ARTIGO – O país de uma nota só. Por Marli Gonçalves

Chaaata! Uma nota só, e que não é de samba bom, vira mania para qualquer assunto e é uma nota perturbadora, porque seja qual for o assunto parece sempre se obrigar a dividir em apenas dois tons de opinião, como se muitos outros tons não houvessem, ou não precisassem ser considerados para o melhor entendimento e posicionamento em qualquer questão. Fora que outros assuntos importantes acabam negligenciados.

A tecla fica até gasta. O debate, cada vez mais pobre. Gente atarracada numa posição, grudada mesmo, moucos a qualquer contra argumentação. Moucos, mas estridentes, porque não param sequer um instante de repisar, enviar “gracinhas”, ataques, informações falsas, memes de mau gosto e etceteras esculhambando quem ouse mudar o ritmo e tentar trazer algum fato ou argumentação que navegue entre o sim e o não. Recordei muito de uma antiga propaganda, creio que de tintas, se a memória não falha: O que seria do vermelho se todos gostassem do azul?

O indefensável. Não poderia haver exemplo maior do que alguns fatos desses dias, como a desastrada declaração de Lula, que juntou a palavra Holocausto e sua triste memória ao horror da guerra que se desenvolve mortal e cruel no Oriente Médio em pleno 2024, criando uma polêmica que a última coisa que conseguiu foi buscar a paz ou solução, desviando a atenção, piorando as coisas, e sendo utilizada para aumentar o barulho e ainda mais a divisão. Ou, também, como a inócua discussão ainda tentando absolver o abominável e fracassado – além de cheio de provas – plano de golpe perpetrado pelo grupo que, travestido de verde e amarelo, tenta reescrever a palavra patriota, sempre com a tinta do ódio e da divisão que assistimos nos últimos anos. E, pior, muito pior, agora envolvendo o delicado aspecto da religião. Tudo isso para aumentar o grau de fervura que querem levar para as ruas.

Assim, fica difícil expressar a falta de cuidado das declarações do atual presidente, para quem o considera intocável. Virou guerra também. Criticar muitas das medidas tomadas monocraticamente pelo Xandão, o xerife. Enumerar a lista telefônica de barbaridades cometidas durante o Governo Bolsonaro, às quais se soma agora a execrável caminhada pró-golpe que ainda tentam defender, mas que quem viveu o negro período da ditadura militar ainda mostra no corpo e mente as suas cicatrizes.

Outro dia precisei pedir, com muito cuidado, mãozinhas juntas, a um velho jornalista e amigo descambado que, por favor,  não mais me enviasse vídeozinhos ridículos – a gota d´água foi um sobre dois otários segurando uma faixa pedindo o impeachment de Lula em cima de um viaduto – ou mensagens quilométricas de como os militares consertariam o país. A resposta foi que, como jornalista, eu seria obrigada a ver, como se nas quase 18 horas diárias de trabalho nas quais passo na ativa diante do mundo já não fosse obrigada não só a ver, ignorar ou mesmo responder a coisas até piores que parecem mostrar o país indo para um brejo do qual demoraremos a tirar o pé. Chegam por todos os lados: e-mails, redes, imagens. E até no noticiário oficial, diário. Atrapalha o serviço de uma forma indescritível.

O país de uma nota só está de tal forma cansativo que, ao mesmo tempo, tenho conhecido muitas pessoas que fogem de tudo isso, como se diz, como o diabo foge da cruz, e se alienam em seus sins ou nãos, sem qualquer vontade ou capacidade de rever a posição, que acaba cristalizada, como assistimos.

Pior é a dificuldade que tudo isso traz exatamente quando queremos mudar de assunto, uma vez que tantos estão na lista de espera. Quase impossível. A verdade é cada vez mais alcançamos menos, falamos mais para nossos próprios bandos na refeição feita com uma só panela. Na mistura, o tempero vem sendo complexo: misoginia, preconceitos de todo o tipo, individualismo, verborragia, e, por fim, a liberação de aspectos que jamais imaginávamos encontrar em muitos dos que nos cercam.

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marli goMARLI GONÇALVES Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Vai-Vai. Quem vai? Quem não vai? Por Marli Gonçalves

Vaivai, vai, vainão vou… Mais uma coisa bem chata para acompanhar esses próximos dias, como se ainda faltasse programação, além de tictacs, toctocs e a captura de dois fugitivos lá no Rio Grande do Norte: a listinha de confirmações, os convidados para o palco da festinha dominical temporã e sem noção programada para causar tumulto na Avenida Paulista daqui a alguns dias. Quem vai ter coragem de mostrar a carinha?

vai vai, quem vai

Não que ainda seja necessário, haja dúvidas, porque a cada dia estão mais claras e comprovadas quais foram as intenções, os participantes e simpatizantes da tentativa de golpe e perpetuação no poder do grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro. O que causou as balbúrdias e o vilipêndio dos símbolos nacionais, os mesmos que novamente querem que sejam usados como uniforme de identificação. Será a tentativa de defesa do indefensável. Mais uma aposta na divisão do país que há mais de um ano tenta se reencontrar em paz novamente. Mas está difícil.

Repito que estamos em busca do tempo perdido, sem a poesia de Proust. As ervas daninhas continuaram a crescer, e ao que parece cada vez de forma mais desordenada de todos os lados.  Redes sociais agitadas, robôs em ação espalhando fake news e discursos para confundir aqueles que não sabem de todas as coisas da política.

Qual desfile veremos na avenida? Que outras cores? Do outro lado, torcidas organizadas de vários times garantem presença no mesmo dia e hora, em defesa da democracia atacada. Coisa boa daí não sai.

Enquanto isso o homem que virou xerife, há de ser dito, dá ordens também estranhas, ultrapassando os limites jurídicos do poder que vem concentrando em suas mãos e criando, assim, mais uma divisão. Distribui sentenças de mais de década a uns coitados usados pelos poderosos como linha de frente da destruição de 8 de janeiro, enquanto os mandantes e influenciadores continuam por aí atrás, inclusive, de angariar mais incautos que se rebelem por eles. Tudo fica mantido: o que posa de coitado para se manter em destaque. O que se destaca para continuar impune. Os que aparecem como salvadores perdendo as oportunidades com o tempo correndo, quando tudo poderia já estar caminhando melhor, incluindo aqui as falas e atos do atual presidente.

Vai-Vai é nome de escola de samba, inclusive a que este ano trouxe uma ala infernal que irritou a polícia ao retratá-la violenta no que é quando empunha escudos. E a questão diariamente até lá será: quem vai, quem não vai? Como se comportará a plateia de mais esse show de horror?

Mais dias ainda de o Brasil acompanhar a captura dos dois fugitivos da prisão de segurança máxima em Mossoró, RN. Não podia acontecer, mas aconteceu. Parece que esqueceram que preso – em qualquer lugar que seja –  só pensa em fugir, maquinando ou aproveitando qualquer chance ou oportunidade, e no caso parece que algumas ajudaram – inclusive a inépcia da segurança cheia de buracos do local, apenas agora identificada, embora realmente seja mesmo estranho segurança máxima sem muros, só com telas. Se capturados, ouviremos desculpas e requintadas explicações.

Temos um arrastado ano eleitoral pela frente, onde qualquer detalhe será usado para se jogar no tabuleiro.

Pior é não faltarem detalhes, porque de sobra há tempo perdido em todos os setores. Enfrentamos uma epidemia de dengue, sem vacina para todos; vacina, entre outras, contra Covid, ainda demonizada pela ignorância que não se satisfez com as milhares de mortes, o que contribui para que a doença ainda esteja aterrorizando a todos.

O país do Carnaval busca enredos cada dia mais difíceis de serem compreendidos, e o samba com certeza vai desafinar. Lembro bem – e a tempo – de um trecho de “O Canto de Ossanha”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes:

“… O homem que diz dou (não dá)/ Porque quem dá mesmo (não diz)/  O homem que diz vou (não vai)/ Porque quando foi Já não quis/ O homem que diz sou (não é)/ Porque quem é mesmo é (não sou)/ O homem que diz ‘tô (não ‘tá)/ Porque ninguém ‘tá” Quando quer/ Coitado do homem que cai/  No canto de Ossanha traidor…

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marliMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

Camelôs, muambeiros e sacoleiros. Por Marli Gonçalves

Eles viraram, durante e após o período que governaram o Brasil, camelôs, muambeiros, sacoleiros. Se papai vivo estivesse, estaria assistindo aos telejornais e resmungando, tenho certeza: “esses cabras são mais sujos do que pau de galinheiro”, que ele não deixava por menos.

O assunto é fácil de entender claramente, e só não o fará quem estiver dopado, ensopado, enganado e contaminado pelas mentiras que nos últimos anos nos cansaram, nos deixando esgotados a ponto de, pelo menos eu, rezar para que esses nomes todos sejam esquecidos, mas parece mesmo impossível. Fatos vergonhosos, que nos atingem como Nação e como um povo que de um tudo faz para melhorar sua imagem no exterior, sempre estereotipada. Escândalos em cima de escândalos e esse último que nos chega ao conhecimento, com provas, imagens e detalhes, mostra o quanto esse grupo travestido de verde e amarelo pode ser tão, tão, tão…_______________ (vou deixar para o(a) querido (a) leitor(a) completar, porque agora, no calor, nada que me veio à cabeça para definir seria publicável em veículos de respeito. Teríamos de tirar as crianças da sala).

Não bastou o avião cheio de drogas. As motociatas pagas com dinheiro público, a ocupação, as fake news, o horror e ignorância. O negacionismo que nos atrasou e deixou que a pandemia matasse mais e durante mais tempo até que as vacinas chegassem. Não bastou os constantes e agressivos ataques às mulheres, aos repórteres, aos gays e minorias, as frases de mau gosto, aquele sorrisinho sarcástico com os olhos injetados. Aquelas continências e incontinências militares, o cercadinho, os cortes de verbas para as áreas sociais, o esquecimento de programas, a perseguição aos cientistas. Não bastou serem de direita, e acharem isso lindo. A boiada passando, queimando, corroendo nossas matas. As declarações de ministros e autoridades citando como suas frases nazistas. Um negro contra a luta pelo fim do racismo. As poucas mulheres do poder predominantemente masculino fazendo muxoxo das lutas femininas e feministas. Uma primeira dama de joelhos, terrivelmente evangélicos, entoando cantos incompreensíveis. O rosa e o azul definindo gêneros. Os planos de ficarem grudados no poder.  A lista é ainda maior.

Agora surgem os aspectos deles camelôs, muambeiros, sacoleiros, formando um grupo de ação “entre amigos” ampliando em benefício próprio um gigantesco e milionário butim, que pelo que vemos ainda tem apenas uma ponta do lençol levantada. Não é igual quando a gente ganha um presentinho repetido ou que não goste e que o repasse. Trata-se de joias, pedras, relógios, objetos de luxo, esculturas folheadas que atraíram a cobiça deles a ponto de levá-los embora do país na calada do fim do ano e de governo, nas sacolas que passavam livremente nos corredores do poder. Postas à venda. Até em leilões. Embolsaram, isso, foi pro bolso, em dólares. Mais um escândalo para a nossa coleção nacional, essa sim, uma coleção que não para de crescer, governo após governo.

Daqui imagino os chefes árabes que ofertaram os presentes ao saber dessas notícias nesse momento se reunindo em suas tendas para fumar um charuto e dar boas risadas entre eles, por exemplo, no caso da palmeirinha que tentaram vender achando que suas folhagens eram de ouro, e descobrindo que apenas eram folhadas, de pouco valor. Tinha um barquinho também. Ouro de tolos.  Sacudindo as joias que usam, como sinhozinhos maltas, devem rir muito do olho que esses brasileiros espicharam para os vistosos Rolex, canetas, colares, brincos que presentearam jogando como se fossem amendoins, em troca do quê ainda bem queremos saber. Ou por apenas serem esbanjadores generosos?

A polícia dirá. A história dirá. Se a Justiça punirá, e quando, e como, serão outros quinhentos. Haja ozionoterapia, agora aprovada mesmo contra todas as recomendações, e já que estávamos mesmo falando em escândalos.

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MarliMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).

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ARTIGO – Os novos e esquisitos terroristas. Por Marli Gonçalves

Os novos terroristas brasileiros deste século, ainda bem que se filmam e fotografam, porque se a gente contasse sem estas imagens seria difícil acreditar, até parece piada. Seria cômico se não fosse trágico. Mas a vontade de rir deles acaba com a visão da destruição que promoveram em Brasília no fatídico 8 de janeiro deste novo ano. Idosos, gordinhos, feios, classe média, aposentados, maioria branca, deselegantes, uniformizados com bandeiras nacionais que improvisam como decoração e adereços, lenços, cangas, capinhas de super-heróis prestes a levantar voo
DONA FÁTIMA - TERRORISTA
NOVOS TERRORISTAS DO SÉCULO – Essa é Dona Fátima
Vovó que quebrou tudo em Brasília tem antecedentes - Extra Classe
NOVOS TERRORISTAS DO SÉCULO – Essa é Dona Fátima, em ação, orgulhosa dos estragos que fez

O olhar alucinado, a impressão até que uma baba escorre de suas bocas, uma ignorância sem limites, o traço comum entre as centenas de “terroristas”, como foram imediatamente taxados, e que invadiram e depredaram tudo o que encontraram pela frente na Praça dos Três Poderes. Alegres, sem qualquer compromisso a não ser o grave ataque em massa às instituições do poder e democráticas, buscavam – em um passeio turístico até a Capital Federal – um Golpe de Estado, como fica cada vez mais claro com o andar das investigações. Com organização, financiamento e comando de cabeças que esperamos nos sejam entregues imediatamente, foram gestados em “células” – outra piada, porque as tais células eram em grande maioria ao ar livre em acampamentos diante de quartéis, com comida, sombra e água fresca. Será que tinham roupa lavada também? Inclusive, com ajuda de custo.

Com tudo isso tão ao descoberto, durante meses antes e após a eleição presidencial, outra boa pergunta é como se deixou que essa situação se mantivesse. Anote aí, são vários detalhes que precisamos saber as respostas.

Ao contrário dos terroristas da luta armada atuando na clandestinidade contra a ditadura militar, em geral jovens idealistas, intelectuais, alguns estudiosos e já respeitados em suas áreas de atuação, os atuais, de acordo com a relação oficial dos presos, são na maioria pessoas que ouviram o passarinho cantar alguma coisa no ar, desinformados por suas próprias redes de mentiras, reunindo donas de casa, senhoras e senhores moralistas capazes de levar criancinhas vestidinhas de verde e amarelo como escudo, como se fossem a um passeio dominical. Crianças, aliás, com as quais deveremos ter cuidado com o passar dos anos. Quando crescerem podem ser inimigas ou, no mínimo, precisarem de apoio psicológico após se verem em fotos acompanhando os avós nesse dia de terror.

Ao invés de rifles, muitas bengalas; máscaras? – as comuns contra a Covid, que muitos ainda acreditam ser mito, antivacinas que demonstram ser. Claro, há exceções. Muitos foram ao “passeio” municiados com máscaras antibombas, estacas, estilingues, facas e outras, digamos, ferramentas. Coisas turísticas, não? –  De quem viaja horas em ônibus vindo de várias cidades, inclusive sem pagar a passagem, ainda ganhando algum, no meio de outros tantos iguais entoando o Hino Nacional.

GOLPISTAS TERROISTAS QUE ATCARAM BRASILIA
Fotos de alguns “terroristas” identificados – Estadão

A vergonhosa e inesquecível cena do grupo sendo escoltado por policiais não sai da cabeça. Assim como a surpreendente cena do dia seguinte, com a desmobilização dos acampamentos e a alegre e organizada entrada de todos nas dezenas de ônibus rumo à prisão, mas que achavam que estavam indo, inocentes, lalalalá, de volta para suas casas, e protegidos pelo Exército que tanto conclamaram. Não é por menos que os bolsonaristas radicais foram apelidados de minions.

Estou convencida, no entanto, que muitas dessas pessoas não são totalmente do mal. Acharam um grupo social para chamar de seu, uma ocupação para suas vidas, talvez solitárias, igual àqueles passeios organizados que levam pra lá e para cá em vans. Fizeram amigos, turminhas, e como crianças juntas seguindo o mais diabinho acharam divertido quebrar tudo, fazer arruaças que nunca devem ter feito. Se esbaldaram. Comportamento de manada é o nome. Desgarrados. A tal boiada do ministro em ação na realidade. Boi não conhece arte, limites, monumentos. Levanta poeira. Se atiram em precipícios. Foi o caso, e agora haverão de ser repreendidos severamente. Que não fiquem só sem a sobremesa.TERRORISTAS - NOVOS TIPOS ATACAM BRASILIA

Este dia que já passou tristemente para a História nacional ainda vai muito longe em sua repercussão e investigações, como acompanhamos boquiabertos que havia claramente em curso – surgem documentos – uma tentativa de Golpe de Estado envolvendo alguns importantes agentes públicos e ex-dirigentes nacionais. A massa dessa manobra eram os minions. Esses novos terroristas munidos de celulares, com os quais pedem ajuda a Ets, usam e abusam de aplicativos de mensagens em grupo, e que acabaram criando provas contundentes contra si mesmos, em detalhes, adiantando o serviço dos policiais. Muitos, ao serem identificados, puxaram suas próprias “capivaras” – muitos condenados, procurados, corruptos. Uma ficou famosa, Dona Fátima, de Santa Catarina, já condenada por tráfico de drogas com envolvimento de menores. Liberada em caráter humanitário por ser idosa, foi ativa no quebra-quebra e nas ameaças gravadas contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, do prédio que adorou ajudar a destruir e onde falou aos quatro cantos ter defecado.

Só mais uma observação: contei quase uma centena de fervorosas notas de repúdio aos atos golpistas, vindos de tudo quanto é tipo de entidades, instituições, sindicatos, grupos, etceteras, algumas até surpreendentes. De tão vazias. Me fizeram lembrar uma obra de arte que vi em uma galeria, um enorme mural construído com muitas notas destas, produzidas e sem respostas, ao longo dos quatro longos anos de ações e falas do governo – esse mesmo, o anterior, que construiu e propiciou que chegássemos ao que vimos.

E isso tudo, convenhamos, não tem a menor graça.

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MARLI -MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon).

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ARTIGO – Sonhos, quatro linhas e transição. Por Marli Gonçalves

Acordei esgotada de passar a noite inteira sonhando que estava arrumando malas e sei lá para onde é que era para ir. Vocês já tiveram sonhos desses, de noite inteira, de sonhar contínuo? Acordar, voltar a dormir e continuar com o mesmo sonho, quase um delírio?

SONHOS
 AVENIDA PAULISTA, 29 DE OUTUBRO DE 2022

Pois foi isso que me deixou encucada. Primeiro porque é bem difícil eu lembrar com o que sonhei; segundo, porque inacreditavelmente lembro de ter praticamente arrumado e repassado o meu armário inteiro – e isso é muito. Ou seja, tudo o que tenho passou na minha mente, guardados de décadas, outras para lembrar dias e emoções – sim, a roupa que estava em um dia ou outro importante, amoroso, quase um museu particular. Coisas para doar, cores, casacos, calcinhas rotas até. Eu ia separando e arrumando tudo num movimento sem fim. Não foi por menos que acordei cansada.

Aí me toquei: ressaca eleitoral, só pode ser. Fiquei muito traumatizada com uma pequena saída que dei dia 2 de novembro, no feriado, dois depois do término das eleições. Andei dois quarteirões até o supermercado e vi um monte de gente muito esquisita lá dentro e perambulando pela rua iguais aos viciados da Cracolândia. Zumbis. Não estavam enrolados em cobertas de lã, mas com a bandeira nacional, a coitada vilipendiada. Traziam pela mãos criancinhas, que depois vi também serem usadas como escudos nos bloqueios das estradas.

Já não estava com bom humor, admito, depois de ter passado a noite anterior inteira tentando dormir ouvindo estouros de rojões, muitos, centenas, um atrás do outro, som que vinha ali dos arredores do Parque Ibirapuera, de onde moro há uns três quilômetros de distância. A noite inteira. Se foi inferno para mim, imagino o que assustou a fauna do parque.  Pensei que tipo de comemoração seria aquela, até pela manhã saber que havia uma reunião desses zumbis pedindo intervenção militar, negando o resultado eleitoral, marchando e entoando palavras estranhas diante do quartel – o mesmo onde dezenas de pessoas foram presas e torturadas e mortas durante a ditadura militar. As bombas vinham de lá. Creio que eles tinham comprado para comemorar a eleição do coisinho e como ele dançou foram usar para gastar e perturbar. Mas devia ser um caminhão, um caminhão de pólvora. Quanta comida daria para ser comprada. Mas eles quiseram fazer barulho, perturbar, sentirem-se fazendo guerra.

Fiquei mal mesmo, de verdade. Doente, de cama. Depois acompanhando os movimentos pela tevê, os bloqueios e a violência, só piorei. E a pergunta que faço há meses continua. De onde saiu essa gente? Vocês devem ter visto nas redes os compilados e gravações desses movimentos em todo o país juntando grupinhos de alucinados quase se auto chicoteando, se imolando, alguns de joelhos rezando e gritando, outros marchando para lá e para cá irradiando ódio. Todos de verde e amarelo batendo no peito como se fossem só eles os patriotas. Um movimento claramente incentivado e organizado dias antes das eleições.

Porque natural, ah, natural não era! Natural mesmo foi o mar de gente tomando a Avenida Paulista cantando e dançando feliz durante toda a noite depois do resultado oficial, sofrido, mas vitorioso para quem não aguentava mais esses quatro anos de ataques e retrocessos.  Também moro perto, há um quilômetro, do MASP, na Avenida Paulista e daqui de casa ouvi a repercussão da festa. Depois, na madruga, dava pra escutar até o show da Daniela Mercury, de quem não gosto nada, mas achei até legal ficar ouvindo daqui da janela. Combinou com a festa toda. Natural também já tinha sido no sábado, e este movimento eu presenciei, dia anterior ao segundo turno, a mesma Paulista ocupada por milhares e milhares de pessoas de todos os tipos acompanhando o último evento da campanha de Lula e da Frente Democrática. Todos sorriam, se cumprimentavam, cantavam, num clima realmente de confraternização. Uma diferença enorme.

Começamos então a ouvir falar da transição de governo e agora entendi meu sonho desta noite. Simbolicamente estava arrumando minhas malas para esse novo tempo. Bem sei, nem vem! Não é que muita coisa vá mudar mesmo, estou acostumada com a política, e já dei muita risada com o Centrão imediatamente abandonando a barca e tentando subir nesse outro governo.

Mas outras cores – todas, na verdade, o arco-íris – chegam e podem ser usadas. Sem medo de ser feliz, sem o ódio e a ignorância que se incutiu nas mentes de forma tão deplorável e ignorante como o fez o tal bolsonarismo.

Ufa! No meu sonho, então, me preparava para outra viagem: a de novamente continuar a ser oposição, como já disse, a tudo o que for ruim, esse o papel da imprensa. Conheço bem os perigos dos tais ídolos de barro.

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marli - apostaMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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SONHOS

AVENIDA PAULISTA, 29 DE OUTUBRO DE 2022

SONHOS
AVENIDA PAULISTA, 29 DE OUTUBRO DE 2022

ARTIGO – Dependência. Por Marli Gonçalves

200 anos de Independência do Brasil. Do Brasil. Mas e a dos brasileiros? Mais do que uma pendência, ou várias nesse sentido, ano após ano, nossa dependência aumenta, e de todas, várias formas, muito além da política, de gritos, da alternativa Independência ou Morte!

dependency theory Archives - Progress in Political Economy (PPE)

Lá vem mais uma vez um 7 de Setembro, só que de novo ao invés de podermos pensar em comemorações, conhecimento da história do país, festejos da data redonda e até na reabertura do Museu do Ipiranga, ainda também teremos de nos preocupar com os ataques à democracia vindos de uma parcela que parece tomou conta, se apossou, do verde e amarelo.  Ele se preparam para levar às ruas seu ódio, fanatismo, ameaças, além de fumacentos desfiles militares, intermináveis continências. Que tédio.

Sem sossego, e esse é só mais um momento. Estamos sempre na dependência do que vai ou poderá acontecer, seja nessa data, ou em outras significativas, como as eleições, primeiro, segundo turno. Dias tensos, atentos.

O pior é que delas, das datas, sejam cívicas ou religiosas, sempre resta algum traço de necessidade. Visitando a história nacional, então, pior, sentimos que tudo pode acontecer e a qualquer momento, como inclusive já ocorreu em diversos períodos. E esse medo nos torna ainda mais dependentes do que já o somos.

Dependentes de atos e programas de governo, cada vez mais de auxílios econômicos, fixos ou emergenciais, das decisões sobre programas sociais, sua manutenção, até do controle de preços e da proteção aos direitos duramente conquistados, de tanta coisa vinda de cima, quem realmente pode pensar livremente?

Quantos e quem são os “livres”, que não devem nem precisam de nada, nem devem obediência, sujeição ou subordinação? Não dependem de nada? Não precisam de ter ao menos algum medo, algum temor? De serem julgados sem Justiça, de perder trabalho, casa, família, amigos, condições mínimas, liberdades, possibilidades?

Quantos podem realmente se dar ao luxo do total livre pensar? Melhor, livre dizer, que agora até a liberdade de expressão anda virando falácia?

Pensar até pode. Que por enquanto isso ainda está livre, gracias. Mas quantas vezes ao dia me pego, por exemplo, no que chamo “pensando pra dentro”?  Não comentando, dizendo exatamente o que penso, acho, sobre alguma conversa ou fato? Difícil admitir, mas é verdade, e boa precaução, saudável, inclusive em um momento tão polarizado de todas as formas e que ainda não conseguimos localizar claramente quem realmente são os inimigos, quais serão as consequências dessas batalhas.

A tal dependência de muitos, no caso atual de algum mito, insisto, seja lá de qual lado/direção for, tem tornado difíceis conversas sinceras até sobre assuntos antes triviais, banais e comuns, tantos atarracados nessas idolatrias, que parecem vir acompanhadas de fechados manuais de instrução. Como drogados, dependentes – não das informações reais – mas do que ouviu falar por aí, e que saem repetindo tais como papagaios. Em vários instantes, creio, melhor não polemizar. Mais uma vez, vai saber onde uma discussão boba pode levar. Como aprendi, e que um amigo sempre lembra ter lido em um coletivo em Israel: qual vantagem conversar com o motorista?

Já vivi bastante para ver. Vários momentos nessas últimas décadas. Na maturidade, sei bem o quanto me custou buscar ser livre, agir, e ter pensamento original, e o quanto isso já provocou reações e insídias dos que não conseguem aceitar, experimentar ou conhecer o minimamente diferente.

Não é medo, que para chegar ao hoje, enfrentando de um tudo, muitos tiveram de superar e o fazem todos os dias. Chama cautela e cuidado com a saúde mental. Inclusive porque a paciência, essa sim, está bem esgotada, e o tempo urge para ser perdido com o que/quem não preza a real independência, um valioso bem para o qual todos deveriam estar voltados em suas buscas. Livres, de verdade, sem ter ou causar problemas a não ser a nós mesmos.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – A mosca azul e os mil artifícios para causar. Por Marli Gonçalves

Como é que se causa? Nada mais é natural agora que, ao que parece, todo mundo tem de causar para aparecer? Susto. Simplesmente tomei um susto, na verdade, mais um, porque cada vez que vou dar uma olhada nos realities não consigo deixar de me assustar muito com aquelas caras, bocas, bundas, cabelos, músculos e etceteras das e dos participantes. Mas agora também tem até ministro se arrumando todo para o poder, né, Queiroga?

MOSCA AZUL - CAUSAR

Patchwork. A mulher que aparece na tela – uma “celebridade” dessas que a gente não tem nem a menor ideia de quem é, de onde veio, para onde vai e quem deu o título – ganhou a melhor definição dada pelo meu irmão: um verdadeiro patchwork. Dá uma olhada nesse grupo que está em “A Fazenda”. Cada vez mais impressionante o que o que estão fazendo em prol de causar, virar notícia, surgir nas redes sociais, no mundo digital, para virarem influenciadores (pior é que estão mesmo influenciando). Isso, os que querem ficar “bonitos”, dentro de critérios discutíveis de boniteza.

Parecem retalhos, não de tecidos no caso, mas de pedaços de gente ajustados e que acabam por criar figuras desconexas; algumas grotescas. O nariz, não dá para saber como respira; a boca, tão gorducha e inflada para fazer biquinho, que deve ter toda hora sem querer espetado um garfo. A colher não deve penetrar. Levam quase que almofadas em seus traseiros, que querem que fique bem perto da nuca! Cílios postiços que pesam para abrir e fechar os olhos, como sobras dos apliques escondidos nas cachoeiras de cabelos que alisam e jogam sem parar para lá e para cá.

Viraram pessoas sem expressão, imexíveis, tantas aplicações de botox que endureceram os movimentos. A testa parece um bloco. Os homens surgem quase como bonecos infláveis – já estão na fase de implantar próteses penianas. E tudo, tudo, mas tudo mesmo, por mais íntimo que seja, fazem questão de divulgar – seja para pagar a conta dos cirurgiões com a divulgação, ou só para o tal “causar”.

Nessa confusão da semana, não é que surge um novo Ministro da Saúde, o Queiroga? Reparou? Sumiu aquele cara com ar simples e reservado. Tomou suco de galo, tirou o óculos, parece que fez harmonização facial e agora usa lentes de contato e ternos bem cortados. Mudou o comportamento: virou respondão com os governadores, a mosca azul picou certeira, e para se manter no poder tem aceitado até os mais esdrúxulos pitacos do Bolsonaro. Como essa de suspender do dia para a noite a vacinação de adolescentes, minando junto a importância das vacinas, e ainda ameaçando acabar com a obrigação de uso de máscaras de proteção contra o vírus. Bem, a máscara dele, essa ele tirou, e está mostrando exatamente ao que veio.

O louco é que muitas dessas transformações para causar são eternas, riscadas e implantadas nos corpos. Bem diferente, diria, de looks e roupas extravagantes usados por estrelas nos tapetes vermelhos da vida, como no Oscar ou no recente baile do MetGala. No dia seguinte, elas podem aparecer na boa, de jeans e camiseta, guardando a foto célebre que correu o mundo. Podem mudar de ideia a hora que quiserem. Como a filha de Madonna que adorou levantar os braços e mostrar bem seus pelos na axila – nada que uma boa depilada um dia destes não resolva. Aliás, repito, deixem os sovacos em paz! Não precisamos da Lei do Pelo Livre! Cada um usa os seus próprios pelos onde bem entender.

Ao contrário dos patchworkers, tem quem queira – também, claro, para causar – apenas ficar feio ou mesmo horroroso, propositalmente– daí implantam chifres e outras misérias.  Em geral, estes ao menos têm uma ideologia por trás, um pensamento libertador ou provocador muitas vezes, como na questão dos pelos no sovaco, das tatuagens cobrindo o corpo, dos cabelos coloridos ou em forma de vulcões prestes a explodir. É uma expressão política.

No fundo, no fundo, enfim, cada um faz o que quiser, e continua válida a máxima “Falem mal, mas falem de mim”. A gente pode gostar ou não, e assim levamos, cada um na sua.

Mas pior de tudo mesmo,  picados ou seduzidos pela mosca azul, a varejeira, que nasce na lama de suas ganâncias – e esses são os que fazem mal de verdade e não apenas aos nossos olhos, perigosos – são os que se travestem de gente simples, camisetas falsas, em verde e amarelo, fantasiados de patriotas, religiosos disso e daquilo, apenas para disfarçar como na verdade agem e ganham suas gordurinhas na corrupção, na mentira e na manipulação da ignorância de um povo que continuam a cultivar, subjugados.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – O Homem não está nada bem. Por Marli Gonçalves

O homem não está bem; não está nada bem. O homem está confuso, nervoso, não sabe o que fazer, anda inseguro, percebe que está perdendo poder e que já não é mais invencível, daí reagir muitas vezes perigosa e virulentamente. O homem vê que a cada dia tem de dividir o poder com serenidade. Percebe que os tempos são outros e que há reação a qualquer de seus desmandos.

Sei que tudo isso se enquadra muito bem no que vivemos, e que claro deve ter vindo à sua cabeça a figura do presidente que essa semana, parece, criou, percebeu e sentiu a temperatura máxima, e essa não era um filme da tarde de domingo, muito menos do feriado nacional com tantos significados e que conseguiu transformar este ano em um dia de ódio e horror, terrível e tenso para os brasileiros.

Tudo bem que não dá para deixar passar isso em branco, vendo o desfile em verde e amarelo de tanta gente paramentada abanando a bandeira, confusa, enganada e/ ou apenas ignorantes em busca de um líder, sendo usada sem dó por oportunistas, pessoas más, para não dizer outras coisas, com pretensões da pior espécie, querendo fechar os horizontes da liberdade e da democracia. Brincando perigosamente com o futuro.

Claro que esse Homem aí, o que conclamou e tramou o que espantados assistimos, também não está bem, não está mesmo é nada bem. Mas isso não é de hoje. Esse aí nunca esteve bem, e em nada do que fez, nem como militar, muito menos como político, ocupação que exerce há mais de 30 anos sem brilho, e que por golpe de sorte e das condições daquele momento eleitoral foi posto no poder máximo.

Mais do que evidentemente não estar bem, repara só: esse Homem está bem maluco – não é impossível que acabe numa camisa-de-força – desorientado, inconsequente, e literalmente atirando para tudo quanto é lado na tentativa de se manter nele, no tal poder que, parece,  subiu para sua cabeça e, pior, para a de todos os seu filhos, parentes, amigos e ministros que o seguem nessa balada insana seja em cima de palanques, na frente da câmera de suas insensatas lives ou no cercadinho que se tornou o ponto de encontro da turminha que o anima.  E num país que se desmancha, precisando tanto de um governo.

Muito chato. Só imagino e adoraria saber detalhes de qual foi o real bastidor, os fatos que o levaram a apelar para a pena de Michel Temer para criar uma nota pública que pudesse por panos quentes e frios, pelo menos por hora, na perigosa confusão que armou. Queria ser a mosquinha que pudesse ver a real, que normal não foi, não caiu do céu esse arrego que deve estar causando forte azia e indisposição, inclusive em quem saiu atrás dos trios elétricos do horror achando que estava abafando.

Mas, enfim, pulando esse assunto que já deu, o que é visível é que o homem, o ser masculino, esse que já não aguento mais ver aparecer diariamente envolvido em tantas notícias de crueldades e feminicídios, talvez até por conta e somada a situação nacional, não está nada bem, e se debate angustiado. Com o avanço do movimento feminista, com a entrada cada vez mais expressiva  das mulheres no mercado de trabalho e lutando por sua independência e participação igualitária, as bases do tal domínio do macho estão ruindo à nossa frente, sendo levados pela onda de força que vem sendo demonstrada pelas mulheres, especialmente nesse momento de superação, da pandemia, onde fomos tão e mais brutalmente atingidas.

É preciso destacar esse momento importante. Porque dele poderá vir, finalmente, um novo mundo e quero estar aqui para presenciar e celebrar o resultado dessa luta de toda uma vida. Torcendo para que essa lufada, enfim, sopre cada vez mais forte aqui e em todo o planeta.

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Marli GonçalvesMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – Avidez por alguma alegria. Por Marli Gonçalves

Uma, uminha, umazinha só. Qualquer porção de alegria, esse produto tão raro nos dias de hoje. Imploramos. A gente tenta, mas não passa um dia sem que alguma notícia esquisita nos abale, por mais otimistas que tentemos ser. Muito impressionantes esses tempos que passamos, agravados pela pandemia que a muitos abala, deprime, e a outros enlouquece

ALEGRIA

Daqui assistimos o mundo inteiro tentando se curar, se recuperar, reviver, renascer e se reinventar e reorganizar desse baque, pesadelo, que vivemos já quase há um ano e meio e onde cada dia de sobrevivência precisa ser efetivamente comemorado. Chegam de fora boas notícias, da abertura, do povo voltando às ruas, incentivado, reconstruindo.

Mas, aqui, quem consegue? Em um dia perdemos parentes e amigos; em outro, quem tanto admirávamos, por quem torcíamos pela recuperação, mesmo que ela fosse até difícil de acreditar se pensássemos bem.  Paulo Gustavo se notabilizou por nos trazer esse raro e cada vez mais escasso produto, a alegria. Chega ser sintomática, emblemática, simbólica, a sua partida no meio disso tudo.

Como conter a emoção? O prefeito da maior cidade do país lutando publicamente pela vida em um leito de hospital, com altos e baixos.

De repente ainda mais tragédias nos abalam como se tivessem ocorrido do nosso lado, e a gente chora, sofre e perde o sono pensando em professoras e bebês assassinados a golpes de adaga na outrora pacata cidadezinha de nome poético, Saudades.

A gente fica revoltado ao ver uma desastrosa operação policial carioca no morro do Jacarezinho, morro que já deu samba mas que agora mostra as suas ruas, vielas, casas e barracos cobertos de sangue que escorre o desespero e o luto de 25 mortes, muitos ainda sequer identificados. Pior: ver, ouvir, saber que tem quem aplauda uma chacina como essa, sem pé nem cabeça já na sua origem. Uma espécie de pena de morte, aceita sem julgamentos, como quem degola, arrasta e espalha pedaços de corpos.

Brasil atual embaçado, o país do esculacho, temo, vá demorar mais do que outros para se recuperar desse tempo amargo e retomar sua tradição de país gentil, do povo generoso, gente alegre reunida, Cidade Maravilhosa, etc. e tal. Não temos vacinas suficientes, e os motivos disso surgem porque estamos com um desgoverno absurdo e cruel, administrados por um presidente bronco, cercado de bronquinhos, e que ainda se diverte ironizando o sofrimento do povo, fazendo da política uma barafunda gincana, onde nós somos caçados, e não surge força capaz de cassá-lo, porque há muitos beneficiados com suas confusões, animados por uma trupe violenta e insistente que sai às ruas espumando por medidas antidemocráticas, alimentados  por informações descabidas que repisam. Que se comprazem em apenas atacar e odiar – a bílis que lhes dá algum sentido na vida triste.

Quando tudo começou, ano passado, estávamos mais unidos. As varandas e janelas abertas emitiam cantorias, os vizinhos começaram a se conhecer e se cumprimentar, mesmo que com acenos, com gestos solidários, inclusive para os mais velhos. A solidariedade se mostrava na preocupação com o outro, fosse com recursos, com comida, companhia, compaixão. Chegamos a acreditar que do tal novo normal surgiria um povo melhor. Que nada poderia demorar tanto. Havia ainda um certo otimismo.

Mas 2021 chegou arrasando e agora já estamos em maio, chorando todos os dias a evitável escalada de mortes correndo para alcançar a marca oficial tão temida, de meio milhão de vidas perdidas. A alegria se esvaiu.

Continuamos, contudo, com todos os erros sendo continuamente repetidos, o negacionismo se espalha contaminando o solo como uma praga para a qual a Ciência não conseguirá solução em laboratórios. Precisávamos ter tratamento precoce, sim, mas para evitar toda essa tristeza. Que pudesse evitar, antes de mais nada, tanto oportunismo e toda a miséria que se apresenta em todas as áreas e que prejudica agressivamente o futuro, esses nossos muitos dias pela frente.

Necessitaremos de alegria, alguma, muita, e que esta seja coletiva. Precisaremos nos unir o mais rapidamente possível para procurar essa fonte para beber, e que agora está soterrada.

Ao menos um pouco de alegria vem da certeza que parece que enfim já começamos a escavar para encontrar essa fonte e que logo jogaremos fora todo o lixo que a encobre.ALEGRIA

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marliMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO – O terror, tocado para milhões de corações brasileiros. Por Marli Gonçalves

Distopia tropical. Não é de hoje. Estão tocando o terror aqui em nossa terra, e de uma forma tão intensa e nos atacando de todos os lados, que a gente já nem sabe mais como se defender. Não dá pra ignorar mais de 400 mil mortes, não dá mais para tocar na vitrola só essas canções mortais; queremos samba, mostrar ao mundo que temos valor

Mais de 400 mil razões para estarmos alertas, e prontos para o revide quando conseguirmos nos organizar, embora eu saiba bem o quanto é difícil até decidir por onde começar a batalha que virá, mais cedo ou mais tarde, para quem realmente for patriota, estiver preocupado, informado sobre os passos desse Exército do Mal que avança trazendo tantas sombras e incertezas.

Não esses estúpidos que se enrolam na bandeira, alucinados, que cospem impropérios, conspurcando o verde e amarelo de uma forma tal que hoje chega a nos dar até asco ao visualizá-la. Não essas pessoas sem noção que passam o dia disseminando o ódio e a ignorância, para quem a terra é plana, e dividida apenas nas tristes opções políticas que se colocam à frente. Não essas pessoas que ainda teimam em não ver, não escutar, mas falam, repetindo refrões, teses absurdas.

O terror é geral. Na economia, sem capacidade de ser salva por aquele pequenino e metido ser, o tal Posto Ipiranga, e sua trupe. Na política, onde o perfil miliciano dos que transitam nos palácios de Brasília, se esbalda em tripudiar de tudo o que nos é mais caro, desrespeitando a dor, e as soluções para evitá-la, buscadas pela Ciência como nunca antes. No comportamento, nas atitudes burras e preconceituosas de quem até se acha “de direita”, conservador, mas nem isso, não chegam aos pés nem disso, apenas decrépitos, muitos encobertos por religiões que inventaram, moldando-as aos seus interesses. Deixem Deus fora disso.

Nos vemos cercados por organizações criminosas desvendadas todos os dias, nas manobras, nos roubos e golpes, no pagamento de sistemas de robôs contaminados que disseminam as informações falsas neles inseridas e atiradas como flechas ou balas perdidas. Essas balas perdidas. As reais, que matam crianças e inocentes. As virtuais que matam sonhos, reputações, inteligências, ameaçam o futuro.

Estamos vivendo uma distopia. Uma distopia tropical. Nossa terra seca, pega fogo, destruída diante de nossos olhos. Falamos, denunciamos – e nada. Eles estão lá, e dá até arrepios pensar no que ainda pretendem, no que planejam e decidem entre as suas paredes, nas casas de vidro. Coisa boa não pode ser, porque é bastante claro que pretendem se perpetuar no poder.

Tenho visto muitos otimistas botando fé nessa CPI, Comissão Parlamentar de Inquérito, agora instaurada no Senado Federal para investigar as ações, inações, e os acontecimentos alarmantes ocorridos no último ano, durante essa pandemia, que levaram à essa mortandade e à tristeza de milhões de corações brasileiros que sangram tantas perdas.

Acompanhei muitas CPIs, conheço suas confusões e tramoias. Devo informar que é melhor ter cautela e em paralelo continuarmos buscando avidamente outra formas de fazer esse descarrego. Essa CPI, claro, vai revirar o mar, causar, ouviremos falar dela – e de seus integrantes, que novos nomes aparecerão para o jogo eleitoral – nos próximos meses. Os fatos sobre os quais trabalhará são esses todos, bem conhecidos, dessa lista enorme que clamamos ao vento.

O que ela precisará fazer – o veredicto de culpado para esse que se diz mito, e que ele seja levado a realmente pagar pelo que fez/faz e, infelizmente, ainda fará – será uma grande surpresa.  Temo que vire apenas mais uma CPI do Fim do Mundo, como chamamos uma outra, de outros tempos, e que não levou a nadinha de bitibiriba.

Queremos samba, mostrar ao mundo que temos valor, quem está pedindo é a voz do povo do país, pro Brasil feliz voltar a levar alegria para milhões de corações brasileiros, como tão bem disse Zé Kéti em “A Voz do Morro”.

Nós todos dessa luta somos o samba. Precisaremos sambar em cima deles o mais rápido possível.

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MarliMARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto.  (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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ARTIGO -O novo (a) normal. Por Marli Gonçalves

Ora, não me venham falar nesse tal de novo normal, que as pessoas vão mudar, que aprenderam, que daqui pra frente tudo vai ser diferente, que isso só é letra de música. A realidade é que a natureza humana gosta de viver seus conflitos e que a luta pela sobrevivência ainda é um pisando no pescoço do outro

O que é "normal"?: duração e variação do ciclo menstrual

O estouro da boiada. Como não vivo no campo, aprendi essa semana, vendo como as pessoas estão se comportando logo aos primeiros sinais de relaxamento do isolamento social, e compreendi a expressão – foi o que me pareceu um estouro da boiada. Vendo as filas horrorosas, os apertos e ajuntamentos, as burlas das leis ordenadas, mas sem fiscalização em um país onde faz tempo se aprende a viver ilegalmente. Parece que ficaram os quase 90 dias em casa esperando o sinal tocar, como esperávamos o sinal do recreio na escola, e que passaram esses dias anotando o que comprariam com o pouco que ainda lhes restou, se é que ainda restou. Ou se apenas o que aconteceu é que ficou mais escancarada a possibilidade do fim do mundo, ou da instantaneidade da vida. Partiram para o tudo ou nada.

Nos noticiários vi gente impaciente esmurrando a porta da loja que se atrasou para abrir. Vi também alguns comerciantes reclamando do horário limitado e do número baixo de clientes, como se isso já não fosse de certa forma normal até bem antes da pandemia. Gente atabalhoada tentando tirar o atraso, e esse atraso correndo deles.

Diferente das filas criadas pelo confuso e desatinado governo para dar o auxílio emergencial e quando muitos correram para portas de bancos para tentar garantir aquele trocadinho, o que até valeria algum risco, desta vez se aglomeraram para comprar nas ruas e shoppings populares, bater pernas atrás de presentes para datas que já não marcam é mais nada. Houve também muitos que vieram com sacolinhas e sacolões para comprar o que venderiam em outras filas e aglomerações, em outros locais, nos paraguaizinhos de todo o território nacional.

Máscaras foram o hit da vez nas barracas dos camelôs, mas nem todos as usam no lugar, ou mesmo as usam. Estão faltando beber álcool em gel, como se esse pudesse ser servido em copinhos e, espirrados, fossem mágicos seus respingos. O resultado dessa loucura estará no futuro logo ali, nos números de novos  infectados e mortos, como se não bastasse já termos ultrapassado a terrível marca oficial de 40 mil brasileiros mortos e de quase um milhão de infectados, números ainda acanhados perto da realidade, subnotificados de todas as formas possíveis, inclusive oficialmente, na cara dura.

Repito: e vocês aí achando que uma nova sociedade surgiria dessa experiência que, inclusive, não tem qualquer data para acabar, sem vacina, sem remédios, só desatinos e improvisos. Como? Com um dirigente máximo insano?, que pouco está se lixando para a vida, e que agora – dá até vergonha de falar – incentiva seus seguidores chucros (que certamente poderão, com razão, serem chamadas de gado, se o fizerem) a entrarem nos hospitais para registrar e “denunciar” (!) camas vazias… Qual o próximo passo?

Esse presidente e sua equipe, sim, podem ser chamadas de anormais por não pararem um minuto de multiplicar a ignorância e o perigo. Obrigaram até a oposição a tentar  se organizar e chamar protestos nas ruas, antes ocupadas apenas por uns seres estranhos e feios vestidos de verde e amarelo abanando bandeiras antidemocráticas ou desconexas, montinhos perdidos que podiam ser encontrados tentando  se acasalar e se multiplicarem lá na frente do Palácio da Alvorada; aqui em São Paulo, na porta da Fiesp e em frente ao II Exército.

E os ladrões, espalhados, enchendo os bolsos com o super faturamento de equipamentos e insumos hospitalares? Aumentando preços como se realmente não houvesse amanhã? Bancos posando de bonzinhos nas propagandas e ignorando pedidos de socorro por créditos a juros mais baixos?  A lista é enorme e você aí já deve ter lembrado de mais algum fato entre esses que assistimos estupefatos.

Daqui de meu posto de observação estou é vendo muita gente brincando com a morte, como se ela já não estivesse bastante visível. E fico, acreditem, cada dia mais preocupada e temerosa com a forma dessa abertura precipitada, sem conscientização, como se o vírus tivesse tirado férias. Mas ele ainda está lá escalando a montanha em busca de asfixiar e tirar o oxigênio vital, todo feliz com os pratos oferecidos para sua alimentação, especialmente os pobres.

Para finalizar, não me venham falando em percentual de ocupação de leitos estar folgado. Ninguém quer vê-los cheios. Ninguém quer ficar doente. Não é possível que esse tal novo normal seja tão burro que não possa entender isso.

Normal. O que é normal?

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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ARTIGO – E daí, presidente? Veja bem as valas sem velas. Por Marli Gonçalves

E daí? Daí que já há alguns anos vínhamos cavando um fosso profundo de desentendimento em todo o país, e cavando fundo, cavoucando, com uma oposição perfumada, egoísta, e que alimentou e deixou crescer um monstro, nutrido pelo radicalismo e ignorância. O que não sabíamos é que teríamos de usar esse fosso para hoje sofrer e enterrar tanta gente, e que não temos mais como recolher o lixo que ficou desse embate; nem como reciclá-lo. Precisará ser destruído, e o quanto antes

Não faz alguns meses e falávamos apenas em um país dividido em dois, numa luta política como se houvesse espaço só para duas direções, o bolsonarismo, se é que isso, esse horror, pode ser chamado de corrente política, e o petismo, dos adoradores incondicionais de Lula. Caminhar fora dessa estrada ficava cada vez mais difícil, atacados por ambos, cobrados, perseguidos, não houve argumentação capaz de alertar e nos livrar do previsível desastre para onde fomos levados.

Amizades se desfizeram, famílias se desintegraram nesse trajeto, o bom senso foi esculhambado, as notícias falsas brotaram, ervas daninhas entre um povo desinformado, mas ávido e rápido para largar, infelizmente, sua própria tradição de cordialidade, boa convivência, alegria e gentileza.

O prejuízo disso tudo, e que ainda continua de forma maligna, agora nos apresenta uma conta tenebrosa e vemos na realidade estarrecedora um país estilhaçado, estraçalhado, esmigalhado, doente, ainda mais miserável, ainda mais dividido. Centenas de mortes anunciadas diariamente ao cair da tarde; milhares de infectados por aí, infectando outros milhares numa matemática cruel e em marcha insana pelas ruas, além de imprecisa por falta de testes, de contagem, de recursos.

No jogo, uma bomba-relógio programada é jogada de um lado a outro, com requintes, cheia de culpas e ganhando mais força. Uma esmolenta ajuda emergencial obrigando quem necessita se expor a cada dia mais em filas dobrando as esquinas na porta dos bancos oficiais. A crueldade de exigir de excluídos de tudo a tal inteligência artificial e digital, equipamentos, compreensão de quem nem ao menos muitas vezes sabe ler, reféns de boatos que rolam gravados em mensagens espalhadas nas redes sociais, e que refutam e agridem a lógica, a ciência, a razão e as informações sérias. Que punem os profissionais da Saúde, da imprensa e agora até do próprio governo, com a troca de ministros minimamente atuantes por blocos insensíveis de gelo, subserviência, ou uniformes cor de oliva.

E o que é pior: as tais duas direções, a princípio opostas, parecem já se juntar lá na frente para  se encontrarem como pontas descascadas e nos atazanar em momento tão delicado, se igualando em alguns assuntos, nadando desesperados em braçadas para alcançar uma margem eleitoral que nem sabemos mais se estará lá quando tudo for amenizado. Uma competição mortal, dramática, aliada à pandemia, à expansão do vírus que freou o mundo e que traz em sua coroa ampliada o emblema da guerra.

O fosso se transformou em dramáticas valas comuns, marcadas a ferro e fogo desde já em nossas memórias, espalhadas nas capitais, em corpos enterrados sem choro nem vela, às pressas. Pessoas desesperadas nas portas dos hospitais, sufocadas, buscando o ar, sem vagas nas UTIs lotadas onde poderia ser encontrado, com hospitais de campanha sendo usados, mas ainda mais nos embates políticos do que na realidade. Faltam profissionais, respiradores, equipamentos de proteção individual, vergonha na cara dos governantes locais e suas desencontradas declarações e medidas, capitaneadas pelo governante-mor que, se Justiça houver, um dia deverá ser severamente punido e responsabilizado. Porque essa negação não lhe daremos o direito de ter.

Nas ruas deste país chamado Brasil a bandeira foi usurpada em carreatas da morte ousadamente vestidas de verde e amarelo e clamando pelo horror.

Nos olhos de fora de máscaras – quando estas não estão penduradas em pescoços ou deslocadas – se lê a aflição, o medo, o temor,  a dúvida do que sairá disso tudo, que normal será esse, se é que um dia poderá ser chamado de normal esse breve e agitado futuro que nos aguarda.

E daí, presidente?

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

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ARTIGO – Matemática da cilada. Por Marli Gonçalves

 Ô mania que grudou na imprensa! Você fica lá prestando a maior atenção e aparecem aquelas tabelas e tabelas torturando números, comparados a algum lugar do passado, para o bem ou para o mal.  São os percentuais, ou porcentuais, que dá na mesma, e você entendeu do que estou falando. Os coitados dos números, surrados, dizem qualquer coisa quando obrigados

É muito chato mesmo. Mas virou mania. Querem dar uma notícia, por exemplo, que tal situação melhorou. E lá se vai em busca do número usado em algum lugar do passado, e que provavelmente foi o último dado por alguém ou algum. Chegam as manchetes! Diminuiu em tantos porcentos o número de acidentes nas estradas. Se parar para prestar atenção mesmo, com caneta e papel ou calculadora, vai perceber que teve decréscimo de umas migalhinhas. Tipo eram 12, e esse ano 10. Condições do tempo, das estradas, dos veículos e dos etceteras? Eram as mesmas?

Não costumo assistir a jogos de futebol, mas quando assisto dá uma irritação danada ouvir os locutores falando, falando – e lá atrás na imagem você vê que está acontecendo uma jogada bem importante que fica sufocada – e derramando números sobre dribles, jogos do século passado, enfrentamentos da história recente. Isso tudo piorou muito na era dos computadores, que fazem cálculos e cálculos, como se todos fôssemos e pensássemos como tabelas de Excel.

Engraçado. Embora tenha tido boas notas na época nas aulas de Estatística, nunca gostei muito dessa matéria. Na faculdade, no Diretório Acadêmico, acabei como “representante dos alunos no Departamento de Métodos Quantitativos”. O que valeu foi uma enorme dor de cabeça e mais uma inscrição na ficha do Dops dos terríveis tempos da ditadura. Como os caras não sabiam do que se tratava, esse fato está lá na minha ficha de “subversiva”. Mal sabiam ou sabem eles que fui parar aí porque eu era a única boa aluna que conseguia tratar melhorzinho com o professor dessa matéria na faculdade, e que era um horror. Vai explicar! Bem que tentei, mas creio até hoje que acharam que eu era guerrilheira e estrategista de alguma célula especializada em manufatura de bombas, ou alguma outra coisa desse jaez.

Hoje mesmo tive a sensação de ter ouvido que diminuiu em num sei quantos porcentos o número de notificações de violência contra as mulheres. Só se for porque elas morreram antes de denunciar. Todo dia, toda hora, das formas mais grotescas e cruéis as mulheres estão morrendo, assassinadas por ciúmes, por causa da loucura humana e do destempero das relações.

Essa semana, repara – aliás, já estamos ouvindo essa ladainha há quase um mês – tem a tal da Black Friday, onde se quer aparentar uma maravilha, mágica, onde todos os produtos ficarão mais baratos do dia para a noite, os comerciantes resolveram dar uma força e se desapegar de seus lucros, uma coisa impressionante – para onde olhar vai ver números gigantescos de descontos, com o percentual do lado. Pega o óculos, a lente, o binóculo, a lupa. Perto dele, ali bem pequenininho, vai ter também uma palavrinha: “Até”. Esse “até” é a grande questão. Faz o teste. Procura o que é exatamente que vai ter desconto de “até” 80%, 90% na lista ofertada.

Propaganda já foi a alma do negócio. Vem sendo usada – de braços dados com o marketing, que é mais complexo – de forma indiscriminada e enganosa, sem que providências sejam tomadas contra isso.  E para não acharem que estou tentando me desviar da política, vou citar duas coisinhas dessa semana, que serviram apenas para cilada.

Uma, a do deputadozinho que me recuso terminantemente a dar o nome, que resolveu prestar homenagem para o ditador Augusto Pinochet na Assembleia de São Paulo. Queria apenas ficar conhecido, esse indigesto. Para ir contra, fomos obrigados a falar dele, saber se sua vil existência.

number_ball_tMais conhecido, talvez, entre esse grupo de – dizem, mas vamos esperar as próximas pesquisas – cerca de 30% (!!!) que parece que ainda apoiam a loucura que se estabeleceu no governo de nosso país. Esse do “38”, o número do partido que pretendem criar com suas balas e dedinhos em forma de arminha, borrando o verde e amarelo de nossa Nação com seus pensamentos de baixíssimo calibre.

Mais uma 100% cilada.

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#ADEHOJE – CONSCIÊNCIA NEGRA E CIDADÃ. E O “BARATA VOA” DOS DOLEIROS

#ADEHOJE – CONSCIÊNCIA NEGRA E CIDADÃ. E O “BARATA VOA” DOS DOLEIROS

 

SÓ UM MINUTO– De quando em quando o grupo, um grupo, de doleiros “top” do Brasil sofre com uma devassa. Depois, voltam – há anos vemos essas operações. Hoje essa devassa foi em cima da turma do doleiro dos doleiros, Dario Messer, preso aqui em SP, em junho, e envolveu até o ex-presidente do Paraguai, Horácio Cartes, alvo de mandado de prisão preventiva porque teria colaborado com a fuga dele… Operação faz parte da Lava Jato. Mais uma fase.

Amanhã, 20, Dia da Consciência Negra. Muito mais que um feriado, Dia de parar com o “eu não sou racista, mas…”. Dizer que no Brasil não há racismo é o mesmo que dizer que no Brasil as mulheres estão seguras e que o feminismo é compreendido. A população negra sofre com a violência, baixos salários, falta de oportunidades e especialmente com esse racismo velado, que nós temos é de revelar todos os dias.

E não é que o Toffoli desistiu de acessar os dados de 600 mil brasileiros? Viu que tava pegando mal, bem mal…

 

#ADEHOJE – MANIFESTAÇÕES, CONFUSÕES E DESENTENDIMENTOS

#ADEHOJE – MANIFESTAÇÕES, CONFUSÕES E DESENTENDIMENTOS

 

SÓ UM MINUTONão me levem a mal, por favor. Só queria chamar a atenção para que não haja mais nunca essa coisa de só seguir cegamente sem entender para onde. Ontem passei pela Avenida Paulista e fiquei bastante surpresa com os grupos de movimentos que não sei mais se são o quê, se bolsonaristas, de direita, desinformados, ou só de má fé. Juntaram grupos de pessoas vestidas de verde e amarelo, inclusive muito parecidas fisicamente entre si, e em detalhes que não são muito legais. Eram gritos contra o Supremo Tribunal Federal, especialmente contra o Gilmar Mendes. Gilmar arregimenta uma revolta particular contra ele. Mas ninguém ai parece entender o papel do Supremo, o que representa, assim como as leis. O clima esquisitíssimo, tenso, com uns discursos bastante reacionários.
Perto dali, uma manifestação de bolivianos pedia a volta de Evo Morales dizendo que a Bolívia sofreu um golpe de Estado. Com Tantas mortes e tantos feridos nas manifestações de lá, ainda não era grande o número de bolivianos protestando. Aliás, que loucura que estão as manifestações pelo mundo…

 

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manifestação bolivianos #americalatina #avenidapaulista

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ARTIGO – Limites terrivelmente irresponsáveis. Por Marli Gonçalves

 

Nossa paciência tem limites. O que podemos ou não fazer têm limites. Até a loucura tem limites. Nesse momento quem está dirigindo o país está brincando de testar os limites. E isso tem um limite. Não é política. É provocação.

Todo dia, toda hora, aqui, ali, em áreas técnicas, sociais, comportamentais: o presidente Jair Bolsonaro está abusando não só dos seus próprios limites, e ele têm muitos, limitado que é, como de nossa inteligência, paciência, honra e capacidade de suportar os ataques que desfere. Como se brincasse, parece. Como se não tivesse o que fazer e ficasse inventando. Como se estivesse se divertindo com nossa agonia. Não é agonia de ideologia, de direita, esquerda, de quem é a favor ou contra, esse insuportável debate no qual o país está mergulhado. Já são mais de seis meses que estouram em nós os limites do seu amadorismo, desconhecimento, pessoalidade.

Essas últimas dessa semana transbordaram. Primeiro, em encontro com pastores, a promessa verdadeiramente ameaçadora de indicação em breve de um ministro do Supremo Tribunal Federal, STF, “terrivelmente evangélico”. Como assim? Além de termos de buscar o máximo de laicidade nas instituições, o que isso significaria, especialmente na cabeça dele? Um ministro da Corte Máxima, seja o que for pessoalmente, homem, mulher, gay, católico, ateu, umbandista, evangélico, alto, baixo, magro, gordo, vegano, preto, branco, pardo, caboclo – o que for – deve seguir uma única luz: a Constituição Federal. O que é que Bolsonaro acha que alguém como ministro “terrivelmente evangélico” modificará? Descerá sobre nossas cabeças novas leis? Todas as imagens sacras serão execradas? Teremos de usar saias abaixo dos joelhos, como as mulheres-postes? Cortar cabelo nunca mais? Proibir unhas e batons vermelhos? O dízimo já pagamos.

Desculpem, mas respeito muito os evangélicos, e sei que entre eles há gente do bem, inclusive trabalhei com muitos que conseguiram que eu própria revisse meus preconceitos. Sei que até eles, em particular, não concordariam com muitos dos ideais e pensamentos bolsonarescos, porque sabem que estaria sendo celeremente criada mais uma terrível forma de discriminação contra eles próprios – aliás, já a caminho.

Para completar, o presidente resolveu dar um inesquecível presente de aniversário ao filho 03, Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSL/SP. Sua indicação à embaixada brasileira nos Estados Unidos, em Washington, o mais importante cargo da diplomacia nacional, de estratégica importância política e econômica. As qualidades do moço? “ele fala inglês e espanhol”, “não é aventureiro” … entre outras que é melhor nem citar para não nos aborrecer ainda mais, a todos nós.

Mas o próprio Eduardo Bolsonaro foi ainda mais longe na sua própria apresentação, acrescentou que fez intercâmbio lá, e que fritou hambúrgueres. Disse acreditar que será melhor visto por ser filho do presidente, que não é nepotismo e acena com a aprovação logo de quem? Do doido chanceler sabujo de Olavo de Carvalho, Ernesto Araújo.

O prestigiado Instituto Rio Branco e o Palácio Itamaraty já devem ter começado a ter as paredes trincando, rachando, implodidas. Que o Senado nos livre de mais essa barbárie, recusando a indicação, furando bem furado mais esse balão de ensaio.

Não tem graça. Em seis meses está havendo um desmonte de toda uma organização, de todo um país, de conquistas fundamentais, qualquer coisa que se pergunte resulta em mostrar a total divisão do país, numa dialética maligna.

Mais: é cruel termos de dar atenção a assuntos de tanta ignorância em um momento do país em crise, com discussões envolvendo nossas vidas e nossos futuros, como a Previdência. Aliás, já fez os cálculos? Acha mesmo que será essa reforma que salvará a pátria? Só se a gente viver e sobreviver – e muito – para ver.

Isto não é política. É acinte. Passa terrivelmente de qualquer limite.

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Marli GonçalvesJornalista, Consultora de comunicação, Editora do Chumbo Gordo. Repara que a campanha presidencial já começou. E repara também que não é exatamente para a próxima eleição marcada para 2022. É para antes, bem antes.

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Brasil, quanto falta?

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ARTIGO – Nossos invernos infernos internos. Por Marli Gonçalves

Pode até fazer frio, mas o clima continuará bem quente por aqui no país do dedinho de arminha, da torneira que não vai parar de vazar e das falas, atos e decisões do homem que nos desgoverna sem ter ao que parece qualquer preocupação ou noção dos estragos que semeia com olhar tenso e sem brilho. Pare para pensar quem é que está se dando bem com tudo isso

O inverno é isso. O país tropical anda rendido. E absolutamente perplexo no dia a dia dos últimos meses assistindo a um espetáculo diário de besteirol sem qualquer graça, sem roteiro e com o apoio solene de comediantes medíocres de stand up. Sim, eles, de pé, em cima de palanques, tribunas, altares, púlpitos, onde quer que estejam, é só esperar, dali coisa boa é que não vem. O caso é pensar como chegaremos às próximas estações.

E, seja em quem foi que você, leitor, possa ter votado, não é possível que não perceba que estamos na famosa sinuca de bico, beira de precipício,  esquina do horror, e que não há reforma que resista a uma crise depois de outra, a tanta insanidade em verde amarelo, azul e branco – que agora aparece até na gravata que o homem coloca para anunciar  os amigos nos espaços vazios das crises.  O patriotismo é mais do que apenas refúgio; pode ser o biombo que esconde a incompetência ou algo mais que ainda não se revelou por completo. Apenas em parte.

Não adianta em público fechar os olhos, fazer marra, considerar-se feliz por tanta perturbação, pelo quanto pior, melhor, ou bater no peito, arrumar briga nas redes sociais, xingar a todos de comunistas ou “petistas”, dizer que “estamos” atrapalhando, e que não queremos o fim da corrupção, patati patatá. Esses discursos não cabem mais depois de 180 dias de sandices, isso sem contar todas que já foram disparadas durante o período eleitoral. O governo anônimo, sem marca, do Marcelo Álvaro Antonio e agora do Jorge Antonio de Oliveira Francisco, os nomes de nomes.

Tudo o que se poderia até ter acreditado que ocorreria, veja só, não ocorreu. Os índices continuam ladeira abaixo, nenhuma reforma, e agora até de reeleição já ousou falar, convencido, o mesmo que a negava. Se alguém ainda punha fé na ampla presença de militares de alta patente no sistema, apure seus ouvidos e ouça o burburinho que anda entre eles, tratados com desprezo, este sim, bem patente. No masculino governo sumiram até com as leituras de libras antes tão aplaudidas. Reparou?

Seis meses que se passaram de tal forma que até ser oposição tornou-se dispensável. Também … com essa que temos, desorientada, sem novos quadros, sem liderança. Ser imprensa acaba sendo apenas uma cruel repetição de gritos no escuro. Registra-se de dia o que à noite será mostrado nos telejornais, isso se não tiver havido algum recuo, uma dança sem par.

Depois eles se explicam lá no Programa do Ratinho. Em geral, gravado antes, bem editado. Não é sintomático?

Alguém, em algum lugar, nesse exato momento, deve estar se dando muito bem com isso tudo. É você? Temo que não.

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Marli Gonçalves, jornalista. Observadora.

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Os incríveis primeiros seis meses de 2019

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ARTIGO – Carta aos considerados. Por Marli Gonçalves

close-more-salesEscrevo porque considero muito os meus considerados. E vi muitos deles postando imagens de dentro da manifestação em que se vestiu vermelho e, portanto, em apoio ao atual governo. Se for o seu caso e estiver lendo esta, saiba do meu respeito – não deve estar nada fácil se manter neste apoio, dia após dia. Mas não me chame nem de longe, nem em pensamento, de golpista. E também não vire sua cara comigo, que daqui a pouco, todos juntos, espero: vamos rir muito de tudo issovoleur

Estamos respirando política. E política aqui no Brasil não é muito saudável, cheirosa, nem oxigenada, muito menos confiável. Momento tenso, muito tenso, desequilibrado mesmo. Bambolê. Até aqui creio que todos concordamos. É o mínimo.

Isso dito, deixo claro que também quero ver o Eduardo Cunha pelas costas, e que é um absurdo ser ele o condutor do processo de impeachment. Mas está lá. A mesma Justiça que bate em Luiz, baterá um dia talvez quem sabe logo logo nele. Mas ainda não bateu. Não consigo digerir o esgar irônico de Renan Calheiros. E, cá entre nós, o que é o Aécio? Que é aquilo? Onde foi que ele se perdeu dessa forma? Só fala coisas óbvias, repetitivas, como se ensacasse vento, trêmulo, sem convicção. Ficaria páginas listando alguns outros que se revezam diante de nós nos noticiários. Pauderney. Pauderney! Sibá. O bisonho irmão para baixo do Genoíno, da triste lembrança dos dólares na cueca. Caiado. Bolsonaro. Jaquinho, o baiano, o que diz que quer ser até carregador, atarracado no saco do chefe. Tem coisa mais degradante do que a subserviência? O “rapaz”, como chamado nos telefonemas, o Cardozo, que algo me diz estar em intensas manobras. O tenso Mercadante aloprado trapalhão. A lista é gigantesca.

Mas, meu considerado, por favor! Não fica aí batendo pé, fazendo biquinho, mimimi, repetindo bordões e falsidades se não estiver muito ligado, ganhando, ou ainda se for mesmo um apaixonado ainda não desiludido (ainda, né?). Se está aí acreditando até que deram Metrô grátis para os que protestaram contra o Governo, e você bem sabe que isso não aconteceu, mas continua no transe do social-golpe-direita-esquerda-etc, posso fazer o quê? Adianta mostrar fotos de como teve, sim, trabalhadores de vermelho na manifestação, e também nas faces, rubras, sim, mas por receber dinheiros, carona, uma camiseta e bandeirinha? Promessa de shows. Aliás, showmício.

Óbvio que achei o horror a tal lista de artistas para serem boicotados, assim como, por outro lado, achei o horror a lista negra que foi feita de jornalistas que batem no Governo. Acho simplesmente ridícula essa coisa boba contra a TV Globo – até parece que é tudo por causa dela, ou da Veja! – e os argumentos de vir comparar a corrupção quase trilionária que nos assola a camisetas da Seleção, tirar o pirulito da criança, pisar na grama, não dar esmola e ter babá. Ridículo, gente, arrumem coisa melhor.couple

O que vocês chamam de coxinhas e outras palavras mais pesadas que paneladas se trata de todo um mundo com pressa de olhar o futuro, virar a página, voltar a falar de outras coisas como esperança, parar de passar dias com nós no estômago, amargado com as notícias que não param de chegar. Com as coisas que não param de subir. Com os sonhos adiados como castelo de cartas. Com as dificuldades e falta de assistência. Com a paradeira geral e o soluço dos desempregados, endividados. São os verdadeiros estarrecidos esses que se movimentam confusamente em verde e amarelo. São seus amigos, poupe-se de destratá-los. Sou eu, seu vizinho, seu cliente, seu aluno, seu professor. Não são fascistas. Fascista é a …! Claro, primeiro, se aprender a escrever certo para xingar, o que é raro, raríssimo.

ringleader_yelling_thru_megaphone_md_clrQuem protesta? Quem está sentindo na pele. No geral, gente que quer que essa política que tanto envolve vocês em briguinhas de lé com cré simplesmente exploda, boom, daí o rancor. São alguns dos milhões de desempregados. Gente que não está podendo suportar mais o desgoverno, o governo malfeito, trapalhão, despreparado. É de baixo a cima. É total, está sem pé nem cabeça, sem projeto, sem ministros (?!?) sérios, tudo negociado, sem ações positivas, com as casas que dá, caindo, enquanto se constroem arranjos de sítios e triplex. Estradas parecendo campos de guerra. Um mosquito faz zueira e espalha o terror. O conceito cidadão é desvirtuado, trocado por apupos. As obras paradas, as cidades se deteriorando a olhos vistos.

Querem o quê? Aparece um candidato a imperador romano tentando atrapalhar as investigações – e, portanto, assinando com firma reconhecida a culpa no cartório. Com a mesma caneta, assina, promovido a ministro. Uma esculhambação geral, Casa da Mãe Joana – se já era esquisito ter um presidente dentro e um fora, dois dentro só pode ter sido ideia de um gênio do Mal, coisa que grassa nesse governo que confunde o tempo inteiro o Estado com as suas gavetas de roupas íntimas, quer usar a nossa escova de dentes. Vocês não podem não estar vendo isso.

parler_beaucoupEles, esses que batem no peito se agarrando no galho, mudaram; talvez, se você for jovem, não saiba, mas eles mudaram muito do tempo quando apareceram com propostas de mudanças, e eu também os apoiei. Agora estão sambando na corda bamba porque temem apenas deixar o Poder no qual se atarracaram para sugar tal qual carrapatos. Olha bem. Perceba que a situação chegou a um ponto insustentável. Deixaram digitais em todos os lugares, que são muitos, e que se encontram numa pororoca que estourou foi o país de nós todos.

A proposta é #vamosnosuniroparanaotergolpenenhum. Bandeira branca, amor.

Quer ficar nessa, fica, mas repito, sem me virar a cara nem torcer o nariz que daqui estou só assistindo. Mas uma hora vocês precisarão trocar de líderes se quiserem voltar a ser respeitados. Esses aí têm pés de barro, e a água já passou da canela. Nós, juntos, precisaremos encontrar novos homens de bem, de bem mesmo, se é que me entendem. Digo o mesmo aos exaltados do lado de cá: parem de ignorâncias, por favor, querer atear fogo na caldeira e se mostrando piores do que o que combatem. Sejam mais razoáveis, que os fatos já são bem claros, não precisam salivar.

Considerado, usando uma expressão cativada pelo querido Moacir Japiassu, que a todos chamava de considerado. Considerado é uma daquelas palavras completas em sentido, gorda de significados.

Considerado, considere considerar que todos nós temos alguma boa dose de razão.

Sem mais, cordialmente, eu juro, um forte abraço,

Marli Gonçalves, jornalista Ah, tô na rua sim, porque nunca fui de esperar que ninguém lute por mim, porque bem sei que ninguém lutará. Desejo algo como a lavagem do Bonfim, um novo tempo. Apesar dos pesares.

SP, março, 2016

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ARTIGO – Sem a menor ideia. Por Marli Gonçalves

brasil53SEM A MENOR IDEIA

Por Marli Gonçalves

Também não sei. Não sei de nada. Mesmo. Não estou escondendo jogo, creio que nem eu nem meus colegas que estão na cobertura disso tudo, sabem nada. Nem no que isso ou aquilo vai dar, se que é vai dar. Você me pergunta e a minha aflição fica ainda maior. Não é só de política e de economia que falo. Mas de tudo, pensa. Quem tem ideia do que vai acontecer aqui e acolá? Mãe Dinah, onde está você, Mãe Dinah? O que é mesmo que você falava, Zaratustra? Nostradamus, e aí? Por favor, qual é o oráculo mais perto?

Mais perdido que Adão no dia das Mães. Mais perdido que azeitona em pão doce. Mais perdido que cachorro em dia de mudança. Mais perdido que cachorro na procissão. Mais perdido que cebola em salada de frutas. Mais perdido que cego em tiroteio. Mais perdido que cão que caiu do caminhão de mudança. Mais perdido que marinheiro na Bolívia. Mais perdido que surdo em bingo. Mais perdido que Tarzan numa reunião de consórcio. Mais perdido que agulha no palheiro. Mais perdido que pitanga em pé de amora. O brasileiro. O terráqueo.CUSTO BRASIL

Mais perdida que canetas, isqueiros e outas coisinhas que somem como num passe de mágica. Mas não estou só, não é mesmo? Ando vendo gente racional, organizadinha, que sempre conseguiu pensar e controlar tudo – e agora suando frio. Onde quer que se vá, sempre nos entreolhamos. Deu bobeira e de alguma forma borbulham as questões: aonde vai parar tudo isso, o que vai acontecer, ele vai ser preso, ela vai renunciar, aquele outro vai delatar, quem vai ser o próximo, qual virá agora, quando vai ser cassado, quando vai tomar vergonha? Quem a gente pode pôr no lugar? Por que a caretice está se alastrando? O calor será maior? E o frio? Vai chover, vai secar? Quem tem razão? Quem vai sobrar para contar a história? Quem vai conduzir o bonde? Quem vai ganhar lá? Quem vai ganhar aqui?

brasilParecemos todos aqueles adolescentes divididos entre indolentes, querendo que o mundo se acabe em melado, e os que querem ansiosamente participar, agir, experimentar, perder a virgindade, mas que também não sabem o que vão ser quando crescerem. Andamos brigando uns com os outros como crianças mimadas, por coisas e pessoas que não valem a pena. Batendo pé e fazendo birra pelo que – não tem jeito – não sei como, mas precisa mudar, vai mudar, porque chegou a um limite insuportável, ao momento do impasse. Alguma coisa precisa rolar, a gente precisa continuar, e para isso o futuro tem de se adiantar.

Daí você pergunta: o que vai acontecer? Não tenho a mais remota ideia, se tem mais gente que vai com uma cor, como temos amigos que ainda não entenderam ainda, terá sido lavagem cerebral? Se vão para as ruas, se tem alguém que ainda vá se ruborizar marchando no exército homogêneo das utopias que falam em igualdade social, acabar com os miserês, mas no qual os generais têm pés de lama, mãos de batedores de carteiras e um gogó que começa a nos fazer rir para não chorar.

Não sabemos o nome, ainda, desse momento que desenhamos para a história mais uma vez: se revolta, se revolução, se agitação. Que não seja golpe, que golpe é sempre coisa muito ruim, que sobra muita gente para fora. Que não seja por conspiração, que a luz é sempre mais bem-vinda para desinfetar.

Que seja tranquilo, que possamos nos orgulhar, que não nos faça passar ainda mais vergonha, que seja eficiente, que inclua nossa beleza e diversidade, que haja Justiça e ponderação. Que abra nossos caminhos com imagens bonitas que ilustrem os próximos livros da história contemporânea, e que estes fiquem na estante, no futuro, ao lado de biografias que ainda estão sendo construídas, de estadistas que estão sendo gestados, chocados em algum ninho.Se liga, Brasil!

Mas que não venham de ovos de serpente.

SP, março de 2016; aliás, 13 de março em diante

Marli Gonçalves, jornalista Você me pergunta o que estou achando. Não estou achando nada, só perdendo, e isso precisa parar. Não tá tranquilo. Não tá favorável.

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ARTIGO – A capela a capela. Por Marli Gonçalves*

nossa seleção de idiotsmoleque5Ando muito pensativa e preferi mesmo ficar por aqui bem quietinha esses últimos dias, só vendo a bola rolar, o rio correr, e Meu Deus do céu! – vendo e escutando todo tipo de insanidades. Esse de um tudo inclui a instalação do Jardim de Infância de Neymarzinho e sua eterna hora do recreio

As lágrimas correram, não teve jeito, todas as vezes que ouvi aquelas milhares de pessoas cantando o Hino Nacional a capela nos estádios. Da mesma forma meu estômago embrulhou todas as vezes que ouvia aquele corinho (quem desenterrou essa bobagem, que lembra mais a ditadura do que dirigentes da CBF?), acompanhado do balançar de bracinhos para a direita e para a esquerda, “… Sou brasileiro com muito orgulho…” Ô coisa chata! Fora o coração e o amor amarrado na chuteira. Só faltou o …“200 milhões em ação…Salve a Seleção…”.

É, crescemos em número, de 90 para 200, mas não amadurecemos em nadica. Continuamos sendo manipulados como bem entendem, mas só na hora que lhes aprouver. O último mês virou uma imposição de overdose de verde e amarelo como há muito não se via. Nós acabamos não resistindo, bem tentamos, e caímos, cornetas a postos que pouco, bem pouco, tocamos.moleque2

Que saudades da verdade da Campanha das Diretas! Agora era um tal de criancinha pedindo para jogar para elas, coitadinhas, sabem de nada, inocentes; torcidas inteiras de figurantes pulando, e ofertas em campanhas publicitárias cada uma mais mirabolante que outra, e que não sei como foram permitidas pelo CONAR. Ora, ou alguém acha que as Casas Bahia previam mesmo dar tevês por 1 real caso (hipótese remota detected) ganhássemos a Copa? Ah, mas para isso você já deveria ter comprado outra com tudo embutido, igual à linguiça. Andam embutindo preços em tantas coisas que mais uma ou outra nem fez diferença. Temo mesmo é o que mais andam embutindo nesse país. E onde.

moleque8As operadoras de celular, em vez de apresentarem serviços e preços, capricharam. A bola nas costas do Alvinho! Fora todo o ridículo, alguém pode me dizer do que tanto riu aquele babaca parado na porta do bar, o dele, totalmente vazio? Tenho certeza que agora mesmo você está aí se lembrando de pelo menos outro desses ridículos comerciais. Coitados, não tiveram tempo de tirá-los do ar naquela tenebrosa noite dos 7 a 1.

Enfim, futebol é futebol. Se a bola rolar também na urna de votação coisa boa não dá, mas os panacas do poder – que agora correm mais que baratinhas para tentar resolver a queda inacreditável – ainda não se tocaram totalmente disso. Enfim, um Governo Padrão Felipão, como declarou a presidente, só poderá nos entregar placares desse tipo mesmo.

dãããDignos do Jardim de Infância do Neymarzinho e seus amiguinhos. Neymar tira meleca do nariz. Todos tiram. Neymar dá estilingada no passarinho. Todos imitam. Neymarzinho escuta música com fones de ouvido que mais parecem equipamentos de guerra, coloridinhos – todos vão atrás, igual. Me lembra da época de escolinha, que sempre tinha um líder, mais riquinho, que namorava a “menina mais bonita” (e burra), que aprontava e depois se desculpava por todos.calvin

Mas se toda a Seleção estava nas costas de Neymarzinho, nada mais lógico que elas vergassem a esse peso (mais o do colombiano). Assim Neymarzinho e suas aposentada chuteirinha dourada, mais as outras luminosas, sua sunguinha de bandeira, seu cabelinho espetado pintado (que marca? Ah, como assim ele não tem patrocínio ainda de tinta de cabelo? De shampoo contra caspas tem! Espaço reservado para anunciantes, atenção!), volta. Não sei o que fizeram da vértebra quebrada, da dor, da cinta que teria de usar, do repouso ao qual seria obrigado. Será morfina?

moleque4Papai Felipão, Mamãe Murtosa, Titio Parreira e padrinho Galvão devem ter babado. O menino que não jogou no dia da desgraça (se bem que antes também não…), que coragem! Veio explicar o que aconteceu, mas que ele não viu, porque foi apagão; chorar um pouquinho, apertar os zoinhos, se lamuriar pelo povo brasileiro, segurar o noticiário e os patrocinadores. Não lembro de ter visto outro outdoor desses tão ambulante.

Aí, voltando, vemos uma mulher na beira da estrada, com a mãozinha pedindo carona, ao lado de um ministro que quer botar o Estado em campo mais do que já botaram. Ao longe, bem longe, um pontinho tentando sumir, vejo só um barbudinho de voz grossa olhando de um periscópio. Mais mudo que música para acompanhar o hino à capela.moleque9

Será que a elite branca, aquela malvadinha que vaia e xinga, vai parar seus carros de luxo para eles embarcarem? Ou será, ainda, que os miseráveis, ops, ex-miseráveis, virão trotando em seus jumentos para buscá-los?

É tóis. Meninos sapecas, vamos brincar de quê, agora? Construir estádios com Lego?Jogar bolinhas de gude? Bater bafo com as figurinhas encalhadas? Jogar memória? (Essa é boa pedida no momento) Rouba monte? Buraco? (não esqueçam de convidar o prefeito Fernando Haddad, que entende disso). Na hora do lanche, não se preocupem, o hot-dog com salsicha alemã e o alfajor de doce de leite já está garantido.

molequecom bolaSão Paulo, vaias de Itaquerão, 2014. 

Marli Gonçalves é jornalista Nada contra a derrota, previsível até antes. Tudo contra mais uma tentativa torpe de tentar nos pegar com gosma de jaca. moleque10

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moleque atravessa parede