ARTIGO – Previsões para os próximos todos os tempos. Por Marli Gonçalves

Previsões que não importa o signo, raça, gênero, idade, altura, poder econômico, e nem ideologia, essa coisa que ninguém sabe bem de onde vem, para onde vai, e se tem alguma lógica ou valia nesses novos tempos. Na chegada do segundo semestre, sem champagne, espumantes, brilhos, roupa branca, sete pulinhos, flores ofertadas, viramos a curva do ano, lá vamos nós enfrentando como sempre os dias e seus desafios.

Mais um ciclo. Um pouco mais leves, enfim, chegamos na segunda metade do ano, tudo parece rápido. De uma sarna a gente para de se coçar ao menos até 2030, e embora mesmo inelegível após decisão do TSE o ex-presidente vá inventar clones, mais ervas daninhas.

A temperatura não será nem quente nem fria, vai chover e fazer Sol, tudo dentro, abaixo ou acima da média. Chato: vamos continuar ouvindo falar o tal nome odioso de antes, porque ainda tem é processos rolando, alguns que podem fechá-lo a chaves, embora sinceramente pouco acredite que chegue mesmo nisso.

Muito chato: ficaremos pasmos com o que de vez em quando (mas com perturbadora frequência) dispara, boquirroto, aquele que o substituiu, certo de que como sempre um dia depois do outro, um depois do outro, o povo esquece até o que comeu, se é que o fez. Democracia relativa, ditadura que não é ditadura. Centrão que não é centro, esquerda, direita, volver. Reconstrução que ainda não se vê.

Sorria. Você está sendo filmado, fotografado, revelado. Por você mesmo, inclusive, e por aí, nas ruas. Como um dia disse e agora diria Caetano, quem vê tantas imagens? ninguém lê tantas notícias. Elas passam e imediatamente são substituídas, esquecidas, atropeladas por outras e cada vez mais o espaço mais largo e disputado é o da vida dos outros. E outros que já não se escondem, andam com paparazzis particulares a tiracolo, informam que dormiram, com quem, se foi de conchinha, que escovaram os dentes, cortaram a unha do pé, que beijaram, casaram, descasaram, traíram, com dancinhas, patrocínios e recebidinhos. Previsão: continuará; dá cliques e, igual ao tempo, clique é dinheiro. Os mortos, se deixaram heranças e suas disputas familiares e sexuais, terão suas existências descortinadas sem trégua. Reclamar já não mais podem.

Calma! Providências estão sendo tomadas, as investigações estão em curso. Colaboramos com as autoridades, as repetições. Golpes atrás de golpes cada vez mais engenhosos cercam ameaçando todos, não se distraiam. Nunca. Nossos dados estão por aí nas nuvens carregadas de criminosos.

A violência será contida. Diremos isso ao homem morto, espancado e roubado, à criança estuprada ou atingida por balas perdidas, junto aos caixões das mulheres diariamente assassinadas quando decidiram viver suas vidas. Aos idosos abandonados.

Uma gracinha. A luta pela diversidade avança. Mas as cerimônias ridículas de revelação continuarão trazendo todos os tons de azuis e rosas, meninos e meninas, como se isso fosse determinar e garantir o caminho do futuro de bebês ainda descansando sem saber de nada nas barrigas personalizadas.

O Censo fechou seu balanço, mesmo tendo tantas portas batidas em sua cara, com revelações sobre os movimentos da população, saindo das grandes cidades, voltando para suas terras, morando sozinhos, tendo menos filhos, ocupando espaços menores. Mais pobres, ricos mais ricos; desempregados, empreendem – alguns se dão bem. As ruas lotadas de quem perdeu tudo. A ignorância que fechou a porta na cara do Censo é a mesma que não se vacina, fazendo retornar doenças, pondo todos em risco. A ignorância grassa, junto com as mentiras que se acomodaram durante os últimos anos em espaços que nem poderiam ser previstos, vinda de gente inacreditável. Considerados alguns dias que seriam ruins, podem infelizmente e superlativamente serem piores. Sigamos para os próximos 10 anos.

Os guetos – os mais variados – avançam, muitos já não vemos porque se desenvolvem cavernosos em redes digitais, em grupos de conversas onde sempre tem um mais espertinho e “sábio” do que outros, que sabe tudo, andou pelo mundo, veja só como são mais legais os seus filhos, netos, cachorros, casas, jardins, amigos, a comida e a bebida que os alimenta. Falam com tanta propriedade que juntam gente à sua volta, como o ilusionista que faz mágica nas praças da cidade. Passam cartolas, não chapéus.

Em compensação, não desistiremos nunca, tão acostumados às repetições de padrões que tornam fáceis até as previsões dos dias. Passo a passo, seguimos. E ainda conseguiremos rir e fazer piada. Isso é vida. Somos normais, enfim.

FOTO: CATHERINE KRULIK___________________________________________________

MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Segunda Etapa, e lá vamos nós! Por Marli Gonçalves

E salve-se quem puder. Semana que vem. Acredite. Chegou o segundo semestre de 2020 e, se está aí do outro lado, por favor, sorria. Você está vivo, e isso não é pouco visto o que passamos nesses últimos seis meses. E a força que precisaremos para vencer os próximos

Todo ano nessa época gosto de brincar de fazer o réveillon do segundo semestre, na passagem de junho para julho. Este ano, então, vamos fazer assim: nessa hora, à meia noite, uma prece forte pelos milhares de mortos e um agradecimento verdadeiro pelos que estão bem, pelos que se curaram. E por nós, que estamos contando a tal triste história.

Passou rápido. Perdemos muito da dimensão do tempo, esse sempre misterioso contar das horas. Aprendemos. Tivemos e temos medo. Coragem. Ir até ali já é um desafio. Como já vivi muito mais de meio século, dá para dizer: quanta coisa mudou, quantas coisas que jamais imaginaríamos estão acontecendo, aqui, especialmente, e no mundo todo. Quem algum dia pensou em viver uma época assim? Que não poderíamos nos tocar, abraçar, beijar, amar. Que afogaríamos e embebedaríamos nossos corpos (e coisas) no álcool? Em gel. Que temeríamos também o andar da política. Que tantas mentiras novamente nos atordoassem.

E há ainda esse vaivém que a todos nos deixa a cada dia mais confusos. Uma hora pode isso; na outra não pode mais. Autoridades batendo cabeça, cientistas fritando os miolos, as equipes de Saúde tentando controlar o que mais já está claro que é incontrolável, pelo menos por enquanto.

E o combate? Como lidar com os negacionistas, com a ignorância, com a ignomínia, essa palavra que diz tudo?

Como lidar com as pessoas nas ruas que nos pedem ajuda, olhos fundos, muitas esfregando a barriga no lamento para demonstrar que estão com fome, o desespero máximo que poderá se juntar ao frio que anuncia sua chegada pelas bandas de cá?

Não sei dizer realmente se estamos melhores ou piores do que outros países, que todos têm problemas a resolver, mas uma coisa é certa: nesses meses, mais do que em muitos outros locais, aqui estamos guerreando contra vários inimigos, muito além da pandemia, do vírus, das incertezas. Gafanhotos políticos que corroem a democracia, os princípios básicos da liberdade, tentam por abaixo os pilares básicos que construímos tão esforçadamente, picotam a cultura nacional, tentam impor e limitar costumes, e ainda aparecem gatunando onde podem, inclusive nos remédios e equipamentos de salvar vidas, ou na absurda remarcação de preços, na cobrança impiedosa de impostos que não vemos serem aplicados. Na pressão para que quem precisa sucumba ao rebaixamento geral imposto, muitas vezes para apenas quem tem, ter mais, acumularem mais e mais. Levantam poeiras e fumaças para que muitos não consigam avistar qualquer porta de saída. Suas declarações nos ofendem, por acreditar talvez que já estejamos mortos e sem reação. Eles nos cansam, atrapalham nossa concentração para prosseguir.

Depois, correm, doam alguma coisinha aqui e ali, pedem desculpas, clamam pelos céus, se dizem perseguidos e, como agora, buscam parecer até que querem entendimento. Se fosse uma relação pessoal devíamos denunciá-los como espancadores domésticos, do tipo que todo dia bate e depois promete que isso nunca mais vai acontecer. E é só esperar que sempre vem mais. Melhor se separar antes.

Nesse segundo semestre, enfim, será quando saberemos se realmente aprendemos algo, se a solidariedade cantada em verso e prosa será mantida, e se esses dois Brasis – contrapostos –  tão claramente delineados numa descrição perfeita feita pelo jurista José Paulo Cavalcanti em artigo – poderão se encontrar, nem que seja um pouco mais lá na frente para a reconstrução desse chão. Vamos a ele, que ainda tem muito 2020 por aí.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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#ADEHOJE – APOIAR O QUE É BOM. E CRITICAR O HORROR

#ADEHOJE – APOIAR O QUE É BOM. E CRITICAR O HORROR

 

SÓ UM MINUTO – Primeiro, FELIZ SEGUNDO SEMESTRE na medida do que for possível a todos.

Aqui, a gente conversa. Às vezes, com ironia e humor para aguentar melhor o tranco. Quem acompanha sabe que as críticas não são questão de ideologia, esquerda, direita, que isso é bobagem quando todos precisamos avançar e sair do inegável buraco em que estamos metidos já há alguns anos. Muitos anos, muitos governos, muitos roubos. Se não tomarmos consciência de que é preciso união, vamos continuar perdidos. Assim, precisamos torcer para que o presidente Bolsonaro que em seis meses de governo nos deu tantas manchetes vergonhosas, com ataques a coisas que nos são tão caras e à nossa liberdade individual, tome tento. Que Bolsonaro pare de agir como se estivesse na cozinha de sua casa, acompanhe as pessoas e técnicos de seu governo, os bons, os ouçam.

As manifestações de ontem foram expressivas, mas menores, e muito mais em apoio a Sergio Moro e à Lava Jato do que exatamente pró-governo, que tem aprovação despencando. É preciso também tomar muito cuidado com os ataques à imprensa e ao STF, ainda os guardiões da democracia e quem nos informa da realidade.

 

ARTIGO – Anestesia geral. Por Marli Gonçalves

Tanto faz como tanto fez. Abobalhados. Inertes. Adormecidos. Lentos. Parecemos autômatos diante dos acontecimentos. Esperamos os dias seguintes, e os seguintes…

Ouvimos, lemos, sabemos ou somos diretamente atingidos, diariamente, por toda sorte de acintes, assaques, misérias, decretos e decisões que visivelmente nos prejudicam – a todos. Leis lidas a bel prazer. Bancos, seguradoras, poderosos limpam os pés nas nossas costas. Vemos gente pela qual temos apreço ou mesmo mal conhecemos, sofrendo ou caindo, miseráveis, seja nos postos de saúde ou nas calçadas, mortas pela violência desmedida e sem fim. Assistimos impassíveis a embates públicos nojentos e é como se nada daquilo nos dissesse respeito, estivesse ocorrendo em outro planeta.

Doenças terríveis que já haviam sido erradicadas – sarampo, raiva, poliomielite! – voltam céleres. Matam. E há quem tenha – para isso, sim – energia e coragem de negar as vacinas; pior, criminosamente tentam ainda argumentar contra elas do alto de suas ignorâncias, e acabam conseguindo, atingem uma importante parcela da população, aquela que a cada dia mais não sabe onde está parada. Apenas está parada esperando o futuro do país do futuro que não chega nunca.

Faltam pouco mais de três meses para a eleição de um novo presidente da República, repito, presidente. Isso, além dos cargos de governadores e deputados que serão regentes dessa desafinada orquestra a partir do primeiro dia do ano que vem. E é como se nada da crise braba que estamos vivendo, das terríveis descobertas de corrupção, roubos, extorsões, pilhagens e pilantragens em geral fizessem real diferença fora dos vídeos feitos com celular deitado. Depoimentos que mostram, sim, um Brasil real, pobre, largado, cheio de recônditos de nomes estranhos, de pessoas e cidades, e onde se fala uma língua que portuguesa não é, com seus esses e plurais esquecidos tanto quanto eles próprios.

O primeiro colocado nas pesquisas eleitorais, feitas com esses nominados aí que pretendem por a mão na direção, aparece; e é um preso com várias condenações e que de lá onde está trancafiado ainda posa de mártir e redentor, perseguido, um Messias. O segundo colocado é um ser abominável, incapaz de nada a não ser de bravatas, que até parecem soar reais nesse verdadeiramente desesperador momento: é como se ele pudesse bater, balear, fuzilar todos os problemas. Nas intenções de voto, vêm seguidos de outros: um amorfo, uma amorfa, um destrambelhado e outros pequenos seres prontos a negociar suas cadeirinhas nos estúdios de tevê por algum cargo. Estão ali no meio do campo, meio transparentes, correndo como os bobinhos, esperando quem sabe qual será a jogada.

O resultado mais plausível nesse instante é que saiam vitoriosos os votos nulos, brancos e abstenções. Afinal, em quem votar nessa seara, nesse deserto de ideias e propostas reais? Mais: como levarmos esses seis meses que temos adiante com um presidente que só consegue cair cada vez mais em desgraça e impopularidade? Que anda com cascas de banana nos bolsos e que vai jogando a cada passo que dá, escorregando?

A apatia é tanta que alcançou o que jamais imaginaríamos possível, as demonstrações populares. O futebol. Ah, que bom, tem Copa do Mundo. Ponto. Ah, que bom, o Brasil ainda está classificado. Gol. Depois do silêncio e da tensão que acompanham as sofridas partidas – como todas têm sido – gritos rápidos nas janelas, uma bombinha aqui; outra ali. Pronto. Ah, acabou o jogo e o Brasil ganhou. Não se ouve mais nada, a não ser a vida tentando voltar ao seu normal. Até o ufanismo das bandeirinhas espalhadas para decorar os espaços pouco tremulam.

O tempo está passando e não conseguimos mover o pé para fora dessa areia movediça que nos imobiliza.

Belisquem-se. Alguém, por favor, ligue o alarme. Bote água para ferver. Dê um antídoto para a população acordar e ver o que ainda podemos fazer; mas de verdade, não pelas redes sociais que parecem ser o que nos anestesia!

Eu só queria muito poder desejar um feliz segundo semestre. Percebeu que o ano já chegou à sua metade?

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Marli Gonçalves, jornalista – Urge ver o Brasil fazer gols em seu próprio campo.

marli@brickmann.com.br; marligo@uol.com.br

SP, julho, toca a sua sirene!

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ARTIGO – Prepare seu coração. Por Marli Gonçalves

boygirl3Dtoons_onRollerCoaster_169x169_anigraphics-rollercoaster-600814Sim. Calma. Respira. De novo. Vamos. Não adianta se desesperar. Ainda teremos emoções bem fortes pela frente nos próximos seis meses. Sim, já se passaram seis meses, a metade, deste ano. Incrível, não pode ser só eu que acha que o tempo está voando sob nossos pés. Feliz segundo semestre de 2016!

Aos trancos e barrancos, descendo e subindo ladeiras, tropeçando, prendendo a respiração, arregalando o olho, prestando atenção, pulando poças, se desviando das flechas. Vai mesmo parecer corrida de obstáculos, labirinto. Ou trem fantasma. O que já está seguro: temos de enfrentar os dias de cabeça erguida. Me dá sua mão. Eu preciso de uma mão.

Já se deu conta? Vamos indo juntos, pensando. Primeiro, algo suave, as estações. Meses de inverno com frio. Frio, que até a gente tinha se desacostumado. Previsão de tempo seco, nada de ficar se esquentando debaixo do chuveiro. Vai passar também toda uma primavera, daquelas, para que a gente sempre acredite que ela traz coisas boas, novas, coloridas, amorosas, perfumadas, belas.

Lá pro finzinho do ano, que a coisa vai ficando quente (ou fria, depende; mas me refiro à coisa), chegará o verão e suas modas. Engatilhado, o Natal, o Ano Novo, a vontade de pensar só coisas boas e otimistas, roupinhas brancas, e todas aquelas palavras e gestos de todos os anos, com hohoho e tudo.

Mas antes vai ter muito protesto, muita manifestação, muito barulho por tudo e por nada, que agora a gente gostou de ir para a rua, de vermelho ou de verde e amarelo, carregando plaquinhas. Tem a votação do impeachment no Senado, os julgamentos pendentes nos tribunais superiores. As ruas vão fazer pressão, queda de braço, ver quem grita mais alto. Os jovens estão sedentos por causas, e só não temos mais tantas greves porque para ter greve precisa ter trabalho e isso anda bem escasso. 14 milhões de desempregados em todas as faixas podem ocupar um país, acabar de pará-lo, puxar o freio de vez, deixando a marca no asfalto.

Tá bom, vou maneirar, refrescar um pouco, e lembrar que teremos quatro feriados nos próximos seis meses: 7 de setembro, 12 de outubro, 2 e 15 de novembro. Sim, verifiquei; caem em dias da semana, para serem enforcados. Esquece o Natal que esse vai cair no domingo.

Voltando à nossa conversa, todos os dias dos próximos seis meses ouviremos falar as mesmas palavras como uma cantiga: João que delatou Maria que delatou o Pedro, que contou que não sabia de nada. José preso; Francisco com tornozeleira. Antonio nega. Paulo condenado. Ao fundo só ouvimos contar os milhões, bilhões, desviados de algo que ao fim e ao cabo era nosso – fomos roubados.

No meio dessa cantação toda, ouviremos também obrigatoriamente a cantilena e os jingles de campanha para prefeitos e vereadores. 2 de outubro tem eleição. Não temos bons candidatos, mas temos eleição, e vamos ter que votar e uns serão eleitos. Obrigatório.

Está pensando que eu esqueci agosto? Como poderia? Deve ser votado o final da novela Dilma, e o fim do seriado Eduardo Cunha, para ver se enfim as peças se ajustarão melhor e algum futuro poderá ser previsto mais solidamente, que agora está no ar, como os devaneios e baboseiras. Spoiler: os dois serão varridos.091_snowjump_cat_gifs

E vamos todos estar com as mãos juntinhas rezando para que nada de muito grave ocorra durante as Olimpíadas, logo esse ano, por aqui, no Rio, na calamidade. De 5 a 21 de agosto, muita fé. Vale promessa, virar o sapo no telhado, subir no Cristo Redentor de joelhos, qualquer coisa. Só rezar para que não seja baixo astral coletivo. O mundo todo olhando para cá. Para lá.

Mal respiraremos saindo dessa e logo, de 7 a 18 de setembro, a agonia vai voltar durante as Paralimpíadas. Mais atletas, mais perigos, mais Rio de Janeiro.

O mundo todo, eu sei, estará bem ocupado. Vai ter dor de pescoço de tanto ter de se virar de lá para cá para assistir a tanta coisa acontecendo na Terra, quiçá no espaço, quiçá no subsolo, quiçá vinda do céu, ou invadido pelo mar que anda querendo se espreguiçar. Eleições doidas na nação mais poderosa do mundo, numa terça-feira, 8 de novembro, com competidores díspares e atitudes inusitadas em movimentos perigosos. O Reino Unido arrumando as malas para se mudar, morar sozinho. Bolsas sensíveis a qualquer movimento mais brusco. E o terrorismo à espreita com os delírios de suas virgens, suas proibições e dogmas em Estados e organizações paramilitares e religiosas.

Bem, então, como eu ia dizendo…. Prepare seu coração para as coisas que eu já contei.

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Marli Gonçalves, jornalista – A profissão que existe para contar as histórias dos dias que virão, tentando entendê-los. E ultrapassá-los, porque afinal falta pouco para virar o ano.

Réveillon do segundo semestre, mais uma metade, tim tim, 2016

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ARTIGO – Tristes, irritados e sem ter o que cantar. Por Marli Gonçalves

5c05f960blacksnTriste é diferente de irritado. Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. Contudo, estar uma coisa pode vir junto com estar com a outra. Por aqui, andamos meio tristes e irritados, um pouco envergonhados, o que vem causando essa sensação de mau humor geral e irrestrito. Segue a bola, gritamos GOL, acenamos as bandeirinhas, mas a terrível sensação de estarmos falando com a parede permanece. Ela, “enquanto parede” muda, mudinha, não responde a nenhum de nossos questionamentos

Quantas perguntas e tão poucas respostas. Não são questões simples, e não há meditação nem transcendental que aquiete bem corações e mentes quando estes borbulham. Somos muito complexos. Esperamos que venham coisas de onde não vem nada, nem vento a favor, só encanado. Tristeza. Nos prometem mundos e fundos e lá se vão os fundos, fecham-se as portas. Tristeza.

Resfria. O inverno chega com cara de quem vem embalado e ainda por cima ganharemos narizes e gargantas irritadas, além das extremidades geladas, pés, mãos, orelhas. Nos encolhemos mais, saímos menos, queremos dormir mais, comer mais, beber mais. Queremos o famoso cobertor de orelha, mas nem sempre ele chega, ou você o acha, o que entristece sobremaneira.

Conheço quem é Eu não sou nem um pouco chegada nessa estação. Há várias referências à tristeza de inverno como doença que pode ser grave, o transtorno afetivo sazonal, um tipo de depressão comum que ocorre nessa época. Pode ser uma fadiga com dificuldade de concentração, uma falta de energia. Dormir mais cedo, acordar mais cedo para aproveitar o dia e a luz do sol dizem que melhora.

animated-gif-animals-crying-emperors-new-groove-disney-1360315833Por enquanto a gente vai levando, pulando fogueiras, tomando quentão; e pulando. Pulando mais que pipocas em panelas em dias de jogo. Pipoca de gente só lá na Bahia onde parece que não há nem frio, nem tristeza, nem irritação.

Mas cadê o trio elétrico para a gente ir atrás? Mostrar que não morreu?

Cadê o Chico, cadê o Caetano, cadê Milton, cadê todo mundo? Cadê os compositores e artistas que registravam nossos momentos como ninguém? O que será? Apesar de você. Canção da América. Cio da terra. O que será que será? Eu sou neguinha? Soy loco por ti, America. Cadê Carcará, Divino Maravilhoso? Cadê vocês, Rita, Ney, Ivan , Gil, Paulinho, Marina, Marisa, tantos outros? Onde se escondem que não vêm logo nos tirar cantando e dançando dessa tristeza, desse frio, dessas irritações? Ou nos emocionar com bem feitas canções de amor? Cansaram de representar as nossas gerações? Antes vocês definiam problemas e até cantavam soluções, enfrentavam, até driblavam. Cansaram? Tanta coisa para vocês verem e musicarem.

olhos06bi2Sinto como se cada um, famoso ou não, esteja tentando se salvar por aí, em algum canto. Mas há “brancos” que deixam buracos que vêm sendo ocupados – e em todas as áreas do conhecimento, da sociedade, da política, da filosofia, por qualquer coisa. Coisa de quinta, fugaz. A cada dia o que surge é pouco importante, quase nada material, físico. Sobrevivem algumas horas fora de uma bolha, no máximo uns dias nos ambientes virtuais. Até os quinze minutos de fama se esvaem. Falam tanto de nossa arte no futebol! Cadê a nossa arte?

Rompantes como esses verde e amarelo que colorem agora as nossas ruas junto com as outras tantas cores de outros países são bons demais, mas efêmeros, não deixam legado. Efêmero. Acabando, ficam as questões que nos entristecem e dão raiva.

Até a tal primavera chegar, continuaremos batendo cabeça sem entender um monte de porquês, cadês e sem enxergar onde andam os salvadores da Pátria, o porquê desse silêncio. Acumularemos mais um pouco de desfeitos, somando com esperanças. Aguardaremos pedidos de desculpas que não chegam, atropelados por outras faltas que serão cometidas, ou percebidas, sentidas.

Ficaremos irritados com o que vemos, ouvimos, sabemos e saberemos, porque de debaixo desse tapete tudo pode surgir. Muito tristes pelo que não vemos, ouvimos ou nem saberemos. Aguardaremos algum despertar no horizonte, algo que traga o lindo pendão da esperança.kick

Queríamos pelo menos uma música para acompanhar. Que continuássemos a querer cantar à capela, para nos levar às lágrimas.

Ou para a nossa alegria, alegria.

angry-man-16198121São Paulo, 2014, quase chegando ao segundo tempo.

Marli Gonçalves é jornalista Talvez seja esse o problema. Devia ser mais cigarra e menos formiga.

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