ARTIGO – Pelejas nacionais e a palma de nossas mãos. Por Marli Gonçalves

Foi aberta a temporada oficial das pelejas eleitorais, e ainda além das nossas muitas pelejas do dia a dia. Agora não adianta nem tentar fugir porque elas entrarão por todos os canais, os da tevê aberta, de comunicação, nas redes sociais e os de nossos sentidos. Vamos esbarrar nelas, mesmo tentando delas se esquivar.

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Está no ar. Vão nos aborrecer, fazer torcer por alguns, ajudar-nos a escolher, e inclusive até nos divertir muito porque lá vem aquele desfile de gente muito estranha, com nomes e até codinomes, apelidos, anexados como patentes, religião e profissões, propostas absurdas e algumas ideias escalafobéticas.

Parece simples, mas não é bem assim. No próximo dia 2 de outubro, primeiro turno que – tomara –  seja o único, para acabar logo com essa aflição toda, teremos cinco decisões a tomar, cinco vezes para ouvir o tilintar da urna: eleger presidente (a), governador(a), senador(a), deputado (a) estadual e deputado(a) federal.  As coisas andam tão polarizadas que até é possível que apenas a partir de agora muita gente se dê conta de prestar mais atenção, mesmo nas fugidias imagens de segundos de alguns dos que pretendem conquistar nossos votos, e nem eles mesmos sabem bem o que estão fazendo ali, na sopa de letrinhas dos partidos, federações, cotas, uniões e acordos.

É preciso entender que todo o processo eleitoral é importante, complexo, que não adianta achar que escolhendo só o presidente poderemos mudar alguma coisa, porque o buraco é bem mais embaixo, ou melhor, lá em cima. São interdependentes. São quadrados que precisam ser bem preenchidos. Com consciência nacional, e que ainda parece que não aprendemos, pela falta de cultura política.

Ficamos aqui de fora assistindo os debates, confrontos, o cara a cara, as entrevistas, torcendo para que um massacre o outro, mas não é jogo de futebol. Temos de escalar um time completo, mas para entrar em campo a partir do ano que vem, com condições de enfrentar a perigosa situação e momento que nos encontramos, poucas vezes vista tão desorganizada em todos os campos, tanto éticos, como sociais, ambientais, econômicos.

O Brasil precisa tomar consciência do tamanho dessa responsabilidade que até aqui parece esquecida, como se tal peleja fosse apenas entre duas pessoas. São muitas. É necessário que a representação de cada um de nós se espalhe pelas casas legislativas, hoje tomadas pelo que há de pior, que veio de carona no mesmo barco do ser que nos atormenta nos últimos quatro anos, trazendo para o poder o ódio e um grande número de elementos execráveis, vergonhosos, perigosos, incluindo a própria família.

Quando escolhemos o presidente ou o governador de nossos Estados para os cargos executivos essa alavanca já começa a ser acionada.

As pelejas nacionais já vêm se dando de forma assustadora não é de hoje, e entre todos os Poderes, especialmente envolvendo o Judiciário, obrigatoriamente acionado para coibir abusos, dar sequência à lei e à ordem, como guardião da Constituição, juiz das partidas. Também aqui colhemos muitas dúvidas, abusos, interpretações que dão espaço a intermináveis discussões se um está ou não invadindo a seara de outro nesse momento delicado, se há abusos contra a liberdade de expressão de golpistas ou censura prévia a condições, planos, pensamentos e financiamento de atitudes que até já vivemos e perigos que apagaram a luz do país por longos e tenebrosos 21 anos.

Pelejas são complexas, árduas, cansativas. Mas típicas da democracia, a palavrinha que temos de defender acima de tudo. Na expressão popular há a expressão cobertor peleja, aquele que não é completo – ora deixa os pés descobertos, ora a cabeça. É aquele cobertor de tecido grosseiro, em geral doados, e que aqui em São Paulo vemos diariamente sendo largados ou arrastados nas ruas por necessitados sem teto ou pelos viciados da Cracolândia, inclusive alguns dos muitos problemas que esperam soluções enquanto as tais autoridades que escolhemos pelejam entre si.

Vamos tentar decidir melhor quem serão esses contendores. Está em nossas mãos as letras que  escolheremos. No dia da eleição, levemos na palma delas o poder e a decisão. E já que a moda parece que está lançada, para agilizar as mudanças, a cola escrita com os números dos candidatos bem escolhidos.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Pescados e Pecados. Por Marli Gonçalves

Pronto, chegou. A santa Semana Santa começa agora, domingo, e vai até o outro, a Páscoa. Do jeito que as coisas andam, sem pescados, com pecados, e sem chocolate, tudo na hora da morte, sacrificados. Vai ter malhação do(s) Judas? Ideias de personagens não faltam. Tem muitas coisas em comum, ou para serem lembradas com o que vivemos hoje, e a celebração da Paixão de Cristo, sua morte e ressurreição

pescados e pecados

Conta a lenda que Jesus Cristo não aceitava o tipo de vida que seu povo levava, o governo cobrando altos impostos, riquezas extremas para uns e miséria para outros, e sua luta por justiça seria punida. Isso acaso lembra alguma coisa, algum lugar que conhece?

Momento sagrado que esse ano, ao contrário de todos, será subvertido ao bel prazer – normalmente tem Carnaval, 40 dias, quaresma, depois vem a celebração religiosa; agora é celebração, reza, reza, e depois, semana seguinte, Carnaval. Brasileiro não tem mesmo problema algum em mudar tradições. Vai por decreto. Piora em ano eleitoral, se pudessem distribuiriam ao povo saquinhos de bondades.

Mas mesmo agora nessa semana, ao que parece, ora, ora, muitas tradições serão afetadas. Por exemplo, na tradição católica, a Sexta-Feira Santa, a Sexta-Feira da Paixão, é dia reservado para a prática da abstinência. Uma tradição do catolicismo preconiza que não se coma nem carne vermelha nem frango nesse dia.

Silêncio. Não deveria conter ironia. Mas…já que faz tempo que esses itens sumiram ou escassearam na mesa dos brasileiros. Aí, é permitido se alimentar com peixe, ok? Claro que já viram os preços escalafobéticos, inclusive do desejado bacalhau, mas se não viram, deixe estar. Todos os noticiários repetirão as matérias sobre isso, sobre preços, sobre como comprá-los, verificar seus olhos brilhantes, suas guelras firmes, coisas assim. E que vivam as sardinhas que devem salvar alguns pratos!

Pessoas mais religiosas optam pelo jejum total, ou parcial, esse já disseminado na maioria da população que ou almoça ou janta, isso quando toma um café que vocês bem sabem quanto está custando. Tem o tal jejum intermitente que anda meio na moda para quem acha que assim emagrece. Ou se limpa de impurezas, coisa mais besta ainda. Má notícia: os médicos dizem que tal intermitência pode até fazer com que quem o faça engorde ainda mais!

Mas voltando à nossa celebração religiosa, feriado prolongado, que já deve estar assim de gente arrumando malas para cair fora para alguma gandaia. Não dá nem para ficar falando muito que, se não tem carne, não tem frango, não tem peixe, se opte por vegetais e frutas, produtos naturais. Não dá, inclusive, porque não quero arrumar encrenca com os pecuaristas que arrumaram treta até com o banco poderoso, e por muito menos que isso. Invocaram com o movimento dos vegetarianos que existe há anos – as “Segundas sem Carne”. Se bem que, em protesto, eles fizeram churrascos nas portas das agências, e vai que sobra uma picanha, uma maminha, uma costelinha… Mas ainda é melhor deixar para lá que encrencar com poderosos crucificou Jesus.

Desde menina, lembro, morria de medo de errar nesse dia e comer alguma carne – e sempre a gente ou esquece ou passa uma tentação pela frente. E claro que aqui ou ali quando se dá conta já está mastigando o proibido. A ideia do pecado, da punição, da culpa, sempre tão presente na religião. Oh, céus!

Aí chega o Sábado, de Aleluia. Dia de Malhação, que não é a da tevê. Malhação do Judas. Coisa até bem violenta. Tradição: juntar um monte gente para, divertindo-se, espancar, dar pauladas, arrastar por aí um boneco, espantalho, em geral primeiro dependurado, meio enforcado, do tamanho de um homem, forrado de serragem, trapos, qualquer coisa. Correr com ele, e depois tacar fogo, em geral ao meio dia. Aqui em São Paulo era até bem comum ver mais disso. Mas todo ano aparece algum, em algum lugar, algum bairro, já que sempre personifica, com placas ou máscaras, alguém malvisto do momento, políticos em geral, malfeitores do povo. Como disse, mais um ano em que a lista é enorme, difícil até de decidir, de candidatos. À eleição. E a virar Judas.

No domingo, os coelhinhos que se livraram de virar assado já que não temos o hábito de tê-los no cardápio normalmente, surgiriam como símbolo de renovação, ressurreição (quase virando lenda, dada a impossibilidade financeira e o oportunismo dos fabricantes), e trariam alegremente ovinhos de páscoa, de chocolate, para as crianças.

Como vemos, anda impossível até manter o mínimo de tradições. Pelo que parece a única mais garantida, que mudam até de data, ópio do povo sem pão, fora de época, é completamente pagã.

Assim vamos indo. De fantasia em fantasia.

E Evoé, Baco!

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Terrivelmente tudo. Por Marli Gonçalves

O momento terrivelmente que passamos é total, com a expressão podendo ser aplicada para definir praticamente todos os acontecimentos pelos quais passamos ou somos informados. A pergunta é: e se piorar, o tempo vai fechar mais ainda?

CORONAVIRUS - TERRIVELMENTE

É terrível.  Tenho me sentido assim, terrivelmente aborrecida, e lutando, girando igual Giroflex, movimentando a cabeça para todos os lados, buscando encontrar coisas, pessoas, experiências legais que possam me fazer sentir, de alguma forma, ao contrário, melhor, terrivelmente feliz, animada, mais confiante em mudanças. Aqui e ali até que tudo bem, mas sei ser mais por conta de meu espírito otimista e bem humorado, e que às vezes nem sei bem como ainda consigo manter.

O clima de final de ano já não ajuda muito, convenhamos. O clima de final de ano de dois seguidos dominados pela pandemia e tudo o que significa, e as mudanças que ela não para de trazer, eis o mundo transformado numa caixinha de surpresas. O que estamos encontrando aí fora, no tal novo normal, bem diferente, e tenho passado um tempo observando para entender melhor, ainda sem clareza e com muitas dúvidas.

Vejo os estádios de futebol lotados e as festas dos times campeões nas ruas. Vejo de longe, claro, nas telas. Incrível como nosso país se mobiliza pelo futebol. Se mobiliza também pelos shows, especialmente os gratuitos, que andaram pipocando nesse momentinho de maior abertura. Nessas horas o medo é substituído pela euforia. Aglomerações nesse momento parecem provocações para forçar até onde tudo isso vai.

Mas raramente vemos o país mobilizado para melhorar. Ouvi, e você também, e com toda a certeza, muitas vezes, que assim que fosse possível haveria manifestações para mostrar o desagrado com a política desse governo cada vez mais mal avaliado – nas pesquisas, nos papéis frios, nas decisões e indecisões, excesso de bobeiras, nos resultados cada vez terrivelmente ruins em todas as áreas,  economia, saúde, educação, saneamento, uma lista enorme que inclui a incapacidade de controle, organização, compreensão e ação efetiva.

Estou aqui esperando, sentada, balançando a perninha. Sem entender porque – à beira de um ano eleitoral fundamental – ainda estamos tratando com os mesmos candidatos, alguns do século passado, nos mesmos debates e embates, as mesmas divisões, os mesmos erros prontos a serem novamente cometidos. Ou pior, perpetuados. O povo nas ruas, sim, no futebol, nos shows, e também no bate perna de milhões à procura de emprego, de algum trabalho, do que levar para casa, aglomerados em filas e plataformas de transportes públicos que nunca se expandem, a não ser em promessas.

Já ouvimos os batuques ecoando um incerto Carnaval. Sabemos de festas já canceladas de Ano-Novo. Máscaras continuarão obrigatórias, tenha certeza, por mais um bom tempo, embora cada vez mais estejam sendo abaixadas, criando conflitos com os que querem se cuidar. Corremos para vacinar mais e mais, ao mesmo tempo que as nossas porteiras e fronteiras continuam sedutoras aos que se recusam a elas. O coronavírus continuamente trocando de roupagem arreganha os dentes para todo o planeta.

Aí chega uma dúvida cruel. O que acontecerá se acaso as coisas se complicarem demais e novamente? Ou seja, se for preciso que se tomem decisões verdadeiramente radicais? Quero dizer, fechar tudo, parar tudo. Isso é terrivelmente possível.

Vai ter guerra? Desobediências que poderão levar a conflitos civis? Quem mais tentará se aproveitar desse momento? Qual será o comportamento nacional?

O futuro comprometido está próximo de, além de ter sido aceito um ministro “terrivelmente evangélico” para integrar pelas próximas décadas o principal tribunal de decisões fundamentais, todos entendermos na pele que esse não é um bom advérbio. Terrivelmente é tudo de ruim; assustador, forte, violento.

Temos de falar sobre isso. Ainda teremos muito o que falar sobre isso tudo.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Estamos numa fria. Por Marli Gonçalves

Entramos e estamos numa boa fria, numa gelada, num enorme saco sem fundo. É tanta coisa acontecendo de esquisito, de ruim, e sem que possamos resolver de vez ou tomar medidas rápidas e objetivas – a solução não está só em nossas mãos, mas na de todos e em tantas mudanças e acertos – que só resta, sei lá, espirrar. Espirrar com muitos desses culpados de nossa frente

Saltos, piruetas, manobras espetaculares no asfalto, nos tatames, no mar, fôlego na piscina; as mulheres arrasando, a garotinha em cima do skate, a outra bailando com movimentos precisos bem na cara de suas próprias dificuldades. Orgulho, vitórias, e não só, também as derrotas, trouxeram distração para mais de 100 metros nas notícias e madrugadas olímpicas. Vimos novamente, felizes – mesmo que por instantes – a bandeira nacional tremulando sem que ela nos causasse essa certa repulsa que tanto fizeram que conseguiram nos fazer dela até enjoar nos últimos tempos.

Soubemos das incríveis lutas e histórias de superação dos atletas – os vimos felizes e também desolados quando ficaram pelo caminho em suas modalidades. Pelo menos ali acompanhamos um país se esforçando, lutando para se firmar e melhorar. Temos mais alguns dias para acompanhá-los e torcer.

Mas agosto está aí, sempre teremos agosto. E já está vindo embalado pela pandemia que continua matando muito mais de mil pessoas por dia e querem que isso pareça normal, quando vemos outros países indo e voltando de medidas restritivas nesse vaivém estonteante. Aqui, o pimpão prefeito do Rio de Janeiro, por exemplo, decretou que vai estar tudo bem até o outro mês e até já marcou feriado e festa. Uma vergonhosa corrida de Estado contra Estado, cada um querendo parecer melhor que outro, em campanha aberta, como se não bastasse o furdunço que virou o Governo Federal.

Às vezes acho que a água que os dirigentes e responsáveis pela condução do país tomam contém mesmo alguma coisa a mais – só pode ser. Não atingimos ainda nem os 20% de imunizados com as duas doses. Há ainda um inacreditável número de pessoas contrárias às vacinas ou que não voltaram para a segunda dose, quando necessária, como o é para a maioria. Ainda vemos quem tenta escolher qual marca tomar – e muitos desses estão tombando pelo caminho. O Ministro da Saúde ousa proclamar vitória e ações do governo, como se não tivéssemos já quase 560 mil mortos e mais de um ano e meio de pandemia muito mais cruel por causa dos erros deles.

Agora, as aulas vão voltar – e não se tem a menor ideia de como resolveremos os sérios problemas da Educação, da evasão, do atraso no ensino. O Ministério? Além de uma fala maluca do ministro, outro batendo no peito por feitos não feitos, pôs no ar uns anúncios moderninhos. Volta também o showzinho diário da CPI que, quando acabar, teremos um relatório enorme, e precisaremos torcer muito é para que ele não vá dormir em alguma gaveta.

Quem chacoalhou esse país para ele estar assim tão dividido? Quem abriu a tampa do bueiro para tantas absurdas ignorâncias? Um queima o Borba Gato; outros vêm e jogam tinta vermelha nas homenagens a Marighella e Marielle. O fogo queima nossa memória. As mentiras e notícias falsas se espalham e ecoam. O presidente monta um circo para dizer o que já sabíamos de suas acusações sobre as eleições – que ele não sabe de nada, não prova nada e isso é só mais um assunto para manter o percentual cada vez mais baixo de quem o segue, ainda achando que ele presta, mesmo vendendo seu mísero poder para outros míseros carrapatos que grudam em tudo que é governo, seja de qualquer lado do colchão. Não adianta virar, desvirar, por ao Sol.

É inverno e até o frio intenso e recorde que há muito não aparecia ataca o Sul e o Sudeste, expondo nosso total despreparo para qualquer situação extrema e a miséria que grassa nas ruas que acomodam friamente mais milhares de recém-chegados. Os preços disparam, sem controle, enquanto turistas fazem horrorosos bonequinhos de neve e a geada acaba com as plantações.

Estamos mesmo numa fria na qual entramos sem saber ainda como sair dela, estranhamente escaldados.

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MARLI - cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Sob e sobre ameaças. Por Marli Gonçalves

Vivendo sob constantes ameaças, e que só aumentam, vindas de todos os lados. Não bastassem as lutas para controlar a pandemia, o surgimento de novos vírus e outras doenças esquisitas, os problemas com energia, água, temperatura, economia, no Brasil vivemos mais um pesadelo, o político. Qualquer homenzinho, ou serzinho verde oliva, agora aparece cheio de marra, e ameaçando a democracia.

Ameaças

Temos muitas dúvidas, perguntas, pedidos de esclarecimentos, e temos ouvido quase sempre as mesmas não-respostas. Repara quantas vezes, nós, da imprensa, perguntamos, perguntamos. “Mas até o momento não obtivemos resposta”. Todo dia. As revelações, gravações, denúncias, fatos e fotos, falas e gestos se sucedem.  Parece que estão brincando de governar, e estão; sem rumo. Mas jogam pesadamente pelo poder – e com as nossas vidas.

Para quem já viveu momentos difíceis, apenas uma clareza: antes, sabíamos exatamente o que, quem, como estávamos combatendo ou de quem deveríamos nos defender. Agora, apenas a ignorância grassa e é como se o inimigo morasse ao lado, e possa surgir nos surpreendendo. Os descobrimos entre pessoas próximas, amigos, familiares, numa divisão sem igual. Contaminam todos os ambientes.

Os ataques podem ser tão sub-reptícios que até uma deputada acorda machucada, com fraturas, e sem saber exatamente o que ocorreu denuncia poder ter sofrido um atentado. Muito louco? Não, se pensarmos que agora tudo é mesmo possível, inclusive para quem amigo deles era; e inimigo deles, virou. O que aliás tem sido muito comum: o abandono desse barco que navega sem sentido e em uma tenebrosa maré. Maré obscura, armada, violenta.

Ultimamente, não sei como, descobriram uma palavra que usam para tudo e que duvido saibam exatamente qual o seu sentido: “narrativa”. Escuta só uns minutinhos de CPI. Escuta um minutinho do discurso de justificativas e negações deles. Até o presidente, que não é o maior afeto ao vocabulário humano, outro dia disparou “narrativa” para lá e para cá. Lá vem ela: tudo que os afeta é narrativa incorreta.  Só a deles – e que vem eivada de ódio e erros – é que deveria ser ouvida.  Tentam adestrar com decorebas os seus bovinamente seguidores, pouco importa o que falam, mesmo que logo depois contradigam-se.  O recheio de informações falsas que usam cria uma espécie de hipnotismo, repetições ao molde de treinamento de animais. Contam um conto, aumentam muitos pontos.

Isso não é ideologia, direita, esquerda, volver, nem centro, nem de cima nem de baixo. Para ser ideologia tem de haver inteligência, conhecimento, estudos, lógica, contraposição, debate. Assim a gente descobre porque é tão difícil lidar com eles, são apenas chucros estes que estão no pódio do poder central, ladeados por muitos outros, instalados em outros poderes. Infelizmente, inclusive na imprensa, muitas vezes a pesados soldos.

Agora a questão é duvidar das urnas eletrônicas, pregando o voto impresso, mesmo que se diga e repita a confiança nessa forma de voto. Não deve passar essa iniciativa. Tomara que não. Mas eles inventarão outras ameaças nesses meses que antecedem a eleição do ano que vem, e que infelizmente ainda não nos apresenta uma lista de candidatos fortes o bastante para recolocarem o país nos trilhos.

“Se urnas são confiáveis, dá um tapa na minha cara”, pede Jair Bolsonaro, ao duvidar do próprio sistema eleitoral que o elegeu, sem apresentar provas.  Será que vai ser preciso agendar? Pode entrar quantas vezes na fila?

Ele que está pedindo. Nós não ameaçamos, mas ainda creio que saberemos como nos defender.

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MARLI - cgMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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Brasil, mostra sua cara. Mas com dignidade. Por Marli Gonçalves

Eleições, dias que deveriam ser de festa e hoje são de discórdia, como se os principais e visíveis problemas fossem sentidos só por uns ou só por outros. Violência e virulência, assuntos deslocados, mentiras pavorosas, egoístas hipocrisias religiosas e uma cordata ignorância entraram no campo onde todos perdem. E isso não é futebol que nos deixa tristes apenas por alguns dias

Eleições, dias que deveriam ser de festa e hoje são de discórdia, como se os principais e visíveis problemas fossem sentidos só por uns ou só por outros. Violência e virulência, assuntos deslocados, mentiras pavorosas, egoístas hipocrisias religiosas e uma cordata ignorância entraram no campo onde todos perdem. E isso não é futebol que nos deixa tristes apenas por alguns dias

Serão anos duros pela frente, haja o que houver, isso está muito claro nesse país que não só está dividido, mas cortado em pedaços arrastados e espalhados salgados e com gosto de fel pelos chãos de todas as regiões. As eleições deste ano marcam um dos períodos mais tristes que vivemos, pelo menos desde que vim ao mundo, e já são seis décadas. Ainda – ainda, repito, e que pare por aqui – apenas não comparável aos 21 anos de uma ditadura que nos feriu, censurou, torturou, matou, cortou as asas de nossa imaginação, deixando apenas um toco de esperança, e que mal ou bem vinha de novo se reconstruindo.

Está uma tristeza, um desalento. Mas do que isso, um processo de cegueira coletiva, surdez geral, insanidade e infantilização de costumes, busca de falsos heróis, falta de educação, gentileza, raciocínio, de comunicação interpessoal. Não tem graça alguma, mas tem quem se ache o máximo por apoiar uma pessoa que reúne as piores outras pessoas ao seu redor, com a pior família, além dos piores pensamentos, o despreparo, e que pode nos levar a situações insustentáveis inclusive diante do mundo hoje globalizado do qual dependemos economicamente.

Do outro lado, há os que surgiram impondo um candidato fraco, fracóide, querendo nos fazer de palhaços. E que não é ele, é o outro, mas o outro está preso, e ele atua por telepatia, sem vontade própria, sem segurança, sem qualquer condição. E sem pedir desculpas pelo mal que fizeram e nos levou ao ponto onde estamos. Para eles, a culpa é sempre “dos outros”, como sobreviventes de Lost. O avião caiu, mas eles o querem remontar só com peças velhas. Ainda assim batem no peito como vestais. Também são machistas e a real é que tratam questões de comportamento de formas muito duvidosas e claudicantes.

Onde foi que nos perdemos dessa forma? Para agora termos diante de nós duas forças tão perigosas? Para onde correr? Onde está a ponte?

Há quem diga que foi tanta corrupção aparecendo. Credite isso apenas à Liberdade, e jure fidelidade a ela. A corrupção sempre esteve aí, inclusive no tempo das fardas, mas não podíamos dizer, não podíamos saber, não podíamos falar, não podíamos escrever.

Há quem diga que a violência está espalhada. E está mesmo, de uma forma terrível, mas só piorará porque poderão ocorrer confrontos ainda mais violentos e não só entre bandidos e organizações criminosas, mas entre pessoas comuns babando de ódio como as que já estamos encontrando nesse momento, inclusive amigos que considerávamos e que agora vemos apoiando, aplaudindo a insanidade, de um lado e de outro.

Mas o Brasil não é uma laranja cortada, e nós não somos gomos. Aproveito esse espaço para um apelo emocional, de coração: não deixem imperar a ignorância. Nossos maiores problemas são comuns a todos. Parem de se infernizar e nos infernizar usando mentiras, desconhecendo a história, falando esse português ruim. Procurem saber mais sobre sistemas políticos antes de falar em comunismo, fascismo. Entendam melhor o que é a cultura, as características regionais, leis de incentivo, como funcionam. Abram os olhos, esfreguem bem, vejam: as mulheres e crianças vêm sendo as maiores vítimas da ignorância e do apelo à violência.

Mais: redes sociais não são a vida real. Não faça e não deixe circular informações falsas. A realidade já é bem terrível, não precisa ser piorada, e precisa da imprensa forte e livre para ser vislumbrada – não bata palmas para malucos dançarem. Sejam eles de esquerda, direita – não são socos de uma luta de boxe ou MMA.

Não podemos quebrar nossa cara, nem termos nossas orelhas deformadas fazendo ouvidos moucos para situação tão delicada.

Vivo dias angustiantes. Sei que não sou só eu que não sou nem de lá nem de cá, e que procura a tal saída dessa caverna pré-histórica em que nos trancaram. Para acharmos, o trabalho terá de ser coletivo, e teremos de nos dar as mãos. Firmemente. Sem traições.

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Marli Gonçalves, jornalista – Volto a repetir: solteira, sem filhos (e sobrinhos, etc.). E se me perguntar “E daí?” – direi que, veja só, estou me preocupando tanto com um futuro e que é meu por um tempo bem menor do que o das gerações que muitos de vocês estão criando nesses dias que se passam hoje e que por descuido estão esquecendo de ontem.

marligo@uol.com.br e marli@brickmann.com.br

Brasil, outubro 2018

ARTIGO – Desaforos não se leva para casa. Por Marli Gonçalves

Tão de brincadeira. Ouço as ruas e me preocupo. Não ouço de um lado só; ouço o direito, o esquerdo, o desinformado; o influenciado e o influenciador. O idiota e o intelectual. A situação é esdrúxula, mas não só isso: é perigosa

Estica a corda. Estica. Uma hora ela arrebenta e é esse impasse previsível que tem deixado – a mim e a muitas pessoas às quais tenho grande apreço – mais do que preocupados, chateados e irritados. Desanimados total, achando tudo um porre, nada (nem ninguém) que preste. Estamos brincando em cima de uma panela de pressão – um país perdido sem direção e em crise econômica, institucional e vou dizer: em profunda crise existencial.

Jogadas políticas temerárias vem sendo feitas à luz do dia e na calada da noite. Alguns riem. O resultado do placar é que aparece diferente para cada plateia. De um lado, os estupefatos que aceitam as provocações e acham que a solução é fechar o tempo de vez, sem entenderem que a História não deve nem precisa voltar atrás aos tempos obscuros, cavernosos e sangrentos vividos, tempos que teimam em negar como se realidade não tivessem sido. Nesse grupo há ainda os crédulos em justiceiros falastrões para quem – os que o criticam – somos analfabetos, sem ter ideia de quantos milhões o são mesmo, sem solução, e que podem votar, mas não podem ser votados para lutar contra isso.

De outro, a jogada mais radical, feita para a torcida única de bandeirinha na mão que acha que só ela sabe o que é que é bom, o que é pobre, miséria, justiça social, arte engajada, e insiste em criar caso até o fim no que não será possível, infelizmente, de forma alguma, que seja executado em paz – essa é a certeza: a candidatura de Lula, o encarcerado que mais recebe visitas que podem ser chamadas de íntimas – sem sexo, e com grande incontinência verbal.

Tapas sequenciais na cara. E ninguém está a fim de virar o outro lado para ser esbofeteado de novo.

Deixe os meninos brincarem – diria um sábio ancião, observando esse caso lá de cima de uma montanha, de onde já não mais precisa descer para votar nesse tutti-frutti absurdo e desconexo de cabo a rabo que se apresentará nas urnas. Diria mais: que eles precisam sempre regar o grupo deles, para não perderem mais do que já perderam nesses últimos anos, os que despertaram do torpor infantil emanando da plantação do canto esquerdo do rio. Jogar para a galera é o que fazem.

Só que os meninos estão justamente brincando com fogo porque querem se queimar, há entre eles muitos que – nem um pouco meninos – sabem ser o choque inevitável e para lá exatamente por isso encaminham a comissão de frente. ONU. ONU? Isso é que é atirar para todos os lados. Nunca os vi mexer o traseiro para situações vexatórias de miserê.

Teremos dias exóticos, ainda mais exóticos, quero dizer, pela frente. Vamos observar. Debates e entrevistas, os mais divertidos. Uma das melhores coisas é lembrar que a maioria das perguntas que uns fazem aos outros e que os jornalistas cutucam não têm o menor interesse de verdade para a gente a resposta, a não ser por futrica. Ver se um vai dar uma bifa na cara do outro; se o efeito do calmante vai passar, se o sangue vai subir, se gravata combina com o terno, que inclusive está tudo muito masculino para o meu gosto, se plantaram ou pintaram cabelo é o que dá a audiência.

E o que é pior, se perguntássemos ou se a conversa girasse apenas sobre as suas propostas para o Governo, seria menos constrangedor o silêncio.

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Marli Gonçalves, jornalista – Que essa corda seja resistente e não rompa.

marli@brickmann.com.br; marligo@uol.com.br

2018

ARTIGO – Seja o que Deus quiser. Por Marli Gonçalves

Deus salve o rei. A sorte está lançada. Alea Jacta Est. As pedras estão catapultadas. O jogo vai começar. Ou vai ou racha, de vez. Que vença o menos ruim.

Sim, sim, desolador o horizonte de onde tenta surgir alguma esperança de mudança e orientação desse país tão bonito, tão rico, tão simpático e ao mesmo tempo tão maluco, que vive eclipsado por galáxias inferiores. Deus caprichou quando semeou o que viria a ser esse nosso chão. Agora só resta apelar a Ele.

Caveat emptor. “Cuidado, comprador”. O risco é seu quando for escolher os produtos que vai pôr na cestinha da urna eletrônica, os ovinhos de onde espera que saiam soluções para pôr fim a essa agonia que nos afunda ano após ano, aprofundando perigosamente as diferenças sociais. Cada vez que pensamos agora, vai, somos colocados diante de um muro, já cheio de gente se equilibrando em cima, se é que me entendem. Muro que novamente aparece como uma barreira protetora, pedindo que rezemos aos seus pés.

Estamos encastelados. Nesse muro moderno não vamos lá lamentar e nem deixamos pedidos escritos com nossos desejos. Nele, projetamos vídeos de celular – com imagens claras deitadas e áudios sofríveis, mas que apontam a realidade e muitas das necessidades – o que queremos. Mais, do que precisamos. Quem acompanha a série, a exibição, pode perceber o estado atual das coisas, a pobreza, as obras inacabadas, as estradas intransitáveis, a dificuldade de expressão do povo em sua própria língua pátria. Pode perceber também a imensidão dessa terra de que às vezes esquecemos a real dimensão, as diferenças, os tipos, os sotaques, os nomes das localidades, alguns que até contam a história de sua criação, levam os nomes de seus fundadores; outros, que trazem poesia; alguns, sua condição geológica, rochas, grutas, montanhas, montes.

Tudo muito lindo parece mostrar um país inteiro que sabe o que quer. E, corajoso, não quer só mostrar o lado bom de onde vivem. Apontam as faltas, como recém descobertos árbitros de vídeo.

Deus brincandoNão, não está a oitava maravilha, faltam escolas, educação. Faltam diversidade, tolerância, cuidados com a natureza e riquezas naturais. Condições de trabalho, produção e formas de escoamento em uma malha de transportes integrada. Falta muito, além de esquerda, direita, centro.

Rezamos a todos os santos – muitos até homenageados com os seus nomes nessas cidades, onde sempre têm uma capelinha – e o que nos aparece? Os mesmos de sempre, atarracados como carrapatos no poder, querendo se reeleger. Pior, alguns que nem eleitos mereciam ter sido e querendo agora mais, governar, sentar na cabeceira da mesa. Subir na vida nas nossas costas.

Mais de uma dezena de candidatos a presidente, dezenas de senadores, centenas de deputados vão procurar você de novo. De algum jeito vão tentar chegar a você e à sua decisão. Vão se desculpar pelo que não fizeram, vão prometer o impossível, pedir desculpas e perdão por seus erros, tentarão explicar botando sempre a culpa em outro alguém. Até em você, preste atenção. Nossas costas são largas.

Nós mesmos já estamos nessa – nos culpando mutuamente como idiotas, já que ninguém merece que nos engalfinhemos. A maioria que ganha num determinado momento pode se dissolver logo. O que vimos na Era PT, e depois no tchau para a Dilma – “qualquer coisa seria melhor”, pensávamos.

Vejam só: “o qualquer coisa” foi mais uma decepção, um desastre. O líder popular não era bem assim, e a primeira mulher coisa e tal foi um festival de vacilos. Faça as contas: são muitos anos deixados para trás.

O direito de errar, de mal avaliar. O problema se torna mais dramático agora que as candidaturas se apresentam e são todos tão questionáveis, alguns muito mais questionáveis que outros. Novos, que são velhos. Alguns que se mostram e às suas verdadeiras faces, piores ainda quando questionados.

Nos deixam entre a cruz e a caldeirinha. Entre a cruz e a espada. Entre o agora ou nunca. Entre o céu e o inferno. Entre o amor e a guerra. Entre o ódio e a paz. Entre o ontem e o amanhã.

Vox Populi, Vox Dei. Voz do povo, Voz de Deus. Seja mesmo o que Deus quiser. Mas lembra que cada povo tem o governo que merece, não é mesmo? Frases feitas repletas de realidade.

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Marli Gonçalves, jornalista. Tomara que o final seja Veni, vidi, vici (Vim, Vi, Venci). Em latim ou em português bem claro.

marli@brickmann.com.br e marligo@uol.com.br

BRASIL, AGOSTO A GOSTO, 2018

ARTIGO – A grande jogada e o novo árbitro. Por Marli Gonçalves

Sinto muito. Não deu, bola para frente! Temos, logo agora, outro campeonato para prestar atenção. Formar a seleção e torcer para que ela, essa sim, nos salve desse campo esburacado.

Vou dar uma de louca. A louca otimista. Vai! Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima! Vamos, vamos! Tentar aproveitar e começar do zero agora, como se não houvesse esse ontem, não tivessem ocorrido essas brigas, essas divisões, nem existisse um sem-noção candidato para nos perturbar.

Para torcer agora você não precisa sequer usar o amarelo, para não ter de aguentar aqueles chatos que invocaram com a camisa da Seleção saindo para tomar Sol na rua durante os protestos.  E que vão voltar a atacar, escuta o que estou dizendo. Vão vir com aquele irritante “eu não falei?”. Chatos que quase tiraram ainda mais o ânimo da gente. Pode – e deve – sair de azul, amarelo, verde, vermelho, todas as cores do arco-íris. O Hino continuará um só.

Enfim, demos um tempo, fizemos uma pausa vendo a bola correr de lá para cá e de cá para lá. No fundo, foi devagar, devagar, devagarinho igual na música o que rolou nessa Copa. Fiz as contas: já vivi 15 Copas. Das que me lembro, essa foi a mais esquisita, mais ainda do que a passada aqui no Brasil, aquela desgraça que ajudou muito a esburacar o nosso gramado.

Essa de agora parecia desengrenada – e não só pro nosso lado. Vide o monte de grandões que foram caindo um a um detonando as bolsas mundiais de apostas, as marmotas e outros bichos videntes, a lógica, se é que há alguma no futebol. Foi pegando gosto, vendo até onde dava para ir, tentando sobreviver ao ufanismo radical que tentavam sem sucesso inocular em nossas veias abertas, como de toda a ladina América Latina.

Está claramente diante de nós um Novo Mundo e é preciso enxergá-lo o quanto antes para tentar correr atrás dele enquanto é tempo. É mundo moderno, que usa educação, tecnologia de ponta, procura fontes alternativas de energia, tem consciência de que a natureza revida e que a liberdade é um dos bens mais valiosos para uma sociedade pluralista e melhor organizada. Que só sobreviverá se for em paz.  A tal sociedade globalizada.

Globalizada a um ponto tal que daqui, desse outro lado do mundo, nos próximos dias estaremos todos nós diante da boca de uma caverna funda e inundada que retém o grupo de meninos lá na Tailândia. Do lado de fora da caverna, uma tenda improvisada, uma tela, algumas cadeiras, unem esses meninos às suas mães que ficam ali sentadas o dia inteiro e assistem ao vivo a tentativa de resgate e o desespero de seus filhos, ao mesmo tempo em que oram e dão graças por eles ainda estarem vivos e com alguma esperança. Do outro lado, de dentro do local escuro e úmido, eles acenam para as mães. E para todos nós.

Não é só. Temos muito com o que nos preocupar. Mas precisamos fazer isso com leveza e com muita rapidez no contra ataque.

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Marli Gonçalves, jornalista – Sorria. Brasil, você está sendo filmado. Depois alguém vai ver essa fita.

marligo@uol.com.br/ marli@brickmann.com.br

 

Julho, 2018

ARTIGO – Anestesia geral. Por Marli Gonçalves

Tanto faz como tanto fez. Abobalhados. Inertes. Adormecidos. Lentos. Parecemos autômatos diante dos acontecimentos. Esperamos os dias seguintes, e os seguintes…

Ouvimos, lemos, sabemos ou somos diretamente atingidos, diariamente, por toda sorte de acintes, assaques, misérias, decretos e decisões que visivelmente nos prejudicam – a todos. Leis lidas a bel prazer. Bancos, seguradoras, poderosos limpam os pés nas nossas costas. Vemos gente pela qual temos apreço ou mesmo mal conhecemos, sofrendo ou caindo, miseráveis, seja nos postos de saúde ou nas calçadas, mortas pela violência desmedida e sem fim. Assistimos impassíveis a embates públicos nojentos e é como se nada daquilo nos dissesse respeito, estivesse ocorrendo em outro planeta.

Doenças terríveis que já haviam sido erradicadas – sarampo, raiva, poliomielite! – voltam céleres. Matam. E há quem tenha – para isso, sim – energia e coragem de negar as vacinas; pior, criminosamente tentam ainda argumentar contra elas do alto de suas ignorâncias, e acabam conseguindo, atingem uma importante parcela da população, aquela que a cada dia mais não sabe onde está parada. Apenas está parada esperando o futuro do país do futuro que não chega nunca.

Faltam pouco mais de três meses para a eleição de um novo presidente da República, repito, presidente. Isso, além dos cargos de governadores e deputados que serão regentes dessa desafinada orquestra a partir do primeiro dia do ano que vem. E é como se nada da crise braba que estamos vivendo, das terríveis descobertas de corrupção, roubos, extorsões, pilhagens e pilantragens em geral fizessem real diferença fora dos vídeos feitos com celular deitado. Depoimentos que mostram, sim, um Brasil real, pobre, largado, cheio de recônditos de nomes estranhos, de pessoas e cidades, e onde se fala uma língua que portuguesa não é, com seus esses e plurais esquecidos tanto quanto eles próprios.

O primeiro colocado nas pesquisas eleitorais, feitas com esses nominados aí que pretendem por a mão na direção, aparece; e é um preso com várias condenações e que de lá onde está trancafiado ainda posa de mártir e redentor, perseguido, um Messias. O segundo colocado é um ser abominável, incapaz de nada a não ser de bravatas, que até parecem soar reais nesse verdadeiramente desesperador momento: é como se ele pudesse bater, balear, fuzilar todos os problemas. Nas intenções de voto, vêm seguidos de outros: um amorfo, uma amorfa, um destrambelhado e outros pequenos seres prontos a negociar suas cadeirinhas nos estúdios de tevê por algum cargo. Estão ali no meio do campo, meio transparentes, correndo como os bobinhos, esperando quem sabe qual será a jogada.

O resultado mais plausível nesse instante é que saiam vitoriosos os votos nulos, brancos e abstenções. Afinal, em quem votar nessa seara, nesse deserto de ideias e propostas reais? Mais: como levarmos esses seis meses que temos adiante com um presidente que só consegue cair cada vez mais em desgraça e impopularidade? Que anda com cascas de banana nos bolsos e que vai jogando a cada passo que dá, escorregando?

A apatia é tanta que alcançou o que jamais imaginaríamos possível, as demonstrações populares. O futebol. Ah, que bom, tem Copa do Mundo. Ponto. Ah, que bom, o Brasil ainda está classificado. Gol. Depois do silêncio e da tensão que acompanham as sofridas partidas – como todas têm sido – gritos rápidos nas janelas, uma bombinha aqui; outra ali. Pronto. Ah, acabou o jogo e o Brasil ganhou. Não se ouve mais nada, a não ser a vida tentando voltar ao seu normal. Até o ufanismo das bandeirinhas espalhadas para decorar os espaços pouco tremulam.

O tempo está passando e não conseguimos mover o pé para fora dessa areia movediça que nos imobiliza.

Belisquem-se. Alguém, por favor, ligue o alarme. Bote água para ferver. Dê um antídoto para a população acordar e ver o que ainda podemos fazer; mas de verdade, não pelas redes sociais que parecem ser o que nos anestesia!

Eu só queria muito poder desejar um feliz segundo semestre. Percebeu que o ano já chegou à sua metade?

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Marli Gonçalves, jornalista – Urge ver o Brasil fazer gols em seu próprio campo.

marli@brickmann.com.br; marligo@uol.com.br

SP, julho, toca a sua sirene!

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ARTIGO – Que gestação é essa? Por Marli Gonçalves

Que gestação é essa?

Marli Gonçalves

Pega a folhinha. Conta. 1, 2,3. Três já foram. Faltam agora só nove e a coisa que creio todo mundo mais deseja é não ter que passar esses nove meses esperando que nasça um novo Brasil. Temendo que esteja sendo gestado um monstro nascendo prematuro, tirado a fórceps. Que vá direto para uma encubadeira.

Entra dia, sai dia, entra noite, sai noite. É na hora do café da manhã, do almoço, do jantar. Se bobear, também na hora do lanche. Uma informação estranha, muito estranha, uma prisão, uma soltura, uma chacina, assaltos, explosões. Tiros. Um desaforo. Um telecatch entre ministros supremos, alguma deselegância.

Será que estão se dando conta? Três meses já foram. Mais três tem Copa do Mundo, que era só o que faltava para esse ano; soma mais três e – lembra? – Eleições. Nacionais. Para a Presidência, Governo dos Estados, Senado, Câmara Federal. Seria a hora boa para trocar, renovar, arejar, oxigenar. Seria.

Mas nossas mãos embalam um berço ainda vazio. O que poderia vir como novo se dedica especialmente a infernizar a Mãe Pátria, chutando bem a sua barriga, e nessa gravidez múltipla – põe múltipla nisso – com mais de dez candidatos a herdeiro, um tenta enforcar o outro com o cordão umbilical, tomar as forças, tomar a frente, nascer.

E, pior, parece que todos são gêmeos quase idênticos, para o nosso desespero, nós que esperamos aqui do lado de fora. Querendo saber se é menino ou menina, o tom da pele, se vai nos libertar ou censurar; se vai propor o desarmamento de espíritos, se vai querer estudar e ser alguém ou viver de dar jeitinho. Com quem vai parecer. Queremos ver a carinha, saber de que cor vai ser seu enxoval, sua roupinha, se branca, verde ou encarnada.  Se cantaremos cantigas românticas, ou hinos nas ruas, com o velho refrão: o povo unido, jamais será vencido.

Ficamos aqui torcendo – pelo andar desse andor – que ao menos nasça de parto minimamente natural. Ao menos isso temos de conseguir nesse meio tempo, já que os nossos desejos ainda terão de ficar esperando. O ovo ainda não mostra a serpente.

Não há como negar, contudo, que essa gravidez está bem tumultuada e estressante. Tanto que não dá nem pra desejar comer melancia com pão, ou sorvete de bacon. Temos de nos ater ao arroz e feijão, pondo a mão para cima, louvando se os temos.

Há fantasmas rondando esse berço, vindos de uma espiral do tempo, de 68, 78, 88, por diante, e não são rotações. As farsas se repetem. E nesse futuro-presente vêm ampliadas em redes virtuais, tecnológicas, não humanas, redes que ainda não têm a sua capacidade de destruição totalmente identificada.

Sai pra lá, bicho papão! Dona Cegonha, tenha piedade de nós.

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Marli Gonçalves, jornalista – Que confusão é essa? Que bandalheira é essa? Que gestação é essa, que nós é que sentimos as contrações?

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

Brasil, lépido 2018

ARTIGO – Bleque Fraidei. Por Marli Gonçalves

 

Liquidação! Liquida tudo. Que negocinho chato e intrometido. O que era para ser um dia, na tal sexta fraidei, virou bleque semana, mês e já já teremos o Bleque 2018, que estará mais para Blague 2018, se for mantida essa atual lista de candidatos. Vão liquidar as nossas esperanças em parcelas com juros e juras de mudança.

A cada dia que abrimos a janela para o mundo das informações damos de cara com um espanto. Seja a aparição de um candidato novo – e todos os tipos mais estranhos essa hora aparecem, como o tal Dr. Rey, o melhor exemplo. Na plataforma que o indivíduo do bisturi apresenta vem a promessa de trazer de volta a nossa “sensualidade” e “levantar o Brasil da miséria”, o “free market society”, fazer o Hino Nacional ser tocado todas as manhãs com todos levantando e colocando a mão direita no lado esquerdo do peito.

Ninguém merece. Nós não merecemos. E ele vai ganhando o espaço para as suas bobagens e clínicas que espalha por aí.

No meio da enxurrada de ofertas estapafúrdias que vêm nos soterrando há dias por todos os meios, enchendo todas as caixas postais e nossa paciência, surgem ainda as pesquisas. Pesquisas para saber o que achamos ou não da tal sexta-feira que, essa sim, podia e devia cair em algum dia 13, porque é azar danado acreditar nos tais descontos miraculosos.

Tão miraculosos como são as promessas – algumas quase ameaças para quem tem o espírito livre e deseja um país – que jorram da mente dos que tem aparecido na frente em pesquisas siderais para a Blague 2018. Um carcomido e bravateiro líder ex-operário-trabalhador faz muito tempo e um ex-militar, político de quinta categoria, metido a ditador que quer endurecer tudo, sem ternura, e sem prazer. Dois primeiros de arrepiar, seguidos por outros rojões … Só falta inventarem algum bicho como os tais cavalinhos horrorosos e chatos do futebol, que ficarão correndo no programa de domingo na tevê com suas lamentáveis vozinhas. Sugestões?

Senhor! É como se brincássemos alegremente em um campo tão sério, a forma como vêm sendo levadas as coisas em torno das eleições daqui a menos de um ano. Ano que pode passar rápido ou continuar se arrastando na lama.

Com ofertas de nomes liquidados como na tal invenção importada para vender mais agora perto do Natal, são postos no mercado de apresentadores de tevê a políticos alguns que, se a gente perguntar rápido em qual partido estão, capaz deles errarem tanto que trocaram, tão “firmes” são em suas ideias; os de sempre a musas amazônicas que só saem da toca para pedir voto como aqueles seres da floresta que ninguém vê na hora que mais precisa; de boquirrotos literais cheios de frases feitas ditas com forte sotaque a desconhecidos do grande público e do pequeno também. As novidades até surgem, mas como gordura para ocupar os tracejados, prontos a se jogarem em qualquer panela velha que os convide quando chegar mais perto a hora da fervura.

Toma bleque fraidei pela frente, usado por quem pode.

Quem não pode se sacode. E ficará só aguardando as notícias sobre fraudes e descontos imaginários, entregas não realizadas, protestos, reclamações nos órgãos de defesa do consumidor.

Mas na Blague 2018, marcada para o dia 7 de outubro, com segunda chamada dia 28 de outubro todos, obrigatoriamente, terão de participar e comprar um pacote que incluirá presidente, governador, deputados.

Teremos para quem reclamar depois?

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Marli Gonçalves, jornalista – Já estão chegando mensagens de Paz, Alegria, Fraternidade, tudo para o ano que vem. E eu já comprei muito gato por lebre.

Brasil, em transição, na bacia das almas.

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Transparência Brasil lança aplicativo para celular. Tudo o que você queria saber sobre os candidatos

brazilW_animadoTransparência Brasil lança aplicativo para celular

FONTE: TRANSPARÊNCIA BRASIL

Com o objetivo de ampliar o acesso a informações sobre candidatos, a Transparência Brasil acaba de lançar um aplicativo para celular baseado no projeto Quem Quer Virar Excelência nas Eleições de 2014 (http://www.excelencias.org.br/quemquer), que traz dados históricos sobre todos os candidatos.
Chamado “Quem Quer”, o aplicativo já está disponível na loja Google Play (para celulares com sistema operacional Android) e em breve chega à App Store (para aparelhos com iOS, da Apple). Ambas as versões foram produzidas pela BUNKER79, empresa especializada em aplicativos mobile.
Com o “Quem Quer”, o eleitor pode facilmente navegar pelo perfil dos candidatos e escolher os seus preferidos. Ao fim, pode fazer uma “cola” – ferramenta útil para lembrar dos números dos escolhidos no dia das eleições.
Além dos dados fornecidos pelos próprios candidatos ao TSE (como grau de instrução, idade, ocupação etc.), a ferramenta apresenta informações relativas a:

– Histórico das eleições das quais tenha participado desde 2002: cargo disputado, partido e número de votos;

– Bens declarados;

– Se busca reeleição ou não.

Para candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais, bem como aqueles que pertencem ao Senado e à Câmara dos Deputados, a consulta traz ainda:

– Cargos públicos ocupados no passado;

– Formação, experiência profissional e participação em entidades de classe;

– Parentescos políticos;

– Eventuais ocorrências na Justiça e nos Tribunais de Contas;

– Faltas em plenário (para os Congressistas em exercício).

Tais informações estão também disponíveis para todos os candidatos ao Senado e à Câmara dos Deputados pelo Paraná.
Para montar o Quem Quer, a Transparência Brasil agregou dados de outros dois projetos seus: Às Claras (resultados e financiamento eleitoral) e Excelências (desempenho parlamentar no Congresso).
Os principais dados que compõem o projeto estão disponíveis em forma de API no endereço http://dev.transparencia.org.br. O projeto de API foi desenhado pela Sensedia, empresa especializada em design, exposição e gerenciamento de APIs. O Excelências tem apoio da Revista Veja. O Quem Quer conta com o apoio do Google e de diversas entidades do estado do Paraná (ver a lista delas em http://www.excelencias.org.br/quemquer/apoiadores.htm).

Para baixar o aplicativo:

https://play.google.com/store/apps/details?id=com.bunker79.transparencia

ARTIGO – Eles não podem ver mulher, por Marli Gonçalves

Passei três dias tentando digerir o impacto e o nojo que me causou uma foto publicada essa semana. Claro que feita por uma mulher de olhar aguçado, Monique Renne. Nela, Andressa, a namorada, noiva ou sei lá o quê de Carlinhos Cachoeira, se retirava da mesa da CPI que a havia convocado para depor. Na foto, todos os babões focados – seis! – olhavam concuspiciosos para sua, digamos, parte de trás.

Lembrei-me de que no primário havia um exercício de descrição. Nos era dada uma imagem e a partir dela descrevíamos o que aquilo nos parecia ser, em geral cenas e paisagens bucólicas. No caso da foto dos tarados da CPI, ficaria mais ou menos assim: “moça loura, bonita e segura de si, com um leve e irônico sorriso no rosto, faz com que aloprados e seus assessores esqueçam suas funções, como parlamentares eleitos pelo povo, e salivem, com cara de bobos, ruminantes, em suas gravatas”. Aliviados, na certa, porque o “homem” da bela está preso. Porque se eu conheço bandido, e Cachoeira parece ser desse time, se ele visse essa foto, aiaiai, oioioi.

Foto tipo batom na cueca. E nem me venham com explicações, porque até ainda não disse bem o que pensei desses mesmos desconsiderados que pagamos para legislar quando há pouco houve outro caso, o da assessora de um senador metido a besta, demitida porque um safado gravou e mostrou para todo mundo um filme dele tendo relações sexuais com ela. O caso parou a CPI dos velhos babões, até porque a moça, advogada, era realmente de fechar o trânsito, principalmente de corpo. Mas não é esse o caso. O que aconteceu com o comedor malfadado que mostrou o filme? Nada. Deu até entrevista dizendo que não era ele.

Na mesma semana na qual no país pelo menos mais três mulheres que deveriam – e os juízes lhes garantiriam que estariam – protegidas pela Lei Maria da Penha, foram assassinadas por seus ex-companheiros, essa foto apenas mostra a quantos anos-luz estamos ainda do dia que as mulheres serão tratadas com respeito, dignidade e realmente de igual para igual. Agora até adolescentes são mortas por namoradinhos, no país machista que não se emenda, e onde até as lésbicas às vezes reproduzem papéis de machos da relação, como se sempre tivesse de haver alguma sobreposição de poder de um.

Por força profissional muitas vezes acompanhei sessões parlamentares em Brasília e cansei de perceber coisas do arco da velha, do meu canto, meio misturada, anônima, e dando graças a Deus de não exatamente ser identificada como jornalista, como os chavões descrevem. Vi e ouvi deputados (lembro especialmente de um que hoje é ministro, e de outro, baixitito, agora candidato a prefeito por aí) trocando informações com algumas repórteres, em cantos daquela imensidão do Planalto Central. Pode apostar que em Brasília as mulheres dominam as redações. Se for bonita, meio caminho andado e dado. Digo mais: nada contra, se os babões caem na teia, têm mais é que se ferrar, e as moças aproveitarem. Sedução por sedução…

Não é só o feminismo (isso mesmo, algum problema?) que me motiva a protestar. Mas a realidade. Assistimos, por exemplo, a um desfile de advogados defendendo os réus do mensalão no Supremo. Alguma mulher? Não. E elas existem, advogadas ótimas, combativas! O Cachoeira mesmo contratou uma das melhores, a Dora Cavalcanti.

Quando as mulheres apareceram no caso? Como rés, como bem lembrou Eliane Cantanhede na Folha de S. Paulo outro dia, todas foram praticamente vilipendiadas ao serem defendidas. Eram pau mandado, não sabiam de nada, apenas executavam ordens superiores (de homens, claro!), não pensavam.

Um eloquente advogado chegou a chamar sua própria cliente de mequetrefe, para desenhá-la como insignificante. Só que a palavra tem sentidos terríveis também: intrometida, que se mete no que não é de sua conta; enxerida, inconveniente, sem importância, inútil, desprezível, imprestável. E borra-botas, joão-ninguém,coisa ou objeto de má qualidade, imprestável, desimportante, malfeita.

Antes ainda que me xinguem, achando que meu feminismo não permite que se olhe para bundas, digo calma lá! Até eu olho! Adoro uma dessas, como a dos atletas das olimpíadas. Olho tudo mesmo. Olho até mais, se querem saber, e se é que me entendem. Só que tem hora, local, cuidado, soslaio.

Aqui, falo de compostura, há muito perdida pelos nossos deputados e senadores, dos quais só se ouve falar histórias de arrepiar e que muitas vezes ficam até tolhidos por dossiês que lembram ou registraram suas farras. O mensalão tem histórias assim no meio, de um deles, um dos réus, feiosinho, que teria sido fotografado numa orgia, pelado, bêbado e com o charuto na boca. A imagem é um pesadelo.

Será romantismo piegas demais desejar que homens tenham respeito? Desejar sim que desejem e se apaixonem pelas mulheres, mas por motivos mais nobres e até mais criativos e poéticos, menos escrachados? O olhar, as mãos, os pés, os cabelos, a voz, os detalhes? Depois reclamam que a gente se masculiniza: é para trabalhar em paz.

Afinal, no caso que tratamos, são deputados, senadores, autoridades. Deveria ter alguma diferença.

São Paulo, onde há muitas obras e construções para ouvir cantadas verdadeiras, 2012Marli Gonçalves é jornalistaReparou que mulheres estão sendo usadas nojentamente nas campanhas eleitorais daqui? Tem candidato que mostra sua doutora. Tem candidato que mostra até a mulher grávida fazendo ultrassom, useiro e vezeiro em fazer isso até em leito de morte, como já fez no passado. E a única candidata mulher, Soninha, todo dia tem de reclamar que é esquecida pela imprensa mesmo tendo mais intenção de voto do que algum dos meninos.

PS: Se ainda não viu a tal foto e ficou curioso (a), clique aqui. Foi publicada originalmente no Correio Braziliense

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Pior do que está fica? Tiririca quer ser candidato a prefeito de SP…

Mas o melhor, o melhor mesmo, foi o comentário da boca maldita precisa do meu amigo aqui, que vocês bem sabem quem é – ou podem imaginar!:

– UÉ. QUAL É O PROBLEMA?

( E ele ainda  aproveitou para listar os outros belezinhas que concorrerão por aqui este ano, um desfile de personagens que nem sabems como Deus juntou)