ARTIGO – Azáfama. Por Marli Gonçalves

Azáfama, não é linda a palavra? Sonora? Você ouve e logo até já se põe em movimento. Lembro muito dela aos finais de ano, quando a humanidade parece entrar no estágio do “corre”, para fazer tudo o que não fez os outros meses.

AZÁFAMA

Tudo vira urgência, afinal agora faltam poucos dias para virar o ano, todo mundo já de cabeça virada pensando em Natal, Ano Novo, viagens, verão, férias, essas coisas, que inclusive diminuem os dias, digamos, úteis, deste mês de dezembro. Parece que alguém lá de cima estalou o dedo e as pessoas imediatamente se põem a pensar, correr, e daí vem um estresse danado. Como se não bastasse o normal do dia a dia, as coisas se aceleram, atropelam. São atropeladas.

A lista é grande, em geral de coisas que lá no começo do ano a gente se prometeu fazer e se dá conta só agora que não fez, não realizou, ou até esqueceu, mas acaba lembrando e isso é bem chato. Mais chato ainda é quando ainda por cima se é a vítima da azáfama dos outros, que viram suas baterias contra nós exigindo que façamos em azáfama o que poderia ter sido feito muito tranquilamente antes – e isso é bem comum, jogar a lista para a frente. Se prepara! Dezembro chegou, e passou tudo tão rápido que vai ter quem repare que o ano praticamente já acabou só a partir de hoje, de agora, da chegada do mês que já vem sendo anunciado por enfeites, luzinhas espalhadas em janelas, árvores de Natal, 25 de Março em polvorosa, ou melhor, na azáfama. Tô falando: tem palavra melhor para definir essa época?

O sentido dela pode ser bom ou mau, dependendo de como levamos a vida; tem o lado da pressa, afobação, confusão, imprudência, açodamento que pode trazer problemas inclusive para os próximos tempos se não ficarmos atentos. O lado bom? Ao menos começar a caminhar na direção sonhada, mesmo que atrasado alguns meses.

Andei pensando que coincidentemente quase todas as vezes que me mudei de um lugar para outro foi em dezembro. Essa coisa de começar o ano com vida nova que a gente aprende desde que, inclusive, se entende por gente, vai sendo renovado pelas tradições. Todos os anos pensamos e passamos pela mesma coisa: que à zero hora do dia 1º do ano que chega tudo vai mudar, inclusive nosso próprio comportamento. Aí fazemos as tais promessas, planos, epifanias. Pior, logo descobrimos que em geral o que mudou mesmo foram só os números. Do ano, do mês, e sempre ganharemos – e se tudo correr bem, Oxalá! – inclusive mais um ano de vida. Ah, os números também mexem com as contas que sempre aumentam.

Mas, bem, você há de pensar, e eu vou concordar, que a azáfama tem vivido entre nós o tempo inteiro, não só agora. A de viver, sobreviver, e também a de aparecer, especialmente essa, tem tornado a vida uma aventura e tanto para um número cada vez maior de pessoas em busca de virar rico, celebridade, influencer ou se contentando até em ser sub tudo isso. Toda hora sabemos de alguém que despencou de um penhasco tirando uma selfie ou se estatelou num poste gravando algum vídeo. Uma loucura essa azáfama de se dar bem com pouco esforço que anda bem na moda.

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– MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

ARTIGO – Luta livre, sempre. Por Marli Gonçalves

Todo dia é dia de luta. Todo dia primeiro, seja de maio ou não, é sempre dia de uma luta inglória com a gente se engalfinhando com a lista de contas, prestações e quetais a pagar, que se estendem por todo o período, em círculos; acabou uma vem outra, e outro mês. Pelo que se luta? A favor ou contra? Justiça ou repressão? Pelo que cerramos os punhos, levantamos braços, nos mobilizamos?

O que quero dizer é que vivemos, de alguma forma, sempre engajados em alguma luta,  e isso independe até de posições políticas – que agora até a rançosa direita, oportunista, se apropria de falar que – logo ela, que as abate – está lutando por coisas que sempre nos foram caras, tal a confusão estabelecida. Estabelecida, repito. Lutar contra fake news é ir contra a liberdade de expressão? A busca de regular as redes sociais e suas empresas milionárias que estão sempre deixando o barco correr com a navegação de tudo que é muito ruim é certa ou errada? Isso pode se virar contra nós em algum futuro? Podemos gritar “fogo!” em um ambiente fechado cheio de gente para ver no que dá?

Precisamos tomar sempre todos os cuidados com essas discussões que ocuparão um bom espaço nos próximos tempos neste nosso endiabrado país às voltas agora com a busca de aprovação de projetos de leis, com o andar de uma CPI sobre o maldito 8 de janeiro, com as decisões da Suprema Corte e de alguns ministros mandões. O Brasil está chacoalhado, dividido, armado. Com armas e ideias retrógradas, além das desinformações. Descuidado da educação, da cultura, da história, o Brasil deixou crescer barbaridades, influências, medos e ignorâncias e não há pós-verdades simples que resolvam pelo menos não tão cedo, nem com tesouradas de censura, muito menos com atos autoritários. Nossa gente está doente, apavorada, insegura.

Conversando essa semana com uma mulher simples, de comunidade, esta me contava, aflita – quando perguntei como estavam as coisas – que achou, dentro da mochila que o seu mirrado filho de oito anos levaria à escola, uma faca de cozinha, toda enrolada em papel alumínio e panos. Ele, agoniado, explicou que era só para se defender caso o “matador” (o novo bicho-papão das crianças) invadisse sua escola. Mais, ela me contou que poucas escolas de sua área estão funcionando normalmente, que as fake news (sim, ela sabe o que é isso e usou essa expressão) rolam multiplicadas entre as mães que há quase um mês se recusam a enviar seus filhos para estudar. Disse ainda que, mesmo com reuniões constantes com as forças policiais e com os diretores e professores garantindo segurança, as coisas não melhoram. E que tem até professor assustando alunos anunciando massacres, reverberando boatos que continuam rolando em redes sociais.

Imaginei isso em escala nacional. Não bastasse a rasante que a pandemia causou na educação, isso tudo acontecendo agora que ela precisa ser retomada. Como preencher esse vácuo, esse atraso no aprendizado? Como reestabelecer a tranquilidade de uma mãe que necessita deixar os filhos na escola para trabalhar, isso, claro, quando ainda tem um trabalho a garantir?

A quem interessa que sigam essas molecagens digitais sem controle? Censura, aprender os autores? Quantos pais estão conversando ou averiguando as mochilas de seus filhos até para entender onde estão os seus medos? O que escutam dentro de suas casas ou na igreja que frequentam? Que gerações futuras sairão disso tudo?

Que braços levantamos, que punhos cerramos para continuar, toda a sociedade, e muito além do dia disso ou aquilo, feriado ou não? Mulheres, contra a misoginia, para sobreviver à violência doméstica, aos cuidados e segurança dos filhos. Negros contra o racismo. A comunidade LGBTQIA+ contra o preconceito e a violência que mata e sufoca. Todos, por trabalho, moradia digna, acesso à saúde física e mental.

A luta ainda é livre. Vale tudo. Vale todas. Mudam o mundo.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

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ARTIGO – Já. Já? Já! Por Marli Gonçalves

Repara só como o “já” vem sendo muito usado como gerúndio, especialmente para justificar os atrasos e a inação quando estes são flagrados. Já estamos vendo, já estamos tomando providências, já isso, já aquilo. Até parece. Tranquiliza pra não fazer, continuar do mesmo jeito, estica o tempo, o passado, o presente, e ainda embola o futuro.

Letra J – alfabeto.ptAdesivo Letra Á Arial Black

De vez em quando escuto umas coisas que ficam ali zunindo nos meus ouvidos, me dando choques, chamando atenção para os seus significados e como e quando começam a ser usadas exaustivamente as expressões, sejam sujeitos, verbos ou advérbios, como é o caso do “já”. Vocês, claro, sabem, que jornalistas e escritores são extremamente ligados às palavras, aos sons, às formas, às situações em que aparecem. Precisamos delas todas para nos comunicar, contar histórias, buscar a precisão.

Assim foi que há dias venho reparando no tal “já” toda hora aparecendo meio deslocado, coitado, principalmente em explicações e respostas solicitadas pela imprensa ao descobrir malfeitos e pedir o outro lado aos envolvidos. Fora as repetições de ladainhas, muitos garantem até que já estavam mesmo até arrumando a tal situação. Mesmo que visivelmente não, e na verdade o tal problema instalado – mesmo – isso sim, até em alguns casos há muitos anos. Ouvimos isso sobre as enchentes e todos os seus problemas. Ouvimos muito isso no caso da violenta balbúrdia no Rio Grande do Norte, com as autoridades tomando as providências que deveriam ter sido tomadas já há muito tempo, isso sim. É o que nos explicam no caos e desorganização dos transportes coletivos em São Paulo, e muitos causados por uma empresa cuja marca já está é registrada como sinônimo de incompetência, citada praticamente todos os dias com acidentes no Metrô e problemas nas linhas que deveria cuidar desde que obteve a concessão, a Via Imobilidade, já mesmo este é o seu apelido na expressão de quem é obrigado a usá-las.

Os apresentadores de tevê, quando leem essas notas, seguram o ar irônico, ou pelo menos tentam, o que é quase impossível. Os jornais as publicam por obrigação, lááá embaixo no rodapé das notícias. Quase um copia e cola constante, já que sempre praticamente se repetem. Inclusive com a expressão que estão “colaborando com as autoridades”. Não me digam! Folgamos em saber.

Escrever notas oficiais, comunicados à imprensa, responder por escrito às explicações solicitadas é uma arte e ela vem se perdendo rapidamente, e perdendo o sentido, sendo achincalhadas, mesmo elas sendo tão importantes para que as empresas ou pessoas envolvidas em problemas possam se defender, um direito inalienável.  Digo com conhecimento profissional da questão, há anos como consultora de comunicação e especialista em gerenciamento de crises e embates com a opinião pública.  Primeiro, claro, preciso explicar a importância delas, na origem – e de serem enviadas por escrito. Transformam-se em documentos.

Devem resumir o que precisa ser dito em cada situação, fecham a opinião e os fatos. Não permitem, assim, quando corretas, erros de transcrição que poderiam ocorrer em explicações orais à imprensa quando publicados. Devem conter sempre informação clara e objetiva, cumprir o papel de auxiliar a transparência da informação. Poupam ainda a imagem de quem ou do que tem esse espaço valioso – ou ao menos deveriam ter – para se explicar e se defender, há alguma reputação a zelar. Sei bem também o quanto isso anda coisa rara de se encontrar, zelo pela própria reputação e condições reais para isso. Mas ainda existe. E o direito à defesa deve ser garantido.

Vamos respeitar os sentidos das palavras já! Deixemos o Já! prevalecer para quando precisarmos dele, como tantas vezes, lembram? Diretas Já! Vacinas Já! – sobre o que deve acontecer rapidamente, logo, em tempo curto, sem deixar dúvidas.

Por exemplo, no apelo: “Governem Já!”. Chega de tanto falatório, atrito e confusão.  Parem com isso, já!

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Nenhuma descrição de foto disponível. – MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

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ARTIGO – Dezembros vividos e vívidos. Por Marli Gonçalves

Desde, especialmente,  a eleição do desgoverno atual, os meses têm sido ainda mais difíceis e absurdos do que normalmente já o eram no país. Uma escalada dramática e 2022 está por perto tentando abrir a porta da esperança. Resolvi – veja o quanto somos resilientes – rever algumas frases de meus artigos publicados justamente nos três dezembros passados e que acabam por nos dar conta dessa agonia, porque elas ainda, infelizmente, tratam do nosso cotidiano atual. Parece que foi hoje, foi ontem, e precisamos mudar o amanhã

DEZEMBROS

“A bola de cristal se enevoa.  Uma nuvem de fumaça cobre as reais intenções de um jogo que está no tabuleiro, onde as peças, escolhidas e posicionadas, em grande parte são militares, outras evangélicas. O objetivo comum, convergente para o centro, mas uns já pensam em “comer” (linguagem de jogo) os outros, ou derrubá-los no caminho”. PREVISÕES: FURDUNÇO GERAL (8-12-2018)

“O problema é sempre o homem, o real. Assim acontece em outras crenças, devoções, lideranças religiosas de todos os credos. Excelentes comunicadores, hábeis negociantes, constroem impérios com tijolos da crença, que mantêm com financiamentos a pleno vapor. Tudo em nome de Deus, da criação, da Bíblia, das juras, imposição de pecados e culpas, de uma moral para os outros”. A MORAL ALHEIA E OS SALVADORES CHEIOS DE CULPAS (14-12-2018)

“Não por menos agora a moda seja a comunicação de tudo, vai, me diz se não é verdade, de tudo, sendo feita via redes sociais. O Twitter é o predileto dos políticos que anunciam o que bem querem, o que pensam e muitas vezes nem pensam para escrever, o que fazem muitas vezes em alterados estados na madruga…e depois do rolo, correm para apagar. Outra coisa que também é digna de nota: escreveu, não leu, o pau comeu, ou seja, não dá mais para apagar. Em algum canto do planeta alguém copiou, printou, fotografou, guardou, salvou, arquivou e vai esfregar na cara de quem disse que não disse, na primeira hora que for possível. Por enquanto a única saída é alegar que foi hackeado, que teve o computador invadido e as contas usadas”. COMUNICAÇÃO DO ALÉM. PARA ALÉM DE NÓS. (21-12-2018)

“Que os próximos trezentos e tantos dias sejam de Paz, boas notícias, que não percamos nunca a força de enfrentar a maré e voltar à tona. Inclusive fazendo ondas, inventando modas e nos reinventando”. MERGULHE. E VOLTE SEMPRE À TONA. (28-12-2018)

“O que é amizade nesses tempos atuais? Nas redes sociais, temos e chamamos de amigos pessoas que nem conhecemos, pior, muitas que jamais conheceremos. Fazemos e desfazemos esses laços apenas com um clique, sem dor. Agora é hora do tal amigo secreto, quando pessoas que se odeiam se sorteiam e pensam seriamente em dar presentes mortais”. AMIGO NÃO É PARA SER OCULTO (6-12-2019)

“Apavorante, repito. Discursos de ódio, manipulação nas eleições, ataques aos movimentos sociais, as relações humanas, tudo poderá ser afetado de forma ainda mais violenta do que o que já vem ocorrendo celeremente em todo o mundo. Tudo virtual, não haverá como prender o autor de calúnias, difamações, informações falsas que aparecem nas imagens, porque ele simplesmente não existirá”. DEEPFAKES: O FUTURO QUE NOS ESPERA E ENGANARÁ (13-12-2019)

“Chegou o final do ano e ainda está lá. E muitos dos que me leem entenderão a surpresa porque, inclusive, nem achávamos que seria tão ruim assim; só que foi ainda pior do que as previsões, coisa de louco esse time todo, e que se mantém com apenas uma pequena parte de jogadores em forma. Os outros só deformam, chutando bola plana, pisando no tomate e arremessando abobrinhas”. O JOGO CONTINUA (20-12-2019)

“É desejar muito que tenhamos mais consideração, respeito, que nossos ouvidos não ouçam tantas bobagens e provocações, cada uma que até parece duas? Esse desejo é geral, antes que eu esqueça de frisar, porque esse será ano eleitoral e vai ter muita gente querendo meter os pés pelas mãos. A política não pode se distanciar das pessoas e é a municipal, a que nos cerca mais de perto, que deverá ser escolhida agora. Sua cidade, seu bairro, sua rua, sua casa.

 Não quero mais também ver tanta gente jogada nas ruas dormindo um sono como se tivessem sido desligadas de repente. E ali caíssem, como sacos de lixo, em sarjetas, calçadas, debaixo de árvores, pontes e viadutos, ou vagando nas ruas com suas mochilas rotas onde levam o muito pouco que têm”. É DESEJAR MUITO? (26-12-2019)

“E daí? Daí, nada. Nadica. Do jeito que estava, está, ficará, derrubará mais. Não há como não fazer um paralelo com a situação política. O que adianta tantos comentaristas, tantas notícias, análises, tantas revelações, reportagens, denúncias, médias móveis de casos e mortes na montanha russa dos gráficos? O tal presidente, os tais ignóbeis Filhos do Capitão, os tais ministros, os políticos em suas amadas reeleições até por falta de opções, a insana marcha da doença nas burras aglomerações que espalham a morte – tudo aí, assim como as esburacadas calçadas, passeios e meios-fios”. TROPEÇOS E TROPICOS (4-12-2020)

“Parem! Essa exaustão contínua, diária, nos leva a caminhos sem volta, nos tornando – a todos – tristes, amargurados. Revoltados. Descrentes. Apavorados. Tudo já andava muito difícil, mas a pandemia chegou para tornar a situação brasileira praticamente insuportável pela insanidade que atinge os que deveriam buscar soluções; pior, aplaudidos por desinformados por essa impressionante turba de ignorantes gestados nesses tempos e que vêm saindo dos ralos”. POR FAVOR, PAREM, AGORA! (11-12-2020)

“Nunca, creio, pelo menos desde que nasci, e isso já faz tempo, desejamos tanto um ano realmente novo e que ocorra uma mágica –as coisas sendo resolvidas, a pandemia controlada e que uma luz de consciência se abata sobre os governantes. Ou, então, que eles sejam abatidos, pelo nosso bem”. 2021, O ANO QUE TANTO DESEJAMOS (18-12-2020)

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Terrivelmente tudo. Por Marli Gonçalves

O momento terrivelmente que passamos é total, com a expressão podendo ser aplicada para definir praticamente todos os acontecimentos pelos quais passamos ou somos informados. A pergunta é: e se piorar, o tempo vai fechar mais ainda?

CORONAVIRUS - TERRIVELMENTE

É terrível.  Tenho me sentido assim, terrivelmente aborrecida, e lutando, girando igual Giroflex, movimentando a cabeça para todos os lados, buscando encontrar coisas, pessoas, experiências legais que possam me fazer sentir, de alguma forma, ao contrário, melhor, terrivelmente feliz, animada, mais confiante em mudanças. Aqui e ali até que tudo bem, mas sei ser mais por conta de meu espírito otimista e bem humorado, e que às vezes nem sei bem como ainda consigo manter.

O clima de final de ano já não ajuda muito, convenhamos. O clima de final de ano de dois seguidos dominados pela pandemia e tudo o que significa, e as mudanças que ela não para de trazer, eis o mundo transformado numa caixinha de surpresas. O que estamos encontrando aí fora, no tal novo normal, bem diferente, e tenho passado um tempo observando para entender melhor, ainda sem clareza e com muitas dúvidas.

Vejo os estádios de futebol lotados e as festas dos times campeões nas ruas. Vejo de longe, claro, nas telas. Incrível como nosso país se mobiliza pelo futebol. Se mobiliza também pelos shows, especialmente os gratuitos, que andaram pipocando nesse momentinho de maior abertura. Nessas horas o medo é substituído pela euforia. Aglomerações nesse momento parecem provocações para forçar até onde tudo isso vai.

Mas raramente vemos o país mobilizado para melhorar. Ouvi, e você também, e com toda a certeza, muitas vezes, que assim que fosse possível haveria manifestações para mostrar o desagrado com a política desse governo cada vez mais mal avaliado – nas pesquisas, nos papéis frios, nas decisões e indecisões, excesso de bobeiras, nos resultados cada vez terrivelmente ruins em todas as áreas,  economia, saúde, educação, saneamento, uma lista enorme que inclui a incapacidade de controle, organização, compreensão e ação efetiva.

Estou aqui esperando, sentada, balançando a perninha. Sem entender porque – à beira de um ano eleitoral fundamental – ainda estamos tratando com os mesmos candidatos, alguns do século passado, nos mesmos debates e embates, as mesmas divisões, os mesmos erros prontos a serem novamente cometidos. Ou pior, perpetuados. O povo nas ruas, sim, no futebol, nos shows, e também no bate perna de milhões à procura de emprego, de algum trabalho, do que levar para casa, aglomerados em filas e plataformas de transportes públicos que nunca se expandem, a não ser em promessas.

Já ouvimos os batuques ecoando um incerto Carnaval. Sabemos de festas já canceladas de Ano-Novo. Máscaras continuarão obrigatórias, tenha certeza, por mais um bom tempo, embora cada vez mais estejam sendo abaixadas, criando conflitos com os que querem se cuidar. Corremos para vacinar mais e mais, ao mesmo tempo que as nossas porteiras e fronteiras continuam sedutoras aos que se recusam a elas. O coronavírus continuamente trocando de roupagem arreganha os dentes para todo o planeta.

Aí chega uma dúvida cruel. O que acontecerá se acaso as coisas se complicarem demais e novamente? Ou seja, se for preciso que se tomem decisões verdadeiramente radicais? Quero dizer, fechar tudo, parar tudo. Isso é terrivelmente possível.

Vai ter guerra? Desobediências que poderão levar a conflitos civis? Quem mais tentará se aproveitar desse momento? Qual será o comportamento nacional?

O futuro comprometido está próximo de, além de ter sido aceito um ministro “terrivelmente evangélico” para integrar pelas próximas décadas o principal tribunal de decisões fundamentais, todos entendermos na pele que esse não é um bom advérbio. Terrivelmente é tudo de ruim; assustador, forte, violento.

Temos de falar sobre isso. Ainda teremos muito o que falar sobre isso tudo.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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#ADEHOJE – IDEIAS DO QUE ELE PODERIA FAZER COM A CANETA. POR LÁ EM CANCÚN, POR EXEMPLO…

#ADEHOJE – IDEIAS DO QUE ELE PODERIA FAZER COM A CANETA. POR LÁ EM CANCÚN, POR EXEMPLO…

SÓ UM MINUTO – Bolsonaro disse que tem nas mãos a caneta que pode transformar a Estação Ecológica de Tamoios na “Cancún” brasileira. O lugar que ele quer destruir é um santuário, 29 ilhotas e rochedos, onde vivem animais sob ameaça de extinção como a garoupa, a tartaruga-verde e o cavalo-marinho-do-focinho-longo. Isso, e a Usina Nuclear. Não gosto de ser grossa, mas a situação geral ajuda: me digam o que ele pode fazer com essa tal caneta… Ideias não nos faltarão. Ah, coincidência… É neste local que Jair Bolsonaro foi multado em 2012 por praticar pesca ilegal.

Para completar esse governo do horror, o tal ministro Osmar Terra – pior, com a anuência de Moro – censura pesquisa da Fiocruz sobre a questão das drogas no Brasil. Toffoli tira da pauta a descriminalização. Eles querem manter o status quo dos chefes do tráfico.

Por tudo isso, já nem nos espanta a queda de 0,2% do PIB. O país anda pra trás em política, educação, saúde, economia e comportamento…

#ADEHOJE – CULTURA, ATENÇÃO.

#ADEHOJE – CULTURA, ATENÇÃO.

 

SÓ UM MINUTO – ALIÁS, ATENÇÃO, EDUCAÇÃO E CULTURA, NA VIDA E NAS INSTITUIÇÕES, NO BRASIL. A Rouanet vai perder o nome, virando só Lei de Incentivo à Cultura, se é que isso ainda pode ser considerado um incentivo. O Valor máximo por projeto cairá de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão; lote de ingressos gratuitos aumentará e preço do ‘ingresso social’ será menor. Fora isso, esses dias o presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine) Christian de Castro recomendou a suspensão de repasses de verbas para séries e filmes, inclusive aqueles já em produção, o que interfere diretamente todo o setor de audiovisual nacional.

Os parlamentares, aliás, estão preparando uma CPI de Crimes Cibernéticos, entrando junto com o STF na defesa das instituições que vêm sendo esculachadas especialmente nas redes sociais, além das ameaças – para eles haveria no Brasil um ataque planejado e sistemático às instituições, que precisaria ser investigado e contido.

ARTIGO – Escracho, teu nome agora é Brasil. Por Marli Gonçalves

frogflyDigam-me: há palavra melhor para definir o que está acontecendo nesse país para tudo quanto é lado que se olha? Temo que não. Escracho, em todos os seus mais variados sentidos. Um escracho. Um escracha o outro. Nós escrachamos todos. O juiz escracha uns. Os políticos se escracham entre si. O ex escracha a atual. Eu escracho certas pessoas, de um lado, junto de vocês, que também escracham outros e outros; quando não os mesmos, que todos estão se esculachando felizes da vida. Virou Babel

Na boa, isso aqui virou uma esculhambação total. Que até teria um lado divertido se nós também não estivéssemos sendo grandes vítimas desse processo todo. Volto a pensar se não é alguma coisa que estão pondo na água, tão desmedida e pouco produtiva está essa já muito vergonhosa esculhambação geral que assola o Brasil, e que ultrapassa em muito o antigo Febeapá – o festival de besteiras.

Desde muito criança tinha na Dercy Gonçalves, a Rainha do Escracho com faixa e tudo, e a quem se associa imediatamente a palavra, uma ídola. Imaginava até na minha cacholinha que ela bem que podia ser minha parente. Adorava vê-la fazendo aquelas caras de esgares, a boca de caçapa, da qual vertiam impropérios e impropérios. Adorava, não. Adoro ainda, porque a cada dia que passa ela está mais atual, embora tenha morrido há exatos 7 anos, completados agora neste 19 de julho. Na época, assistia a ela onde aparecia, na tevê; enchi e bati pé para que me levassem ao teatro para vê-la e, já jornalista, sempre que podia tentava ouvi-la sobre algum acontecimento.

Imaginam o que ela diria se estivesse acompanhando o atual momento político nacional? Bippi, xxx, bi,bi,biiii, asteriscos – certamente tudo seria impublicável, tantos falsos moralistas estamos criando sobre este chão e que ela apontaria satisfeita. O engraçado é que sei que ela era até meio reacionária depois de tudo o que passou para se firmar na vida artística, mas imagino o que diria agora ouvindo os discursos da presidente, a falação (ah, aqui ela trocaria uma letra, certamente) das CPIs que a cada dia mais parecem espetáculos burlescos de um cabaré viciado, vendo os cabelos asas de graúna tentando se explicar se roubaram mas não sabiam. Depois de tanta luta pelo respeito à mulher artista, queria saber o que ela pensaria da glamorização absurda da prostituição. Dos pitacos religiosos de plantão. Da gargalhada que soltaria acompanhando os passos da oposição. Ou o topete do prefeito modernudo que se acha o coco da cocada (aqui, ela poria um acento, ah, poria sim).

Imagino-a falando a palavra impeachment de todas as formas, menos a normal, e terminando com um sonoro palavrão e gargalhada sempre. Achei um relato, achei sim, de um centro espírita, onde ela teria “baixado” e os médiuns a repreenderam por todos esses palavrões ditos durante toda a sua vida, e até sobre os oito abortos que sempre admitiu ter feito. Não acreditei que esse espírito era ela mesmo, não xingou ninguém nesta sessão! Acho que a gente quando morre leva pro espírito o que temos de melhor.

GATINHO FRITOPena que Dercy não tenha vivido esses 108 anos completos; só 101. Embora antes de morrer já tenha visto o país começar a virar uma curva esquisita, não imaginaria como tanta coisa se degringolaria e tornaria difícil até diferenciar o ético, o saudável, o progresso quase forçado dos costumes. Veria sendo mantidos os destratos, o racismo, a homofobia, a violência contra a mulher, esse gênero que sempre tem alguém controlando o que faz com a vagina, seus buracos, diria Dercy. “A perereca da vizinha tá presa na gaiola! Xô, perereca! Xô, perereca!”Frogkissw1a

“Represento exatamente o escracho do Brasil”, disse certa vez, completando: “Eu posso ser escrachada, mas não sou bandalha”. Não era mesmo, Dercy. Bandalha é essa gente que está comandando cadeiras importantes de vários poderes.

E escracho é o que estão fazendo primeiro para perguntar depois – polícia escracha; imprensa escracha. A gente escracha, mostra o quão desmoralizados são, não usamos mais nem meias palavras para nos referir até às pessoas às quais deveríamos guardar certo pudor, certo respeito. Mas elas próprias também se escracham, e acabam desmascaradas em seus atos. Provocam nosso escrachamento.

Escracho aqui é tão escracho e tem tanto que perde até um de seus sentidos, o político, aquele de ser o protesto que se faz diante da casa de quem desrespeita os direitos humanos.

Afinal, é ou não é um escracho esse mundo estar dividido em partes? PT e os outros. O PT também estar em polvorosa, o PT puro e o sujo? As debandadas sem ideologia para viver. A oposição apoiar o Eduardo Cunha que é uma síntese do atraso? Cada um correndo para um lado? O país à deriva? O ordenamento jurídico sendo estilhaçado numa primeira instância; juiz endeusado e promovido a herói?

Em cima desse palco tem muita gente, e o assoalho não está firme. Tem ator querendo matar outro para pegar o papel. Nem tudo se pode falar. Nas coxias tem gente sabotando até a comida do camarim. E isso não é uma comédia. Está mais para ópera bufa.

Falta uma Dercy para falar umas poucas e boas – definitivas – ela sim, escracharia de verdade tudo isso, com seu palavrório picante.

friendchainSão Paulo, 2015.

Marli Gonçalves é jornalista – – As pessoas que falavam as verdades na lata, com linguagem pro povo entender, sem rodeios, nos deixam e não estão sendo substituídas. Dá saudades. Da Dercy, de Adoniran, de Cazuza. Esses tantos que merecem ser lembrados, porque nos ajudariam agora pelo menos a escrachar mais bonito.

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