ARTIGO – Todos às ruas. Por Marli Gonçalves

EU PROTESTOEstamos gostando muito dessa brincadeira. Até porque é boa, barata, pode ser bem divertida e é essencialmente democrática. Social, colaborativa, associativa, participativa, diversificada. Estamos nos espalhando e nos esparramando pelas ruas e avenidas ora por tristezas, ora por alegrias, ora por reivindicações; e muitas, por birra. Vamos ocupar as ruas sambando e cantando a música que queremos que eles toquem

vamos todos protestar!Muito impressionante esse novo comportamento nacional que aprendeu o caminho das ruas e avenidas para demonstrar o esplendor do seu povo e a firmeza de suas opiniões. Isso quer dizer muita coisa e não é só Carnaval. Nem só futebol. É preciso estar mais atento porque só vai crescer, só vai acontecer muitas e muitas vezes, pelos mais variados motivos. Poderão ser grupos grandes, mas algumas dezenas que se unam já estão causando as transformações.

Também não é só aqui – é no mundo. As pessoas se enfeitam, pegam suas fantasias, inventam roupas, costuram uniformes, pintam a cara, produzem plaquinhas onde trazem suas reivindicações, fazem suas bandeiras. Eram só grandes eventos que mobilizavam; agora não, as pessoas estão nas ruas no mesmo momento – pode ser até a posse de um presidente; do outro lado já se movem pedindo logo a sua derrubada, como vimos nos EUA.

Parece bem claro que estamos vivendo tempos de mudança e os mocorongos precisam se dar conta disso rápido sob o risco de ser atropelados pela turba que está tornando a opinião pública algo bem visível, contável e palpável. Estivemos acomodados tempo demais e agora o mundo inteiro procura novas estações, uma Primavera para chamar de sua. É uma rebeldia represada.

Isso requererá preparo. Físico, para quem participa: que não é brincadeira andar quilômetros, concentrar-se em pé durante horas, tirar fotos para mandar para todo o mundo, se livrar dos chatos, bêbados e inconvenientes que sempre surgem, dos empurrões, pisões e cotoveladas. Em alguns casos, some-se o stress de não ser roubado, e nem que batam sua carteira, e que a polícia seja para quem precisa da polícia.

Mais do que isso, vai requerer preparo e treinamento dos governos, dos mandachuvas que deveriam até fazer promessa para ficar bem longe de ser o alvo dos protestos, dos levantes populares. Requererá um novo sistema de segurança para as massas, requererá recursos, novos equipamentos e treinamento do pessoal. Aliás, precisará de bem mais pessoal.passeio de hoje

Tá na moda. Ir para as ruas. E protestar. Chamar a atenção. Bater bumbo – que já não é mais hora de panela. Aqui no Brasil o atual governo parece não estar se dando conta de que está numa corda bamba toda rôta, super rôta, que tem muita gente sacudindo para ver se rompe. Não registra na cabeça que certo ou errado caiu mal na boca dos jovens e que estes não perderão nenhuma oportunidade que tiverem para esculhambá-los, além-PT. Aliás, esculhambar todos os governos, esferas, todas as formas de poder que puderem afrontar – uma vez que com eles não têm elos. Sem compromissos. Não sabem nem bem do que se trata. As notícias estão mal contadas.

Na era da informação digital está muito fácil criar grupos e grupos de maria-vai-com-as-outras. E todas irem para as ruas. Ninguém mais quer ideologias para viver.

O crescimento dos blocos nas ruas – inclusive na sisuda São Paulo – é sinal de que a Avenida Paulista e arredores terão um ano agitado com agenda cheia. Que vai ter bombas de efeito moral e de pimenta sendo acionadas contra pedras, pneus queimados, agências bancárias depenadas e ônibus em chamas. Que vai também ter muita classe média de volta para o asfalto se as medidas econômicas demorarem muito a fazer efeito e se não acabar esse desfile de larápios revelados à luz do dia com suas ideias estapafúrdias para o país.

passeatapasseataVamos todos gastar muita sola de sapato.

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20170225_003720 Marli Gonçalves é jornalista – Num lampejo de vidência prevê que essa Quaresma vai ser animada e vai ter muita gente pagando pelos seus pecados antes mesmo de se arrepender por eles.

SP, 2017 engatando o terceiro mês – Avoé! Aleluia!

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ARTIGO – Ô gente chata! Por Marli Gonçalves

Ô gente chata!

Marli Gonçalves

andar-tracoÔ, seus corretinhos! Falta do que fazer, do que escrever para chegar como o mais inteligente e na moral nas festinhas e rodinhas quadradinhas, ou só vontade de alugar nossa paciência? Isso é porque são “modernos”. Imaginem se fossem caretas. Eram capazes de se insurgir até contra a goiabada com queijodan%c3%a7ante_mana2

Não estão vendo que estão dando tiro no pé? Aliás, se metralhando. Pedindo censura, corte – e não venham com lengalenga de dizer que ninguém quer censurar ninguém, que só querem acabar com o preconceito-racial-opressão-da-mulher-negra e do homossexual, como valentes combatentes-ecológicos-ambientalistas-sustentáveis que são, e nessa hora, vejam só o paradoxo, damos graças a Deus que sejam minoria mesmo.

Enfatizo: minoria de chatos. Ficam por aí com caraminholas dissertando regras/normas de comportamento, obtusas, desconhecendo o passado cultural, a língua portuguesa, nossa vivência. Desrespeitando a nossa inteligência.

Chatos que querem arrancar a mulata, mudar os sambas e marchas de carnaval, regular as fantasias, e agora, suprassumo, se recusam a usar paetês, purpurinas, glitters e confetes porque feitos de papel ou micro plástico demorariam a se decompor e poderiam ir parar nos oceanos. Imaginem: será que algum desses seres foi mesmo ouvir a comunidade LGBT sobre isso? Como assim, sem brilho? UÓ, responderão.

No entanto, para decorar seus corpos – modinha – algumas moças estão usando purpurina “comestível” vendida em lojas de confeitaria, aquele pozinho de decorar bolos e doces. Sou só eu que vejo uma aura sexual safadinha nesta troca? Sacaninha? Espertinha? Comestível, é? Interessante.

teka-carnaval-05Mas vamos voltar ao cerne desse debate, que agora tudo vira debate. Ô coisa chata! Banir dos blocos algumas marchinhas (muito) antigas de carnaval? “O Teu Cabelo Não Nega”, de Lamartine Babo, de 1932. “Cabeleira do Zezé”, “Maria Sapatão”, “Índio quer apito”, “O teu cabelo não nega”. “Mulata Bossa Nova”. Sim, já apareceu até representante indígena flechando “Índio quer apito” (“Ê, ê, ê, ê, ê, índio quer apito / Se não der, pau vai comer”).

Mexeram com o Caetano, mas creio que o baiano negociou, arretado, porreta. Após várias discussões, alguns blocos decidiram manter no repertório “Tropicália”, que cita a mulata.

Sim, invocaram com a mulata. Entraram na máquina do tempo para trás uns 300 anos para justificar e trazer para hoje de onde teria vindo a palavra. Como mulata é a filha de negro com brancas e vice-versa, e naquela época, braba, de escravidão, a cria de jumento com cavalos já era a mula, veio a palavra, do latim mulus. Enfim, os mulatos também estão nesse samba atravessado. Acreditem: tudo isso acontecendo no Carnaval de um país chamado Brasil. Justamente no Carnaval que agora com a volta dos blocos de rua se torna mais popular e democrático. Alegria na cabeça e rua.

Mas não, resolveram levar a chatice da política junto para as avenidas e praças. Invocaram com a mulata. Fui atrás de uma das origens e me deparei com uma obra prima da idiotia no artigo de um cara, que pode ter sido base, cheio de citações inteligentinhas, um sujeito que escreve com x no lugar de palavras com gênero. Negrxs. Todxs . Posso parar por aqui, né? ÔÔÔÔ, chatos, chatos, chatinhos.

Resolvi botar água nessa fervura e lembrar que mulata, além de como podem ser lindas, é também designativo de uma espécie de peixe, um tipo de abelha, uma variedade de batata roxa. Vão pirar horrorizados ao serem lembrados de algo ainda mais dramático – embora natural. Há uma erva medicinal chamada Catinga de Mulata (Tanacetum vulgare). No candomblé é utilizada para preparar água-de-cheiro. O chá seria de efeito mágico para reumatismo, pedra nos rins, amenorreia, e como vermicida, contra lombrigas. Como unguento, cura feridas, furúnculos, psoríase e detona piolhos.mulata

Tem um docinho de festa chamado Beijo da Mulata. E uma Bica da Mulata, escultura em Belfort Roxo, no Rio de Janeiro. Tem a Mulata fuzarqueira, de Noel Rosa, pinturas fantásticas e muito erotizadas de alguns mestres. Tem a Mulata Assanhada, de Ataulfo Alves – aquela que passa com graça, fazendo pirraça, fingindo inocente, tirando o sossego da gente. As mulatas estão muito bem, orgulhosas de sua negritude. Só não as chame de moreninhas que isso sim é que é preconceito.

E agora? Libertem a Nega Maluca!

Deixa o cabelo dela. Sem essa de vir com moral para dizer o que é certo ou errado, procurar pelo em ovo, se ofender com isso quando há tantas outras coisas nos atacando. Como escreveu o mestre Ruy Castro, “enxergar ofensa nas marchinhas é caso para terapia de grupo — com o ofendido no divã e um grupo de psiquiatras em volta”.

Saiam já desse armário.

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Marli Gonçalves – Sempre adorei fantasia de havaiana. Essa pode? Ou vão me acusar de imperialista ianque estadunidense?

SP, esperando o carnaval chegar, 2017

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ARTIGO – A estupidez é humana. Por Marli Gonçalves

A estupidez é humana

Resultado de imagem para estupidez animated gifsPor Marli Gonçalves

Ignorante, grosseiro, insensível, bruto, desinteligente. O estúpido é a própria manifestação da rudeza da dura palavra que o define, e nos assusta com a dimensão que um ato seu pode tomar de uma hora para outra nos trazendo graves problemas com as suas ações. É assustador ver o mundo povoado de estúpidos, tropeçamos neles nas ruas e em todos os setores – na internet se multiplicam. A estupidez é exclusivamente humana, uma doença maldita que pode ser de estirpe ou transmitida pela ganância e pelo egoísmo

Todo mundo tem a capacidade – e até certo direito – de ser estúpido vez ou outra. A possibilidade de sê-lo em algum momento de raiva e embotamento. Ter surtos de estupidez. Fazer uma quando acorda enviesado, e até sem se aperceber disso. Mas que seja passageiro e, depois de consciente, curado desse mal, até revertê-lo positivamente. Não pode deixar entrar no sangue.

O que anda me afligindo e creio que você, meu querido leitor, também possa estar sentindo o fato grave: estamos assistindo a gigantescos surtos de estupidez humana coletiva. Tipo um estúpidozinho novamente conseguir puxar cordões de outros estúpidozinhos iguais para segui-lo, levantando bracinhos, abanando bandeiras e rabos, dando gritinhos com palavras de ordem que a ouvidos sensíveis soam como bombas. Já vimos filmes assim que pensávamos estar superados – e eles têm um desenrolar “não bom”, “nada bom”.Resultado de imagem para stupid animated gifs

Uma grande amiga ligada desde sempre a sintonias mais invisíveis e elevadas me conta que alguns mestres estão sentindo e reportando explosões esquisitas, de rompimento de energias estranhas, para assim dizer, simplificando um pouco. Preveem que já estamos passando por momentos espirituais perturbadores, para os quais só podemos escapar se nos prepararmos tentando manter corações abertos e pensamentos positivos. Aí é que está difícil.

Além do mundo invisível da energia, encafifei por identificar a estupidez em vários desses fatos entrelaçados que nos angustiam. Einstein disse que a estupidez humana certamente era infinita, talvez mais até que o próprio Universo, e vemos provas disso quando a nação mais poderosa do mundo elege em seus caminhos tortuosos um de seus mais impressionantes e significativos exemplos, Donald Trump. Uma sombra moral que vomita preconceitos e que desenterra o que de mais horroroso pode haver, o moralismo, a intolerância, a incongruência, a divisão, o ódio, as divisões de classe, de gênero, de religião.Resultado de imagem para estupidez animated gifs

Ele quer muros, exclusão. Talvez até nem queira mesmo de verdade tudo isso, mas juntou milhões de pessoas que disseram sim, revelando ao mundo o perigo da estupidez, e o número de contaminados.

O historiador italiano Carlo Cipolla (1922-2000) produziu um conhecido ensaio que estuda o que chama as Leis Fundamentais da Estupidez Humana, e onde as lista com precisão que nos ajuda a saber mais, identificar, e entender porquês. Para ele, alguns estúpidos causam normalmente apenas perdas limitadas, enquanto outros conseguem causar danos impressionantes não só a um ou dois indivíduos, mas a inteiras comunidades ou sociedades.

“Sempre e inevitavelmente cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos em circulação”;

“A probabilidade de certa pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica desta mesma pessoa”;

“Às vezes uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas, sem, ao mesmo tempo, obter qualquer vantagem para si ou até mesmo sofrendo uma perda”;

“A pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigoso que existe”;

“As pessoas não estúpidas subestimam sempre o potencial nocivo das pessoas estúpidas. Em particular, os não estúpidos esquecem constantemente que, em qualquer momento e lugar, e em qualquer circunstância, tratar e/ou associar-se a indivíduos estúpidos demonstra-se infalivelmente um custosíssimo erro”; “O estúpido é mais perigoso que o bandido”.

Enfim, a liberdade é azul, a fraternidade vermelha, a igualdade, branca. E a estupidez, humana e invisível. Descolorida.

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Marli Gonçalves, jornalista – Vinganças que matam; amores que matam; mentiras que pregam: não há elogio possível à estupidez que caiba nesse ensaio. Este ano, não mesmo.

SP, no impressionante 2016

ARTIGO – Socorro. É guerra? Por Marli Gonçalves

 

ladrão de coraçãoNão tem mais nem o tradicional mãos ao alto, isso é um assalto, aquele pedido de licença tradicional dos ladrões. Levante as mãos. Não, não levanta, cuidado com os movimentos bruscos. Esconde esse celular. Não vai para a praia que tem arrastão lá. Vigi, está tendo um tiroteio ali na esquina. Tá lá um corpo estendido no chão

Nananeném, era o que certamente Bruna entoava para por a filha de dois anos no berço quando uma bala atravessou a janela do quarto e a sua cabeça. Lá se foi a jovem mãe de 21 anos para o Reino dos Céus deixando a órfã e o Engenho da Rainha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Um dia antes, Daiane, de 15 anos, chegava a sua casa em Belford Roxo. Não teve tempo de perguntar para a mãe o que tinha para o almoço. No fim da tarde de sexta um porco grunhia dentro do seu chiqueiro quando teve os miolos estourados. Não sei se virou bacon. Balas perdidas, balas amargas. A própria Polícia Civil do Rio contou: no Estado, 846 pessoas morreram ou ficaram feridas ao serem atingidas por balas perdidas – 83% morrem; quando não morrem 80% ficam paraplégicas – o que dá uma média de quase três vítimas por dia. Foram 72 apenas agora em outubro. Esse ano.

Feliz Dia dos Mortos. Rezemos por eles.

Precisamos falar sobre isso. Sobre a violência. Dar um basta, fazer algo. Mas nessa semana, quando esse assunto sério estava sentando na mesa, ficamos mais preocupados foi se o Renan Calheiros ia sentar ao lado da ministra Cármen Lúcia; se o new cabeludo Renan ia se pegar a tapas com o ministro careca brilhante que tem a língua solta. Se o Temer ia precisar ligar o extintor para apagar o incêndio entre os Poderes com aquele seu sorriso congelado. Quando era justamente para esses três Poderes estarem discutindo o Plano Nacional de Segurança Pública. Vai, me diz aí se leu em algum lugar o que foi que discutiram sobre esse assunto, quais foram as novas resoluções, que medidas serão tomadas para acabar com esse inferno que virou nossa vida, insegura, com medo até de nossas sombras.

É, eu também não soube de nada.Resultado de imagem para thief animated gifs

Mas nessa semana soube que em cinco anos houve mais assassinatos no Brasil do que na Síria, que está em guerra. De janeiro de 2011 a dezembro de 2015, 278.839 pessoas foram mortas aqui; na Síria, foram 256.124 vítimas. Uma pessoa foi assassinada a cada 9 minutos no Brasil em 2015. 58.383 pessoas foram assassinadas, 160 por dia, quando se fazem as contas. Imaginem quando computarem os dados desse difícil 2016.

13 mulheres são assassinadas por dia no Brasil, informa o Atlas da Violência 2016. Uma pessoa é vítima de sequestro relâmpago na cidade de São Paulo a cada cinco horas.

Não sei se já perderam a conta, mas difícil também é ter dia de não se ouvir falar em caixas eletrônicos indo aos ares em pacatas cidades ou nos grandes centros urbanos, onde andam derrubando até as sedes das transportadoras de valores. Você aí ouviu falar de algum plano para controlar a venda de explosivos? Nem eu.

Os homicídios cometidos por armas de fogo no país somaram 42.291 casos em 2014, ou 21,2 para cada 100 mil habitantes. Fala de um especialista: “O Brasil não tem controle sobre vendas, não registra os compradores. Existe um mercado aberto, paralelo e ilegal, porque as indústrias estão registradas, estão vendendo, mas a gente não sabe quem compra e quem distribui isso”.

Na tevê a reportagem mostra o roubo de celulares das mãos das pessoas em plena luz do dia, no centro da cidade, usando justamente isso, o movimento, como um artifício. Um bolinho de gente de todos os tipos vai atrás da vítima, têm velhinhos, jovens, negros, brancos, uma mulher. Teatral. Um esbarrão e tchau celular, carteira e a dignidade, já que no bando tem até quem pare para se solidarizar com a vítima, distraí-la ainda mais. A cena é dantesca. Parece inspirada naquele quadro do Fantástico que não foi para a frente, o tal Eles decidem, quando 20 pessoas ficavam o dia inteiro acompanhando para palpitar o coitado que tinha uma dúvida. Chatíssimo.

E os requintes que não ficam devendo aos mais violentos filmes de terror, mistério, seriados de investigação? As pessoas matando por nada. Tem sido normal cortar o corpo, decepar cabeças, afivelar malas cheias de pedaços, tem gente até emparedando com cimento, que cavar buraco é mais difícil. Se não é a bala, é a faca, a marreta, o martelo, o pedaço de pau, a corda. Teve até flecha disparada com arco. Casos de tentativas de envenenamento de crianças, com chumbinho, veneno de rato disfarçado em doces. Tentaram suavizar um pouco: uns gaiatos bandidos se vestiram de palhaços.

É crime organizado, requintado, quadrilhas especializadas, usando cibernética, tecnologia, inteligência, dinheiro graúdo rodando. Deixando trilhas de sangue de culpados e inocentes, muitos. Bandidos e policiais, às vezes até policiais bandidos. Nós ainda estamos atrasados, burros, lentos, aprendendo só agora, por exemplo, que as câmeras de radar podem ser usadas sabiamente para a segurança, revelar culpados. E filmam melhor que testemunhas com celular já que não tremem nem se assustam com tiros e explosões.

Enquanto isso não se pode ter nada, usar nada, andar pelas ruas, nem parar no trânsito, sair e chegar ileso vale reza e aleluias.

Não é por menos que o tal Halloween cresce no Brasil – as bruxas estão soltas e não há ninguém tentando capturá-las, assustá-las ou ensinar a importância da paz. Estamos em guerra.

Bandeira branca, amor.

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oculos fendiMarli Gonçalves, jornalista – Entre meus melhores amigos tenho um casal que amo, e o seu filho, do qual me considero madrinha, relapsa, mas madrinha. Acabam de me anunciar que se mudarão para a Espanha. Adivinhem um dos motivos.

Bangbang Brasil, 2016

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ARTIGO – Crueldade. Por Marli Gonçalves

Crueldade

Por Marli Gonçalves

jail 4Nunca se falou tanto em prisão, disso, daquilo, de um, de outro, coercitiva, temporária, preventiva, o escambau. Nunca se viu tanta gente desejar, sorrir, aplaudir, soltar fogos, dar gritinhos de prazer, comemorar a prisão de outras pessoas que nem conhece mas para as quais deseja o pior possível. Será que se tem noção do que é uma prisão, como deveria ser, qual sua função?

mao apontando direita[Atenção, aviso: esse texto não tem o objetivo de defender ninguém, corrupto, corruptinho, corruptão, colarinho branco ou colorido. Muito menos o de fazer proselitismo político de qualquer linha, babar para qualquer juiz, entrar para a direita ou esquerda. É uma crônica em que se tenta refletir. Só que qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real não é mera coincidência. ]mao apontando esquerda

A liberdade é o maior bem que existe. Ah, sim, é. É o que pode haver de mais valioso ao ser humano. Não só: creio que aos pássaros e aos animais a liberdade também tenha valor imensurável. Nada de gaiolas, jaulas, redes, gradis, cercas, ausência de luz, do Sol e da dimensão do tempo, das horas, dias e anos. E como os animais são a princípio sempre inocentes, ao contrário dos malvados humanos, sua detenção pode ser ainda muito mais cruel. Dependendo de suas espécies, são presos para serem mostrados, alguns como troféus. Alguns, para que cantem.

Não posso deixar de traçar paralelos, chamar a atenção para um ângulo da questão que está contribuindo para que pioremos muito como cidadãos, fazendo com que desçamos muito na escada evolutiva. O que é que estamos fazendo, como autômatos? Ligando a televisão para saber quem foi a presa do dia? Na casa de quem tocaram logo cedo para levar para viajar para um certo lugar? Plantões jornalísticos se formam para ver o avião decolar, helicópteros são usados para acompanhar o comboio policial. Ainda bem que perderam a mania de divulgar diariamente o cardápio como faziam no início.

Na minha lista de amigos nas redes sociais, muito ampliada por causa da profissão, vejo gente que passa o dia e parte da noite teclando impropérios, jogando toda a sua energia para pedir que se aprisione alguém desses que viraram rotina, ricos ou políticos. Os olhos brilham, as palavras pesadas brotam, e eles escrevem quase pedindo justiça com as próprias mãos, tortura, maus tratos. Por eles, desculpem, mas é o que passa, nem comida essa gente deveria receber. Se pudessem jogariam ratos, baratas e serpentes venenosas dentro das celas.

Se pudessem pagariam entrada, como se faz no Zoológico, para ir vê-los, fotografá-los, atiçá-los. As filas virariam quarteirões. Pensam que, como os canários, todos dentro das gaiolas sairão cantando, delatando.

Incomoda que não os vejo, contudo, usando dessa mesma energia para os assassinos de mulheres que estão brotando como nunca em nosso solo, apenas para dar um exemplo da contradição. Especialmente querem capturar o sapo-rei. Querem os peixes grandes, ricos e famosos, as celebridades. Repara como já se assemelham as coberturas jornalísticas de viagem a ilhas e as viagens às prisões e carceragens. O carro da esposa de um, a bolsa da mulher do outro…

Pense no que é uma prisão, o horror, e que gente de bom sentimento não pode se esbaldar com a prisão de outro ser, por mais que esse mereça e aí, se culpado for, punido e condenado for, não há dúvida, ali pagará mesmo por seu crime, porque, repito, é o horror. Não é por menos que vários barris de pólvora andam estourando em todo o território nacional.

Sim, porque visitava conheci bem uma prisão. Um presídio político, aliás, o do Barro Branco, em plena ditadura, onde semanalmente ia ver amigos meus, e era do Comitê de Anistia. Olha que dia de visita era especial. As grades ficavam abertas, e as crianças corriam de cela em cela naquele pequeno espaço, naquele corredor onde cada porta era de uma organização política diferente. Mas da minha mente jamais saiu a visão daquele pátio tenebroso, da privada turca cravada no chão, da frieza e do barulho dos pratos e colheres de alumínio, do olhar triste e melancólico da hora da despedida, do som do portão se fechando atrás de mim.

E olha só que coisa: justamente homens que estavam ali presos porque lutavam – de uma forma ou outra, sim, pelo poder político de visionários líderes – mas que antes de mais nada foram presos quando buscavam alcançar a liberdade que pudesse propiciar à política ter algum poder.

Toda prisão pode merecer ser revogada. Pensa só. Mas com a cabeça, não com o fígado.

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oculos fendiMarli Gonçalves, jornalista – Cadeia para quem precisa. E nem toda nudez será castigada.

SP, 2016

 

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ARTIGO – A política dos bordões. Por Marli Gonçalves

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passeata

passeata

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Virou modinha. Mudou o soluço. Engasgou? Fora Temer. Bateu o pé na quina da mesa? Fora Temer. Vai lançar algum produto? Não se esqueça de levar a plaquinha Fora Temer. Procurava algo para estampar sua camiseta? Fora Temer. Estava passeando na rua e teve vontade de gritar? Fora Temer. Acabou o papel? Fora Temer. Poesia? Amar sem temer

  Creio que esse seja agora o novo mantra, a senha que se deve dizer para circular em alguns meios – se o evento é grande, se for relacionado à cultura melhor ainda, se junta mais de dez, plaquinhas e jogral, pode até chegar a virar notícia na tevê. Ajuda na divulgação. Por exemplo, dizem até que o filme é ótimo, mas onde quer que esteja passando Aquarius haverá alguém falando as palavras up to date e isso vem animando bastante a bilheteria.

São milhões de citações na internet, centenas de memes. O negócio, admitamos, pegou. E o nome do cara ajuda: temer, temor, tremer, tramar.

Outro dia fui bisbilhotar uma passeata de protesto dessas já rotineiras, tranca-rua. Quem me conhece sabe que adoro um protesto – oposição sempre, si hay gobierno soy contra. Me preocupou ver a mélange de temas, difusos, tanto como ocorreu em 2013 e que acabou dando em nada – ninguém sabia se era por centavos, por passe livre ou contra o governo de então, ainda Dilma versão 1.

Num bolinho de gente vi Fora Temer – claro; e Volta Dilma, mais uns Não vai ter Golpe (?!?); mais Diretas Já. Ultimamente mais uma palavra de ordem se aboletou: “Pelo fim da PM”, em geral jogada direta e provocantemente aos policiais que até trincam os dentes.

Muito vermelho, a forma era uma só, quase homogênea, uma maioria de estudantes se divertindo, paquerando, tomando muita cerveja (agora os ambulantes acompanham o movimento), caminhando e se imaginando lutando pelo país. Beleza. Na frente, outro grupo – esse com roupas escuras, munidos com escudos (!) de madeira, pedaços de tapumes, lenços e toucas ninja escondendo o rosto, um arremedo de guerreiros do apocalipse, os tais black blocs. Garotos e garotas mirradinhos, desmilinguidos com cara de mau. Podiam ir ser punks de verdade, fazer música, produzir algo de bom.

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Carimbo na avenida Paulista

Volitando em torno disso tudo, centenas de policiais e nas imediações, prontos a entrar em ação, mais carros de choque e patrulhas especiais. Maior climão.

Um chiquê, diriam blogueiras de moda: muitos com máscaras presas em volta do pescoço, máscaras de respirar tipo de guerra, impressionantes, sabe aquelas? A imprensa também usa, assim como capacetes, umas tentativas de blindagem contra a repressão.

Capítulo especial, coitada da imprensa, acaba tendo que se blindar melhor mesmo, porque apanha e é atacada tanto pelos manifestantes quanto pelos policiais. Jovens repórteres que, animados, sentem-se em uma verdadeira cobertura de guerra. Gás para tudo quanto é lado, bombas, quebração, fogueiras de lixo das ruas, material que aliás não falta em lugar nenhum aqui em São Paulo.

Já vivi para ver tudo isso e muito mais e saber que um fósforo se torna muito mais inflamável nesse caldo, e essa expectativa fica no ar durante todos os protestos. Um infiltrado maluco pode direcionar todas essas energias para promover o mal e outras intenções debaixo de bandeiras das torcidas organizadas por eles lá no meio.

Tem coisa mais banana do que defender um governo, seja lá de quem for? Muito menos um que já era, já foi. Que detonou o país, fez tudo errado. Caiu no rastro de rabo, as tais pedaladas, o álibi caído do céu para nos livrar mais rápido do abacaxi.

Falando sério: o Temer veio no pacote junto com esse abacaxi, não adianta tentarem omitir isso dando a ele a pecha que parece título de novela mexicana – O Usurpador. O cara era a única saída institucional. Aceita.

Fora Temer, ok. E aí? Pergunto isso não porque goste da pessoa, mas porque ando vivendo na realidade, torcendo para que as coisas melhorem, e o que vejo não é nada animador. Se as contas da campanha forem rejeitadas, ele cai – e mesmo já caprichosamente jogadas para o ano que vem qualquer hora essas contas serão julgadas.

Alguém acaso tem alguma ideia brilhante, avista algum quadro político que poderia ser a mão libertadora, pacificadora, a nos levar para a luz?

Eu não vejo, ao contrário. Por favor, se souberem de algo, de alguém, avise os outros! Parece que o Papa, entre as poucas unanimidades, não quer se mudar para o Brasil.

Um bordão sozinho não faz nem nossa primavera, vocês verão. Pode é sobrar bordoadas para todo mundo.

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oculos fendiMarli Gonçalves, jornalista – Inquieta e, pior, cansando dessa brincadeira chata que virou a política nacional.

SP, SOS, 2016

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ARTIGO – Acabou chorare. Por Marli Gonçalves

Acabou chorare

Por Marli Gonçalves

Resultado de imagem para cry animated gifsEstá engraçado. Bateu o vento da humildade e da reconsideração. É um tal de pedir desculpas, olhos marejados apertadinhos e promessas de que nunca mais isso ou aquilo…Resultado de imagem para cryiNG animated gifs

Quando a gente é criança e apronta alguma fora da ordem tem todo o sentido botar as mãozinhas para trás, fazer cara de arrependido, com o pé meio virado para dentro, prometendo nunca mais, não faço mais. Morrendo de medo do castigo que pode vir, ou mesmo das palmadas que já levou.

Essa semana, no entanto, foi um festival de políticos ou correlatos emocionados, prontos a ser imolados por seus erros admitidos em praça pública. Claro, em troca de – adivinhe! – o seu perdão (ou pena). Adivinhe de novo! – Em troca de seu voto. Ou mesmo para disfarçar ter falado mais da conta. Ou ainda para desdizer, uma atividade muito praticada no poder, seja qual for ele, assim como voltar atrás, quase uma modalidade olímpica, velozmente.

Vimos o ex-ministro da Justiça, e atual advogado de todas as causas perdidas, todo grandão, todo desajeitado, olhos marejados, vermelhos de descascar cebolas, reclamar da advogada arretada que falou dos netos da ex-presidente para justificar a sua retirada do Palácio.

Vimos a advogada arretada, por sua vez, emocionada e prestes a ficar em prantos defendendo sua tese em voz alta, fazendo ressalvas de desculpas, porque o alvo era uma mulher. Mãe. Avó. Essas conversas fiadas.

Toda hora aparece a Marta Suplicy piscando olhinhos azuis aqui na minha tevê. Mea culpa mea maxima culpa. E olha que a lista dela não é brincadeira, dá voltas no quarteirão: criação de taxas, chocar o ovo Haddad que botou no seu governo para se criar, suas muitas frases antipáticas, irônicas e infelizes, e o fora dos foras, a de aceitar que usassem a pergunta – É casado, tem filhos? – na campanha contra o Kassab.

Lembrou você, por acaso, tantas vezes quanto eu, da expressão “lágrimas de crocodilo”? Certamente que sim, se estava acompanhando o desenrolar final do novelo e da trama em Brasília, aquela votação que pareceu que ia, mas não foi – botaram água na fervura quando dividiram crime e castigo. Houve crime, mas não tem castigo; uma nova obra, ou melhor, frutinha, jabuticaba exclusivamente nacional, criada e aprovada em minutos por senadores vacilantes que também deviam estar fazendo fila e nos pedindo desculpas, mas não perderemos por esperar. O dia deles chegará.

Sabe por que chama assim? Lágrimas de crocodilo? Porque o bicho lagrimeja enquanto saboreia sua presa; lacrimeja, todo falso, mas é por causa de uma glândula ativada quando abrem toda aquela bocarra para comer mais rápido, prazerosamente. Tipo também o Lobo Mau que tem aquela boca enorme para?…te comer.

A analogia é clara. Estamos nós aos prantos. Buá Buá.

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oculos fendiMarli Gonçalves, jornalista – Anda estranho se emocionar com o que andam fazendo ou prometendo que farão qualquer hora dessas.

São Paulo, vai mesmo ser difícil votar, 2016

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ARTIGO – A voluntariosa. Por Marli Gonçalves

llorarcrunchPassamos dias ouvindo falar maravilhas deles, lembrados e homenageados na abertura e no encerramento, aparecendo sempre felizes, cordatos e sorridentes, mesmo quando obrigados a usar uma roupa horrorosa como aquela dos que entregavam as medalhas. Disseram até que o sucesso do evento se deveu muito a eles, aos milhares de voluntários que participaram da Olimpíada e que ainda ouviremos falar atuando na Paraolimpíadas.

Palavra positiva, ato positivo, merecedor de elogios, tudo o que se faz de oferecimento, de bom grado e boa vontade nesse mundo tão cheio de egoísmo e tristezas é bom motivo para reconhecimento. Pensei na palavra também como singular, desprovida de bens, desinteressada, perambulando por aí à procura de alguém que precise de alguma ajuda. Os voluntários normalmente são seres quase invisíveis. Foi importante vê-los materializados, brasileiros e estrangeiros, mais de 50 mil inscritos, entrevistados, fichados, vasculhados, que tínhamos medo de ataque, de infiltrados, lembra?

Voluntários são também alguns movimentos, do nosso corpo, por exemplo, quando repetimos instintivamente reflexos, que, contudo, também podem ser involuntários para confundir o cérebro, de onde saem todos os comandos.

Mas pega a palavra daqui, estica ela de lá, puxa para cá, não é que acabei por chegar à política nacional? Nos novos voluntários da pátria? Estamos cheios deles, todos agindo em nosso nome, juntos e misturados. Afinal, não é bolinho ficar ali num grupinho ardiloso e visivelmente minoritário sentado juntinho na primeira fila defendendo há meses um legado fracassado, tentando atrapalhar qualquer bola quicando no gol, e às vezes até esporte virulento, exercício de chatice, lance teatral, bola cantada e ensaiada. Um mini coro, que já integra o folclore. Narizinho, Lindinho, Jardim de Infância, andam cheios de hematomas de tanto apanhar nos plenários da vida.

E tudo isso, para defender quem? Nada menos que A voluntariosa, que fez e aconteceu, ou não fez, não viu e aconteceu. Avisada, deu de ombros. Ignorou aliados e desalinhados. Caprichosa, teimosa, imperial. Assistiu o país indo para o ralo e, se fizermos as contas nos deixou completamente sem governo praticamente desde que assumiu o segundo mandato, em mentirosa eleição. Não houve dia de sossego, em que não tivesse de se defender de alguma acusação, grande parte das vezes ou vinda de pessoas e do universo ao seu redor ou sobre elas próprias e seu partido. Tem a praga da Casa Civil, a saga da tesouraria do partido, a síndrome da amnésia, a crise de golpe-soluço; tem os momentos de históricos discursos sem-pé-nem-cabeça ao som de caxirolas. O bate o pé, bate aqui o meu pezinho, birrenta, marrentinha.

Sem esquecer, claro, mas isso até é acessório, os momentos regime, momentos pedaladas no meio dos carros para demonstrar tranquilidade, dias de cara virada para o padrinho e ataques de fúria vazados para a imprensa. Fora o lado tinhoso e o jeito de dar chás de cadeira memoráveis a certas pessoas. Virou refém de si mesma se distanciando sem perceber dela própria, da tal coração valente, da mulher ativa que enfrentou um câncer, a ditadura, a prisão, a primeira a chegar à presidência.

Vivemos, involuntariamente, os últimos dias de um doloroso processo que ninguém em sã consciência gostaria de estar vivendo, mas para isso foi levado, e não há como não admitir isso, nem que seja com seus próprios botões, que ainda vejo amigos queridos se debatendo publicamente em estertores. Cada dia é mais claro que o motivo do papel que vai ser julgado para o afastamento é um, pesado, mas um; e que aqui do lado de fora o motivo pelo qual o povo está bem pacato assistindo o desenrolar da novela é o conjunto da obra, visível de forma límpida, sentido na pele de várias formas, diversificadas peles.

Ninguém aguenta mais – essa é a verdade. Voluntários já estão a postos – espero – para logo depois dessa falação toda com direito a choros, fúrias, gafes, e que veremos entre batidas na mesa e palavras duras, começar a empurrar a engrenagem para o dia seguinte em diante.

Botando os olhos bem abertos, de butuca, em cima do homem que se voluntariou para ocupar o espaço e o poder, e que também desde que sentou na tal cadeira faz de tudo para se desvencilhar da trama que também fiou.

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Marli Gonçalves, jornalista – Só falta aparecer algo como aquela imagem do Tio Sam procurando voluntários com o dedo apontado, dizendo que precisava de gente para a guerra. Imaginem que filme de terror.

SP, ligada em Brasília para setembro raiar, 2016

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ARTIGO – Gata borralheira. Por Marli Gonçalves

workingTentando fugir, como se diz, que nem o diabo da cruz, do tema Olimpíadas que já entra por todos os nossos poros, conto uma história feminina que estou vendo muito por aítumblr_mbqsz9psHj1r5kjl1o1_500

Pense em um nome bonito para dar ao nosso personagem. Pode até ser Ella, que é – sabia? – o verdadeiro nome daquela linda, a personagem das histórias, da memória, que nos lembra das muitas desditas antes da sorte, essa que chega só depois de perder um pé do sapato, depois de encontrar um príncipe, detonar as invejosas. O nome, explico pelas cinzas do borralho; o gata não sei de onde veio.

Assim vamos nós, cobertas de cinzas, o tempo inteiro varrendo a poeira que, teimosa, gruda em tudo, invencível, sempre lá depositada, passe o dedo. Os cabelos, compridos estão porque cortá-los está na hora da morte e é preciso economizar. A proposta é aderir à moda, insistir que tudo é melhor naturalmente belo, e que o quente mesmo é viver uma vida totalmente sustentável, e que seria ótimo se fosse alguém ajudando a sustentar. Plantar o que come, usar ervas naturais, e máscaras de pepino. No máximo um esfoliante de mel misturado com açúcar. Vida sem sal.

Sim, reciclando tudo, buscando em fundos de gavetas e armários, adaptando – pensa como pode ser lindo um vestido todo feito de retalhos, recortes dos bons tecidos de outrora, patchwork. Criatividade!- Esta é a tua hora. Reaproveitamento, uma coisa virando outra. Sustentabilidade: repita sempre.

Os sapatos têm solados gastos. Há mais vantagem em comprar novos, nas sales, offs, queimas totais, bacia das almas, do que remendá-los. Melhor sonhar com o sapato de cristal que, pensando bem, se vendido poderia dar uma boa grana. Se existisse, mesmo que apenas um pé, diríamos que é um Swarovski, único, importado, e que vale mais do que os de solados vermelhos mostrados alegremente em fotos de revista. Daria para tirar o pé da lama.

Na cozinha, o mais alto conceito gastronômico em voga: a redução. Se bem que não é só na cozinha que a tal redução está bombando, toda contraditória. Reduz-se tudo, a paciência, o uso da energia, da água, daqui a pouco até o ar estará mais escasso. Reduzem-se as compras no supermercado; reduz-se até o próprio supermercado. Melhor ir naqueles que têm marcas próprias e muita simplicidade. Menos marcas, pensa o quanto é melhor: menos aporrinhação na hora de decidir a compra, digamos assim.

Simplificando a vida. Ninguém precisa de mais nada. A mulher moderna, como dizem sem corar, é considerada não só pela sua beleza, não é mesmo? É reconhecida por sua inteligência e habilidades, respeitada. Não precisa se preocupar com sua segurança, e seus direitos, ora, seus direitos. Vamos pensar nos deveres, que são muitos e ocupam seu tempo, Cinderelas modernas. Pega a bolsinha e põe debaixo do braço, vamos bater a real pro povo desse reino. Não é por menos o recorde de vendas de antidepressivos, tranquilizantes e vitaminas.

Parece até fábula: uma de nós concorre ao governo do país mais poderoso do mundo; torceremos por ela, mas eles estão chegando atrasados. No Brasil elegemos antes – não deu certo, foi despedida, mas chegamos antes e acreditamos até que a nossa mulher seria legal, mas ela foi só mais do mesmo, aliás, muito mais do mesmo. Na maior cidade do nosso país, agora, algumas disputam seu controle, para voltarem onde até já mandaram. Somos mais da metade dos eleitores, temos o poder de decidir disputas dentro dessa enorme confusão que se tornaram os gêneros, os tipos e as mudanças paradoxalmente obrigatórias nesses tempos de crise.

O show das poderosas vai começar. Tomara que pelo menos elas percebam as gatas borralheiras que precisarão conquistar, de verdade.

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Marli Gonçalves, jornalista – Aspectos autobiográficos? Pode ser.

São Paulo, saltos triplos sem vara, 2016

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ARTIGO – Os Conformistas. Por Marli Gonçalves

Repito: ando pensativa. Creio que você aí também não deve estar muito diferente se tem acompanhado os acontecimentos. Ou a falta deles. Quando ocorrem, os fatos têm se sucedido com velocidade espantosa, vertiginosa e tudo parece muito pouco confiável. Mas ficamos calados, à espreita

BUDA

Falo globalmente, que ficar só nesse nosso quintal seria muito pobre em elementos para fazer uma análise convincente ou mais aproximada. Aqui, sempre digo que deve ser algo na água que bebemos, mas no mundo só pode ser, sei lá, os efeitos do Sol. O aquecimento global, o derretimento da calota polar, o sumiço das abelhas? O que tem de coisa acontecendo no mundo todo que é fora de uma ordem qualquer, sem sentido e insana, e que dá para todos os dias encher o balde dos noticiários e ainda transbordar, uma barbaridade.

Enquanto a chama olímpica passa de mão em mão há dias se aproximando conduzida por brasileiros de todos os tipos, quase nos distraímos e ela já se avista da reta final de sua pira final. Ouço que 45 Chefes de Estado estarão por aqui nesses dias olímpicos em que viraremos o hotel-creche do mundo, responsável por hospedar e cuidar do que todos os países têm como as suas pequenas joias, seus atletas, os seus campeões. Mais alguns mandatários e suas turmas. É muita responsa.

Pronto. Por mais que queiramos negar, não gostar e nem nos interessar, a realidade chegou e não é coisa igual foi a Copa, de um esporte só. Me parece mais significativo, mais simbólico, mais mensagem de paz mundial um evento com tantas modalidades envolvendo tantas nações, tantas raças, tantas histórias de superação.

E em cima da bucha, a pesquisa recente Datafolha mostra que mais da metade da população nacional está contra a Rio 2016; 63 % acha que, pior, trará prejuízos.

Agora? Tarde demais. Ouviram essa expressão, que foi muito comum nos anos 70 e 80? – “Já era!”

Seja o que Deus quiser. Vamos continuar nos conformando, e torcendo, mesmo que no íntimo, para que tudo saia como os conformes, embora estejamos pressentindo e vendo em todo o redor recorrentes pensamentos da temeridade do momento em que fomos lançados, sem querer fazer trocadilho.

Para completar, o que acontece? Exercícios simulados constroem na ficção várias formas de ataques, e como eles seriam enfrentados, o que – desculpem – acho muito louco. Qualquer um que já tenha participado de um treinamento de incêndio sabe do que estou falando. Não é sério. Lembro que trabalhava no último andar de um prédio muito alto e enquanto descia as escadas num treinamento desses não pude deixar de observar um certo absurdo naquelas cenas, as pessoas conversando, falando ao celular, com bolsinhas nas mãos, batendo saltinhos, passando batom. Realidade é sempre cruelmente inédita.

Pensava nisso quando prendem uma dezena de jovens acusados de conspirarem um ataque terrorista brasileiro e os mostram ao mundo como troféus. Vejam se não é nonsense – fale alto e tente não rir: terrorista brasileiro. Repita: terrorista; brasileiro.

Não combina. O vampiro brasileiro de Chico Anysio, creio, é mais possível. Esse fato ainda requer muita explicação e esmiuçamento; tem quem garanta até que a arma que compravam era só de paintball. Alguns parecem até caricaturas de Allah, com suas barbichas. E ministros aparecem batendo no peito, chamando-os de amadores e “porraloucas” (sim, saiu da boca de ministro). Tememos os profissionais.

Fosse só as Olimpíadas que tem nosso conformismo! Faz a lista.

When-We-Drag-Ourselves-Gym-Sunday-Closed

Marli Gonçalves, jornalista – Inconformada.

SP, 2016

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ARTIGO – Fogueiras de junho. Por Marli Gonçalves

3844452_bu2M0Ô coisa boa quando chegava esse mês e tinha aquelas festas de rua, de vila, cheias de bandeirinhas coloridas, comida boa, e prendas para ganhar. Quadrilha era o que se dançava, e a sua formação era divertida, ser noiva, noivo, padre, seus personagens principais. dancarina29

E quando se ouvia a narração olha a cobra, era hora de dar volteio, fugir, girando ao contrário. Olha a chuva, saudação. Pau de sebo, desafio. Correio elegante fazia corar.

Hoje, olha a cobra nos lembra jararaca, a que queremos enquadrar como origem da decadência. A quadrilha dança, mas miudinho, com as mãos para trás. A chuva leva ou lava. E o padre foi substituído por um juiz, o único que casa noiva com noiva, noivo com noivo, dentro da lei, e que ora determina ultimamente o tamanho da fogueira, que altura ela vai arder.

A música caipira agora está mais por cima da carne seca, e até o caipira nem é mais aquele, nem aqui, nem na quermesse da esquina. São João, Santo Antonio, São Pedro ouvem o estouro de muitas bombinhas do armamento completo dessa época, que tem de biriba a foguete. Se for do crime organizado é escopeta, lança-chamas, AR-15. E nem digo atrás de quem está correndo o busca-pé. É bomba todo dia no falatório deitado em algum depoimento ou captado em gravação depois de beber muito poncho, sangria, quentão, ou só bons vinhos ou chocolates trazidos da Suíça quando daquela viagem que agora sabe-se o que é que tanto se perdeu lá pelos Alpes.

Não é brincadeira, no entanto, o que passamos nas festas deste ano, e nem precisamos girar muito para ver que estamos tentando colar o rabo no burro, de olhos vendados. E pulando muito na corrida dos sacos, se fazendo de saci, tentando sim é pescar alguma coisa para levar para casa, milho para alimentar a família, arrastando o pé na terra por aí atrás de emprego, pagar contas, não perder o pouco que juntou no arraial.

Podia ser pajelança minha proposta de pegarmos uns papeizinhos para escrever o que desejamos queimar na fogueira, mas melhor que seja na pureza do correio elegante, dos jogos de prendas, a começar do imobilismo nacional boca aberta diariamente com a direção que o vento toca inflamando impressionante o fogo.

festa-juninaTipo a barraca do beijo que sempre foi bem concorrida. Podíamos pagar, embora já o façamos indiretamente para nos vermos livres de um monte e de suas armadilhas e interesses menores, suas declarações impróprias como se burros fôssemos mesmo para aceitá-las. As jogadas ensaiadas que praticam, como se tivéssemos o mais precioso, o tempo. E esse aí que está sendo implacável, nos rebaixando em tudo quanto é nota, ranking, como um abismo profundo que nunca desejamos com nosso espírito alegre, matreiro como a garota de sardas e maria Chiquinha.

Tenho sentido muita dificuldade até de expressão, de ânimo, para comunicar o que sinto, penso ou acho diante do que me informam e apresentam, acontece, percebo. Para o quê? Para quem? Que vantagem “Maria” leva? Quem se importa?

Às vezes, muitas vezes, me sinto sem lugar nesses dois planetas estranhos que orbitam ao nosso redor numa dancinha chata e inconsequente, até “caipira”, mas no sentido de comparação com o mundo moderno que já deveria estar se descortinando, mas que assinala nossos ambientes muito hostis, cada vez mais. Não é mão de direção, não é esquerda, direita, contramão. Deveria ser passagem livre.

Olha o caminho da roça! Olha a chuva! É mentira! Olha a cobra! É mentira! A ponte caiu! É mentira! Olha o pai da noiva! É mentira! Preparar para o grande túnel!
É tudo quadrilha. É verdade! Tem culpado que assobia! É verdade!

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Marli Gonçalves, jornalista “O céu é tão lindo e a noite é tão boa. São João, São João! – Acende a fogueira no meu coração”.

São Paulo, meio do ano e tudo indefinido, 2016

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ARTIGO – L-J, ou Querida, o país encolheu. Por Marli Gonçalves

tv_01b_bbForam tantas tratativas pensando em melar a Operação Lava Jato que faltaram chamar a Wanderléa para fazer serenata para o Sergio Moro: “Senhor Juiz, pare agora! Por favor, pare, agora! ” Para completar, temos uma dívida monstro tipo corda no pescoço, mais de 11 milhões de desempregados, saques assaltos bilionários sanguessugas nas empresas e das empresas na gente, um projeto de poder falido tentando de um tudo para continuar atarracado. E mais a violência que nos sangra e respinga

Geleia geral, se alguém queria saber a sua mais completa tradução, chegou a ela nos últimos dias destes últimos meses. A novela mais assistida voltou ao horário das oito, o do noticiário, agora repleto de personagens que entram mudos e não saem, calados; que saem, ou ainda tentem, falando, dedando, traindo; que fogem ou são fugidos, gravam e são gravados – e gravados puramente sinceros. Os que estão numa lista aguardando a chamada. E os que estão numa outra lista de espera para ingressar em breve no espetáculo, em alguma fase de nome criativo da Operação. Mais matracas declarando roteiros que não cumpriram quando puderam.

Se for para começar a usar sinônimos, lá vem mais um: decomposição. A coisa está tão feia, sem limites, derretendo sórdida e a passos tão largos que não nos sobrará outra opção que não seja histórica, esta sim o será, e corajosa. Do ponto de vista político de unidade nacional, se estiver mesmo querendo passar melhorzinho para a história não restará a Michel Temer alternativa a não ser liderar um rápido e radical processo de transformação e renovação, chamando eleições em todos os níveis, e em um processo que no máximo se resolva desse outono ao outono do ano que vem. Só assim poderá manter o apoio, porque a impressão é que ainda vem onda grande por aí.

Mas quem dera fosse só na política essa degradação, embora a ela tudo pertença de alguma forma. Estamos precisando falar sobre a nossa índole que está mostrando um lado brutal que ainda poucos se dão conta. Aliás, poucos se dão conta que isso tudo é real, significa, e é a sua própria vida e destino no jogo.

tv_04a_bbEssa novela, “L-J ou Querida, o país encolheu” já ultrapassou Redenção, da extinta Excelsior, que tem o recorde de ter ficado no ar por mais tempo na televisão brasileira. Foram vinte e quatro meses e dezessete dias, 596 capítulos. A história agora, a atual, parece infinita, um polvo, e de cada uma de sua pernas cortadas, surgem outras, ainda mais compridas, como rabos de lagartixa. As histórias esticam sua dimensões e alcançam cada vez mais personagens detrás de portas e janelas onde tentavam se camuflar.

Enquanto discutimos estruturas burocráticas de ministérios, fazendo cara de conteúdo, bocas e bicos, e usando argumentos chulos e apelativos para falar sobre a cultura, ela se nos apresenta em sua mais brutal face. No estupro coletivo da menina, que ainda por cima suporta agora em cima dela as dúvidas dos detalhes, e a ineficácia da proteção e investigação policial; nos assustadores números do índice nacional de estupros e violência contra a mulher. Na desonestidade intelectual dos que se afundam na tentativa de torcer o rabo da porca, para salvar a que fizeram heroína, e heroína do nada é. Se foi, foi.

As estribeiras estão soltas. A pedra atirada que mata o rapaz que dormia embalado nas curvas da estrada de Santos rolou do alto de uma montanha que desmorona, nos fazendo lembrar de olhar para cima. Para ver se vem rolando outras e tentar delas desviar. Ou procurar por Deus, pedindo que nos perdoe a todos por uma possível omissão que estaria escrevendo essa história, que nos suspende, e que embora possa parecer comédia, tenha até seus momentos hilários, não é.

É drama e dos grandes, de ainda nos fazer chorar muito. Com reprises programadas.

a43eb-tvMarli Gonçalves, jornalista Não quero ter mais tanto medo. Nem do presente, nem do futuro. Nem do enredo, nem de ser enredada

São Paulo, 2016

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ARTIGO – Mulheres, sempre à beira de algum abismo. Por Marli Gonçalves

tumblr_n22lpobkUP1sltk8co1_500Muitas vão ler isso, virar a cara, fazer muxoxo, espernear, negar, dizer que estou exagerando, que não é tudo isso, mas nunca na frente de um espelho. A mais nova ridiculice, misto de tolice com ridículo, é ficar discutindo se qualquer tititi que tem mulher no meio é feminismo ou não. Aliás, ultimamente se afirmar feminista – e eu, já adianto, sou, até porque sei do que se trata – é equivalente a ser uma bruxinha. Errado

Pois repito: mulheres, sempre à beira de algum abismo. Sempre tendo que fazer uma escolha, tendo que se desdobrar especialmente mais, com a corda esticada no limite. Não pensem que é fácil falar tão duro, mas de novo essa semana vamos ouvir muito aquelas frases construtivas que inventaram dizer em nossos ouvidos e só não tão piores como as que aparecerão no Dia das Mães, que aí o jogo é mais duro ainda. O Dia Internacional da Mulher, 8 de março, não foi criado para vender rosas nem batons. É dia nosso, mas em outros sentidos, quando devíamos todos contemplar a situação, inclusive a sua própria situação, se for mulher. Só isso. Não é nem feriado; é simbologia. É dia criado para nunca esquecermos quando outras mulheres antes de nós começaram a se impor. Não precisa mudar nada se achar que está tudo bem. Ok? Calma. Ninguém quer brigar.

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É certo ainda que novas formas sexuais híbridas começam a se apresentar bastante influentes, e mudando a paleta de cores do que é ser homem ou ser mulher. Há variações. No caminho o povo vai se acomodando onde lhe aprouver, tantos homens quase mulheres e mulheres quase homens, numa interessante gradação. Que acomoda a todos.candystriper_pushing_pregnant_woman_hg_clr

Mas repito: ser mulher é mais complexo, essa coisa de ser geradora, fabricante de outros humanos, importa sim. Mas não é fundamental, até porque entre nós há as que não querem fazer ninguém. É mais complexo na coragem, na força que tira sabe-se lá de onde quando acuada, nas escolhas de sofia que faz praticamente todos os dias, nem que seja escolhendo o cardápio da casa, ou a cor de seus sapatos. Se vai prender ou soltar os cabelos. Cheguei à conclusão de que as mulheres sempre têm muito mais o que decidir. O dia inteiro, toda hora. Sinto na pele.

A mulher tem de sobreviver, nascer, crescer, ter orgasmos, ser feliz, bonita e disponível, compreensiva, dedicada, delicada, ao mesmo tempo que está na máquina de moer carne do mercado. Ainda tem que esperar que percebam que é dona absoluta de seu próprio corpo, não está disposta a assédios brutos. Sem autorização, jamais toque numa mulher, nem pegue nos seus cabelos – ela pode se transformar em uma onça. Eu, pelo menos, até afio as garras.

womanHá muitos paralelos. As meninas do movimento #vaitershortinho nos lembram vagamente o que foi a polêmica da minissaia, os 20 centímetros acima do joelho que mudaram uns rumos, desnorteando revolucionários. Hoje são outras coisas as solicitadas e fundamentais. Vamos lá. Outras igualdades, se é que ainda poderá haver algo igual a outro analisado do ponto de vista de gênero.

3d animasi woman playing violin animated human animation could be wallpaper and screensaverVamos organizar melhor essa batucada.

Outro dia li e fiquei muito contente com a notícia de que a Marilia Gabriela vai fazer um novo TV Mulher, reeditar a ideia básica. Vai sair coisa boa daí. Multifacetada, ela acompanhou todo esse tempo a que me refiro, que não é muito, mas já são décadas. Vamos poder conversar melhor – espero que façam as mesmas boas pautas de outrora. As sexólogas também deverão ser muito mais arrojadas do que eram a Marta Suplicy e outra famosa da época, também Matarazzo, a Maria Helena, que lembro como mais conservadora.

Vamos, por favor, continuar comentando, observando, fazendo. Nos encontraremos todas à beira de nossos abismos pessoais, e onde acabamos sempre por mergulhar, no mínimo para ver no que dá.
Mulher é curiosa.

SP, 2016 programmer_woman

Marli Gonçalves, jornalista Estamos em um momento muito pulsante, que não requer divisões, mas homens e mulheres com atitude. Ah, outra coisa, antes que esqueça: se me xingar de feminista eu gamo, entendeu?

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ARTIGO – A namoradeira na janela. Por Marli Gonçalves

jogando taçaEpa, opa, epa, opa, que tem alguma coisa meio esquisita nessa história que nos divertiu tanto essa semana, imaginando o José Serra com a cara escorrendo vinho, provavelmente tinto, em sua camisa provavelmente azul, ou provavelmente branca, e aquilo escorrendo em sua calça provavelmente cáqui ou provavelmente cinza – que ele não é de variar. E olho arregalado, surpreso, foi fazer graça e foi desgraçado.

Tá tudo bem, tudo bom, mas até agora não entendi bem o que foi que tanto ofendeu a ministra Katia Abreu por ter sido chamada de namoradeira. E que história é essa dela explicar seu ato, dizendo que “reagiu à altura de uma mulher que preza a sua honra”. “Todas as mulheres conhecem bem o eufemismo da expressão “namoradeira” – escreveu em um dos muitos tuítes que piou no dia seguinte.

Qual é exatamente o eufemismo de namoradeira, Ministra? Desculpe, mas é que, como disse, acho que perdi uma parte da história porque, para mim, dizer que uma moça é namoradeira soa doce, ingênuo, até – se me permite – caipira, coisa de interior. Associo a coisas como encantadora, bonita, atraente, popular, flerte. Nunca associei a coisa ruim. E olha que eu tenho uma cabeça que estou sempre vendo uns pelinhos no ovo. Procurei até no Google, mas os mais de 14 mil resultados, acredita? – foram todos todos sobre a taça de vinho e o quiproquó que abafou até a carta certeira do vice-presidente, outro sucesso da semana.

Não que eu não tenha o que fazer mas fiquei pensando no assunto e queria ter presenciado a cena para sentir o contexto. Vocês já tinham jantado? Ou estavam com fome, e por conseguinte, com muito mau humor? Beber sem comer nada também é um perigo. Outra pergunta importantíssima: tinha música no jantar? Qual era o som ambiente? Por que? Porque se estava alto, a ministra pode ter ouvido o galo cantar verdadeira, dadeira, e sangue quente que é, senhora poderosa e cheia de si como lembro pessoalmente de tê-la visto no Parlamento, primeiro reagiu, depois ouviu. Mas acho que não. Porque parece que o senador Renan Calheiros logo interveio lembrando ao Serra que a ministra, que era viúva, se casou recentemente.

Eufemismo é usar linguagem substitutiva, sim, uma coisa meio tucana, de falar uma coisa dizendo outra para não ofender, para suavizar o rojão. Três exemplos que achei legais: “Ele virou uma estrelinha.” (Em vez de morreu); “Ele subtraiu o celular do idoso no ônibus.” (Em vez de dizer que roubou); “Ele vivia de caridade pública.” (Para não falar esmolas). Entendeu? Por isso fiquei curiosa sobre o tal eufemismo de namoradeira.article-2015615917393763577000

Namoradeira, palavra bonita, foi indigesta, portanto. Mas se eu não achei o tal eufemismo, achei os vários sentidos reais que a palavra tem, as cadeiras e sofás de dois lugares, especiais para namorar sob a vigilância de alguém, e dentro de casa – sua origem há muito tempo; e as lindas bonecas de cerâmica, moças retratadas com olhar romântico, apoiadas em seus braços e cotovelos, que enfeitam janelas e varandas de todo o país. São só cabeça, boca carnuda, lábios pintados, ombros à mostra em vestidos com decotes insinuantes e ao mesmo tempo pudicos. Um dos seus braços fica apoiado; o outro leva a mão ao rosto, como se o segurasse, em sinal de espera do que vai passar por aquela janela.

Imagine tudo o que elas veem. Ou melhor, imagine tudo ao que elas, as namoradeiras, estão assistindo agora em cada recanto onde se encontram recostadas, naquela sempre aparência calma, da espera, de quem não tem pressa. Só podia ser boneca mesmo. Porque as humanas, as mulheres namoradeiras, quando chegam à janela, já o fazem aflitas, inseguras, preocupadas, ou amaldiçoando o atraso no primeiro encontro.

Quantas de nós nunca se debruçaram, ficaram nas pontas dos pés para ver o amado apontando na porta ou virando a esquina? Até as namoradeiras de muitos, mas que esperam na janela só um deles – o seu homem por toda a vida.

Enfim, tadinhas das namoradeiras que a ministra acabou jogando lama na reputação. Fiquei também preocupada porque descobri que mais gente tem a namoradeira em mau conceito: algumas correntes evangélicas consideram que a boneca da namoradeira é do mal, vivem destruindo as que encontram por a considerarem devassa, representante das prostitutas, que invoca a pomba-gira, entidade protetora da esquerda na umbanda.

Por falar em esquerda, a ruralista Katia Abreu já foi chamada de “Miss Desmatamento”, “Rainha da Motosserra”, era inimiga número 1 dos sem terra. Mas agora está no Governo Dilma, de quem virou melhor amiga nesse ano para ela cheio de emoções. Tomou posse em janeiro, causou com um vestido verde; casou em fevereiro; em abril soube-se que havia contratado seu cabelereiro e uma dentista para o gabinete; trocou de partido, se juntou ao PMDB, aprendeu todos os eufemismos para explicar que o Governo é uma beleza; jogou vinho no Serra.

Deixou até de ser namoradeira. Coisa que ela própria disse que era, em uma entrevista dada em 2013, antes do seu príncipe chegar na janela: “Não tive tempo para casar de novo. Mas namorei muito”.

Pois é.

woSão Paulo, nem parece Natal, 2015

Marli Gonçalves é jornalista – Está achando o máximo essa esquizofrenia que abala Brasília, onde ninguém sabe onde amarrar o burro. E onde se falta com a verdade (esse sim, um eufemismo e tanto)

ARTIGO – Quem não se comunica, se …Por Marli Gonçalves

CHAMANDO CACHORROSe ferra. Se trumbica. Se estrumbica. Dá com a cara na parede. Tem de sair por aí depois apagando a lousa, revogando as ordens, desistindo de suas próprias decisões antes irrevogáveis. Nossos políticos, os próprios exemplos de trumbicados, comprovam com louvor a teoria do Velho Guerreiro. Alopram. Quem quer um abacaxi? Roda, roda, roda e avisa: um minuto pros comerciais! chamando

Há algum tempo quero falar um pouco sobre a área na qual trabalho, de comunicação, de imprensa. Expor e questionar o que está acontecendo no mercado, a forma como a informação está sendo filtrada para os seus olhos e ouvidos, contar até de como está raro achar um personagem que esteja se defendendo porque teria uma reputação a zelar, um mínimo de vergonha na cara.

Repara. De uns tempos para cá virou moda: quem responde à imprensa é quase sempre o advogado do acusado, na vitrine, e que passa a ter visibilidade; afinal, muitos falam na porta das cadeias onde estão trancados os seu defendidos. Só que advogados advogam, não são obrigatoriamente bons comunicadores, por mais competentes que sejam em suas áreas, por melhores que sejam suas defesas diante de juízes, desembargadores e júris. Sua linguagem é outra, esse é o problema quando as ouvimos. A linguagem que usam é técnica, específica da profissão, estão sempre numa atitude meio defensiva, protegendo a linha da cintura de seus clientes. Nós estamos aqui fora, esperando não a redução de penas, mas explicações sobre o que aconteceu.895868a9-a721-4105-9f8f-5d09473792ff_18

Não é questão de certo ou errado. Mas é o que torna possível perceber – e é horrível isso -que querem que a opinião pública se esgoele; fatalmente se cansará da questão, substituída por outra gritaria, por outro assunto. A opinião pública é utilizada para fazer pressão, quando interessa – autorizam até entrevista dos clientes ao Fantástico. Quando essa pressão é contra, aí não há por que satisfazer ao seu apetite – e servem ao público as falas de suas defesas, repetitivas, monocórdicas (pois o texto já foi encaminhado aos magistrados, não pode variar), às vezes até desconectadas da realidade mínima dos fatos.

#chamaobolsonaropropauMas o que acelerou mesmo o tema foi esse caso de São Paulo com os garotos que ocuparam as ruas para protestar contra o que eles nem bem sabiam bem o que é, mas não gostaram. Não gostaram e pronto. Porque o que chegou é que fato x ia mexer muito com a rotina. Não houve da parte do governo Alckmin e nem do secretário com cara rude o cuidado de antes preparar o terreno para plantar a ideia. Aí ficou até engraçado porque a ideia de que ele desistiu antes que aparecesse um garoto morto ou machucado parece que era boa, defensável – todo mundo que tem filhos e que eu perguntei, achou legal, falou bem, gostou. Só que saber ou ver que a polícia estava dando umas bifas nos jovens não foi legal. Eu também não ia gostar de imaginar meus filhos sendo educados a cassetetes e bombas de gás. Assim, passou-se quase um mês só de bate-boca, prejuízos, invasão de escolas, quebra-quebra, ruas ocupadas e bloqueadas. Os meninos estavam tendo ali a sua primeira incursão no maléfico mundo da política, no caso representada pelos sindicatos instigando a rebeldia juvenil. Deixa. Assim aprendem, como alguns de nós que estivemos em outros lados, e que também um dia já acreditamos até num certo líder metalúrgico.

A presidente Dilma é outro exemplo de quem despreza a comunicação ou está cercada por não entendedores. Ou, ainda, é uma que só de birra não quer escutar, faz o que quer, contraria conselhos – como aquele que diz que em boca fechada não entra mosquito, ou outro, que quanto mais fala, mais se enrola, ou um terceiro: quem fala demais dá bom-dia a cavalo.

Só que o mosquito do momento, que prolifera junto com o abandono cívico, não entra na boca. Pica. E suas patinhas-agulha estão transmitindo males que não esqueceremos tão cedo, porque essas crianças de cérebro pequeno vão sobreviver e a imagem delas irá nos atormentar ainda mais lembrando dessa época agora, com esse grito parado no ar, momento que não anda nem desanda, nem sai de cima. E as explicações, quem irá dá-las? Quem vai contar por que aquele mosquito que Oswaldo Cruz eliminou do Brasil há um século hoje zomba de nossos Governos?vamos achar o Norte, o Nordeste... e mudar o Irã

Se a boca é feita para falar como se diz, não há porque ficarmos quietos com o silêncio deles em suas manobras.

Boca de siri! Não os deixe perceber que o povo já os viu sendo pegos com a boca na botija. Enquanto isso, tempo que esperamos explicações, a gente vai continuar botando a boca no trombone. Quem não fala, consente.

São Paulo, dezembro animado, 2015
MARLI GONÇALVES, JORNALISTA – Prontinha para libertar a Matilde, aquela da boquinha que vai adorar contar os bastidores dessas discussões que estão parando o país.

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Pelo fim da violência contra a mulher. Fiocruz faz dicionário de temas.Lançamento no Rio, a partir de 9 novembro

Fiocruz publica obra sobre violência contra mulheres

Woman_boxer_2Dicionário Feminino da Infâmia

Fiocruz publica obra de referência sobre violência contra mulheres

A Fiocruz lança na próxima segunda, dia 9 de novembro, o Dicionário Feminino da Infâmia: acolhimento e diagnóstico de mulheres em situação de violência. A publicação tem o selo da  Editora Fiocruz e foi  coordenada pelo  Comitê Nacional de Pró-Equidade de Gênero e Raça da instituição.  Traz temas relevantes e atuais relacionados à luta da mulher, como aborto, estupro, redes sociais, ética feminina, trabalho, autoestima, violência, feminismo e lesfobia, entre outros. O trabalho reúne mais de cem colaboradores, pesquisadores e profissionais de universidades, agências governamentais, serviços públicos de saúde, seguridade social, segurança pública, jurídico-policiais e organizações não governamentais, que trabalharam coletivamente na seleção dos temas e elaboração dos verbetes.

Organizado pelas pesquisadoras Elizabeth Fleury e Stela Meneghel, o Dicionário feminino da infâmia traz um rico panorama dos conceitos recorrentes na pauta feminista e das mulheres e vai além, apresentando temas e significados em sua dimensão histórica, política e social. O dicionário nasceu com o objetivo de permitir o acesso a informações fundamentais para o acolhimento e cuidado com as mulheres tanto ao público leigo como às equipes multiprofissionais de saúde, assistência social, segurança e justiça que atendem mulheres em situação de violência.

Estão explicados nessa obra de referência fenômenos que envolvem os vários aspectos, tipos e cenários das  violências e também formas de resistência, além de informações sobre análises científicas que ampararam a criação de procedimentos, normas, abordagens e técnicas que hoje estão regulamentados e em funcionamento em diversos setores públicos de forma consolidada ou ainda embrionária. Além disso, houve uma preocupação importante: transmitir aos leitores as mais importantes noções sobre conceitos de liberdade, direitos humanos, justiça, aspectos da educação masculina que levam à prática da violência e outros temas.

A ideia é prover os profissionais da área pública e os cidadãos de informações sobre o que tem acontecido desde que as mulheres começaram a conquistar espaço nos planos social, político, jurídico e de cidadania. A obra traz registradas histórias de lutas que atravessaram séculos, travadas por pioneiras reconhecidas e outras anônimas, e que permitem que cada vez mais as mulheres transitem por espaços e lugares antes vetados a elas.

Sobre os verbetes

A escolha dos temas para os verbetes se deu com base em ampla e cuidadosa pesquisa, primeiro com a bibliografia de referência e, em seguida, reunindo atores sociais e políticos, pesquisadores e equipes multiprofissionais. Os verbetes apresentam, em geral, a conceituação do fenômeno, sua contextualização e desenvolvimento históricos, os desdobramentos dos movimentos realizados, principalmente pelas mulheres, para a superação de realidades adversas.

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O lançamento será no I Seminário Pedagógico do Dicionário/RJ, que acontece nos dias 9 e 10 /11 na Fiocruz,  Campus Manguinhos. O seminário e lançamento também será realizado em Belo Horizonte, nos dias 12 e 13/11, na Academia Brasileira de Letras, que fica na Rua da Bahia, nº 1466, Bairro Lourdes.

fonte: Woman_boxer_2

Coordenadoria de Comunicação Social da Fiocruz

ARTIGO – Sobre o medo, bruxas e cozinheiros. Por Marli Gonçalves

brujanueva3  Seria bem bom se tivéssemos alguns poderes mágicos que nos dessem condição de mudar o mundo, ou ao menos controlar alguns de seus detalhes sórdidos. Crescemos sonhando com a magia, nas histórias que ouvimos, nos livros que lemos. Nas fábulas que acabamos depois vivendo de verdade quando adultos, lembrando daqueles bichos que falavam e que eram os seus personagens. Tudo feito, de um lado, para nos incutir o medo e o respeito ao limite; mas é esse medo que acaba nos tornando dependentestumblr_lqru9m6njS1qh59n0o4_250

Pode ser um esconderijo interessante para esses tempos difíceis. Rever alguns dos ensinamentos de nossos livros infantis, onde sempre existe alguma conclusão embutida, a tal moral da história – moral da história, vejam só. Quando um não quer, dois não brigam. Quando dois brigam, um terceiro tira proveito.

Sempre também nos contaram histórias aterrorizantes, embora muitas vezes sua carinha fosse doce e meiga, parecendo inofensivas. Não é cruel o diálogo da formiga e da cigarra? Não é triste imaginar a desilusão da tal menina do leite diante da jarra despedaçada?

Ah, não se lê mais fábulas para as crianças? Nem La Fontaine, Esopo? Elas agora vivem só de princesinhas patricinhas com seus enormes guarda-roupas e caixas de maquiagem? E os meninos? De heróis musculosos com roupas colantes ou seminus e viris? Ou aqueles de videogames que estão sempre desferindo golpes mortais e pulando obstáculos?

Como hoje se prepara uma pessoinha para a vida? Sem a sovinice do Tio Patinhas, sem a generosidade do Riquinho, o loiro garoto milionário meio socialista. Sem os trambiques da magra Maga Patalógica e da estrambelhada descabelada Madame Min, com suas sopas de asas de morcego, aranhas e pernas de sapos, que ambas mexiam e remexiam em seus caldeirões fumegantes.

Atualmente coelho não sai mais de cartola, nem pombo fica dando mole por aí. Podem virar iguarias cozidas em outras paradas. Pois sobre esses caldeirões tenho reparado muito nessa enxurrada de programas de culinária, por exemplo. Já me chamava a atenção o número de homens ligados em cozinha. Encontro e vejo muitos na feira mostrando suas habilidades para fazer compras, discutindo detalhes nas barracas com os comerciantes, coisa que não imaginava de forma alguma ver há alguns anos. Gastam muito, mais em suprimentos e em utensílios. Usam avental. Dali, emergem “panelinhas”- que falar em pratos pode ser desconsideração com os “chiquês” (chiliques também) deles.

Crianças se enfrentam em campeonatos, e os marmanjos em casa ficam postando suas piores fantasias. Na minha época não podia chegar nem perto do fogão, quanto mais poderia de um torneio sob mais pressão que a válvula da panela; era como se houvesse uma muralha que me mantivesse distante e a qualquer criança pelo menos a cinco metros dele. Minha mãe tinha um trauma: quando era pequena lá no interior de Minas teve uma amiga que virou uma chaleira de água fervente em cima de si própria; sobreviveu, mas pelo tanto que minha mãe sofria em lembrar creio que ficou realmente monstruosa.

Tudo isso para dizer que ando pensando se as pessoas não estão tanto nas cozinhas em busca de criar o elixir da vida, a poção da imortalidade, o néctar dos deuses, e extraem essa mágica nos pratos que fazem diante de plateias e torcidas. Vencendo limites.

Outros buscam nos esportes radicais o seu encontro particular com a morte. E há os que flertam com ela dia e noite em atitudes.

São as novas caras da morte. As das fantasias bonitas que vão aparecer nas inúmeras festas de Dia das Bruxas que também se comemora por aqui; são as cores vivas da festa mexicana que esse ano quase que um furacão com nome de mulher tornou ainda mais dramáticas.

É também esse bang-bang que enfrentamos nas grandes cidades, que nos fazem temer e tremer, nos afastando das ruas, assustados com qualquer estampido que pode selar nossas vidas.

São Paulo, sem moral nessa história, 2015

bruxa148MARLI GONÇALVES, JORNALISTA – Entre escolher doces ou travessuras, pode ficar com os dois?

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ARTIGO – E nós? Nós, os mortais afetados. Por Marli Gonçalves

people_jobs_e0As nossas coisas, as que nos dizem respeito direto, a melhoria, o desenvolvimento, o andamento das questões comportamentais e sociais, os projetos – até quando vamos ficar esperando a decisão que essa infernal política mequetrefe está diariamente nos impondo, envergonhando? Com que forças podemos gritar, tal como He-Mans, para salvar nossa Etérnia?- “Pelos Poderes do Brasil!”

Nunca tivemos um Congresso Nacional tão ordinário. Nunca, e olha que não sou eu que estou afirmando, mas muitas das maiores cabeças pensantes – sim, temos muitas, por aí, isoladas, vozes no deserto – do país. Pessoas da maior qualidade em suas áreas, de esquerda-direita-centro-alto-baixo-norte-sul-leste- oeste. Nunca tivemos um Governo democrático eleito, lindo, mas tão incapaz. Nunca tivemos um Judiciário tão dividido, discutível. E, se imprensa um dia foi chamada de Quarto Poder, agora está abaixo do rabicó da cobra, submetida. Submetida.

Embora possa parecer contraditório chamar de pensantes algumas dessas mentes que continuam ainda apoiando o Governo como um todo, há também de se compreender alguns de seus motivos. O principal, a preocupação com a segurança institucional. Mas, no geral, podem dizer o que for, não há mais como defender o atual estado das coisas. Já transbordam das quatro paredes opiniões bem claras sobre o patetismo do petismo, o trapalhonismo, o cabeça-durismo da senhora governante e seus amiguinhos, também conhecidos por total falta de capacidade política e aptidão para governar.boundandgaggedanimated

O impasse está criado. Cada dia o buraco fica mais fundo. Pergunto aqui e ali, transitando entre estes dois mundos, os a favor e os contra. Ninguém me dá uma resposta objetiva. Uns não aceitam impeachment nem renúncia, nem querem ouvir falar, mas também não nos respondem onde encontrar a luz. Outros se juntam ao que há de mais malévolo, ou se fingem de mortos, ou apenas tentam se safar de seus próprios erros pulando de lagoa em lagoa, coaxando.

Enquanto isso parece que tudo que nos é mesmo importante – de nossas vidas, dia a dia, padrões, pode esperar – e não pode. A velha questão do País do Futuro que nunca chega. Agora com mais uma novidade: o tal sigilo carimbado. Estão querendo trancar por anos e anos as informações que nos são de direito. Transparência só na roupa das meninas, nada de transparência nos atos. Não importa se podemos ficar sem água, se a violência se espalha, se agora é hora da tecnologia nos servir, voltamos à idade da pedra. Pagamos e não recebemos, e nem sabemos porque pagamos, mas querem nos sugar ainda mais. As melhorias propostas pioram, subtraem, inacreditável. De troco, decretos, decisões revogáveis de acordo com a cara que acordam, olham no espelho, furam os balões de ensaio que empinam, estocando vento. Não temos para onde olhar. Um atrás do outro, fazendo cada uma pior que a outra.

Desenvolvimento de pesquisas? Células tronco? Legalização ou descriminalização? Discussão sobre o aborto? Estado laico? Novo código penal? Verdadeira justiça social? Ficaria algum tempo enumerando questões que, enquanto vemos passar o lodaçal, de roubos à luz do dia, de arroubos administrativos e de arrobas boiando nas redes sociais, estão sendo postas na fila de espera.!image001

O problema é que nem começaram a distribuir as senhas. Não há mais cadeiras para sentarmos para esperar. Palavras demenageur012cruzadas já não nos distraem mais.

Começar de novo. Por onde? Por uma nova Assembleia Nacional Constituinte, talvez. Mas como apagar tudo que está aí? Não dá nem para falar em passar um branquinho corretor – vão me acusar de racista. Porque nessa hora, na hora de melhorar, de partir para cima, sempre aparece um montinho de politicamente corretos, que corretos não são politicamente agindo.

people1São Paulo, passando da hora de enfeitarmos nossas janelas, portas e frestas com verde e amarelo, claramente, 2015

  • MARLI GONÇALVES, JORNALISTA – Sem poderes, pasma com os poderosos.

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ARTIGO – Quero sentar na janelinha. Por Marli Gonçalves

fallwindowAdoro janelas, janelas abertas, vidros por onde se possa ver as coisas e pessoas passarem, a luz do sol, o vento entrar para renovar o ar. Antes de tudo estar atenta, vigilante. O mês de outubro me lembra disso; mas antes de mais nada nos faz desejar que dela, da janelinha, possamos mesmo é avistar mudanças que já não aguentamos mais esperar tanto. Iguais aos apaixonados como quedam esperando seus amores, que disso entendo bem stormwindow

De onde vivo tenho poucos horizontes para esticar os olhos, sobram só umas nesguinhas abertas entre um prédio e outro de São Paulo em sua área central. Mas eu me estico como posso, já que não tem dado para sair volitando por aí, tendo os prazeres de olhar mares infinitos. O binóculo, contudo, fica guardado, desnecessário, já que tudo aparece muito perto, que vem vindo, visível a olho nu, mas tal qual o país, continua inalcançável. Muita coisa a gente vê se aproximando, parece que há uma luz, mas esta nunca chega. Preciso providenciar uma luneta, para pontos mais longínquos; e mais paciência.

Assim está o nosso dia a dia. Literalmente dia após dia, semana após semana, mês após mês vivendo e sobrevivendo nessa reatividade, na dependência de que outros façam movimentos que destravem os nossos próprios passos. É horrível depender. Vendem as almas deles e as nossas nas bacias, desavergonhadamente.

Todos, sempre viajandoO nervoso e a ansiedade que isso dá levam à janelinha. Vontade de avistar perspectivas. Normalmente símbolo de poder – quem senta nela pode mais, e é mais importante – mas até essa premissa já era. Agora na verdade temos é de ficar esperando de camarote, pro bem e pro mal, que os senhores do Poder, dos Poderes, se entendam pelo menos um pouco, em prol de um projeto comum. Depois, que se engalfinhem de novo!

Não é um balde de água fria, mas lembro que muitas vezes costumamos falar quando alguém acha que a solução vai cair do céu: “Puxa a cadeira aí e senta pra não se cansar”. Pelo menos é melhor fazer isso da janelinha, observando os movimentos que diariamente descrevemos em nossos textos, artigos, colunas e crônicas. Com o calor desregulado do planeta talvez ajude, fique mais fresquinho.

Mais uma vez queria poder estar vendo, falando e escrevendo sobre comportamento, sobre as questões femininas, sobre a liberdade que no meio de tudo isso vem sendo gatunada em decisões desses parlamentares de quinta categoria que infelizmente foram parar lá por conta do voto. Mas conhecemos como esse voto foi obtido. Com a mentira. Com a promessa do osso para roer.

arg-flying-by-windows-med-urlÉ muito difícil saber das coisas, ter vivido para ver, ter até condição de prever o que acontecerá sem nem ser vidente. A gente sofre, porque também muitas vezes precisa se calar quando a turba toda corre numa mesma direção. Não poder, da porta para fora, falar o que se pensa mesmo, tudo, de verdade, dá uma gastura e tanto, mas é preciso e estamos num momento assim. Brigar no meio da multidão que está se voltando ou de joelhos para alguma Meca é tragédia anunciada, e nós podemos ser pisoteados.

Por enquanto, meus olhos grandes e atentos vão se distraindo, olhando para o céu, contando passarinhos – qualquer hora um deles pode pousar na minha janela com boas novas.

Se souber de algo antes, aviso vocês.

janela0São Paulo, e agora só faltarão três meses para o Baile do ano fiscal de 2015
  • Marli Gonçalves, jornalista – Voyeur de seu tempo 

Aguarde! Prepare-se. Chumbo Gordo vem aí.

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ARTIGO – Deputada, faça-me o favor. Por Marli Gonçalves

mulherzinha espertamulherzinha rebola com bandeiraVou te contar, viu? Tanto sangue derramado, tantas e tantos mártires, ainda falta tanto para a gente, nós, mulheres, nós, homens, conseguirmos, todo dia, tanta coisa para olhar e uma deputada dessas perde tempo para mobilizar outras e pedir lei ou regra de costumes para proibir decote? Minissaia? Impor até cor de tênis? Ah, vá se catar.

Um desserviço para a causa feminina, qualquer que seja ela.

Vá se catar! Vão, vão se catar todas as outras múmias que apoiam esse projeto ridículo da tal Cristiane Brasil, do PTB do Rio de Janeiro! Pior: ainda tentam explicar. Aproveitem e levem com vocês aqueles moralistas do pau oco que ousam ocupar o Parlamento como templo. Ficam lá pondo as mãos para cima e saudando o Senhor de um lado, e roubando a senhora de outro. (Duplo sentido necessário). Não esqueçam os de cabelos acaju, que vocês também devem achar um horror! Proíbam-se os cabelos acaju no recinto!

A gente brigando para que mais mulheres se interessem pela política, tragam suas ideias e contribuições e me aparecem essas zinhas preocupadas com outras que andam malemolentes nos mesmos tapetes que elas pisam? Façam-me o favor! O lodaçal mancha os carpetes verde e o azul do chão do Congresso Nacional, com grande parte de seus membros na berlinda, e vocês estão preocupadas com os peitos e a bunda, o umbigo e os pés e as pernas de quem transita aí. Estão malucas? Aliás, Dona Cristiane, como vai seu pai, o Senhor Roberto Jefferson? Já foi consertada a tornozeleira eletrônica que ele quebrou outro dia tomando banho em casa, onde cumpre prisão domiciliar? Por que tanto esforço para se distanciar deste seu entre vírgulas? “Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson”… Vai ser sempre isso, porque não será com ideias como essa de agora que você vai sair da sombra dele e muito menos virar líder política respeitada. Também não adianta aquela cara de loura simpatiquinha de meia tigela que exibe nos comerciais, dos quais se apossou, do seu partido, que um dia foi até importante, mas agora nem mais graça tem, nem honra sua história.women40

Idiota, não percebe que a liberdade é nosso bem maior? Pergunta aí pro coroa, veja o valor que deve dar a ela e à vida- ele é bem mais interessante e antenado do que você, quase posso garantir. Acorda, vê se ainda dá tempo de fazer alguma coisa que presta aí. Faça por merecer ao menos carregar Brasil no nome.

Detesto moralistas. Porque me parecem sempre pessoas com uma reguinha na mão tentando medir o mundo pelos seus olhos podres e desfocados. Fora isso, puxa, tanta coisa importante para as mulheres deixadas de lado. O direito ao seu próprio corpo, o mais importante, como vai passar por parlamentares mesquinhas, que não querem ver nem a pele das outras, numa discussão séria?

O exemplo chato está sendo dado por uma presidente que cada vez que se mete em encrenca, como faz dia após dia, dá um jeitinho de informar ao distinto público que é mulher e que por isso é combatida. Bota até saia e passa batom nessa hora.

Fica chato. Não misturem essas coisas, por favor.

Mulheres importunadas, violentadas, assassinadas, sem assistência para si nem seus filhos. Mulheres ainda ganhando menos que homens na mesma função. Meninas exploradas e traficadas. E você preocupada com as roupas que as “gostosas” daí usam?

Dignidade feminina não é isso. Tenham alguma, deputada, deputadas.

womenSão Paulo, setembro de 2015.

Marli Gonçalves é jornalista Fica brava quando vê gente que pode fazer não fazendo.

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Campanha contra a violência doméstica. Tem de falar, denunciar. Só gente famosa entrou para participar

Enfermera-Sujetando-Una-Red-61172não fuja, Zé! É feio! FAZ O DNA!

“Foi a maçaneta da porta.”
(fonte: assessoria de imprensa)
Frases misteriosas de celebridades para o Disque Denúncia do Rio de Janeiro é ação da Agência3.

Curiosidade Salva. Para mostrar isso, dezenas de celebridades como as irmãs Bela e Preta Gil, Anitta, Cláudia Leitte, Deborah Secco, Eliana, Paolla Oliveira, Marjorie Estiano, Sabrina Sato, Luana Piovani, Luíza Possi, Regina Casé, Taís Araújo, Ingrid Guimarães, Marina Lima, Martha Nowill, Natalia Lage, Patrícia Pillar, Bárbara Evans, Paula Burlamaqui, Roberta Sá, Mariana Lima, Teresa Cristina e muitas outras aceitaram o convite do Disque Denúncia do Rio de Janeiro para uma ação inédita no Facebook, criada pela Agência3.

Desde segunda, dia 24, elas postaram mensagens misteriosas em seus perfis oficiais de Facebook (Foi a maçaneta da porta./Foi a quina da mesa./Foi o corrimão da escada). Quando clicavam no botão “Editado”, as pessoas recebiam uma mensagem que mostrava que o interesse pelos sinais de violência doméstica pode salvar vidas.

Segundo Zeca Borges, coordenador do Disque Denúncia do Rio de Janeiro, “uma mulher é vítima de violência a cada 15 minutos, e muitas não têm coragem de denunciar por medo. As pessoas não têm coragem de denunciar. É o famoso em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. Queremos mostrar que qualquer pessoa pode ajudar, sim. E deve. E para isso, é só se interessar.”

A campanha Curiosidade Salva viralizou a ponto de lideranças ligadas à causa, como a Deputada Federal Jandira Feghali, relatora da Lei Maria da Penha, e a ex-Ministra da Secretaria de Direitos Humanos Maria do Rosário aderirem de forma espontânea. O ex-Presidente Lula também entrou na onda e usou a nova “mídia” para divulgar o Memorial da Cidadania, com uma receita de bolo. A Prefeitura de Olinda também usou o recurso para falar de combate ao preconceito.

Até o momento, a campanha já recebeu mais de 80 mil interações orgânicas e 1.500 comentários. Entre eles, estão muitas histórias de pessoas que já sofreram com o problema e apoiam a campanha. Somando os seguidores de quem aderiu à campanha, a ação tem o potencial de alcançar uma base de fãs num total de mais de 50 milhões de pessoas.

Paulo Castro, vice-presidente de criação da Agência3, reforçou que tudo o que agência e o Disque Denúncia querem com esta ação é o aumento das denúncias. “E com o impacto nacional dessa campanha e a viralização que ela tomou, achamos que vamos contribuir e muito para isso”, disse ele.

A ação conta ainda com filmes para Youtube (http://youtu.be/2ZRTOw6G7x0) e Instagram (@curiosidadesalva), dirigidos por Fabiana Winits e filmados por Bruno Miguel da Mouse House. As peças contam com várias atrizes que participaram da iniciativa, incluindo as atrizes Mariana Ximenes e Leticia Lima.

Link para o vídeo da campanha: http://youtu.be/2ZRTOw6G7x0

FICHA TÉCNICA:

Direção de criação: Paulo Castro

Criação: Daniel Bensusan, Flávio Chubes, Leandro Bechara, Lucas Queiroz

Diretora de atendimento: Rafaella Eyer
Atendimento: Renata Ouvidor
Direção: Fabiana Winits e Bruno Miguel
Produção: Mouse House
Supervisor de estratégia de marca: Willian Rocha
Estratégia de marca: Hanna Cordeiro
Analista de métricas e monitoramento: Elmer Dias, Iracema Sydronio
Aprovação: Zeca Borges

ARTIGO – Parque Brasil de diversões. Por Marli Gonçalves

parque-diversaoVenham! Venham! Do que vamos brincar agora? Em épocas sacudidas, sim, épocas sacudidas, cheias de emoção, mudanças, estamos em uma, coisas muitas ainda de se ver fazer e acontecer, montanha russa, trem fantasma. O bicho da seda, ah, esse ainda vai depender do STF para enrolar.

A roda gigante, bem… melhor não comentar. Não para, não para. Quem está em cima quer descer, quem está em baixo quer subir. Lembra alguma coisa?

Amigos, todos, aí. Peguem a fila. Ingressos na mão, embora não esteja ainda muito certo que os votos das próximas urnas já serão impressos. Esse papel tem poder. Poderá ser necessária uma nova eleição, isso também está em jogo. Guarde esse seu bilhete.

As luzes já estão acesas, com economia, claro; mas o show deve continuar e não há parque sem luz, sem letreiro piscando bem lá no alto: Parque Brasil de Diversões. O risco de apagão que andava sempre rondando a gente diminuiu muito. Certo, pena que por um péssimo motivo. Com a recessão, a produção também baixou e o consumo despencou. Saudades daqueles tempos de real, e mesmo de primeiro governo Lula, quando as coisas vibravam. Podia haver pico de luz por uso, veja só, que tinha esse lado.

roda-giganteNão concordo com a frase/tese que diz que se cobrir vira circo, que não somos palhaços, nem domadores de bestas, dessas tantas que aparecem das trevas. E mais na lona do que já estamos será difícil ficar. Nem se cercar virará hospício. Melhor é pensar no parque de diversões, com realejo. O da sorte e movido a manivela. Com um lindo periquito ou papagaio verde e amarelo tirando nosso destino. Concentre-se, para pedir direitinho.

Entre. Não repare. Esse Parque é bem tradicional, chão de terra batida, ruas esburacadas, brinquedos quase analógicos para uma era tão digital – mas é que estamos um pouco atrasados, esperando uns investimentos que nos prometeram. Tem um monte de coisas para ver. Alertamos que há alguns brinquedos parados por falta de peças de reposição, que foram morrendo, e não surgiram ainda outras que as possam substituir e fazer andar melhor a engrenagem. Têm aparecido só umas peças bem falsas, cheias de leros, o que faz com que tenhamos de ficar bem atentos para não acabar apoiando a serpente que sairá do cesto, mas nos picará de morte.

Parque Brasil de Diversões. Com carrinho de bater e tudo – igual ao trânsito de nossas cidades. Caótico. Um monte de gente que não sabe dirigir e outro tanto de trogloditas. Arma no vidro, parado no farol. Não use celular – ele foi roubado. Amarre o cinto: além de não termos pilotos, temos de apertá-los bem, para ajustes nos buraquinhos.

carrosselO carrossel do Parque mudamos um pouco para que ficasse mais moderno: cavalos por bicicletas. Subindo e descendo com a gente sentadinho no selim. Não ficou legal? Eu adoro carrosséis. Pensando bem, também é bom ir treinando andar de patins ali naquela pista. Se a velocidade já está reduzida, se já não tem onde parar, se querem que a gente compre os carros, mas não os use, pelo que vemos já que estão até fechando até avenidas, eles, os patins, poderão ser nossa solução. Você descalça e guarda na bolsa.

Veio de trem fantasma? Se for mulher, e tiver reclamações contra a onda de assédio sexual nos trens, adiante-se. Nas próximas estações, estarão pendurados os pedaços de mulheres que a polícia e a Justiça devia estar protegendo, mas não apareceram e elas foram cortadas em picadinhos pelos seus algozes. Grite. Salários mais baixos. Desrespeito. Grite. Querem controlar até o seu corpo; as suas decisões. Lá vem mais uma curva.carrossel4

Relaxa antes do próximo brinquedo. Coma uma glamorosa maçã do amor, deixe os dedos grudentos de algodão doce, faça amor com um churro de doce de leite. A vida, creio, de todas as mulheres, é como o caminho do trem fantasma, cheio de sustos, de monstros, de obstáculos.

Tiro ao alvo. Olha só como todos nós poderemos nos divertir nessa barraquinha. Lá na frente vão passando enfileirados todos esses que estão fazendo a vida de todo mundo um inferno da insegurança, vão passando as fotinhos deles, sem parar, e você pode mirar e acertar, eliminando-os da política, da religião, da sociedade. Ganha de presente um futuro melhor, com mais tolerância, convivência com a diversidade, compromisso ambiental.

Eu jogo palavras neles e de vez em quando acerto um.

São Paulo, se preparando para quando setembro vier, e nós quisermos estar primavera, 2015p15Marli Gonçalves é jornalista Pode vir por aí a liberação do bicho de pôr na seda, pelo menos para andar de mascote junto com os usuários. Bom. E a pescaria mais legal seria todos nós jogarmos iscas, pixulequinhos no anzol. É rir para não chorar.

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ARTIGO – Escracho, teu nome agora é Brasil. Por Marli Gonçalves

frogflyDigam-me: há palavra melhor para definir o que está acontecendo nesse país para tudo quanto é lado que se olha? Temo que não. Escracho, em todos os seus mais variados sentidos. Um escracho. Um escracha o outro. Nós escrachamos todos. O juiz escracha uns. Os políticos se escracham entre si. O ex escracha a atual. Eu escracho certas pessoas, de um lado, junto de vocês, que também escracham outros e outros; quando não os mesmos, que todos estão se esculachando felizes da vida. Virou Babel

Na boa, isso aqui virou uma esculhambação total. Que até teria um lado divertido se nós também não estivéssemos sendo grandes vítimas desse processo todo. Volto a pensar se não é alguma coisa que estão pondo na água, tão desmedida e pouco produtiva está essa já muito vergonhosa esculhambação geral que assola o Brasil, e que ultrapassa em muito o antigo Febeapá – o festival de besteiras.

Desde muito criança tinha na Dercy Gonçalves, a Rainha do Escracho com faixa e tudo, e a quem se associa imediatamente a palavra, uma ídola. Imaginava até na minha cacholinha que ela bem que podia ser minha parente. Adorava vê-la fazendo aquelas caras de esgares, a boca de caçapa, da qual vertiam impropérios e impropérios. Adorava, não. Adoro ainda, porque a cada dia que passa ela está mais atual, embora tenha morrido há exatos 7 anos, completados agora neste 19 de julho. Na época, assistia a ela onde aparecia, na tevê; enchi e bati pé para que me levassem ao teatro para vê-la e, já jornalista, sempre que podia tentava ouvi-la sobre algum acontecimento.

Imaginam o que ela diria se estivesse acompanhando o atual momento político nacional? Bippi, xxx, bi,bi,biiii, asteriscos – certamente tudo seria impublicável, tantos falsos moralistas estamos criando sobre este chão e que ela apontaria satisfeita. O engraçado é que sei que ela era até meio reacionária depois de tudo o que passou para se firmar na vida artística, mas imagino o que diria agora ouvindo os discursos da presidente, a falação (ah, aqui ela trocaria uma letra, certamente) das CPIs que a cada dia mais parecem espetáculos burlescos de um cabaré viciado, vendo os cabelos asas de graúna tentando se explicar se roubaram mas não sabiam. Depois de tanta luta pelo respeito à mulher artista, queria saber o que ela pensaria da glamorização absurda da prostituição. Dos pitacos religiosos de plantão. Da gargalhada que soltaria acompanhando os passos da oposição. Ou o topete do prefeito modernudo que se acha o coco da cocada (aqui, ela poria um acento, ah, poria sim).

Imagino-a falando a palavra impeachment de todas as formas, menos a normal, e terminando com um sonoro palavrão e gargalhada sempre. Achei um relato, achei sim, de um centro espírita, onde ela teria “baixado” e os médiuns a repreenderam por todos esses palavrões ditos durante toda a sua vida, e até sobre os oito abortos que sempre admitiu ter feito. Não acreditei que esse espírito era ela mesmo, não xingou ninguém nesta sessão! Acho que a gente quando morre leva pro espírito o que temos de melhor.

GATINHO FRITOPena que Dercy não tenha vivido esses 108 anos completos; só 101. Embora antes de morrer já tenha visto o país começar a virar uma curva esquisita, não imaginaria como tanta coisa se degringolaria e tornaria difícil até diferenciar o ético, o saudável, o progresso quase forçado dos costumes. Veria sendo mantidos os destratos, o racismo, a homofobia, a violência contra a mulher, esse gênero que sempre tem alguém controlando o que faz com a vagina, seus buracos, diria Dercy. “A perereca da vizinha tá presa na gaiola! Xô, perereca! Xô, perereca!”Frogkissw1a

“Represento exatamente o escracho do Brasil”, disse certa vez, completando: “Eu posso ser escrachada, mas não sou bandalha”. Não era mesmo, Dercy. Bandalha é essa gente que está comandando cadeiras importantes de vários poderes.

E escracho é o que estão fazendo primeiro para perguntar depois – polícia escracha; imprensa escracha. A gente escracha, mostra o quão desmoralizados são, não usamos mais nem meias palavras para nos referir até às pessoas às quais deveríamos guardar certo pudor, certo respeito. Mas elas próprias também se escracham, e acabam desmascaradas em seus atos. Provocam nosso escrachamento.

Escracho aqui é tão escracho e tem tanto que perde até um de seus sentidos, o político, aquele de ser o protesto que se faz diante da casa de quem desrespeita os direitos humanos.

Afinal, é ou não é um escracho esse mundo estar dividido em partes? PT e os outros. O PT também estar em polvorosa, o PT puro e o sujo? As debandadas sem ideologia para viver. A oposição apoiar o Eduardo Cunha que é uma síntese do atraso? Cada um correndo para um lado? O país à deriva? O ordenamento jurídico sendo estilhaçado numa primeira instância; juiz endeusado e promovido a herói?

Em cima desse palco tem muita gente, e o assoalho não está firme. Tem ator querendo matar outro para pegar o papel. Nem tudo se pode falar. Nas coxias tem gente sabotando até a comida do camarim. E isso não é uma comédia. Está mais para ópera bufa.

Falta uma Dercy para falar umas poucas e boas – definitivas – ela sim, escracharia de verdade tudo isso, com seu palavrório picante.

friendchainSão Paulo, 2015.

Marli Gonçalves é jornalista – – As pessoas que falavam as verdades na lata, com linguagem pro povo entender, sem rodeios, nos deixam e não estão sendo substituídas. Dá saudades. Da Dercy, de Adoniran, de Cazuza. Esses tantos que merecem ser lembrados, porque nos ajudariam agora pelo menos a escrachar mais bonito.

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A progressista teve as nádegas apalpadas pelo socialista. Notícia imperdível , lá de Mato Grosso…

88womanPSB irá apurar conduta do vereador que apalpou colegamulherzinha esperta

 FONTE>http://www.campograndenews.com.br/politica/psb-ira-apurar-conduta-do-vereador-que-apalpou-colega
Juliana Brum
Vereador Carlão afirma que o partido está acompanhando a denuncia e irão se posicionar (Foto - Marcelo Calazans)Vereador Carlão afirma que o partido está acompanhando a denuncia e irão se posicionar (Foto – Marcelo Calazans)

O parlamentar do legislativo de Dourados passa por processo disciplinar na Câmara porque foi denunciado pela parlamentar Virgínia Magrini (PP), por importunação ofensiva ao pudor.

A progressista teve as nádegas apalpadas pelo socialista, em solenidade oficial da Casa de Lei douradense, que fica a 233 km de Campo Grande.

“O partido não compactua com tal atitude. O PSB é defensor das causas das mulheres, idosos e da infância e juventude. O partido pode adverti-lo ou até expulsá-lo dependendo do entendimento sobre o caso” declarou o vereador Carlão.
Segundo Carlos Augusto o partido não foi comunicado oficialmente sobre o processo disciplinar aprovado unânime na sessão da última segunda-feira (15).

ARTIGO – Os humores e os certos nojinhos. Por Marli Gonçalves

EwwwwwForam me chamar, eu estou aqui, o que que há? Desisto. Não vou ficar quieta. Você liga a tevê e o que querem te vender, além de linguiças, carnes, carros, bancos modernos e móveis solúveis em pouco tempo? Desodorantes. Desodorantes íntimos. Outros, nem tanto. Querem que você tenha nojinho de si próprio! Sai fora.

Sensação de calcinha limpa todo o dia, e a moça sorridente em suas inúmeras atividades diárias, além de tropeçar em um coitado de um gato quando acorda, correndo para ir ao banheiro para logo pôr o tal negocinho protetor. Zap. O moço bonito passa o desodorante e, logo depois, passa o próprio dedinho nas suas próprias axilas, para horror da voz feminina em off que o repreende severamente: “é estranho”, sentencia, deixando-o com cara de otário que caiu do caminhão de mudança. Zap. Agora tentam vender um shampoozinho rosinha para calcinha, mais uma tranqueira especial, separatista, que ordena um verdadeiro isolamento dessa peça tão charmosa e de personalidade, mas fadada a tomar banho longe das outras e em outros aposentos.

Não bastasse a repressão rigorosa aos nossos eflúvios, toma ouvir falar da polêmica comercial do comercial da comercial perfumaria do Dia dos Namorados, voltado ao público gay. Delicado, feito com cuidado, mas o seu aroma chegou aos empertigados narizes desses políticos de última, que sempre me parecem desdenhar, mas quererem comprar – se é que me entendem. Enfim, como nunca vai mais parar de piorar, surge gente atribuindo àquela mulher, glorinha, chic, chique, que ela teria falado uma pérola que até os porcos desdenhariam. “O único problema que vejo nesta campanha é que os gays não usam Boticário, e sim, perfumes importados”. Tá bom, não foi ela, mas é que como a moça só conhece bicha rica/chique, e gosta de sair distribuindo regras e condutas, até que combinou. Ela não perderia um patrocinador desses. Não deve ter dito isso mesmo. Tem de dar um pulo no meio da Parada Gay para ver quem e como são os gays brasileiros, a massa, aplaudi-los por suas audácias no meio de duras realidades.

Há muitos anos conheci uma moça – foi até próxima – mas da qual me lembro mais por um único detalhe: ela usava um sabonete para cada parte do corpo, de tanto nojinho, um pouco de TOC, outro de imbecibilidade – sim, tinha esse componente. Lembro que era de tal forma reprimida que certamente nunca tinha se tocado, ou mesmo se admirado nua. É o que querem que a gente pire, tal sorte de produtos que estão sendo lançados para tirar nossos cheiros, os corporais, os que deixamos no meio ambiente e os de nossas roupas. Alguns produtos são tão fortes que parecem Pinho Sol, Lysoform – pioram a emenda e o soneto. Quem usa transporte coletivo poderá atestar tranquilamente o que digo. O quanto sofrem com perfumes, loções e desodorantes mata-ratos.

Gifs 3D bem legaus 6Estão confundindo higiene, a fundamental e indispensável higiene, o banho, a limpeza, o asseio, e forçando a mão para que tenhamos os tais nojinhos de nossas próprias exalações e emanações. Há ginecologistas alertando para o perigo – ficar mudando muito o cheiro tira tesão, façam atenção. Somos humanos, mas temos muito ainda de bicho e de instintos naturais que se dissolvem se disfarçados assim. “Cada pessoa tem seu cheiro que é responsável por ativar áreas do cérebro relacionadas à excitação e ao orgasmo. É preciso cuidado ao mascarar o próprio cheiro, o que está diretamente relacionado com a sexualidade”– explicam. Fora as alergias cada vez mais terríveis dos pacientes que têm chegado aos consultórios. Tudo também na conta de que há tanta repressão que as mulheres não se tocam nem para se lavar, preferindo esses artifícios que acabam com o pH da pele. Os homens, então, ah, esses também não sabem bem limpar as suas coisas direitinho.

Nessas de saber mais sobre esse aspecto, me deparei com a – de alguma forma, genial – base da medicina hipocrática, a teoria dos quatro humores, e que originam também a palavra que tanto usamos e apregoamos, humor.

Segundo a teoria, que prevaleceu até praticamente o Século XVII, os líquidos que correm dentro do nosso organismo quando desequilibrados levavam às doenças e dores. Divididos em qualidades, sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra, vindos, respectivamente, do coração, sistema respiratório, fígado e baço, determinariam até nosso próprio temperamento. Como os quatro elementos, ar, fogo, terra e água, quentes e frios, expressariam tanto pessoas amáveis e alegres, como irritadas, ou desanimadas, por exemplo. As com mais fleuma (das veias linfáticas) seriam moderadas, frias, “diplomáticas”. Daí até outro termo, quando dizemos que alguém calmo ou impassível, até elegante, tem fleuma.nojinho 3

As curas viriam do controle desses líquidos- com ervas de efeitos diuréticos, purgantes, sudoríferos e soníferos. Rolava até uns sanguessugas para ajudarem no serviço em busca do equilíbrio perdido. Interessante.

(Fim do momento Marlizinha também é cultura… )

Liberdade para nossos humores! Nossas seivas, eflúvios! Chega de deixarmos nos forçarmos aos certos e errados que criam desajustes com nossos próprios corpos, vergonha de nossos próprios cheiros. Imposições tão depreciativas que têm levado tanta gente mais rápido para debaixo da terra; “lá”, nada disso tem muito valor, muito menos perfume. Gordos, magros, siliconados, bombados – todos vão para o mesmo destino. Alguns estão indo embora até muito mais rápido, de tanto que quiseram ficar bonitos e cheirosos.

Papai-Noel-desmaiando-com-cheiro-ruim-da-meia_1340Relaxa. Como tão bem e freneticamente disse Rita Lee, legal é ser bonito e gostoso, para você olhar, cheirar e quere. “Eu sou uma fera de pele macia, Cuidado, garoto, eu sou perigosa…”

São Paulo, no Santo Antonio`s Day, 2015

Marli Gonçalves é jornalista – – Um grande amigo, alucinado por cinema, dizia, maroto: “Se até a Elizabeth Taylor peida, porque eu não posso?”

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ARTIGO – Vamuquivamu. Por Marli Gonçalves

Walking graphicsAntes, quando me perguntavam se estava tudo bem, respondia habitualmente até sorridente: “Tudo sob controle”. Achava que definia bem, nem bem sendo a Poliana, nem bem sendo Cassandra. Um meio termo. Ultimamente não dá mais, porque não há nada nada sob controle a não ser a própria imprensa, de certa forma. Então passei a responder: “Vamuquivamu, vamuquivamu”. Diz tudo, né? Se quiser adotar também, fique à vontade. Não vou cobrar.Tudo bem por aí? Sinceramente estou aqui torcendo para que a sua resposta seja que sim, está tudo bem. Mas por mais otimista que eu seja – e sou – temo muito que a partir de agora você também vai é pensar bem e usar e começar a responder vamuquivamu. É educado, tem até certo humor, embute, mas não aceita, uma resignação do momento nacional. O “fazer o quê”? É o que temos no momento. Mudar requer esforço e está todo mundo cansado dos mesmos e mesmas, inclusive dos mesmos assuntos que parecem jamais ter solução – ano após ano. Parece que somos movidos a manivela. Quebrada. Descarrilhada, inclusive; tem coisas que, ao invés de melhorar, progredir, modernizar-se, estão andando para trás com assustadora rapidez.Walking graphics

Eu mesma me sinto a própria Penélope tecendo o pano da vida de dia e desmanchando depois, mas o meu próprio sudário, sempre à espera do grande amor, do meu “Ulisses”, enquanto isso mergulhando e emergindo de relações frustrantes, navegando. São muitas primaveras, verões, outonos, invernos, aguardando. Vamuquivamu, mas Vamuquivamus! Tem movimento. Ação. O ir. O mexer o traseiro, tirá-lo da cadeira, ligar o motor.

Nosso país, aí, sempre enrolado em sua própria história. À espera de que o bom senso recaia sobre a mente humana, e que todos se deixem ao menos viver em paz. Mas não param de surgir guerras, estúpidas, algumas íntimas entre quatro paredes, outras gritadas aos quatro cantos e sete ventos, tentando chamar a nossa atenção, nosso olhar.

Coisas assim. Não podemos calar sabendo todo santo dia que uma mulher, ou várias mulheres, porque agora tem dia de sabermos de mais de duas, três, foi assassinada com requintes de maldade porque disse não, não quero, vou embora. Esquartejadas, apedrejadas, espancadas, massacradas. O noticiário diariamente apenas chama de crime passional, ou seja, crime motivado pela paixão (e por total falta de controle emocional). Se esquece o assunto quase como se o crime então tivesse uma justificativa. Pergunto: que paixão é essa que extermina? Tanta luta pela independência da mulher, por busca de espaços, pela liberação da sexualidade, para ainda ver tanto sangue, tanto preconceito, violência, tanta discriminação, ouvir tantas bobagens? Como saber de homens achando que mulheres vendendo-se por moedas podem ser sinceras com os que as pagam para se submeter, e que isso seria ideal? A mulher ainda sendo vista como cidadã de segunda classe? Pior é que maio é mês de aguentar firme tudo quanto é tipo de pieguices à mulher relacionadas. Toma Dia das Mães e bochechas rosadas e risonhas; rios de perfume barato como sugestão junto com eletrodomésticos, para que ela se mantenha domesticada. Toma Mês das Noivas com todo aquele ritual que diz sim e casa junto com os nubentes, alegrias, gastos e gastos, finais nem sempre felizes.Walking graphics

Ter que aguentar tontas famosas – como é que é, mesmo dona? A tal Paglia que se diz feminista que não é feminista, coisa confusa parecida, vir falando em obrigatoriedades de ser mãe, carinhos, nheco-nheco, pi-ri-ri. Que mulher deve ser maternal e parar de culpar o homem? Essa estudou, estudou, para não entender é nada.

Isso é outra coisa que anda me enchendo. Os que acham que porque podem ficar praticamente a vida toda estudando, mestrando, doutorando, são melhores, superiores aos outros, que estão na prática, pisando no chão, e já quase respirando por aparelhos, com máscaras. Quantas vezes passam por mim insistentes teses, o que dá vontade danada de mandar, bem, deixa para lá, melhor não dizer para onde. No jornalismo que se esfacela a olhos vistos isso tem sido comum. Lindas “formulações” em inglês entre pessoas que mal sabem falar e escrever o português, mas ficam discutindo “a utilização racional da semiótica aplicada à convergência comum das mídias e à estratificação dos parâmetros para o tabelamento digital de tecnologias múltiplas e multifacetadas”.

Podiam catar coquinhos, ou se quiserem ser mais “internacionais” podem ser coquiles.

Mas vamuquivamu. O show sempre deve continuar. A gente tem de conseguir sair desse atoleiro gigantesco, providenciar soluções, executá-las.

Para poder logo, o mais rápido que nos for possível, voltar a responder ao cotidiano Tudo bem? – Tudo sob controle. Relativo. Mas sob controle.

E que possam começar a surgir novidades, aparecerem novas propostas e desafios, convites, para podermos voltar a usar o vamuquivamu! para algo bem melhor.

São Paulo, maio despontando, 2015

 Marli Gonçalves é jornalista – – Totalmente passional. Pela vida. Pela alegria. Pela liberdade. Por ideias arejadas.

ARTIGO – A terrível peleja da mulher contra o Cabra Diabo que machuca e mata. Por Marli Gonçalves

Woman_boxer_2Sente o cheiro empesteante de sangue no ar? Consegue ouvir os gritos de socorro, o barulho dos tapas? Ouve as ameaças, os insultos, os palavrões, as acusações, os xingamentos? Ouve o choramingo da criança pedindo, desesperada, Pare! Pare! – e as portas batendo, o som abafado dos tiros? Consegue reconhecer esse outro som oco, o estocar da faca cortando, entrando, furando, esbugalhando? Não tampe mais os ouvidos, não feche mais os olhos. Nesses poucos segundos uma mulher poderá ser assassinada. Nos últimos anos, estima-se que ocorreram, em média, 5.664 mortes de mulheres por causas violentas cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia

Consegue notar a barbárie? Pode perceber a selvageria da questão que ainda estamos tendo de tratar em tempos ditos tão modernos, tão resolvidos? As mortes de mulheres, as muitas assassinadas por seus ex-companheiros, namorados ou diabos que cruzam seus caminhos, a violência contra a mulher está de novo desmedida, descontrolada, cruel e isso ainda sendo tratado como assunto de segunda ordem. Basta. Todo dia sabemos de um caso mais cruel e escabroso que outro.

Vamos falar desse assunto, senhores e senhoras, brasileiros e brasileiras, meu povo, minha pova? Dona presidenta, valenta, para que está servindo ser uma mulher no poder, se a senhora só faz, diz e se preocupa com masculinices? Como conseguiremos expor esse problema tanto quanto os gays estão conseguindo visibilidade agora? (Pior é que quanto mais viram “mulheres” os homens gays, nessa inversão de papéis, essa mesma violência já os atinge)

Se preciso for, podemos usar várias linguagens, tirar a roupa, botar alguma roupa simbólica, ir às ruas, pintar o sete. Aliás, lendo sobre o assunto, descobri que teve um cabra que compôs um “repente” e que ficou até oficial, cantado em ato da Lei Maria da Penha. (http://youtu.be/8G9Ddgw8HaQ). Pena que tantos atos oficiais para chamar a atenção para o problema não virem atos objetivos contra o problema, por exemplo, como proteger a mulher que denuncia. Por aí, vagando, já que agora viraram fantasmas, está cheio de mulheres que denunciaram, pediram socorro, uma, duas, três vezes. Encaro até tentar criar uma literatura de cordel, embora é capaz de algum coroné querer censurar e proibir, porque seria violento demais o meu relato; já tive minha peleja particular, sou sobrevivente.

Mulheres mortas a facadas, facões, serrotes, marteladas, tiros, porradas, cacetadas, encarceradas, estupradas, decapitadas, torturadas, emparedadas, encurraladas, até postas para cachorro comer, conforme diz a lenda no caso Eliza Samudio, o corpo que sumiu no ar. Empurradas de janelas, mantidas em cativeiro, ameaçadas de perder seus filhos, sua honra, suas famílias, aleijadas, queimadas, desfiguradas.women mudando de roupa

Eles? Estavam nervosos, corneados, bêbados, drogados, paranoicos, perderam a cabeça, ouviram vozes que mandavam – cada canalha tem uma desculpa e uma versão dos fatos, até porque em geral são eles que ficam vivos para contar a história para atentos policiais homens que irão registrar a ocorrência, “investigar com rigor””. Digo isso, porque temos tido também muitos exemplos recentes de celerados que, depois de fazer o “serviço”, se matam também – enfim, já vão tarde. Esse tipo costuma levar para o inferno não só a mulher, como os filhos e às vezes, os parentes que estiverem próximos.

Tenho até azia ao ler no noticiário relatos como “…mas ele era tão calmo, homem bom, trabalhador, quem diria…” Não seja cúmplice. Não tente justificar. Violência não se justifica. Repita cem vezes. Violência não se justifica.

Feminicídio ou femicídio – esse é o nome da violência fatal contra a mulher. Pouco importa se homicídio, feminicídio, melhor chamar de extermínio de mulheres por machistas psicopatas e descontrolados. Essa é uma questão de gênero, de saúde pública, de segurança pública, de cidadania.

Os fatos são esses. Anote. Vamos fazer algo contra a violência contra a mulher. Veja se a Lei Maria da Penha está sendo levada a sério, cumprida. Se quando a mulher vai denunciar é bem atendida. Se continuam funcionando ou, melhor: como não funcionam as nossas à época tão festejadas Delegacias da Mulher – vamos lá ver se estão preparadas, equipadas, com equipes treinadas. A resposta será Não. E não. E não.

Animated%20Gif%20Women%20(35)Saiba mais sobre a crueldade, dessa cruel realidade e suas estatísticas: 52% das mulheres vítimas têm entre 20 e 39 anos: 31%, idade entre 20 a 29 anos, e 23% tinham entre 30 e 39 anos. 62% do total, mulheres negras ou pardas. 61% das mulheres assassinadas em 2012 eram solteiras, 13%, casadas. Só em 2012 foram 393 mortes por mês, 13 por dia, mais de 1 morte a cada duas horas.

Aproximadamente 40% de todos os homicídios de mulheres no mundo são cometidos por um parceiro íntimo. No Brasil, de 2001 a 2011 calcula-se que foram mais de 50 mil assassinatos, ou seja, aproximadamente 5 mil mortes por ano. Um terço ocorreu no local onde moravam.

50% dos feminicídios tiveram o uso de armas de fogo; 34% foram com algum instrumento perfurante, cortante ou contundente. Enforcamento ou sufocação foi registrado em 6% das mortes. Maus tratos – incluindo agressão por força corporal, física, violência sexual, negligência, abandono e maus tratos (abuso sexual, crueldade mental e tortura) – foram registrados em 3% dos casos de uma pesquisa que abrangeu uma década de estudos.

E atenção! Cuidado com sábados e domingos, mulheres: 36% dos assassinatos ocorreram aos finais de semana, 19% deles naqueles domingos que parecem tão modorrentos.

E que ninguém culpe o Faustão, o Fantástico, ou a Rede Globo por isso. Nem o Fernando Henrique, o FHC.

Animated%20Gif%20Women%20(63)São Paulo. 2015. Dia da Mulher, vamos aproveitar que estão falando da gente, para tentar nos salvar.

Marli Gonçalves é jornalista – Quando precisou de ajuda teve pouco apoio. E vejam que já lutava contra isso o que talvez tenha sido a salvação, ontem, hoje e amanhã. É muito difícil falar sobre isso. Dói onde ficaram cicatrizes. E ainda ter de ver, sentir e ouvir quão desconsideradas podemos ser, nós, mulheres, as que não optaram pela vida fácil e submissão.

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ARTIGO – A revolta da bílis verde e amarela.Por Marli Gonçalves

Crculovicioso.gif~c200Incrível como podemos ouvir até o barulho de tudo indo abaixo (só não posso dizer pela água) em velocidade que  não é surpreendente porque nada mais surpreende a gente nesse país. Se bem que é melhor também não falar muito porque parece que a capacidade de piorar é mesmo infinita

Sei que a Petrobras veio à sua cabeça, mas já tem tanta gente falando dela, dando um pau, destroçando as últimas decisões completamente desacorçoadas, que não preciso ser mais uma. Impressionante. E a orelha da presidente, se é verdade que a orelha esquerda coça quando a gente fala mal, já deve estar lá caindo os pedaços – na direita, a que coça quando se fala bem, dá para ela manter o brinquinho de pérolas.

Quero puxar seus olhos para que veja mais coisas que estão atrás da porta, despencando, falindo ou uma palavra mais certa, se deteriorando quase na velocidade da luz.

Ops!

Luz, não, que está periclitante a questão da energia, com perigo de apagões e apaguinhos. Pronto.

Tá bom: cito primeiro a ética, que deve andar sequestrada por aí, a vergonha na cara, o uso de máscaras, mas de outro tipo. O “barata voa” das decisões e principalmente das indecisões. Não há mais lustra-móveis de peroba que dê jeito nas caras de pau. Pensar o Brasil em termos de flechinhas verdes para cima, quando algo melhora, e flechinhas vermelhas (sem ironia, apenas coincidência de cor) para baixo quando vai mal, vai nos dar saudades do verde, outro item que, além da bandeira, anda massacrado, desmatado, queimado, derrubado.

Mentiras, por exemplo, são ditas na nossa lata. Descartáveis, como tudo, e o que deve ser a moda desse futuro próximo. Continuamos sem saber porque tudo que a gente pega na mão no supermercado subiu de preço – alguns até mais de 50% – e a maioria não tem qualquer álibi para tal. Não tem lógica. Sobe aos pulinhos. E o nosso coração sofre, partido, por não poder levar aquela coisinha para casa, para nossa família. Me sinto uma verdadeira atriz do Massacre da Serra Elétrica, que corta sem dó os itens da lista de compra, mais magrinha do que governantes em regime Ravenna, que também já está me dando no saco de tanto ouvir falar.

Um amigo viajante outro dia me pareceu esgotado e eu perguntei por quê. A resposta foi precisa: está tudo ruim, aeroportos, estradas, hotéis, comunicação. Tudo fica mais difícil, demorado, arrastado. Já não somos tão jovens para calar sentados em um rolemã ladeira abaixo. E olha que não estou me referindo a qualquer saudosismo, digo isso sobre coisas que ao invés de serem criadas, como o foram, e ficarem melhores, estão piorando a cada dia. Tudo isso “sobe para a cabeça” dessa sociedade perplexa e influi diretamente nos relacionamentos pessoais.circulo vicioso

Serviços públicos e seus servidores cada vez menos eficientes. Não temos água para jogar pedras e fazermos círculos concêntricos, mas nossas vidas estão em terrível círculo vicioso. A violência nos tira das ruas; e as ruas ficam ainda mais perigosas. Redes sociais deviam servir para unir – mas todo dia sabemos que houve um assassinato por conta delas, e a violência contra as mulheres parece não chocar mais, e agora já são os adolescentes que destroçam namoradas – gente que não vai ter nem o prazer de amadurecer para entender o que é o verdadeiro amor.

Precisamos de conscientização -há anos batemos nessa tecla – e de uso racional dos bens naturais. Há uma paranoia no ar e para onde olho vejo gente carregando água, num desespero atroz causado pela falta de informação confiável – já que não se confia mesmo em mais nenhuma informação da fonte que devia ser confiável e não é, muito menos para beber. Círculo vicioso e viciado, que não vai ter quem acabe com essa dependência, nem passo após passo.

awesome_rings_water_amazing_gifsQuando mais precisamos de higiene, proíbem crianças de lavar as mãos e escovar os dentes. Os reservatórios de águas paradas e malparadas viram criadouro dos pernilongos da dengue e chikungunya, ainda mais virulenta. Baratas e ratos daqui a pouco ganharão pista própria na cidade, pintada de alguma cor diferente, para pararem de atropelar nossos pés. Já que por aqui, em São Paulo, o prefeito continua com a brocha na mão, pintando, ou numa variação, com o spray, grafitando até patrimônios culturais tombados, como se a cidade tivesse feito um clamor por isso e não houvesse nada mais que ele precisasse fazer, além, claro, de arrumar o cabelinho na testa e ficar vendo a oposição criar barba e barbicha.

Tudo danificado, estragado, agravado, alterado, adulterado, decompondo, degenerando, deteriorando, modificado, falsificado, perturbado, apodrecido. Cada vez mais caro, descontrolado. Como eu gostaria de poder dizer tudo ao contrário, mas dia após dia só parece mais difícil.

whack_a_mole_revenge_by_mrdoctorunk-d62csw0Não me admira que se respire revolta. Temo apenas a hora que o povo enjoar de vez e começar a vomitar a bílis. Ela será verde e amarela.

“Feliz desaniversário”! – diria o coelho maluco de Alice. “Elementar, meu caro Watson”, diria Sherlock Holmes.

São Paulo, cidade perplexa, 2015

Marli Gonçalves é jornalista — Percebeu que sumiram os videntes? Das duas uma, ou já se picaram, ou viram as evidências do futuro próximo e estão com medo de nos contar o que estão sabendo.

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