bamba, Kichute? A bota branca, né? Olha só o cara com chinelo de borracha de pneu e bolsa com franjas. Cabelo Pantera ou capricho no laquê? Gente, olha aquele arrumadinho! Comprou na Ducal? Na Casa José Silva? Mesbla? Ah, aquilo no cabelo dele emplastrado é gomalina. Deve ter passado lá no Banco Nacional. Ou terá sido Sudameris, Bamerindus, Banespa, Real? A lista é grande dos bancos falecidos.

É, já tivemos mesmo muitos bancos, grandes, mas agora temos só uns três para escolher. Lembrei até de minha primeira conta, que abri no Sudameris, lindo o nome completo: Banco Francês e Italiano para a América do Sul. Achava tão glamuroso. E o talão de cheque, então? Era azul marinho, cheio de estrelinhas. É, talão de cheques é o nome daquele bloquinho que a gente recebia para usar, muitas vezes sem fundinhos. Sim! Tinha cartão de crédito. Era passado numa maquininha com papel carbono. Aliás, tudo usava papel para desespero das árvores.

Cadê os parques de diversões? Tinha um bem legal aqui na Avenida Santo Amaro, e o primeiro PlayCenter na Avenida Brigadeiro, com tobogã? Depois, foram morrendo também, ou ficando enormes e muito mais caros e inacessíveis. E a maçã do amor, os realejos com seus papagaios, tudo foi ficando distante.

Deu fome: o coquetel de camarão que era só pra quem “podia”. As panquecas do Rick Store. Oi, tempos do Hamburgão, Hamburguinho, Chico Hambúrguer, que era bom demais se lambuzar. De sobremesa, banana split. Ou, mais chique, mousse de papaia com pingadas de licor de cassis. Nossa, nunca mais os sonhos da doceira Abelha. A Dulca ainda existe, mas que decepção! Sem baba-rum, sem aquelas dezenas de opções, hoje sobrou só um mil folhas, mas sabe como é a economia, né? Agora dá pra contar as tais folhas. Cuba Libre (que assim seja! – logo, um dia!), Ginger Ale, Seven Up, Grapette, quem toma repete!

Mas a gente se divertia sim. Às vezes até cometendo pequenos crimes. Você teve o anel brucutu? O brucutu para fazer esse anel era uma peça, o bico do lavador do para-brisa dos Fuscas. Ah, era deixar o fusca na rua e lá ia embora o brucutu. Só valia se fosse assim, roubado.

Na moda não dá pra falar muito porque parece mesmo que tudo vai e volta. Tinha courvin, helanca, salto carrapeta. A revolucionária mini saia, usei muito, o que me valeu até a brincadeira à época de ser a jornalista com o cinto mais largo da redação, olha só! A calça de duas cores, a boca de sino, a cintura alta, a baggy. A modelo Twiggy, a mais magra da história, que era quase um olho com cílios, de vez em quando a gente vê alguma na rua. Hoje tem mais essas botocudas, com bocas que parecem ter sido picadas por abelhas selvagens, unhas em inexplicáveis e desajeitadas garras, com as quais devem até se flagelar em algumas horas, se me entendem.

Esses dias li por aí alguém falando sobre skates, como uma coisa de 20 anos atrás. Socorro, Revista Pop! Diz para eles que por aqui isso é coisa bem mais antiga, de quase 50 anos, madeira e rodas de patins o sucessor do rolimã. Eu estava lá, raras meninas, descendo as ladeiras de uma praça no Sumaré, tinha uma boa no Morumbi. Até que a polícia dava uma “batida” e a gente tinha de sumir.

Para finalizar, só tem uma coisa, importante: esse retrocesso todo que o presidente Boko-Moko insiste e está levando o país, além de querer a volta do voto impresso, não é legal, como essas lembranças. No passado tivemos mesmo coisas muito boas, sim, mas foi exatamente nesse passado que vivemos também uma ditadura, uma noite de 21 anos nessa tal pátria amada ao som de Don e Ravel, ame-o ou deixe-o.

Caiu a ficha?

*- Boko-moko: brega, kitch, cafona, ultrapassado, de mau gosto, fora de moda, gosto ou atitude duvidosa na estética. Gíria dos anos 60 e início dos anos 70.

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BOKO-MOKO

ARTIGO – Estamos numa fria. Por Marli Gonçalves

Entramos e estamos numa boa fria, numa gelada, num enorme saco sem fundo. É tanta coisa acontecendo de esquisito, de ruim, e sem que possamos resolver de vez ou tomar medidas rápidas e objetivas – a solução não está só em nossas mãos, mas na de todos e em tantas mudanças e acertos – que só resta, sei lá, espirrar. Espirrar com muitos desses culpados de nossa frente

Saltos, piruetas, manobras espetaculares no asfalto, nos tatames, no mar, fôlego na piscina; as mulheres arrasando, a garotinha em cima do skate, a outra bailando com movimentos precisos bem na cara de suas próprias dificuldades. Orgulho, vitórias, e não só, também as derrotas, trouxeram distração para mais de 100 metros nas notícias e madrugadas olímpicas. Vimos novamente, felizes – mesmo que por instantes – a bandeira nacional tremulando sem que ela nos causasse essa certa repulsa que tanto fizeram que conseguiram nos fazer dela até enjoar nos últimos tempos.

Soubemos das incríveis lutas e histórias de superação dos atletas – os vimos felizes e também desolados quando ficaram pelo caminho em suas modalidades. Pelo menos ali acompanhamos um país se esforçando, lutando para se firmar e melhorar. Temos mais alguns dias para acompanhá-los e torcer.

Mas agosto está aí, sempre teremos agosto. E já está vindo embalado pela pandemia que continua matando muito mais de mil pessoas por dia e querem que isso pareça normal, quando vemos outros países indo e voltando de medidas restritivas nesse vaivém estonteante. Aqui, o pimpão prefeito do Rio de Janeiro, por exemplo, decretou que vai estar tudo bem até o outro mês e até já marcou feriado e festa. Uma vergonhosa corrida de Estado contra Estado, cada um querendo parecer melhor que outro, em campanha aberta, como se não bastasse o furdunço que virou o Governo Federal.

Às vezes acho que a água que os dirigentes e responsáveis pela condução do país tomam contém mesmo alguma coisa a mais – só pode ser. Não atingimos ainda nem os 20% de imunizados com as duas doses. Há ainda um inacreditável número de pessoas contrárias às vacinas ou que não voltaram para a segunda dose, quando necessária, como o é para a maioria. Ainda vemos quem tenta escolher qual marca tomar – e muitos desses estão tombando pelo caminho. O Ministro da Saúde ousa proclamar vitória e ações do governo, como se não tivéssemos já quase 560 mil mortos e mais de um ano e meio de pandemia muito mais cruel por causa dos erros deles.

Agora, as aulas vão voltar – e não se tem a menor ideia de como resolveremos os sérios problemas da Educação, da evasão, do atraso no ensino. O Ministério? Além de uma fala maluca do ministro, outro batendo no peito por feitos não feitos, pôs no ar uns anúncios moderninhos. Volta também o showzinho diário da CPI que, quando acabar, teremos um relatório enorme, e precisaremos torcer muito é para que ele não vá dormir em alguma gaveta.

Quem chacoalhou esse país para ele estar assim tão dividido? Quem abriu a tampa do bueiro para tantas absurdas ignorâncias? Um queima o Borba Gato; outros vêm e jogam tinta vermelha nas homenagens a Marighella e Marielle. O fogo queima nossa memória. As mentiras e notícias falsas se espalham e ecoam. O presidente monta um circo para dizer o que já sabíamos de suas acusações sobre as eleições – que ele não sabe de nada, não prova nada e isso é só mais um assunto para manter o percentual cada vez mais baixo de quem o segue, ainda achando que ele presta, mesmo vendendo seu mísero poder para outros míseros carrapatos que grudam em tudo que é governo, seja de qualquer lado do colchão. Não adianta virar, desvirar, por ao Sol.

É inverno e até o frio intenso e recorde que há muito não aparecia ataca o Sul e o Sudeste, expondo nosso total despreparo para qualquer situação extrema e a miséria que grassa nas ruas que acomodam friamente mais milhares de recém-chegados. Os preços disparam, sem controle, enquanto turistas fazem horrorosos bonequinhos de neve e a geada acaba com as plantações.

Estamos mesmo numa fria na qual entramos sem saber ainda como sair dela, estranhamente escaldados.

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MARLI - cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Sob e sobre ameaças. Por Marli Gonçalves

Vivendo sob constantes ameaças, e que só aumentam, vindas de todos os lados. Não bastassem as lutas para controlar a pandemia, o surgimento de novos vírus e outras doenças esquisitas, os problemas com energia, água, temperatura, economia, no Brasil vivemos mais um pesadelo, o político. Qualquer homenzinho, ou serzinho verde oliva, agora aparece cheio de marra, e ameaçando a democracia.

Ameaças

Temos muitas dúvidas, perguntas, pedidos de esclarecimentos, e temos ouvido quase sempre as mesmas não-respostas. Repara quantas vezes, nós, da imprensa, perguntamos, perguntamos. “Mas até o momento não obtivemos resposta”. Todo dia. As revelações, gravações, denúncias, fatos e fotos, falas e gestos se sucedem.  Parece que estão brincando de governar, e estão; sem rumo. Mas jogam pesadamente pelo poder – e com as nossas vidas.

Para quem já viveu momentos difíceis, apenas uma clareza: antes, sabíamos exatamente o que, quem, como estávamos combatendo ou de quem deveríamos nos defender. Agora, apenas a ignorância grassa e é como se o inimigo morasse ao lado, e possa surgir nos surpreendendo. Os descobrimos entre pessoas próximas, amigos, familiares, numa divisão sem igual. Contaminam todos os ambientes.

Os ataques podem ser tão sub-reptícios que até uma deputada acorda machucada, com fraturas, e sem saber exatamente o que ocorreu denuncia poder ter sofrido um atentado. Muito louco? Não, se pensarmos que agora tudo é mesmo possível, inclusive para quem amigo deles era; e inimigo deles, virou. O que aliás tem sido muito comum: o abandono desse barco que navega sem sentido e em uma tenebrosa maré. Maré obscura, armada, violenta.

Ultimamente, não sei como, descobriram uma palavra que usam para tudo e que duvido saibam exatamente qual o seu sentido: “narrativa”. Escuta só uns minutinhos de CPI. Escuta um minutinho do discurso de justificativas e negações deles. Até o presidente, que não é o maior afeto ao vocabulário humano, outro dia disparou “narrativa” para lá e para cá. Lá vem ela: tudo que os afeta é narrativa incorreta.  Só a deles – e que vem eivada de ódio e erros – é que deveria ser ouvida.  Tentam adestrar com decorebas os seus bovinamente seguidores, pouco importa o que falam, mesmo que logo depois contradigam-se.  O recheio de informações falsas que usam cria uma espécie de hipnotismo, repetições ao molde de treinamento de animais. Contam um conto, aumentam muitos pontos.

Isso não é ideologia, direita, esquerda, volver, nem centro, nem de cima nem de baixo. Para ser ideologia tem de haver inteligência, conhecimento, estudos, lógica, contraposição, debate. Assim a gente descobre porque é tão difícil lidar com eles, são apenas chucros estes que estão no pódio do poder central, ladeados por muitos outros, instalados em outros poderes. Infelizmente, inclusive na imprensa, muitas vezes a pesados soldos.

Agora a questão é duvidar das urnas eletrônicas, pregando o voto impresso, mesmo que se diga e repita a confiança nessa forma de voto. Não deve passar essa iniciativa. Tomara que não. Mas eles inventarão outras ameaças nesses meses que antecedem a eleição do ano que vem, e que infelizmente ainda não nos apresenta uma lista de candidatos fortes o bastante para recolocarem o país nos trilhos.

“Se urnas são confiáveis, dá um tapa na minha cara”, pede Jair Bolsonaro, ao duvidar do próprio sistema eleitoral que o elegeu, sem apresentar provas.  Será que vai ser preciso agendar? Pode entrar quantas vezes na fila?

Ele que está pedindo. Nós não ameaçamos, mas ainda creio que saberemos como nos defender.

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ARTIGO – Popular eu sou. Por Marli Gonçalves

Deve ser muito bom ser famoso, mas ser popular já posso dizer que é demais. E foi como me senti esse ano vendo festejado meu aniversário por tantos, sem modéstia, muito mais de mil, nas redes sociais e em outras formas de contato. Nesse momento que estamos tão isolados uns dos outros foi uma grande festa digital e conseguiu reunir pessoas do mundo inteiro no meu ambiente.

popular

Se você acha que ultrapassar mil é pouco, venha aqui consertar a tendinite que ganhei tentando ler e escrever, agradecer a todos, o que não consegui direito até hoje. Assim, escrevo em homenagem, esperando que assim possa alcançar muitos outros milhares que me leem toda semana, leitores queridos, muitos dos quais também me festejaram.

Do exterior, de todo o país. Foram imagens, palavras de apoio, incentivo, carinho, bons desejos, reconhecimento, lembranças de fatos vividos, gracejos e elogios. Foi como se em um dia eu tivesse dado uma festa real, e a qual compareceram os mais variados personagens de toda minha vida, alguns conhecedores de toda essa sexagenária história de batalha, ou apenas que viveram comigo instantes que os marcaram tanto como certamente marcaram a mim.

Nesses tempos de distanciamento social, fatos duros e perigosos da política ocorrendo nas nossas barbas sem que possamos fazer efetivamente algo, e nos quais as comemorações não serão iguais ao que eram ainda durante um bom tempo, descobri o que foi uma festa para mim, e que durou mais de um dia, contando as mensagens e os telefonemas atrasados, além daqueles adiantados. Dos que tentaram serem os primeiros à meia noite (ganhou o pessoal amigo, os que vivem ou estão na Europa, com cinco horas de diferença de fuso). Foi um festa segura, barata, e especialmente cheia de amor, reunindo conhecidos e até penetras. Admito que muitos dos que vieram, não conheço e não sei quem são, nem sei bem como chegaram. Mas pensaram em mim, dedicaram algum tempo para dar um oi, dizerem que me acompanham de alguma forma.

Tempos digitais. No Facebook, quem mandou as primeiras cem mensagens acabou prejudicado. Até hoje não consegui chegar até elas nem para mandar um coraçãozinho, uma vez que essa rede, e mesmo a intermitência da internet, não ajuda, não facilita. Você vai indo, indo e ela volta tudo – tentei, garanto, umas 50 vezes até desistir. Se você está nessa lista, coraçãozinho ♥! Obrigada!

Fiz um post pedindo paciência, que o dia do aniversário foi meio atribulado – e só nele já vieram centenas de mensagens. Mais outras que davam carona a outras. O máximo. Fui cercada por um mar de amigos. Facebook, Linkedin, Instagram, Twitter, Whatsapp, e-mails, telefonemas no fixo e celular.

Talvez você aí ache tudo isso normal, nem dê valor, talvez esteja acostumado, seja famoso, algum influencer. Não chego a isso.  Mas para mim, que hoje só tenho só meu irmão como família, especialmente este ano tudo isso me fez sentir como estou dizendo: popular. E se for procurar o sentido da palavra entenderá minha alegria, especialmente este “Que pertence ao povo; que concerne ao povo. Que recebe aprovação de povo; que tem a simpatia da maioria”. Fora a abreviatura da palavra: POP. Assim, Marli é pop!

Em marketing político, sempre alertamos que chamar/ xingar alguém de populista, o que é muito comum, e palavra muito próxima ao popular, para o senso comum da ampla maioria é falar bem daquela pessoa, faz efeito contrário ao crítico. Faça atenção a isso.

Mas popular tem um outro sentido, entre tantos, para o qual chamo a atenção: “partidário do povo; democrata”. Me incluam aí.  Vou usar tudo isso, como sempre, pelo meu país. Contem comigo.

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PS.: Muitos já sabem, mas me dei de presente adotar uma gatinha, uma filhote, branquelinha, para começar uma nova história depois de perder a Vesgulha Love, em fevereiro. Ela chama Nyoka, a princesinha das selvas, uma heroína da HQ dos anos 40. “Nyoka” foi também um pseudônimo que usei quando editora na Revista Gallery Around, anos 80, e que agora aproveitei para homenagear Antonio Bivar, ao lado de quem trabalhei. Me ensinou a ser muitas pessoas, e o perdemos recentemente por conta do horror da Covid, que nos devasta.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – O que foi feito do coitado do plural? Por Marli Gonçalves

Se letras matassem fome, se pudessem ser transformadas em alimentos, e fossem recolhidos todos os “S” esquecidos por aí com a maior normalidade, uma parte desse problema tão grave estaria exterminado. Mas, infelizmente, aponta apenas para o que fazemos da língua portuguesa nesse país que tanto despreza a Educação.

 S - plural

Não lembro de outro momento onde tenham sido feitas tantas entrevistas com a população, com gente comum, do povo. Seja nas ruas, na frente dos postos de saúde, hospitais lotados, ouvindo apelos ou denúncias; seja por intermédio da internet, pelas telas dos celulares ou computadores de quem está isolado em casa, ou em algum lugar distante. Seja, ainda, pelo envio às tevês de vídeos, incentivados por campanhas ou apelos de apresentadores para que as pessoas expressem suas opiniões ou reclamações.

No jargão jornalístico chamamos (ou chamávamos, porque tantas coisas têm mudado e perdido o sentido ultimamente, que já nem sei mais) de “Povo fala”.

Sempre foi uma forma importante de consulta, e sempre mostrou um retrato fiel de nossa população. E cada vez mais mostra também o quanto a linguagem tem sofrido. Os plurais, entre os mais afetados, coitados, esquecidos pelos cantos. E nem estou falando só de linguagem quase institucionalizada, regional, “um chopps, dois pastel”, que virou ironia para paulistas. Mas atenta à uma certa preguiça de pensar que leva ao constante desvio da norma culta. “Nós vai, nós vem” e tudo bem.

O outro coitado, o dinheiro nacional já tão desvalorizado, o real. Não há Cristo que o multiplique desse jeito, com o popular hábito de deixá-lo sempre no singular. “Dois real”, gritado tanto em centros de comércio, como expresso nas respostas dos balconistas: “custa só 100 real”.

O extermínio do plural também tem sido muito acompanhado pela não conjugação dos verbos. Há conjugações completamente esquecidas, em suas flexões, tornando-os com suas juntas duras, e frases sem alongamento. Algumas dessas formas, quando usadas, causam até espanto, perplexidade. As mesóclises, por exemplo – a colocação do pronome no meio do verbo – do ex-presidente Michel Temer, foram para a história da política. Jânio Quadros também foi outro muito chegado a essas formas. Mas ainda tem a próclise e a ênclise… Nossa língua é mesmo cheia de bordados.

Em compensação, uma praga, talvez porque reclamamos muito do elitismo de uns, da rudeza e simplicidade de outros, como o Lula, ou dos desvarios das frases de Dilma, suportamos agora, de Bolsonaro, as falas mais tortas e palavras mal digeridas proferidas diariamente, que atacam inclusive a democracia. Só pode ser praga. Nenhuma de suas orações servem ao progresso.

O futuro do pretérito do indicativo, o pretérito mais-que-perfeito, o infinitivo pessoal, o pretérito imperfeito, o Infinitivo impessoal composto, de mãos dadas com o gerúndio composto, se jogam deprimidos por aí, continuamente ameaçados e horrorizados inclusive com a forma como um dos seus familiares – o gerúndio – se aclimata tão bem no país que tudo posterga. Nada mais é realizado, mas estará sendo; ninguém mais liga, “vai estar ligando”, e por aí vai a valsa, rodopiando, rodopiando.

Nosso povo é plural, decerto. Esperamos que cada vez mais isso fique claro e seja respeitado. Mas aprendemos muito sobre formas corretas lendo – e nossos livros agora estão sob ameaça de taxação que ainda os fará mais caros do que já são. Aprendemos também com o que ouvimos, e nas tevês – basta prestar atenção – até a publicidade, antes tão bem cuidada, comete assassinatos, seja em plurais, conjugações, ou em vícios de linguagem, estes vilões que poderiam ter uma Cracolândia só para eles: barbarismos, arcaísmos, neologismos, solecismos, ambiguidades, cacófatos, ecos, pleonasmos, estrangeirismos, estes ultimamente beirando o insuportável.

É um tal de “sair para fora”, “entrar para dentro”, “nunca ganha”, “boca dela”, que doem nos ouvidos. Só não mais, “tipo”, do que a estranha língua falada pelos participantes do BBB e as letras dos inacreditáveis funks que assolam a música nacional.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Políticos patéticos e outros pês. Por Marli Gonçalves

Pesadelo, esses políticos patéticos, pobres e podres de espírito, perniciosos, pândegos, estão esgotando nosso arsenal, inclusive, de adjetivos para nomeá-los. E isso não é língua do “p”. “P” de parem com isso o mais rápido possível, o país paralisado, perplexo, o povo com pavor de ficar doente e não ter nem onde cair, e perturbado com a oscilação institucional, com ameaças sem nexo, provocações desmedidas
PÊS - -HIPNOSE - PATÉTICOS

Antes de mais nada, por favor, reparem que a bronca é geral. Não é só o pavoroso presidente e seus pândegos ministros, mas também os pálidos e penosos passos da oposição, a patifaria do Congresso Nacional, as pernadas de governadores em prol de uma eleição daqui a dois anos, a preguiça das instituições da sociedade civil. Inoperantes, inconsequentes, despreparados.

Não lembro de ter visto nessa minha vida de algumas décadas, importantes décadas, um quadro geral tão desanimador, reunindo tanta fraqueza, de ética, de opinião, de ação, de comportamento.

No poder, um masculino grupo de parvos e, pior, parvos que, sem verdades e ações, teimam em espalhar mentiras dia e noite, aceitas e espalhadas quando não por robôs que as impulsionam, por imbecis que se dizem patriotas. Lembram os pelegos sindicais de triste memória, e manipulam massas de forma tão sórdida que agora causam mortes, diárias, muitas, milhares. Incentivam a ignorância, como se tal fosse o “novo normal”. Jogam com vidas, com o futuro, destroem e amargam o presente.

São pusilânimes, porque ainda por cima tentam desdizer o que disseram, mandaram, gravaram, recomendaram, e na hora que são pressionados arrumam sempre um bode expiatório. Essa semana inovaram: depois, por exemplo, de lançarem oficialmente um aplicativo no site do Ministério da Saúde de “orientação” para o “tratamento precoce” contra Covid-19, ao serem pegos no pulo, acusaram… hackers!  Que hackers são esses, hein? Aliás, agora dizer que foi hackeado é mania nacional e até o ex-senador cristão e hipócrita até a medula usou essa justificativa depois de vazar “sem querer” imagem de um pênis, que, ora!, estava em seu celular, mas saiu dizendo que foi alguém.

Não sei se você aí sabe de uma das últimas: nesse momento tão sério o General Preguiça de olhinhos redondos giratórios que descomanda todo o processo de vacinação contratou um assessor novo, para sua comunicação. Trata-se de um indivíduo conhecido como Markinhos Show, que se define, leia bem, como “Palestrante Motivacional, Master Coach, Analista em Neuromarketing, Especialista em Marketing, SEO, Hipnólogo, Mentalista, Practitioner em PNL, Músico, Empreendedor e Especialista em Marketing Político.”

Ou seja, que palavra mesmo usar para defini-lo? Fechem os olhos, concentrem-se. Vocês podem estar sendo hipnotizados pelos tais olhinhos redondos, da cara redonda, esse que para ouvir melhor, sim, ouvir melhor, precisa tirar a máscara, tal qual os inconsequentes que a abaixam para falar ao celular e que vemos todos os dias nas ruas.

Não se sinta mal se, assim como outros milhares de brasileiros, babou de inveja ao assistir a posse do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e sua vice, Kamala Harris. Não se sinta mal se de repente tem pensamentos estranhos, não exatamente generosos quando pensa neles todos, os operantes e os inoperantes, estes que se encontram sentados sobre dezenas de pedidos de impeachment e processos legais.

Não se sinta mal. Uma coisa pelo menos parece certa nos últimos dias. Parece que é possível ver uma luz no fim do túnel, o tilintar da ficha geral caindo. E novos ventos soprando nas ruas.

Pvamos em Pfrente. Pva-Pci-Pna Pjá!

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MARLI GONÇALVES

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

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