ARTIGO – Quando o Carnaval passar. Por Marli Gonçalves

Se bem que Carnaval, Carnaval mesmo, pensa bem, nunca passa ou acaba por aqui, onde tudo vira o próprio, carnavalizado, e inclusive isso é o que ajuda a que nada seja enfim solucionado. Passam solenes pela “Avenida Brasil” a alegoria, as alas, as testemunhas, os atores, a gente aplaude ou vaia, e a coisa se repete em seguida, como um mantra.

carnaval
… Não cuidamos do quintal quando devíamos. E o mato crescendo; as ervas daninhas continuaram – e visivelmente continuam – a brotar…

Acontece um fato. Noticiado, esmiuçado, repercutido, agora também uma loucura nas redes sociais onde, se você é um dos que as acessa e à repercussão, sabe muito bem ao que estou me referindo e nesta semana tivemos um exemplo literalmente flagrante, com vídeos, explicações, prisões, documentos, caras pálidas e lavadas em todas as instituições. Um lado (que coisa chata essa de pensar que só existem dois lados dessa questão!) solta rojões, comemora, cria memes e charges e o “outro” reclama, ameaça, briga, baba, solta mentiras, tenta explicar até o inexplicável, defende, chama exércitos de robôs. Em um dia, segundo um instituto de pesquisa, foram 56 milhões de citações. A favor e contra, e como tudo virou a maldita divisão…Mais pra cá ou pra lá.

Parece que somos todos idiotas. Que precisam sempre ser conduzidos a um curral moral ou outro, porque não teríamos opinião própria ou capacidade de discernimento ou crítica. Cada vez mais comum e aborrecido, além de emburrecedor, inclusive na imprensa que fica, parece, tomada de muita alegria, excitação, certezas, duelo por fontes, declarações, e até adivinhações, e vai ao ar ou publicada já editorializada.

Acaba que tudo termina no mesmo rolo, até que apareça outro. Aconteceu durante anos com a Lava Jato, e estamos vendo no que deu. Ou melhor, no que já até já está virando novos enredos para os carnavais seguintes, e com tramas fantásticas e difíceis de desvendar. Se não acompanhou o caso, acredite, tudo já vinha mesmo repleto de falhas graves, aberturas para questionamentos futuros, improvisos, furos impressionantes. Um molde que continua sendo usado. Daí tudo virar apenas Carnaval o ano inteiro. Aguarde só os próximos lances seguindo a Quarta-Feira de Cinzas. Será que agora vai?

 Acontece todos os dias com o noticiário sobre violência, onde nem mais conseguimos contar o número de vítimas entre inocentes, culpados ou “suspeitos”, cada vez mais termo usado – os tais supostos suspeitos, mesmo que filmados, condenados, e sempre como se imparcial isso fosse – muitas vezes duvidando até da mais cruel realidade.

Dizem que no Brasil tudo é futebol. Acrescento, assim, que também tudo é Carnaval. Cheios de máscaras, fantasias, foliões, paixões efêmeras e um certo embebedamento, letargia. Nos últimos anos vivemos envolvidos nesse baile, perigoso baile. Com possibilidade, perigo, como agora ainda melhor informados, inclusive, de fechamento de tempo, de retorno ao que já tivemos de mais cruel.

Sabíamos disso? Sim. Porque então deixamos que isso transcorresse como normal? 8 de janeiro não foi o único ápice. Tivemos um dia a dia pavoroso antes, durante quatro anos, no meio da mortal pandemia. Há tempos vemos a bandeira nacional ser usada como logotipo até de uma tentativa de guinada para o nevoeiro, para uma nebulosa e esburacada estrada. Ficamos esperando que apenas alguém, algum herói – e eles, acredite, não existem – parasse esse curso, vergando ou o manto negro da toga da Justiça, ou até mesmo a faixa presidencial.

Não cuidamos do quintal quando devíamos. E o mato crescendo; as ervas daninhas continuaram – e visivelmente continuam – a brotar, tornando cada vez mais difícil arrancá-las para a primavera, e porque ainda muitos as confundem com as flores da liberdade.

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marli -fev24MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Calor Urbano. Por Marli Gonçalves

Se não há calor humano, esbanjamos calor urbano. Mais prédios brotando, fechando as correntes de ar, destruindo a natureza além da memória da cidade. Sol ardendo, na aridez. Arte aqui em São Paulo, além de viver e sobreviver, são ovos estalados no asfalto da avenida do dinheiro. A cidade ferve e a primavera grita, muito mais quente do que o normal.

calor urbano

Não se fala de outra coisa, não se sente outra coisa. O calor. Claro, o calor fora do normal, que calor em si é bom demais. Para quem pode e na hora que pode. Bom para quem tem sombra, água fresca e a cabeça tranquila, que cabeça quente piora muito as sensações de aperto, suor, a dor de cabeça e a respiração ofegante do correr atrás. Uma praia, ondinhas, coco gelado, cervejinha, sorvete, essas coisas que devem estar permeando os sonhos de muita gente, me incluo. Já despertei quando me sentia dentro do mar, nua, chapinhando na praia de Tambaba, Paraíba, entre as pedras, brincando com argila natural, vendo peixinhos coloridos, coisas de um sonho de consumo que não morro antes de repetir de verdade.

Enquanto isso não tem condições vou continuando na briga, luta, #arvorenãoélixeira. Árvore não é lixeira, pelo amor de Deus! Nesta cidade grande as pessoas são loucas, não dão valor ao que as árvores podem nos facilitar em momentos como esse, e socam lixo de todos os tamanhos e tipos aos seus pés, como se fossem elas algum tipo de marco para que os profissionais de limpeza localizem para recolhê-los. Fora o cupim, as podas malfeitas, as pragas não combatidas, os assassinatos lentos, as árvores vão tombando e às vezes matando como se descontassem em alguns seus sofrimentos. Quanta encrenca já arrumei para explicar algo tão simples. Mas não adianta, e estou falando de áreas nobres da cidade que percorro.

A cidade mais rica do país, mas que não tem infraestrutura adequada, água para todos, cidade que ainda exibe rios gigantescos poluídos e esgotos a céu aberto, em dias de calor tem outra característica: cheiros, e muito poucos bons; na verdade, bons só em ruas de comércio requintado, vindos dos perfumes exalados das lojas numa concorrência doida, e às vezes até enjoativos de tão fortes. Algumas marcas até vendem seus cheiros em sprays. No geral o que sentimos mesmo é o cheiro tenebroso vindo dos bueiros sempre entupidos, do xixi e fezes dos milhares que vivem nas ruas, e na falta de banheiros públicos, aliás também de muita gente que se alivia atrás de bancas, muros e… árvores!

Leques já começam a ser abanados, e ventarolas de papel, qualquer coisa que faça ventinho e possa ser balançada junto ao rosto. Os mini ventiladores movidos a pilha já devem estar bombando nas ruas do comércio popular. Outro problema: amado por uns, odiado por outros, os aparelhos de ar condicionado sempre mal regulados que encontramos no entra e sai de um dia nas ruas. Não há saúde que aguente, inclusive porque muitas vezes são eles focos de muitas bactérias, além da geleira e do choque térmico, como se não bastasse a já estrambótica amplitude térmica, em 24 horas, que já beira até 20 graus nesse mundo com o aquecimento global batendo na porta – ou melhor, entrando fervendo sem pedir.

E o menino? O El Niño? Já o chamam de Super El Niño. Claro que já ouviu falar que pode ser ele causando essa onda atual de calor. Mas ele nem se instalou ainda, imagine! Apenas se aproximando. Esse doido que pode se estender até o verão do ano que vem chega para bagunçar, molhar mais, secar outros, esquentar as panelas dos oceanos.

Chapeuzinho, óculos escuros, filtro solar, alguma sombrinha, água, água. Abaixo gravatas, ternos, meias e muito mais! Como já disse, calor é bom – sem dúvidas, melhor que o frio para o qual esse nosso tropical país não é nem um pouco preparado. Mas nesse momento e pelo que sabemos só piorando daqui em diante, precisa ser observado especialmente pelas ciências, todas, inclusive as que lidam com comportamento humano. Como registrei no artigo passado “Tá todo mundo louco. E não é ôba” imagine só o que cabeças quentes podem fazer acontecer por aí.

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MARLI CG ABRILMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Setembro e suas previsíveis previsões. Por Marli Gonçalves

Setembro é lindo. Setembro é quente. Florido e colorido, que lá vem a primavera. E previsível por aqui, como há muito andam as coisas, sem sossego, para o país sempre obrigado a perder tempo. Bem, sempre tem espaço para alguma novidade que o Brasil não é mesmo para principiantes

Setembro e suas previsíveis previsões

Já devo ter contado que durante um tempo – e há décadas – fui também Yazodarah, um dos pseudônimos que mais gostei entre tantos outros que utilizei para escrever em uma publicação que, digamos, não tinha muitos colaboradores, embora parecesse, tantas eram as páginas, os assuntos cobertos. Não recordo exatamente como cheguei nesse nome, mas certamente o foi com a colaboração e aprovação do genial Antonio Bivar, com quem dividia à época o trabalho de edição.

Você deve saber que pseudônimo é um nome inventado, atrás do qual a gente “se esconde” ou quando não podemos ou quando não queremos assinar com o verdadeiro o que escrevemos; ou mesmo para, como no caso, dar asas à imaginação em outros temas, assumindo como que uma personalidade inteiramente diferente. Yazodarah era mesmo quase um heterônimo, como os tantos consagrados por Fernando Pessoa. A diferença entre pseudônimo e heterônimo é relativamente simples: quando o assumimos, formamos toda uma outra personalidade. Yazodarah, na minha criação, buscava e detinha conhecimentos esotéricos, astrológicos e de previsões. Me sentia com um turbante na cabeça, visão aguçada e preparada que podia até ler uma bola de cristal ou as cartas de um tarot.

Nyoka, Princesinha da Selva, que hoje uso para o nome de minha gata, era uma personagem punk mal humorada, crítica, pegava pesado, aparecia quando falávamos mal de algo que não gostávamos, mas não podíamos perder os anúncios, nem a amizade dos alvos retratados. Melissa Manchester era uma boazinha, que via tudo cor de rosa, e que aparecia especialmente quando era praticamente obrigada – sim, acontece – a falar muito bem de algo. Tinha outras. Quando sentávamos para escrever com estes nomes éramos mesmo outras pessoas. O gênero não fazia diferença, como transformistas. Podíamos praticamente nos ver diferentes nos espelhos, como atores e atrizes, creio, fazem em seus espetáculos teatrais, área na qual Bivar, inesquecível como Aurore Jordan, mais um ser maravilhoso entre os que perdemos na maldita pandemia, se consagrou, premiado. Um marco em minha vida esse conhecimento usado muitas vezes nem só para escrever, mas para lidar melhor diante de algumas situações.

Mas falávamos de setembro. Chegou, e a gente já sabe – não precisa nem ter desenvolvido qualquer tipo de mediunidade –  que vamos diariamente ver cintilar o desenrolar do caso das joias com seus diamantes, rubis e muitas outras histórias mal contadas que poderão, enfim, com mais essa, e como se precisasse, provar o quanto passamos por poucas e boas com o ex-grupo do poder, que tanto pensou em nele se perpetuar até pela força com a qual se entranhou na população, encharcada em negacionismos, patriotismos e outros ismos.

Aliás, não vai ser pouca coisa também o que deve chegar vindo do atual grupo que voltou lá do início do século, mas não atualizou o modelo; só trocou um farol aqui, outro ali. Com comunicação impressionantemente problemática, ouviremos mais falas descontroladas, explicações absurdas, negociações esquisitas como moedas. Da área da Suprema Corte que hoje decide, impõe, restringe ou assegura mínimos detalhes ficaremos pasmos com os votos monocráticos. E com as opiniões do pálido, o mais novo e conservador agora ministro, agraciado com questionáveis louvores pelo grupo do presidente. O que não dá para entender é porque é que agora eles estão tão surpresos e indignados com os votos onde já se mostra. Exatamente o que era, sempre foi e será.

Aqui em São Paulo, o governador “Penélope” continuará a fazer de dia e desfazer à noite, ou vice-versa, anúncios, promessas, planos e garantias, tentando lidar com a corda bamba de ser ou não ser ligado que já foi a tudo quanto é lado. Seus secretários também marcam pontos de ruindade, prontos a ir para a prancha da demissão, vide o tal da Educação que já está na hora extra, socorro!

Ainda bem que esse mês tem também celebração da Independência, Dia do Irmão, Dia do Sexo, do Frevo, do Cerrado, tantos outros. E de Cosme e Damião quando todos podemos virar crianças e recordar a época que nos lixávamos para o que o futuro traria.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).

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ARTIGO – Os nossos loucos (primeiros) dias de setembro. Por Marli Gonçalves

O que será, que será? Posso quase apostar que muito barulho por nada, que vão dar com os burros n`água. Sempre aprendi que cão que muito ladra fica rouco e não morde. Poderemos esperar, contudo, que uma primavera floresça – sementes também têm surgido em meio a esse setembro que já chegou, veio se esgueirando entre tantas ameaças. O golpe deles já foi esse: exatamente como queriam, passamos os últimos dias falando dessa gente, de suas ameaças e boquirrotices.

loucos dias de setembro

Nem contamos até 10 – nem precisa, porque já andavam armando confusão desde bem antes deste mês. Coisa chata, como se não tivéssemos tanto a resolver no nosso dia a dia. Como se o país estivesse a mil maravilhas e não com uma inflação galopante e ameaças reais, as de falta de água, de energia, de saúde, vacinas, e tudo o mais.

Mas setembro chegou e com ele umas luzes poderosas que ainda podem realmente mudar algo, se forem coesas. Vindas da total perda de paciência com o desgoverno e inquietude agora bastante expressa objetivamente pelos empresários líderes dos principais setores da economia, surpreendentemente até do agronegócio, que souberam até afugentar e se sobrepor aos medrosos que pularam fora com medo de puxão de orelha e bicho-papão. Os que ficaram firmes em seus manifestos sabem que tudo vai melhor com democracia e paz. Claro, sempre melhor para eles, diga-se de passagem. Mas têm poder.

Quando até os bancos e banqueiros se mexem, o sinal está claro. E de qualquer forma ele ainda está fechado para nós, os que assistimos ainda inertes ao andamento desse espetáculo deplorável, o momento da política nacional que tanto nos fraciona, estilhaça; não é mais nem que nos divide, porque agora tem de um tudo.

Tem os adoradores, os que antagonizam, com seus erros de cada lado. Adoradores! Seja de um, seja de outro, se me entendem. Aí não tem conversa, nem explicação, apenas uma espécie de amor platônico. Precisam de um paizinho que os guie, acima de tudo, seja o que fazem ou fizeram, mesmo que tenha sido em situações justamente que nos levaram ao desastre atual.

Entre os adoradores estão os que ainda não conseguem perceber ou já estão se dando muito bem com o fundo do poço; tem os que pensam igual, e sonham dia e noite, rezando ou não, para que retrocedamos em tudo ao século passado no que ali havia de pior, de atrasado. Do outro lado, os que ainda não admitem qualquer outra nova possibilidade, mesmo que próxima do razoável para unir – só enxergam um homem, sua barba e, ultimamente, também as suas coxas firmes. Tudo bem, vai, que ninguém mais pode fazer tanto mal quanto o atual perturbador geral da Nação está fazendo.

Perigosos, nessa miríade há os que acham que estão, como meu pai diria, por cima da carne seca, sendo que no fundo estão é como nós, à mercê de tudo de ruim. São os que – só pode ser – cegos e surdos, mantêm-se ocupados em se desfazer de informações sérias, da imprensa, que xingam cada vez que esta os chama à realidade. Gostam das mentiras que os alimentam, e imaginam uma Pátria toda verde e amarela, não gentil, armada, onde pensam que um dia poderão se dar bem. São agressivos e a maioria dos que devem ir sem máscaras às ruas dia 7 para apoiar a familícia, já que a vida comezinha deles também não lhes dá outras diversões além da beligerância com que tratam temas sociais ou de comportamento.

Agora surgem – o que até positivo é – os mais ou menos, que há dois meses preparam outra grande manifestação, mas para o dia 12: arrumadinhos, esses, entre eles muitos arrependidos com o apoio que deram a Bolsonaro em 2018, tentam consertar o que acabaram criando. Têm e mantém críticas aqui e ali a algumas decisões do Poder Judiciário, STF incluso, ao Congresso, se apresentam como centro e centrados, numa pauta confusa, e buscam uma pista, uma terceira ou quarta via, mas que tenha afinidade com a mão inglesa, direção à direita. Também prometem fazer barulho e são organizados.

Enfim, há opções para quase, ressalte-se, quase, todos os gostos. No dia 7 até com locais diferenciados para não se estranharem ainda mais.

Passando tudo isso pode ser que surjam novas brechas onde, então, poderemos – nós, o que ainda não acharam espaços confiáveis – nos encaixar.

Aí, então, será a primavera.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Estação muda. Por Marli Gonçalves

Normalmente a chegada da primavera é saudada com alegria, como um tempo de renascimento, procriação, vida, florescimento. Normalmente. Mas não nesse ano de 2020; não nesse momento em que o nosso chão tanto queima, nosso céu se esfumaça, nossa energia se esvai. E continuamos mudos. Ou talvez não, o que ocorre é que alguns ouvidos ainda estão moucos.

MUDA

Vai mudar a estação, sim. Será primavera. Às 10h31 da próxima terça-feira, 22, será primavera no Brasil, o equinócio, e a luz do Sol incidirá igual sobre os dois hemisférios, 12 horas dia, 12 horas noite. Mas temo que a nossa noite aqui vai nos parecer maior, estendida que está com suas sombras sobre nós nos últimos tempos.

Você reparou nas nossas estações mudas, mudando? Saímos do verão aflitos com o que viria, no dia 20 de março, já com a anunciada pandemia, já em isolamento social. Assim passamos o outono inteiro e o inverno que chega ao fim nas próximas horas. E está tudo tão louco que o dia mais quente do ano se deu agora, no inverno. Como será, como estaremos no próximo ciclo? Como será o nosso próximo verão, a partir de 21 de dezembro, dias antes do Natal, da virada do ano?

Continuaremos mudos? Que continuaremos com nossos narizes e bocas cobertos com máscaras parece inevitável. Que os nossos sorrisos continuarão invisíveis, talvez até porque ultimamente pouco sorrimos, sem motivos para tal, com sequências de notícias desagradáveis e momentos de angústia, é quase certo.

Mas nossos olhos, mesmo que irritados como os nossos corações e mentes, precisarão manter-se abertos para prestarmos atenção e continuarmos a caminhada sem cair ou tropeçar em tantos buracos, verdadeiras fendas abertas nesses últimos meses e que durarão anos com suas consequências, sejam na natureza, no comportamento, no nível de vida, na economia, na saúde e educação. Seja na cicatrização desse rompimento entre as pessoas, entre a ciência e a razão, impostos pela política.

A uma parte dessas pessoas, ainda não parece suficiente que mais de 135 mil brasileiros tenham sido vencidos pela Covid-19; mais de 4 milhões e meio atingidos. Não são capazes de se enternecer por mais nada, com seus arroubos de ignorância, covardes que se dizem corajosos, como se coragem fosse assim. Fosse isso.

Uma oposição desunida; e um rebanho atrás de espaço que conquistam, violentos, tacando fogo, sem entender que a carne que queimará não será a do churrasco que fazem nas aglomerações com que insistem a desafiar a realidade, mas a dos milhares de animais acuados e aprisionados pelas chamas, e nos campos e plantações que já chegam ardendo em nossos bolsos com os preços altos, falta de produtos.

O ciclo da primavera está em risco. Estações mudam, estações mudas. Mas não podemos continuar mudos.

Temos compensações e precisamos de mudanças, e mudanças, transformação, trocas, só são feitas iniciando plantios. E plantios se fazem com mudas. Sementes, vida pra brotar, renascimento.

Pessoas continuando mudas assistindo a tudo pegar fogo não ajudam nada nisso.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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ARTIGO – Para não dizer que não falei…Por Marli Gonçalves

 

É tanta coisa para comentar, ler, discutir, mostrar, conversar, que seria preciso muito espaço, tempo, e algum cachê, claro, para viver só fazendo isso. Quando chega o fim do dia, esgotada, olho as coisas que continuam girando continuamente nessa Terra, que é redonda, garanto. Mas a gente tem de decidir sobre o quê versar. E ultimamente esse é o assunto que mais interessa: estaremos vivos para os outros temas? Sobreviveremos?

Então vamos falar um pouco dela, a Primavera, a estação mais bonita do ano, a que renova e traz em sai as cores, formas e aromas das flores e a sensação vital, sexual, sensorial de toda a diversidade da natureza. As estações têm datas definidas, mas na realidade agora tudo se mistura em seus efeitos. Uns dias, frio de lascar; em outros, calor sufocante, e os meteorologistas e moços e moças do tempo rebolando nos anunciando seguidos recordes, temperaturas médias de décadas sendo superadas.

Vamos falar então também da tal natureza que vem sendo castigada tão terrivelmente diante de nossos olhos. E que, castigada, se vinga no ar que respiramos, na falta dele muitas vezes, e nos efeitos letais que tudo isso causa em nosso organismo.  Parece areia nos olhos. O calor, a secura se estampam na pele que transpira ou racha.

Enquanto escrevo, milhões de pessoas em todo o mundo já foram, estão ou irão às ruas clamar por atenção à natureza, ao clima, à Terra, ao futuro. Chamam o evento de Greve Geral do Clima. Os manifestantes são diversificados e coloridos como as flores da primavera. Trazem cartazes, fazem performances, as imagens correm o mundo. Muito interessante: em sua maioria são bem jovens e, em grande maioria, mulheres.

Liderados por uma menina sueca de tranças compridas, 16 anos, já candidata ao Nobel da Paz, Greta Thunberg, a grande sensação mundial do momento. Era uma sexta-feira de agosto de 2018 quando começou. Não foi à aula. Escreveu um cartaz e foi às ruas, diante do parlamento de seu país. Agora está diante de todo o mundo, mas não mais sozinha; chega acompanhada de outros milhões e sonoros gritos de atenção, atenção, queremos o Futuro.

Malala, a jovem ativista paquistanesa parou o mundo porque queria ir à Escola e fez escola clamando por educação e direitos iguais para mulheres, homens, meninas. Um tiro traiçoeiro tentou calá-la, mas sobreviveu para dar vida à sua causa e ser a mais jovem Nobel da Paz, que recebeu em 2014.

Greta, ao contrário, não vai à escola especialmente nas sextas-feiras que dedica a mostrar seu cartaz nas ruas de algum lugar. Ultimamente, na verdade, não tem nem aparecido por lá, mas está na escola do mundo. Radical, cruzou o planeta, agora está em Nova York para onde foi de veleiro com zero emissões de carbono para reduzir o impacto ambiental. Greta não anda de avião e busca denunciar tudo o que polui. Danada essa menina que não cora nem se intimida diante de qualquer líder mundial.

Voltando à nossa primavera, principalmente política, que hoje nos parece tão distante, será essa semana o discurso do Presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia-geral da Organização das Nações Unidas, ONU.

Combinando com o momento de nosso país, ele já chegará lá queimado por tantas declarações absurdas que fez desde que tomou posse e pelo descaso que demonstra com as questões relacionadas ao meio ambiente, que mascara como luta pela soberania nacional e outras patriotadas.

O Brasil queima, não só a Amazônia. Nossa imagem está tosquiada, e também não é só pelo clima, mas por falas, atos, guinadas e pensamentos estranhos que só nos fazem torcer e lembrar com todas as forças que haverá uma Primavera. Se não for hoje, amanhã, essa semana, ela virá.

O que dirá Greta? O que ele, Bolsonaro dirá ao mundo e à menina de pele clara, olhos brilhantes e longos cabelos louros, que mais parece saída de uma história de contos de fadas?

Para não dizer que não falei das flores: … “Pelas ruas marchando indecisos cordões/ Ainda fazem da flor seu mais forte refrão/ E acreditam nas flores vencendo o canhão/Vem, vamos embora que esperar não é saber” …

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Site Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano- Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. Já à venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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ARTIGO – Prepare seu coração. Por Marli Gonçalves

boygirl3Dtoons_onRollerCoaster_169x169_anigraphics-rollercoaster-600814Sim. Calma. Respira. De novo. Vamos. Não adianta se desesperar. Ainda teremos emoções bem fortes pela frente nos próximos seis meses. Sim, já se passaram seis meses, a metade, deste ano. Incrível, não pode ser só eu que acha que o tempo está voando sob nossos pés. Feliz segundo semestre de 2016!

Aos trancos e barrancos, descendo e subindo ladeiras, tropeçando, prendendo a respiração, arregalando o olho, prestando atenção, pulando poças, se desviando das flechas. Vai mesmo parecer corrida de obstáculos, labirinto. Ou trem fantasma. O que já está seguro: temos de enfrentar os dias de cabeça erguida. Me dá sua mão. Eu preciso de uma mão.

Já se deu conta? Vamos indo juntos, pensando. Primeiro, algo suave, as estações. Meses de inverno com frio. Frio, que até a gente tinha se desacostumado. Previsão de tempo seco, nada de ficar se esquentando debaixo do chuveiro. Vai passar também toda uma primavera, daquelas, para que a gente sempre acredite que ela traz coisas boas, novas, coloridas, amorosas, perfumadas, belas.

Lá pro finzinho do ano, que a coisa vai ficando quente (ou fria, depende; mas me refiro à coisa), chegará o verão e suas modas. Engatilhado, o Natal, o Ano Novo, a vontade de pensar só coisas boas e otimistas, roupinhas brancas, e todas aquelas palavras e gestos de todos os anos, com hohoho e tudo.

Mas antes vai ter muito protesto, muita manifestação, muito barulho por tudo e por nada, que agora a gente gostou de ir para a rua, de vermelho ou de verde e amarelo, carregando plaquinhas. Tem a votação do impeachment no Senado, os julgamentos pendentes nos tribunais superiores. As ruas vão fazer pressão, queda de braço, ver quem grita mais alto. Os jovens estão sedentos por causas, e só não temos mais tantas greves porque para ter greve precisa ter trabalho e isso anda bem escasso. 14 milhões de desempregados em todas as faixas podem ocupar um país, acabar de pará-lo, puxar o freio de vez, deixando a marca no asfalto.

Tá bom, vou maneirar, refrescar um pouco, e lembrar que teremos quatro feriados nos próximos seis meses: 7 de setembro, 12 de outubro, 2 e 15 de novembro. Sim, verifiquei; caem em dias da semana, para serem enforcados. Esquece o Natal que esse vai cair no domingo.

Voltando à nossa conversa, todos os dias dos próximos seis meses ouviremos falar as mesmas palavras como uma cantiga: João que delatou Maria que delatou o Pedro, que contou que não sabia de nada. José preso; Francisco com tornozeleira. Antonio nega. Paulo condenado. Ao fundo só ouvimos contar os milhões, bilhões, desviados de algo que ao fim e ao cabo era nosso – fomos roubados.

No meio dessa cantação toda, ouviremos também obrigatoriamente a cantilena e os jingles de campanha para prefeitos e vereadores. 2 de outubro tem eleição. Não temos bons candidatos, mas temos eleição, e vamos ter que votar e uns serão eleitos. Obrigatório.

Está pensando que eu esqueci agosto? Como poderia? Deve ser votado o final da novela Dilma, e o fim do seriado Eduardo Cunha, para ver se enfim as peças se ajustarão melhor e algum futuro poderá ser previsto mais solidamente, que agora está no ar, como os devaneios e baboseiras. Spoiler: os dois serão varridos.091_snowjump_cat_gifs

E vamos todos estar com as mãos juntinhas rezando para que nada de muito grave ocorra durante as Olimpíadas, logo esse ano, por aqui, no Rio, na calamidade. De 5 a 21 de agosto, muita fé. Vale promessa, virar o sapo no telhado, subir no Cristo Redentor de joelhos, qualquer coisa. Só rezar para que não seja baixo astral coletivo. O mundo todo olhando para cá. Para lá.

Mal respiraremos saindo dessa e logo, de 7 a 18 de setembro, a agonia vai voltar durante as Paralimpíadas. Mais atletas, mais perigos, mais Rio de Janeiro.

O mundo todo, eu sei, estará bem ocupado. Vai ter dor de pescoço de tanto ter de se virar de lá para cá para assistir a tanta coisa acontecendo na Terra, quiçá no espaço, quiçá no subsolo, quiçá vinda do céu, ou invadido pelo mar que anda querendo se espreguiçar. Eleições doidas na nação mais poderosa do mundo, numa terça-feira, 8 de novembro, com competidores díspares e atitudes inusitadas em movimentos perigosos. O Reino Unido arrumando as malas para se mudar, morar sozinho. Bolsas sensíveis a qualquer movimento mais brusco. E o terrorismo à espreita com os delírios de suas virgens, suas proibições e dogmas em Estados e organizações paramilitares e religiosas.

Bem, então, como eu ia dizendo…. Prepare seu coração para as coisas que eu já contei.

Arca-De-Noe-En-La-Inundacion-59301

Marli Gonçalves, jornalista – A profissão que existe para contar as histórias dos dias que virão, tentando entendê-los. E ultrapassá-los, porque afinal falta pouco para virar o ano.

Réveillon do segundo semestre, mais uma metade, tim tim, 2016

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ARTIGO – Que venha a Primavera brasileira. Por Marli Gonçalves

flor abrindoHá de chegar a nossa primavera, para que os dias possam voltar também a ser mais normais, que possamos realizar as coisas, com mais perspectivas, e não tenhamos mais de perder tanto tempo só cortando prazeres das nossas vidas, nem mais discutindo e pensando nas pragas que devassaram esse nosso imenso jardim. Eles não são flores que se cheirem.

animated-flower-image-0106Pensa só há quantos anos, de novo, a gente não tem calmaria real, não relaxa, fica só vendo o país ir para a cucuia. Nos últimos meses aconteceu que a coisa se acelerou, não dá mais para eles esconderem nas propagandas. Tanto tentamos alertar que não era bem assim, mas caiam bolsas em nossas cabeças. Bolsa Família. Bolsa Casa. Bolsa Bolsa. Embolsa bolsa. Agora vemos e sentimos bem perto de nossos narizes e olhos a tal da miséria que tanto insistiram que haviam exterminado. A gente aplaudia a parte boa, apoiava, mas sempre mostrando que não havia planejamento entre as muitas notas de populismo, que a jurupoca ia chiar. Não quiseram ouvir. Aliás, ainda tentam se fazer de moucos, nos chamando de golpistas.

Transbordou.

animated-flower-image-0130Se muitos movimentos políticos foram chamados de primaveras, porque não a Primavera Brasileira, bonita, colorida, diferente, divertida? Quem sabe não poderemos aproveitar a estação e fazer florescer uma nova cultura, mais ampla, solidária, construtiva? Nas ruas, com alegria, em paz, vamos tentar buscar a solução, a que seja melhor, que possa agregar e reunir o maior número de pessoas e representações. Houve a Primavera dos Povos, a Primavera de Praga, a Primavera Árabe, e até em Portugal, se não foi primavera, tinha flor no meio, a Revolução dos Cravos.

Mas tem de ser nessa estação que começa agora, 23, desta semana de setembro. Pensa que temos três meses, que não nos resta muita alternativa. Temos de parar de andar em círculos, onde todos os dias parece que lemos a mesma edição do jornal, cheias de achismos, chutes, previsões plantadas, diz-que-disse. Essa xingação mútua não tem sentido algum nem ajuda a desempacar. Vamos atarracar uma mangueira nesse Lava Jato para adubar novas ideias e perspectivas.

Pega a primavera, a fina flor, as pessoas na flor da idade, as flores raras, as flores que já desabrocharam e perderam espinhos, vamos cultivar as flores da retórica do convencimento por um projeto decente, de retomada de rumo. Revolução de comportamento, com a marca da personalidade brasileira. Pensamentos dogmáticos tradicionais não têm cabimento agora.

Já dá para ouvir o canto dos pássaros assobiando, rebolando bonito as suas asas, atrás de penas para se coçar e procriar. O acasalamento é a cara da primavera, das cores e das flores, das pessoas. Vê se me entende e ajuda: puxa mais gente e sementes.

Comadre Florzinha
Comadre Florzinha

Senão, olha que eu vou chamar a Comadre Florzinha para aterrorizar e puxar o pé de vocês de noite. Conhece a história dela, lenda do folclore pernambucano? Foi uma menina que se perdeu na mata, morreu, mas seu espírito ficou perdido na floresta e com o tempo ela passou a aterrorizar vilas e fazendas, com suas aparições. Dizem, e ela vive aparecendo, que é parecida com aquela outra assustadora garota de O Chamado, que mora em um poço. Florzinha tem longos cabelos negros. Mas à noite eles, os cabelos, pegam fogo e viram chicotes ardidos para cima do lombo de quem não lhe dá as coisas de que mais gosta, fumos, mel e mingau. Arteira, adora dar nós nos rabos dos cavalos. Ela também ataca quem não trata bem as árvores e protege a natureza como fada – pode ser menina-moça boazinha também. Comadre Florzinha.

“A ironia é a expressão mais perfeita do pensamento”, escreveu a grande poetisa portuguesa Florbela Espanca.

cao e homem lindoSão Paulo, 2015, tenso.

Marli Gonçalves, jornalista – Reconhece essa estrofe de canção? …“Pelos campos a fome em grandes plantações /Pelas ruas marchando indecisos cordões/Ainda fazem da flor seu mais forte refrão /E acreditam nas flores vencendo o canhão”… Pois é. Nervos à flor da pele …“Vem, vamos embora que esperar não é saber /Quem sabe faz a hora não espera acontecer”

 Aguarde! Prepare-se. Chumbo Gordo vem aí.

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ARTIGO – Vem, Inverno, vem, inverno. Vai, Inverno. Por Marli Gonçalves

torcida brasielria frioNinguém verá uma linda moça rebolante carregando cerveja de mesa em mesa, indo e vindo. Muda a estação. Agora é ele, essa masculina estação. Ele está aí, praticamente chegou. Inverno é estação para sofrer mais, tempo de ficar mais carente querendo cobertor de orelha, meia para os pés, algo quente para esquentar a garganta, um lugar para pôr a mão. Por outro lado, com a situação como anda só nos resta desejar também que logo nos vejamos na primavera que há de brotar, fazer desabrochar algum país melhor do que esse que se nos apresentatorcida brasielria frio

Prepare seu coração. Às 13h38 do domingo, dia 21 de junho de 2015, Lua crescente, ele adentrará o gramado com todas as suas idiossincrasias, ele, o inverno que, se fosse gente, eu veria como um arrogante senhor esnobe vestido com um sobretudo de peles raras -a estação que mais a gente precisa e pensa em dinheiro. Mais até do que no verão, roupinha leve, quando com qualquer coisa vamos batendo chinelinho, chupando gelo, molhando a nuca. No inverno não – é preciso ter algum, para vestir, para comer, para gastar, para comer chocolate, derreter queijo, beber um bom vinho. Espertos são os ursos, que hibernam. Abrem um parêntese. Uma pausa. Uma ausência.

Prepare seu coração porque nessa época a coisa fica tão assim que aumenta de 30 a 40% o risco de complicações nesse amigo do nosso lado do peito que bombeia nossa vida. No inverno nosso vermelho gordinho e compassado sofre mais porque trabalha mais, como eu dizia, por amor para sentir e aquecer, bombeia mais para nos botar ativos forçando-nos a sair do quentinho para ganhar a vida. Talvez esse índice também se deva em grande parte à preocupação – afinal já se passaram alguns meses daquele dia em que boa parte da população se vestiu de branco, acreditou que tudo seria diferente, pulou ondinhas. Aqui e ali as decepções, alguma coisa que até piorou e a perspectiva do fim de ano já chega, assim que o primeiro semestre apita na curva e se vai.

Ainda tem uma tal constrição, essa palavra que lembra fé, mas desta vez no inverno é a constrição dos vasos sanguíneos, aquela sensação gelada das extremidades. Ponta de nariz sem esquimó para beijar esfregando; os pés, os pés de orelha e os próprios com todos os seus dedos, e ainda os dedos das mãos.

O corpo humano é um mecanismo sofisticado, complicado, mas frágil. No inverno a gente vai tampando aqui, ali, até virar mesmo uma cebola. Uma cebola que se monta e se descasca durante o dia, para dar a deselegância discreta de nossas meninas, como diria o Caetano, em Sampa, beleza composta certamente em um passeio de inverno em São Paulo.

Os conservadores que andam eriçados, de plantão, praguejando, vão dar pulinhos porque ouvirão falar muito dos invertidos, com os quais invocam muito. Mas estes invertidos serão os dias com poluição e inversão térmica, aqueles dias maravilhosos, azuis, e ao mesmo tempo, secos, sufocantes, laranjas, desérticos. Dias que nos tornam a todos meio invertidos também. Enviesados, até!

Inverno é bom para algumas coisas, além da sopa, do banho quente, das pantufas, do sono debaixo das cobertas, da pipoca pulando na panela. Fora as mais safadas, serve bem para quem quer fazer tratamento estético, cortar aqui e ali puxar um pouco, de pele que fica mais coberta, protegida. Não mostra. Não mancha.

E aí, vamos falar sério? O que nós vamos fazer nesse inverno? Continuar reclamando? Sentar e esperar que alguma luz radiante ilumine nossas cabeças, que bata algum vento que nos faça espirrar soluções? Ou vamos continuar tossindo, aos soquinhos, como os carros velhos em manhãs geladas, vendo o filme de terror das sessões especiais? O tempo que temos são os próximos três meses, até 23 de setembro, embora essa precisão estanque entre estações – até isso – aqui seja meio bagunçado.

Tem mais um detalhe de inverno que preciso alertar – é época de aumentar o número de ratos querendo entrar, invadir as casas e empresas à procura de locais quentes e com alimentos, onde possam se obrigar e procriar. Entende a metáfora?

Sinceramente, acho mesmo que devemos é nos agasalhar e sair de novo por aí, para esquentar certas orelhas gritando umas coisas, organizando a primavera, vendo se desta vez a gente consegue fazer brotar a nação, semeando direito na época certa.

São Paulo, cuidado com friagem, 2015

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Marli Gonçalves é jornalista – – Mão quente, coração frio: amor vadio – diz um provérbio português. Mãos quentes, amores ausentes – diz um outro.
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ARTIGO – A flor da pele à flor da pele, por Marli Gonçalves

Andamos todos com os nervos à flor da pele, que é bem espaçosa e ocupa até 15% do nosso peso e a superfície quase toda, menos os buraquinhos. Mas nem adianta pensar em se depenar para emagrecer. A pele capta tudo, igual aspirador. E não esconde. Há momentos em que sentimos tantas emoções, que elas transbordam e pipocam incontroláveis em nossa própria pele, como flores, mas nem sempre muito primaveris

Juro que tento. Mas precisaria nascer de novo para ser zen, para aplicar as lindas teorias chinesas de equilíbrio e harmonia. Tenho sangue quente, fervente, passional e a vontade de participar é sempre maior do que a de deixar passar, esperando que outro o faça. Isso cobra um preço. Em mim, o da sensibilidade na pele. Se estresso, ela estoura e por pouco não me enlouquece mais ainda. Fato. Alergia.

A pele é um de nossos sentidos. A coisa sensorial. E daí depreendo que quando a alma fica com a lotação esgotada, a energia procura espaços externos. Esse é sinal de alerta grave, embora minha ambulância particular, por mais que grite e ponha sirenes, não sabe mais por quais vias navegar para chegar mais rápido ao socorro.

Pele deveria ser só para sentir gostosuras. Mas não ando me arrepiando como gostaria, infelizmente, nem aquela sensação gostosa de pelinhos eriçados. Minhas terminações nervosas estão arrepiadas é com o dia-a-dia, com o que ouço, vejo fazerem; vejo dizerem. Muita gente falando em rezar, em fé e religião, mas em paróquias e locais muito pouco convenientes. Rezando para santos muito particulares.

Nessa hora em que a crase faz diferença para a flor da pele, flor que rendeu tantos títulos de obras e filmes, tanto sensíveis – há até documentário sobre a cegueira que também trata dos sentidos à flor da pele – quanto do balacobaco, um deles com a Rita Cadillac, seria bom poder relaxar e gozar, como diria nossa nova ministra, Dona Marta.

Citar tal pessoa e ser é mais um bom motivo para mostrar que, além do estresse diário a que estamos submetidos, ela é a prova cabal de como acabamos financiando o aparelhamento do Estado, que virou um gigantesco balcão de negócios. E com pagamento à vista, como o que exigiu – sem rubor – para vir aqui em seu curral aconselhar eleitoralmente, afagar a cabeça do menino, do padrinho, da madrinha.

Estão nos esfolando a pele pelo poder, com a cara dura, sem mexer uma prega. Mas usando as nossas. E como cada milímetro nosso tem uma terminação sensitiva…

Não é só, claro. A mãe natureza também anda enlouquecida, esquentando demais, esfriando demais, chovendo de menos. O frio que não veio promoveu queimas, verdadeiras tochas de estoques que certamente farão com que a moda inverno 2014 seja exatamente igual a deste ano, até com as mesmas coisas que não foram vendidas.

O comércio está com os nervos à flor da pele. A indústria está com os nervos à flor da pele. Todos os continentes estão à flor da pele. O planeta está à flor da pele.

Acho que é informação demais. Até para a primavera.

São Paulo, rogai por nós! Mas com um pouco de São Pedro, 2012Marli Gonçalves é jornalista Outro dia, conversando com uma amiga e leitora, super espiritualizada, recebi o conselho de que deveria tentar fazer um exercício mental e buscar e sintonizar meu “bebê interior”, para “conversar” com ele. Bem que tentei. Mas não é que ele também estava assado e com brotoejas?

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Entre a cruz e a caldeirinha, por Marli Gonçalves

Sempre nos deparamos com bifurcações. Mas algumas decisões, embora nossas, só nossas, também são coletivas, e dizem respeito a um monte de gente. Mais uma vez o “carrinho de bater” onde levamos nossa vida vai ter que decidir por onde ir, por qual caminho, e de mãos dadas com quem. Sem meias palavras, sem meias desculpas e até sem a meia estação que piscou, virou Primavera, e eles não são flores para cheirar

Na frente do abismo. Dá vontade de sentar e ficar só anotando todas as formas e analogias possíveis de descrever estar entre uma e outra coisa, ambas esquisitas, mas adoro a imagem da caldeirinha, que imagino aquela bem pretinha, gasta, de ferro e alça. E a vejo em cima de uma fogueira com algo borbulhante já fervendo, quente. Da cruz, engraçado, penso sempre em manter civilizada distância – não é um símbolo que me apeteça. Me entristece.

A expressão foi cunhada diferindo a vida da morte, o sim e o não, essa constante dicotomia da vida, bem e mal, com água benta enchendo a tal caldeirinha. Significa também, veja que lindo, estar entre Cila e Caríbdis, que também é quando alguém escapa por um triz de uma má situação e cai em situação ainda pior ou se encontra perante um enorme perigo, seguido de outro ainda pior. Na real é passar entre um despenhadeiro e um redemoinho, fabulosamente visto como monstros crueis contra viajantes distraídos.

Entendeu a analogia poética? Se você é de São Paulo, especialmente, imagino que sim, embora dilemas estejam diante de todos nós todos os dias, em todos os locais. Se você é consciente e anda preocupado com uma certa santificação que anda por aí, entendeu também. Pode ser ainda que você apenas esteja confuso – é bem o caso – e sem entender como pudemos chegar neste praticamente beco sem saída. Porque também nao é o caso de tirar o corpo fora: nós criamos essa situação. Estamos carentes de líderes. Tanta modernidade, tanta tecnologia, e só surgem meias-tigelas.

Pior é que não é entressafra. Nosso celeiro não tem revelado grandes coisas, ao ponto de vermos, se autochamando de novos, pessoas e fatos que não são exatamente novos; alguns são até velhacos.

Com a temperatura maluca do jeito que está até as plantas estão se insurgindo, e de repente dão flores fora de época. Tudo é possível e há uma nova ordem se impondo meio que obrigatória. Só que cada um quer cuidar do seu jardim, da sua horta, o que até é compreensível. Cecilia Meirelles foi categórica: “A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega (…)”.

O problema é que não é só decidir guinadas à direita ou à esquerda, porque as pistas se confundem, e as placas dão indicações erradas, como se o Lobo Mau estivesse nos cercando na floresta.

A gente não sabe se vai ou se fica. Se tosse ou espirra. Se leva blusa, chapéu ou guarda-chuva. Se protege o pescoço ou as orelhas.

Se vota com luvas. Ou se deixa as digitais.

Estamos mesmo entre a cruz e a caldeirinha. Entre a espada e a parede. Entre o martelo e a bigorna. Na beira do abismo.

São Paulo, primavera 2012

Marli Gonçalves é jornalistaComeçou o ano de Portugal no Brasil. Nada como aproveitar grandes falas culturais comuns. Enquanto o gato anda pelo telhado, anda o rato pelo sobrado. Enquanto o meu carvão não acabar, serei uma brasa. Enquanto o vinho desce, as palavras sobem. Enquanto os cães brigam, o lobo leva a ovelha. Enquanto se capa, não se assobia. Enquanto se conta, não se erra. Enquanto se descansa, se carrega pedra. Ensaboar a cabeça do asno é perder sabão. Melhor não ensinar padre nosso ao vigário. Ensinar rato a subir de costas em garrafa. Entre gado ruim há pouco que escolher. Entre gente honesta basta a palavra.

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Façam suas apostas! Romance novo em Brasília. Quem será?

ESSA NOTA É DA COLUNA DO CLAUDIO HUMBERTO:

Paixão de primavera

 Com a entrada da nova estação na sexta (23), florescem os rumores em Brasília da recaída de ex-figurão da República por uma lenda da passarela.

 

ARTIGO – Nossa primavera particular

MARLI GONÇALVES Adoro. Fica tudo mais bonito, mais colorido e até mais romântico. Sempre tive a impressão de que a primavera era uma estação para, como diz um amigo, “acasalar muuuitoooo” (ele fala assim, quase como se uivasse).

Lá vem ela, cheia de graça, menina, a primavera. Traz consigo o trocadilho antigo do como vai sua prima. Traz um frio e calor e frio e calor, mais temperados. Traz o canto dos pássaros bem mais forte, mas insinuante e cheio de piadinhos aflitos dos filhotes nos ninhos. Traz invariavelmente o que todos os anos chamam tendência: os florais. Este ano, adianto, o quente da estação serão as estampas “Liberty”. Ah! O que é? Esse é o nome dos floridos dos tecidos, mas os que sejam mais delicados, com florzinhas, folhinhas, borboletinhas, toda sorte de inhas, miniaturas delicadas e que nos dêem ou tragam um ar pueril, campônio, de boa gente, natural. Não precisa morrer de rir, não vou tentar mudar seu estilo só porque a Primavera chegou. Você a recebe como bem entender.

Só que primavera é palavra usada o ano inteiro e nem sempre por causa só do ciclo da natureza e do tempo, embora não deixe de ser também. Primavera é sempre renovação. Seja por aqui, mas ultimamente tem sido muito também por lá, pelo Oriente, pelos exóticos mundos das Arábias, Mil e Uma Noites e ditadores cruéis. Se oriente, rapaz, nós já tivemos muitas primaveras revolucionárias e jamais esquecidas. Sempre é tempo de fazer mais uma, e vai ser boa se for para melhorar, para continuar vivendo, para continuar comemorando, contando e colhendo outras primaveras, igual aqueles bichinhos do Pac-Man, nhec, nhec, nhec, comendo pontinhos, desviando os caminhos dos labirintos para não ser engolido.

Sei lá se é muito tempo que estou sem Sol, nem na laje – sem viajar, sem parar. Fica difícil ser otimista e primaveril no meio de adversidades, principalmente para os que têm aguçado espírito crítico, mas não custa tentar. Outro dia, meio friozinho, alguns minutos livres, tirei as meias e pus os pés, só eles, expostos ao Sol que entrava pela janela. É pouco, sei, mas foi o que deu, e a vida é feita de coisas que dão, no bom sentido, se é que me entendem. O que acontece é que a gente nunca sabe dar valor na hora para essas mini “libertys”, iguais às estampinhas que estão na moda, e acaba perde os seus bons efeitos e pequenas oportunidades. No caso, como tenho expressivos dedos dos pés, foi como se eles me agradecessem essa graça, esses instantes de liberdade, fora das grades dos sapatos e meias. As meninas, como chamo os meus dedões, pareciam cantar e dançar, movimentando-se.

Ok, minha capacidade de imaginação aproveitou a viagem e aí eu pensei na praia deserta de meus sonhos, na areia branca e fina, naquela sensação que dá de descarrego, literalmente, quando pisamos descalços na areia, quando mergulhamos na água salgada do mar. Foram minutos importantes, e pensei também que poderíamos, em tese, todos, buscá-los, porque independem de poderes ou recursos. São “socializados”, mas só os seres do bem, valor imaterial, podem enfim obtê-los. Tais Como algumas mitologias onde – aos heróis, que têm um dom e uma meta positiva – os deuses propiciam sensações, vitórias e até o renascimento nos caminhos, nos designios. Será o tal prometido Reino dos Bons?

A primavera, por aqui, também nos lembra que mais um ano vai acabar, que aquele cara de vermelho e de barba vai fazer rôrôrô bem na nossa cara daqui a alguns dias, pedindo que o sigamos em compras e gastos e presentes, fazendo-nos acreditar que esse país está uma belezura. Não, não é o Lula esse cara, embora o próprio Papai Noel deva ter se inspirado no esbanjar de considerações de maravilhas que o ex-presidente agora teima em fazer pelo mundo. Sem renas; só com bons jatinhos, emprestados por pessoas boas, desinteressadas, e que ainda depositam recursos nos saquinhos da boa vontade.

Bem-te-vi, bem-te-vi! Se eu, que moro no meio de um animado centro urbano, consigo ouvir o apelativo som dos passarinhos que buscam atrair parceiras para a festa da primavera, imagino que há nesse mundo muitos que podem ouvir muito mais do que isso, fazer muito mais do que eu consigo. Imagino uma Revolução dos Bichos, mas bem-sucedida, ao contrário da descrita por George Orwell. Ali, as boas intenções acabaram virando o que a sociedade é mesmo. A realidade de um emaranhado de animais até mudando mandamentos ao seu bel prazer.

Parem de buzinar tanto, que quero ouvir a natureza! Se querem gritar, usem suas próprias vozes. Se querem fazer algo, façam, aproveitem a renovação. No silêncio dos sons da natureza, quem sabe, melhor do que primavera, fim de ano, você não vislumbre um carnaval? Acho que quando compôs O Carnaval dos Animais, em umas férias de 1886, Saint-Saëns fez exatamente isso.

E passou para a eternidade.

São Paulo, difícil se isolar, Primavera 2011, efeitos especiais (*) Marli Gonçalves é jornalista. Já gostava da Primavera, mas gosta mais ainda depois do dia em que fez as contas e descobriu que foi feita em uma dessas noites tão especiais da estação. Quando nascem as pimposas Amaryllis, que quase lembram meu nome.

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UMA TRILHA SONORA:

Artigo – Lá vem ela…

Marli Gonçalves

Era para a gente estar contente. Hora de mudança. Hora da primavera, o frisson de setembro, os acasalamentos, os encontros, as flores e cores. Mas o ar não está leve, muito menos cheiroso

Continuo achando esquisita como anda a aspereza do debate entre as partes de nosso país. Já vi esse filme. Um monte de cabeça-duras de um lado e outro montinho de outro. Só que naquela época nós estávamos junto com nossos amigos do mesmo lado, no mesmo montinho, voltados na mesma direção, que era à esquerda. Porque estávamos acuados na extrema direita, sob a sua égide e força. A guerra estava traçada; os adversários usavam a força; os combatentes, a inteligência, o caráter e a coragem. Mesmo quem não pulasse corda dava a mão e, às vezes, a cara para bater.

O perigo era comum. Hoje não. Não tem mais disso. Acredito que essa seja a primeira eleição assim, meio sem real ideologia teórica. Meio, ou melhor, completamente, sem eixo. Para a presidência, o embate principal oficial é entre duas mulheres e um homem, todos com idéias na mesma direção da estrada, e promessas cada vez mais inacreditáveis. Mas alguns usando métodos digamos “mais eficientes”: propaganda de massa, oferta de gabinetes, tráfico de influência, utilização de dados sigilosos, ameaças veladas.

Não pode haver quem – por mais dilmático que já esteja – que possa nem tentar negar que o presidente Lula e sua turma estão indo longe demais, atropelando toda a sorte de legalidade, vergonha, escrúpulo. Que a eleição está com cor e cheiro de vingancinha pessoal. E o que é pior: durante os últimos anos a oposição só fez se desfacelar. Toma Tiririca na coligação do PT! Com Maluf e outros dinossauros. Empresários subitamente socialistas e verdes crescendo mais do que agrião no rio. Ligações e coligações inimagináveis. Serra bonzinho, doce. Dilma, arrumadinha como compraz a uma boa senhora. Marina, salvadora, natural, com sua voz fina e muito lenta, principalmente em atitudes.

Se cobrir vira circo; se cercar vira hospício. Se gradear, vira prisão. Se plantar, floresta. Se secar, Saara. Se cavar, encontra. Se jogar para cima, lama.

Viramos espectadores de um circo, com ursos, leões e leoas, macacos e macacas – todos amestrados como passarinhos comendo alpiste na mão aberta do sistema. Os palhaços, trapezistas e equilibristas, mágicos e ilusionistas tecem o roteiro do espetáculo. Concorrem entre si na truculência dos que não podem debater com a razão. Batem o pé, teimosos, falando em maioria, como se sempre fosse essa maioria a beneficiada. Um altruísmo absolutamente oportunista e insensato.

Na lona. Onde exatamente ficaremos caso essa experiência maluca que nos estão impingindo se concretize e não dê certo, infelizmente, como importantes cabeças pensantes vêm nos mostrando antecipadamente todos os dias, sem resultados. Não é o combatente Lula, aquele metalúrgico que mal ou bem tanto cultivamos e até idolatramos, que está se candidatando, mas um toco que ele viu em uma miragem do tipo de poder concentrado. Não é o dândi Fernando Henrique que compete, o que é uma pena, inclusive.

A culpa é nossa, maxima culpa. E punto e basta. A schifosa é nossa cria, assim como o vampiro, a cabocla Jurema, as mulas, os chupins e outros filhotes que estamos acompanhando, criados para na primeira oportunidade que puderem morder quem lhes deu vida. Dessa máxima não conseguiremos nos livrar – é da natureza. O ar seco do inverno ainda nos embota os pensamentos, enquanto os novos dias não chegam.

Nossas primaveras já foram melhores. Mas, como descreveu Cecília Meirelles, em “Primavera”:“A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega”.

Se não há mais o bom senso, não há como remediar o mal que estará sendo decretado nos próximos dias. Para muitos parece que nem precisava fazer eleição – gostam dos experimentos in vitro. Não precisa mais transar, a não ser com a seringa. Até as flores e frutos, as folhagens das árvores, estão confusas, sem saber que tempo é esse.

E será o tempo da reorganização, da convocação de forças e idéias, de formarmos novamente nossos montinhos. Desde que não nos matemos uns aos outros agora.

Primavera, São Paulo, 2010.

(*) Marli Gonçalves é jornalista. Sempre ouviu falar no perigo dos redemoinhos, e dos sacos sem fundos.
 

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